domingo, janeiro 16, 2005

Coração Envenenado, Brian Jones e The Rev

Tem varios assuntos, já estamos em 2005 e o rock já tá rolando, mais pra alguns, menos pra outros , como sempre.Mas continua rolando.
- Terminei de ler Coração Envenenado, bio de Dee Dee(dDD, foi mal) Ramone, e o tragico relato da sua vida , não só como Ramone, mas principalmente, só faz confirmar convicções minhas sobre a genesis do punk-rock. O livro, um confuso relato da sua origem alemã(filho de militar americano) e o pessimo clima familiar no qual foi criado, a infancia e adolescencia disfuncional, o vicio em heroina desde muito cedo, e a vida sem perspectiva já em Queens,N.Y., faz ficar muito claro ele não tinha muitas opções a não ser se juntar com os outros vagabundos(punks) do bairro numa banda de rock que não sabia tocar. Era isso ou morrer muito cedo. Tá(quase) tudo ali , as eternas andanças no submundo atras de H com personagens do mais baixo nivel; dealers, putas, junkies, gays e musicos da cena glam/pre-punk de N.Y., uma cena nojenta com Sid Vicious, enfim o supra-sumo da lama e do esgoto. Tudo muito glamuroso em paginas de revistas musicais, mas deprimente quanto relatado pelo cara que viveu isto na real. Faltam seus relatos como rent-boy(puto), mas isso não é fundamental, já tem lama mais que suficiente. Mas o que me interessa mais são seus relatos da claustrofobica vida com os Brudders, os caras se agarravam uns aos outros pra não afundarem na lama, ao mesmo tempo se odiavam intensamente. Johnny- o control freak facista, e Dee Dee- o porra-louca, se enfrentam o tempo todo , e Joey, Tommy,e depois Marky não são menos escrotos. E fica claro, pra mim, que se os elementos que forjaram os punk rock estavam dispersos na cena nova-iorquina,tais como o estilo de vida decadente( Warhol, Reed e toda cena Factory), elementos glam(Ney York Dolls, fortemente influenciados pela cena londrina) o art -rock minimalista( Velvets, depois Pattti Smith, Television), a exclusão social(Ramones), o visual pre-fashion punk(Richard Hell), o back to basics musical, em punkês Do It Yourself (Ramones) , o fato é que todos esses elementos só foram catalizados no punk-rock inglês, até por que o movimento inglês tinha o discurso politico e a densidade social para dar razão de existir aos elementos citados acima. E estava tudo disperso em N.Y., não me venham com aquele relato bairrista do "Mate-me Por Favor", o punk rock só se tornou punk-rock a partir do movimento inglês, e ponto final.
-A teoria conspiratoria do momento envolve Brian Jones, e segundos relatos e reconstituições serias da cena da morte, varias incorreções no laudo de morte foram cometidas(não é piada), levantando a suspeita que ele pode ter sido assassinado e não cometido suicidio. Tem até filme saindo sobre o assunto(titulo provisorio-The Wild and Wicked World of Brian Jones), dirigido pelo debutante Stephen Wooley .E capa da Uncut de Fevereiro é sobre o assunto. O assunto vai dar muito o que falar. Como fala o cara da cerveja, será?
-Falando em filme e Ramones, "End of The Century" doc. sobre os Ramones, segundo relato de quem viu é absolutamente fantastico.
-Morrisey foi convidado pela T.V. inglesa para participar da Casa dos Artistas inglês, o Celebrity Big Brother, mas o notorio recluso recusou, mas em compensação autorizou a utilização de 20 musicas dos Smiths num musical londrino intitulado "Some Girls Are Bigger Than Others", que abre em Julho em Londres.
-E tem disco novo do Mercury Rev na praça, The Secret Migration, dizem que sem tantas cordas, mas com muitos teclados e igualmente climatico.

8 comentários:

Anônimo disse...

Miguel Cordeiro
Osvaldo, já comentamos sobre isso. o punk rock se consolida como um movimento cultural na inglaterra ao incorporar o discurso crítico e politizado, coisas que as bandas inglesas fizeram com muita maestria. o punk novaiorquino é mais no sentido (talvez) filosófico ou estético. é claro que ramones é crucial para formatação
(sonoridade, timbres, acordes) do punk britanico mas o texto politizado, algo fundamental quando se fala de punk rock é contribuição inglesa. hoje mudou a porra toda ao ponto de good charlotte, blink 182 e dead fish serem considerados punks ou hardcore. haja!....

Anônimo disse...

muito foda esse livro, acabei de ler esses dias, mais discordando um pouco do companheiro miguel cordeiro nem sou grande fã do deadfish nem acho eles punks, mais na minha opinião acho uma banda de emo-core de respeito no som e na maneira honesta e independente que conduziram sua careira de mais de dez anos na total independencia de majors, tv e fms mais pelo visto cansaram um pouco...valeu
big

Anônimo disse...

Nei Bahia

Punk inglês politizado?
Só ser for o Clash, pois em Londres, quase tudo foi farsa, bandas começando numa butique em vez de uma garagem, e outras bandas de qualidade sendo colocadas no turbilhão pelos jornalistas descolados, como o The Jam.
Você só podia sair da garagem vestido com as "fardas" que a mídia da época impunha; ou você parecia do Sex Pistols, ou com Bowie.
Claro que é fácil agora dizer isso, mais salvo em poucos momentos, a terra da rainha viverá sempre como filial do rock da matriz America!

Franchico disse...

essa discussão parece aquele enigma do biscoito tostines: vende mais por que é mais fresquinho (eu, hein) ou é mais fresquinho por que vende mais?
e assim como a circular adivinhação da biscoito, essa questão da nacionalidade do punk dificilmente terá uma resposta definitiva. sempre vai ter alguém puxando a brasa para sua sardinha.
lavo minhas mãos...

osvaldo disse...

Blz, presenças ilustres Miguel, Bigs, Nei, o assunto merece. Agora Nei, o que eu quero dizer é que na minha opinião não restam duvidas que o punk-rock, seja como movimento musical, fenomeno social, ou simplesmente moda só se critalizou e eclodiu na Inglaterra em 1977(Summer of Punk.A politização do movimento inglês só foi possivel devido a imensa decadencia economica britanica na decada de 70, real e inegavel, que jogou uma massa de jovens britanicos na pobreza.Nos Estados Unidos a cena era localizada em N.Y.,e era protagonizada por artistas de vanguarda(desde Warhol) e out-siders de todos os tipos,uma elite boêmia e intelectual,e sem uma massa proletaria que se identificasse com aquela estetica e com aquele discurso, até por que economicamente o país tava bem, era mais uma angustia existencial de uma certa galera, e não era um movimento, nem tinha a intenção de ser.Quanto a questão da Inglaterra ser filial musical dos USA, é logico que o rock´n´roll é americano, mas talvez o melhor rock(olha a distinção aê!)seja inglês.Mas isso é outra historia, talvez em outro post, já que voce levantou o assunto a preferencia é sua.

osvaldo disse...

Aê Chicão, acho que estavamos fazendo comments na mesma hora, e so agora li seu comment. Esta questão da disputa da paternidade do punk-rock só começou depois de que o punk inglês efetivou a parada. Quem tinha 17/18 anos na epoca (como eu), e se ligava no que estava acontecendo, sabe muito bem que antes do movimento inglês, não se falava em punk-rock. O termo tinha sido usado muito genericamente e en passant para definir garage bands neo-psicodelicas dos 60 ( Nuggets).Já conheciamos a cena alternativa americana (Velvet, Iggy, MC-5, Os Dolls, Patti Smith), mas, repito, não existia punk-rock, nem como genero musical, nem como fenomeno social, nem existia moda intitulada de punk.Não é uma discussão Tostines, os new-yorkers só se deram conta que muitas das ideias do punk-rock foram chupadas(epa!) deles quando os Brits tinham se apropriado e tomado conta da historia. E os Brits viviam um momento social e politico polarizado, com envolvimento direto de bandas de punk-rock( Sham 69,Eater, Damned,Tom Robinson Band), nos movimentos "Rock Against Racism", "Rock Against Fascism" ( vejam ou revejam Rude Boy do Clash (1982), The Filth and the Fury com os Pistols (2000) leiam England´s Dreaming de Jon Savage)),violentos confrontos com o National Front(ultra direita inglesa). Isso sem falar nos chocantes xingamentos a familia real inglesa(apenas isso) via Pistols(God Save The Queen), em plena comemoração do jubileu da Rainha Elisabete; se alguem acha que isto não tem teor politico, não tem a menor noção do que a realeza significa na velha Albion .Alem disso tinha o confronto musical, voces não tem ideia da comoção e revolta que Rotten causava no establishment roqueiro quando chamava a até então intocavel realeza do rock(Zeppelin,Clapton, Pink Floyd,e o prog em geral)de "boring old farts"!, ninguem tinha a audacia de fazer isto, era inedito,era um sacrilégio, era confrontacional, era POLITICO.Claro que tudo isso foi só num primeiro momento,depois o discurso foi absorvido pelo sistema capitalista e devolvido em forma de produto. Durou pra valer 1 ou 2 anos, mas que mudaram para sempre o cenario musical,e porque não, um pouco o mundo.

Ernesto Ribeiro disse...

OBRA-PRIMA PUNK-JUNKIE. Recomendo a todos. Principlamente pelo trecho em que DD questiona porque as pessoas normais no poder castigam e perseguem os viciados, se eles são mais vítimas de si mesmas, em vez de tratar das CONDIÇÕES (sociais, familiares) que são a CAUSA do vício?


O livro mais triste que já li --- junto com as memórias de Christiane F. E olha que a biografia de Kurt Cobain é bem depressiva também.

Ernesto Ribeiro disse...

Em tempo: quando comecei a ler aquilo, uma figura universpitária olhou a capa e exclamou:

"Ernesto, você já tem o coração envenenado, e ainda fica lendo isso?!"