sexta-feira, janeiro 30, 2015

ALTERNATIVOS NO MUSEU DU RITMO

Show: A Nação Zumbi volta à cidade em apresentação do seu último álbum. Noite conta com abertura da Scambo, que para 2015 tem planos envolvendo um certo talent show

Lucio, Pupillo, DuPeixe, Toca, Gilmar Bola 8 e Dengue. Ft: Vitor Salerno
Em fim de semana já próximo do Carnaval, a oferta de shows na cidade parece aumentar por minuto.

Uma das melhores opções reúne duas grandes bandas: uma de alcance nacional (e até internacional) e outra regional: Nação Zumbi e Scambo.

A primeira traz o show do seu último álbum, o auto intitulado Nação Zumbi, lançado em meados do ano passado.

E a segunda segue divulgando Flare (2013), seu disco de retorno após alguns anos inativa.

“É, lançar disco em ano de Copa foi ruim, ficou um pouco ofuscado, mas pelo menos foi bem recebido”, afirma o vocalista Jorge Du Peixe.

“Tivemos uma boa resposta de mídia a partir da segunda metade de 2014. Agora vamos dar um gás maior (na divulgação), já que o disco ainda tá bem recente pra gente”, conta.

No repertório do show, a Nação já incluiu metade do set list do novo álbum: “Vai ser legal, por que já estamos no ponto de estar tocando seis músicas do disco novo. O show é um pouco próximo do último que fizemos aí – agora um pouco mais maturado,  no grau”, ri o cantor.

“Mas é sempre difícil (organizar o repertório do show). Já são nove discos (de estúdio). E sempre tem que tocar algumas do Da Lama ao Caos (1994). Mas esta  é nossa função, mesmo. E depois, sempre que volto a ouvir esse vinil, eu descubro coisas novas, sabia?”, diz.

Nação Zumbi (o álbum de 2014) marcou a volta da banda após um longo intervalo, iniciado depois do álbum Fome de Tudo (2007).

Nesse meio tempo, alguns integrantes acompanharam Marisa Monte, enquanto outros se dedicaram a projetos paralelos.

“A gente nunca tinha parado, então foi bom pra todo mundo. Cada vez que você sai da  nave-mãe, lida com outros músicos, outras situações – tudo isso soma e se reflete a cada disco, gerando outras intenções sonoras. Agrega muito pra gente, musicalmente falando”, diz.

 

Talent show

Tosto, Pedro Pondé e Graco. Foto: Marcelo Santana
O ano-novo trouxe novos planos para a Scambo, que abre a noite deste sábado e é uma das poucas bandas do cenário mais alternativo local a cultivar um público próprio e realmente fiel.

Há poucos dias, o vocalista Pedro Pondé anunciou na página da banda no Facebook que a Scambo vai se inscrever no reality show musical da Rede Globo SuperStar, cuja primeira temporada revelou a banda Malta (que é péssima, diga-se de passagem).

“Um monte de gente pedindo a Scambo no SuperStar. Muitos argumentos interessantes. Pensei, pensei, pensei, pesquisei e.. Acho que já não vejo motivos pra não tentar”, escreveu.

“A Scambo já fez a Bahia toda”, diz Pedro.

“Mas para sair é complicado. E não somos mais adolescentes, não dá pra se jogar de qualquer jeito. Então (o SuperStar) surge como possibilidade”, acrescenta.

Mas o que realmente move a banda é a chance de levar sua música para o resto do Brasil via TV. “Nos inscrevemos, mas não sabemos se vamos passar. Mas entrar na casa do Brasil inteiro seria interessante pra gente, por é complicado sair daqui com as próprias pernas”, afirma.

Para o show de amanhã, a Scambo fará um apanhado da carreira: “O show é um prenúncio do próximo trabalho. Tem um pouco de reggae romântico e do som acústico do Flare”, conclui Pedro.

Nação Zumbi e Scambo / Amanhã,  21 horas / Museu du Ritmo / R$ 50, R$ 70 (camarote) / Vendas: Ticketmix e todos os balcões do shoppings / 16 anos


terça-feira, janeiro 27, 2015

JOE & A GERÊNCIA E ANDRÉ L.R. MENDES FAZEM SUPER NIGHT IMPERDÍVEL NO QUANTO VALE O SHOW DE HOJE

Joe Tromondo, foto de Bruno Guerra
Para quem ama o rock baiano, hoje é o dia mais importante deste verão de 2015.

O evento Quanto Vale o Show?, do produtor e DJ Rogério Big Bross, bota no palco do Dubliner’s duas figuras fundamentais da cena local nos inesquecíveis anos 1990: Joe Tromondo Gomes e André L.R. Mendes.

Mas porque hoje é importante? Por que os dois quase não se apresentam ao vivo na cidade, por diferentes razões.

Joe, que mora em São há mais de dez anos, se apresenta com a filial baiana de sua nova banda, A Gerência, com Candido Martinez Soto (Theatro de Seraphin)  na guitarra e T-612 (The Honkers) no baixo e Thiago Jende (TenTrio) na bateria.

Seu currículo no rock é acima de qualquer suspeita: membro fundador da Cascadura, Joe saiu para montar os Dead Billies com Morotó, Rex e Glauber. Com o fim dos Billies, iniciou  os Retrofoguetes, mas pouco depois saiu, para acompanhar Pitty.

Fora da banda de Pitty desde 2012, toca com a sua A Gerência (trabalho autoral), na A Serviço do Rei (releituras) e ainda voltou aos Retros.

“Estou me divertindo muito ensaiando com esses caras. Acho que encontrei A Gerência”, aposta a figura.

No repertório, canções d’A Gerência e covers. “Tô querendo encontrar um monte de amigos lá. Tem que ser uma parada divertida. Pelos ensaios, vai ser demais”, diz.

Joe (ao fundo) e a galera que apareceu no ensaio para o show de hoje
No clima da celebração, Joe recrutou uma pá de convidados para tocar e cantar com ele: Rodrigo Sputter (Honkers),  Apú (ex-Úteros em Fúria), Nei Bahia, Shinna (Pâncreas), Ricardo Lopo (Lo Han) e Gilberto Maia (outro ex-Cascadura dos primórdios).

"O negócio é se divertir, né bicho? Vamos ter Ricardo Lopo da Lo Han no teclado, Apu vai tocar uma da Úteros (One More Time) com a gente e até Nei Bahia (nosso podcaster do Rocks Off) vai cantar – se ele for, por que até agora não apareceu nos ensaios", ri Joe.

"Sputter também não apareceu nos ensaios, mas também vai cantar uma música comigo. Já o Shinna (Pancreas) é um cara muito divertido, conheço há muito tempo. Ele é amigo de Gilberto Maia, pioneiro na guitarra do Cascadura da minha época. Ele tem muito a ver com com as composições d'A Gerência, inclusive ele tava comigo quando comecei essas composições. Sabe aquele cara que tá sempre na banda, que começa com a banda e aí quando a banda engrena e vai começar mesmo ele sai? É Gilberto. Gilberto é massa", descreve Joe.

“Ah, Morotó e Rex não estão no release, mas eles também vão”, avisa Joe.

"Quanto a Gerência, eu acho que tê querendo manter essa formação baiana para estúdio também. Até por que o guitarrista de São Paulo foi para o NX Zero, o outro lançou banda própria (Gramophones) e o baterista é do Fresno. Então complicou por lá", explica.

"Sim, eu continua no Retros, mas estamos bem parados com essa historia do carnaval. Não, eu não faço parte do Retrofolia, isso é um projeto à parte deles", conta.

Quanto ao aguardado álbum gravado pela formação original dos Dead Billies e intitulado Los Mismos, Joe conta que "a gravação dos Los Mismos foi linda, cara. Tava todo mundo junto em um momento difícil, mas um ajudando o outro, fazendo musica, vivendo junto uma semana inteira. Foi massa demais e isso tá tudo gravado. Agora, tecnicamente não tem nada impredindo a saída do disco. Acho que tem uma pendência aí com a Garimpo (selo que vai lançar o álbum). Vamos ver o que acontece", detalha.

Maria Bacana e além

André L.R. Mendes medita à beira-mar, em foto de Cintia Moreno
Antes de Joe e Cia. subirem ao palco, quem abre a noite é André L.R. Mendes.

André é o fundador de outra banda importante no rock baiano: Maria Bacana, que em meados dos anos 1990 foi adotada pelo ex-Legião  Urbana Dado Villa-Lobos e lançou seu único (e clássico) álbum pelo seu selo, o Rock It!.

Com o fim da Maria Bacana, André andou um tempão recolhido, mas voltou há alguns anos, tirando o atraso: desde 2011, lança um álbum por ano, sempre na data do seu aniversário.

Cada vez melhores, tem chamado a atenção da crítica especializada no Sudeste.

Hoje, André se apresenta ao vivo pela primeira vez em mais de dois anos. No palco com ele, o mesmo Thiago Jende na bateria e Gilberto Loinho Sweet Eloy no baixo.

“Recebi uma mensagem de Joe me chamando pra tocar, aí eu disse ‘claro’. Como eu já estava ensaiando com Gilberto e Thiago mesmo...”, diz André.

Ele vai começar o show  na voz e violão. “Toco umas quatro ou cinco músicas sozinho e depois vamos de power trio. Nesse caso, power mesmo”, promete.

“Cara, tem uns dois anos que eu não toco. O último foi no Eva Herz (Livraria Cultura) quando lancei meu segundo disco, Amor Atlântico. Desde então não fiz mais nenhum. Nesse show vou fazer um apanhado dos meus quatro discos, mais músicas da Maria Bacana e covers. É um show divertido, pra cima, para cantar junto e dançar”, diz.

Para André, o show de hoje confirma também outra característica do rock de Salvador, muito marcado pela produção proveniente da Cidade Baixa.

“É a Cidade Baixa, né? A galera daqui é quase uma máfia. O melhor do rock de Salvador saiu daqui. É o berço. O Cine Roma foi aqui. A brincando de deus ensaiava aqui, na rua acima da minha. Arranjamos o disco da Maria Bacana aqui também”, afirma.

"E sim, em julho teremos o quinto capítulo. Já tenho muita coisa composta, mas ainda não comecei a gravar. Meu disco anual de julho é sagrado. Esse próximo não vai ter nada a ver com o último. Tem que sempre vir trazendo alguma coisa nova, mas sem se trair", conclui André.

Quanto Vale o Show? Com Joe & A Gerência e André L.R. Mendes / Hoje, 18 Horas, Dubliners Irish Pub / Pague quanto você acha que vale

NUETAS

Errata: Casca é sexta

Semana passada, o colunista comeu uma varejeira e indicou o show Private Hell’s Club, do Cascadura, no sábado passado. Só que foi na sexta-feira. Sorte que tem de novo nesta  sexta, dia 30. O rock é no Dubliner’s Irish Pub, às 23 horas, R$ 15.

Ifá com Skanibais

O Largo Pedro Archanjo recebe também nesta sexta-feira duas super-bandas: Ifá Afrobeat e Skanibais. É pra se acabar de dançar nos ritmos mais cool da música negra: afrobeat e ska. 20 horas, R$ 20 e R$ 10.

Modernos, Monalisa

Já no sábado (31) tem a ótima Falsos Modernos no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura), lançando o single Monalisa, primeiro som inédito da banda desde o álbum Perfil de Cena (2013). Às 19 horas, entrada gratuita.

segunda-feira, janeiro 26, 2015

2014 FOI ANO EM QUE O AC/DC VENCEU TODAS AS ADVERSIDADES

Mesmo com aposentadoria forçada de membro fundador Malcolm Young e o baterista encrencado com a polícia, novo álbum do AC/DC é acima da média e honra a tradição da banda

Cliff Williams, Brian Johnson, Stevie e Angus Young: AC/DC 2014. E 2015?
Se ainda restava alguma dúvida de que o AC/DC é uma banda talhada para triunfar na adversidade, esta caiu de vez por terra com o lançamento do seu novo álbum, Rock or Bust.

Explica-se: 2014 foi, muito provavelmente, o ano mais difícil para a banda desde 1980, quando, em fevereiro, o então vocalista Bon Scott foi encontrado morto dentro do seu carro, sufocado pelo próprio vômito.

Incentivado pelos parentes de Scott, o quarteto remanescente testou vários candidatos, escolheu Brian Johnson para a vaga, entrou em estúdio, gravou e lançou, já em julho, um dos álbuns de rock mais arrasadores de todos os tempos: Back in Black.

Tudo isso, em questão de meses, resultou no melhor álbum da carreira da banda, além de também ser o mais vendido: 50 milhões de cópias – até 2011.

Bem, Rock or Bust não é assim um Back in Black – e seria até injusto esperar por isso.

Mas, considerando-se todos os perrengues passados por alguns membros da banda em 2014, o novo disco honra, com folga (e o som explosivo de sempre), a tradição roqueira casca-grossa do AC/DC.



Malcolm fora, Phil na cadeia

Foi há menos de um ano, em abril de 2014, que os primeiros relatos sobre as más condições de saúde do guitarrista base Malcolm Young, irmão do ícone Angus, guitarrista solo, começaram a pipocar na mídia internacional, em paralelo com reuniões dos membros para gravar um novo álbum.

Em setembro, a banda anunciou que Malcolm estava fora da banda devido a “demência”, e que seu novo disco, Rock or Bust, a ser lançado em novembro, seria o primeiro sem Malcolm.

Este foi substituído (nas gravações e no palco) por um sobrinho de 58 anos, Stevie Young.

Nos primeiros dias de 2015, a revista inglesa Q revelou que, além da demência, Malcolm também batalhou contra um câncer de pulmão em estágio inicial, debelado após uma cirurgia.

Para completar, teve também um marcapasso implantado no coração.

Para a banda, a perda de Malcolm é incalculável. Co-autor de quase todo o repertório do AC/DC ao lado de Angus, ele é frequentemente apontado como o melhor guitarrista-base do rock em todos os tempos, graças à uma sólida batida de mão direita, cheia de peso e suíngue.

Como se tudo isso não bastasse, em novembro último, a polícia da Nova Zelândia prendeu o baterista Phil Rudd (60 anos), sob acusações de encomenda para assassinato, ameaça de morte, posse de metanfetamina e maconha.

As acusações de conspiração e ameaça foram retiradas já no dia seguinte, mas não as de posse.

Neste momento, a situação de Rudd (em liberdade após pagamento de fiança) na banda permanece incerta.

Rudd não aparece nas fotos de divulgação de Rock or Bust e ainda não se sabe se ele continua no AC/DC para se apresentar na cerimônia do Grammy (em 8 de fevereiro) ou mesmo na turnê prevista para 2015.

Rock exaltação ao rock

Como se vê, 2014 foi dureza para o AC/DC. Mesmo assim, Rock or Bust não decepciona nem o mais cético dos fãs.

Ainda com todas as composições assinadas pela dupla Angus e Malcolm Young – e Phil Rudd na bateria –, o álbum abre no melhor estilo AC/DC: com a faixa-título, que tem um riff seco e poderoso linha Back in Black e o suingue característico que fez a fama da banda.

No geral acima da média, Rock or Bust tem ainda como destaques pérolas de  pura exaltação ao bom e velho  rock ‘n’ roll, como Got Some Rock & Roll Thunder, Rock The Blues Away, Rock The House e o single Play Ball.

Longa vida ao AC/DC.

Rock or bust / AC/DC / Columbia - Sony Music / R$ 27,90 / LP importado: R$ 189,90


sexta-feira, janeiro 23, 2015

SE EU ENTRO NUMA FESTA, QUERIDO, EU VOU SER O BOLO!



Um enfarto e uma fratura no braço não foram o bastante para tirar Robertinho de Recife de campo, que volta agora com sua antiga banda de hard rock / heavy metal instrumental, Metal Mania

Robertinho de Recife em 2014. Foto: Hanah Khalil
O guitarrista e produtor Robertinho de Recife tem mais vidas do que um gato. Na ativa desde os anos 1970, foi considerado virtuose já aos 12 anos.

Acompanhou cantores de sucesso da Jovem Guarda e viajou aos Estados Unidos ainda adolescente, apresentando-se com diversas bandas.

Nos anos 1970, firmou parceria com Fagner e Zé Ramalho – e ainda hoje produz os discos de ambos.

Em paralelo, desenvolveu sua carreira solo, fazendo muito sucesso nos anos 1980 com hits como Baby-Doll de Nylon (parceria com Caetano Veloso) e O Elefante, com letra de Fausto Nilo e cantada pela sua então esposa, Emilinha Borba - ops, é Lima.

Pouco tempo depois, animado com a ascencão do hard rock nos Estados Unidos e a popularização do heavy metal no Brasil (na época da febre do Rock in Rio I), lançou o álbum Robertinho de Recife & Metal Mania (1985), álbum histórico do gênero.

Em 1988 fundou a banda Yahoo, que fazia versões de baladas do hard rock mais comercial, de bandas como Def Leppard e Aerosmith.

Em 1990, radicalizou e lançou o álbum instrumental Rapsódia Rock.

Desde então, retirou-se para os bastidores da indústria e produziu muitos artistas.

Agora, 30 anos depois do primeiro álbum, retorna com a banda  Metal Mania, com o álbum Back For More.

Nesta entrevista (ou longa conversa), ele conta dos problemas de saúde que o fizeram querer retornar, da sua carreira, do seu estilo de tocar, do período nos EUA e do até do pessoal do manguebeat.

ENTREVISTA: ROBERTINHO DE RECIFE

Você teve uma experiência de quase morte e quando voltou resolveu reformar o Metal Mania. Como foi isso?

Robertinho de Recife: Isso quem me falou foi o médico. Ele falou ‘cara, pra mim você tá praticamente morto, seu coração tá todo entupido aí, completamente’. Ai eu perguntei: ‘eu vou morrer’? ‘Olha, cara, eu não quero que você durma, não vou te sedar por que você vai ficar falando comigo, vou começar um procedimento, vou tentar abrir alguma coisa aqui para poder te dar um fôlego de vida’. Esse médico é muito amigo meu e não me esconde nada. Minha mulher é baiana e eu dei adeus a ela, achei que ia morrer, mesmo. Aí na cirurgia botei seis stents, um número meio exagerado, tanto que os planos de saúde não cobrem. 'Ah, isso tudo não, não pode estar tão ruim assim. Se tá com seis é por que está morto'. Enfim, daí eu fiquei na UTI, eu tava defronte uma porta e fiquei pensando: 'se eu sair daqui por essa porta – se eu não para o inferno (risos) – eu quero voltar a fazer meu show com o Metalmania. Por que eu comecei a compor as coisas que estão neste disco ali mesmo, na UTI. Outras não, tem mais de 20 anos, eu compus depois do MM, mas nunca foram gravadas. E as músicas foram mudando, mudando, mas tendo como base aquelas coisas lá, como Kingdom Hymn, que é do tempo do Rapsódia Metal (1990), mas não entrou no disco. Mesmo Voo de Ícaro, que está no Rapsódia, a gente toca com outra roupagem agora. Tentei fazer esse disco como se fosse um retrospecto de tudo o que foi feito, é como se fosse um filme da minha vida, Inclusive tem uma música chamada All That We Lived Together (Tudo o que vivemos juntos) que é como fosse o que passei, tudo o que vivi, é uma música cheia de partes e cada parte me lembra alguma coisa, tem uma coisa meio Van Halen, passa por tudo. E eu que curti muito o metal, não só tocando ali, mas admirando os caras que tocavam.

Como fã?

Como fã, acima de tudo eu sou fã, não esses caras que ficam... tem gente que não é fã de ninguém, né? (Risos) Só dele próprio. Eu não. As pessoas falavam 'ah, ele copia não sei quem'... Cara eu vejo alguém tocando alguma coisa, olha eu não sou de copiar, tá? Mas eu vi Van Halen fazendo aquelas coisas, eu 'pô, essa técnica aí  eu quero fazer também', mas só que eu vou fazer minha própria coisa. Entendeu? Ele toca Eruption? Eu vou fazer meinha Eruption, que é o Voo de Ícaro. Tipo usando a mesma técnica, mas contando a minha hsitória. Isso você pode fazer. Por que aí eu torno aquilo pessoal. O meu metal é pessoal. Inclusive, no tempo que o Metal Mania foi lançado (1985), o pessoal falava 'ah, é heavy metal'? Eu falava 'não, é heavy lata'. (Risos). Por que naquele tempo foi que tinha baixado aquelas latas, sabe, que veio, umas latas cheias de maconha? Então, eu fazia heavy lata! (Risos) Por que é brasuca, tem essa coisa, tem humor também, é um barato isso. Inclusive eu vi uma coisa que um conterrâneo teu aí fez, eu gostei, meu amigo... aquele que anda descalço, como é que chama?

Luis Caldas?

Isso! Eu vi e achei sensacional! Ele é um grande músico. Inclusive, a primeira vez que eu toquei no Carnaval da Bahia foi em cima do (trio elétrico) Trás-Os-Montes e eu toquei heavy metal. Toda vez que eu me encontro com Moraes e Luis, que era o cantor. Ele viu, e eu entrei com o MetalMania. Eu toquei no Carnaval da Bahia o MetalMania (risos). Ele falou 'Você é louco, só você podia fazer uma coisa dessas, tocar metal no Carnaval!' Eu tocava Iron Maiden tocava Ozzy (Osbourne), aí... (risos). E foi uma coisa que a galera curtia muito mas não entendia. 'Pô esse cara não tá tocando frevo? Mas ele não é de Recife?'. Eu sempre tive esse conflito comigo. Como você sabe, eu sou nordestino, com muito orguho, com muito orguho. E isso é muito visível. Está no meu nome, em tudo o que eu fiz, nas pessoas que eu acompanhei, Fagner, Zé Ramalho... O Zé Ramalho aliás, é muito heavy metal.

Não a toa ele já fez parceria até com o Sepultura!

Exatamente! As músicas dele são heavy metal, cara! Os textos dele, é o mesmo texto do Iron Maiden, daqueles caras lá! Dessas bandas que tem um texto mais épico,entendeu? O Zé é muito visionário. Enfim, eu sou uma pessoa que fui muito questionado, muito! 'Ah, esse cara não é aquele que fez o Baby Doll de Nylon?' (Nota: a letra de Caetano Veloso). Sim, fiz, Baby Doll de Nylon é uma música minha, com o grande Caetano Veloso, entende? Eu só tenho a me orgulhar!



Quem questionou tanto?

Foram os fundamentalistas do metal. Por que tem um pessoal que é fundamentalista, entende? Que eu respeito, claro, OK! Querem a pureza da coisa...

Mas é cada um com sua verdade, né?

No tempo do Metal Mania original, nos anos 80
É, mas eu sou... Eu entrei no metal colorido, entendeu? (Risos) O metal de Los Angeles era colorido naquela época...

Mötley Crüe, Ratt...


Sim, pois é. Inclusive o nome do meu disco é Back For More, aí todo mundo diz 'ah, ele foi em cima de uma música do Ratt com o mesmo título'. Eu adoro essa música, mas não foi não, por que é 'Voltando para mais'. Que ótimo, que bom, eu adoro o Ratt. (Risos). Adoro o Ratt, gostava do Mötley Crüe, o Quiet Riot, a gente abriu para o Quiet Riot no Brasil.

Bem lembrado. Li a resenha do show na época, na revista (extinta) Metal.


Abrimos também para o Deep Purple na época – e não posso ainda divulgar, mas vamos abrir o show de um monstro desses do rock. Um grande nomes, está sendo discutido neste momento com os empresários na América para eu poder abrir para um grande nome que vem para cá. Tá quase rolando. Tem muitas condições que eles dão para nós. Já tivemos muitos problemas como banda de abertura, dividindo o show com essas bandas grandes. Por que eles tratam você como banda de abertura, você tem direito a pouca luz, não pode usar o equipamento todo... Graças a Deus, sempre fui autossuficiente nisso, sempre tive um equipamento que, mesmo que eles desligassem tudo, tava tudo certo. E a gente fazia tanta palhaçada no palco, que mesmo que desligassem as luzes todas, eu tava tão brilhante - com as roupas tão brilhantes (risos) - que até no escuro eu aparecia! Você tem que ir preparado. Começa assim, o show começa, aí ali pelo meio já vem o empresário gritando: 'Baixa!' (risos) 'Desliga as luzes que esses caras não podem tomar o show!' (Risos). Com toda humildade, mas é que, pô, teve show que eu acho que a gente agradou bastante.

André Barcinski contou em seu livro Pavões Misteriosos que você foi aos EUA ainda na adolescência, tocar com musicos de blues. Como foi isso? Com quem você tocou lá?

Cara, é o seguinte: em Recife eu tinha uma banda muito boa, chamava Os Bambinos. A gente fazia um som de rock de vanguarda em Recife, na linha assim Mutantes, mas sem ser cópia.

Psicodélica.

Psicodélica, isso. Muita coisa de Hendrix, daquelas bandas do principiozinho do rock pesado, Steppenwolf, a gente mexia com essas coisas. E aí uns americanos, o Arto Lindsay, sabe o Arto Lindsay?

Sim, claro! Na época ele morava lá em Pernambuco, não é isso?

É, então, ele apareceu com uns americanos de uma banda chamada Contribution. E essa banda me convidou para uma tourzinha com eles. Tocamos em Natal, João Pessoa, Recife, em alguns lugares inclusive tocamos nas escolas americanas que tem várias no Nordeste. Quando eles voltaram (para os Estados Unidos), levaram uma fita minha, e o baixista, o Carl (inaudível) levou um cassete - não, na época era fita de rolo, nem cassete tinha! E ele levou, uns caras adoraram e eu fui para lá. Chegando lá, a banda que ele tinha mostrado minha fita era uma banda de country! (Risos). Quando fui fazer a audição com os caras, quando eles começaram a tocar, eu falei 'ih, essa não é a parada que eu quero tocar aqui'. Tava no tempo do Woodstock e eu era hiponga total, eu queria era usar distorção, (pedal de efeito) wah-wah, sabe? Eu queria desarvorar ali e no country não dava. Aí eu joguei a toalha e fiquei lá dando canjas, tocando aqui e ali. Até que fui convidado para tocar com o Watch Pocket, que era um grupo muito famoso na época, pelo menos ali pelo sul dos Estados Unidos, e tinha uma música que tinha sido sucesso aqui no Brasil, Mamy Blue. (Canta) 'Oh, Mamy Blue'... Aqui teve muitas regravações, inclusive Agnaldo Timóteo regravou. A versão original dos caras é bem rara, nem nos Estados Unidos você acha. Um dia eu vi aqui, um pedreiro com nossa versão, a original, no celular! (risos) O cara tava fazendo um serviço aqui em casa. Eu falei 'cara! Me dá isso aí!'. Ele ficou de me dar e nunca me deu. Mas enfim, eu fiquei lá e na época eu fiz amizade com várias pessoas e tem uma pessoa que está aí na Bahia hoje mesmo, a Cassandra Wilson.

Sim, grande cantora de jazz!

Ela tá aí na Bahia hoje. (Quarta-feira, 14 de janeiro de 2015, quando esta entrevista foi gravada).

Tá aqui? Não sabia.

Sim, ela e a Rhonda Richmond. São duas cantoras que eu produzi lá nos Estados Unidos. Eu era para estar aí com elas, mas estou muito ocupado, não deu para eu ir. Elas vem aqui para o Rio amanhã. Você podia fazer uma matéria linda com ela, ela está aí por que quer gravar umas coisas baianas. A Rhonda Richmond, que é produtora dela, gravou cinco músicas de um baiano, o Assunção de Maria, que é um poeta baiano, lá de Juazeiro. É parceiro do Geraldo Azevedo e várias pessoas nos Estados Unidos estão gravando músicas desse cara, saiu um livro lá em inglês, com os poemas dele e eles (os americanos) se apaixonaram. E elas estão aí justamente para colher essa inspiração da Bahia. A Bahia é muito rica, né? E agora os caras tão querendo muito, principalmente a Cassandra, que tem um pé na África. Um pé não, tem o corpo inteiro na África no trabalho dela. Mas fiz um monte de coisa lá nos Estados Unidos, toquei em um programa de televisão logo antes do BB King, até hoje sou... a gente conhece o BB King, eu produzi o (guitarrista americano) Jesse Robinson há dois anos atrás, no Mississipi. Inclusive esse Jesse Robinson também gravou Assunção de Maria (Nota: todas as letras do álbum de Stray Star, de 2012, são de Assunção de Maria, retiradas do seu livro Em Busca de Mim e traduzidas para o inglês por Carl Kolb). Tem muita coisa saindo aí, cara. E ninguém sabe.

Acho que ninguém está divulgando nada disso, né? Confesso minha ignorância.


Não, não está. E por que? Por que isso é um movimento que eu começei a fazer lá no Mississipi. Eu sou fã do Assunção. E eu levei as coisas dele para lá e todo mundo se apaixonou. O que eu digo é o seguinte: o blues estava muito bem, mas ainda tinha problema de quem escrevia as letras. O blues tá sempre... ainda estava todo mundo cantando as mesmas coisas, entende? Faltava uma poesia forte no blues. Aí comecei a investir nessa coisa e a coisa mais próxima que eu vi do blues foi o Assunção de Maria. A poesia dele é muito carregada desse espírito blue. E aí eu fui lá produzir, mas aí a gente já tá saindo (do assunto da entrevista). Sabe o grande problema, é que eu sou produtor também, e eu no momento tô querendo falar do MetalMania. (risos)

Robertinho à frente do reformado Metal Mania. Foto Hanah Khalil
É, vamos voltar ao Metal Mania. Quando você pensou em remontar o Metal Mania não teve medo do pessoal considerar uma coisa meio ultrapassada não? De lá para cá o metal mudou tanto...

Cara em tudo que eu faço, eu tenho primeiro que agradar a mim. Se eu for agradar ao mercado, eu vou ter que fazer aquelas coisas... Yahoo. Entendeu? (risos). Eu tenho que ser muito honesto comigo. Mesmo por que é o seguinte: ei não estou indo batalhar um mercado. Não estou atrás de reconhecimento, muito embora esteja sendo muito bem recebido. O disco foi lançado dia 16 apenas para download. E quais são as estatísticas: no iTunes estávamos na 52ª posição no Top Downloads Brasil. Saíram mais de 45 publicações, o Globo e tal, tudo na primeira página inteira do caderno de cultura, mesma coisa nos jornais de Pernambuco, Rio Grande Norte, Pará, Paraíba, o Uol também me deu a capa do site, a Rolling Stone vai sair uma reportagem também. Então, eu tô sendo muito bem recebido. Eu nem esperava isso. É apenas um momento meu de celebração, vou curtir. E tudo foi assim, a gente começou a ensaiar por que eu ia fazer apenas um show, não ia gravar um disco. Esse ensaio foi ouvido pelo diretor da Sony, por que eu tava produzindo Zé Ramalho, ele ouviu e falou 'caraca me dá uma cópia disso'. Levou e me ligou no dia seguinte 'velho eu não paro de ouvir. Vamos lançar isso'. Aí eu 'cê tá louco cara'. (Risos)

É bastante incomum uma Sony lançar um material com esse perfil hoje em dia, né?


Pois é, nem eu teria coragem de oferecer nada! Por que primeiro eu ia levar um fora, 'não, a gente não está contratando ninguém'. Eu achei que ele tava querendo me agradar. O disco do Zé Ramalho e do Fagner tá vendendo pra caramba e eles estão felizes. Porra nenhuma! (risos) Não era nada disso. Três dias depois me chega um contrato pelo correio, eu 'caraca, é verdade mesmo'. Eu liguei pro cara 'é isso mesmo? Cinco anos de contrato?' Ele falou 'cinco anos!'. Eu nunca assinei contrato de cinco anos, era geralmente um ano, três no máximo. Cinco anos! (Risos). Eu falei 'esse cara tá achando que eu vou morrer mesmo! (Risos) Então vamos lançar enquanto ele não morre'! Eu falei 'obrigado Deus!'. Tá tudo dando certo, caminhando, a atenção que vocês da imprensa estão me dando, muita gente me procurando... porra, é só felicidade, cara. Fico muito honrado, não esperava. Por que desde que eu me afastei da carreira solo eu investi no anonimato. Você vê que eu não aparecia. Eu detesto ser pipoca de festa, entendeu? Agora, se eu entrar nunca festa, querido, eu vou ser o bolo! (Risos)



Oito ou oitenta, né?

É oito ou oitenta! Se eu chegar, eu quero que todo mundo abra passagem senão eu prefiro não entrar na festa. Por que eu não tô pedindo, não vou entrar sem ser convidado. Então tá rolando as coisas. E o público que me cobrava no Facebook... Hoje eu recebi uma mensagem pepelo Face de um cara me contando que pagou R$ 300 pelo disco Rapsódia Rock.

Pelo vinil?

Não, pelo CD! É que saiu em CD, mas ele é muito raro. Na época, vendeu 35 mil cópias. Para um disco instrumental, 35 mil cópias era muito na época! Só que a indústria queria que eu fizesse coisas como o Yahoo, que vendia mais de 100 mil cópias. E eu já tinha me tornado produtor, com um compromisso muito grande, de atender vários clientes.

Algumas faixas tem um clima bem épico, grandiloquente mesmo, é como se vc estivesse tentando tocar o céu.

Adorei isso, vou roubar essa coisa! (Risos) É, eu quero tocar o céu! Adorei isso! Porra, obrigado pela frase! (Risos) Mas foi tipo assim: se resta mesmo pouco tempo, eu tô cheio de stent, de parafuso no braço. Quando eu comecei os ensaios e comecei a me divertir muito de novo, e conseguir fazer, mesmo com todas as limitações, por que dói pra tocar! Eu quebrei o braço há dois anos atrás, tenho 18 parafusos. Então eu estar conseguindo fazer tudo isso, eu 'cara, dá para se divertir. Uau'. Eu achei que nunca mais ia conseguir entrar no ringue, entendeu? É esse desafio que tá sendo bacana. E agora, qual a diferença daquele tempo? Agora eu não tenho mais compromisso de levantar bandeira de nada. É Metal Mania por que eu quero que os metaleiros saibam que eu estou fazendo metal de novo. Por se for ver mesmo, não é muito parecido com o primeiro Metal Mania. Embora no show a gente vai tocar aquelas músicas lá 'bate o pé, bate a mão, a cabeça e o coração', a galera vai querer ouvir. Continuamos ensaiando, a gente pretende fazer um show muito bacana e levar para essas pessoas, 'olha aí cara, essa é a oportunidade', por que eu também não pretendo ficar para sempre na estrada. Eu não vou abandonar minha carreira de produtor. Meus artistas, eu não vou abandona-los nunca! Então quem quiser ver o Robertinho, quando anunciar, vai ser tal dia. Bicho, vá lá por que depois não vai ter de novo. 'Ah, depois eu vou, ele volta outro dia'. Não vai não, querido. Não vai. Outra coisa muito importante: esse disco não vai ser lançado em CD. Esse é um formato que eu estou torcendo que saia de vez de circulação. Eu nunca gostei do CD. Tanto que meu último lançamento foi em vinil. Até o Rapsódia foi em vinil. A primeira vez que eu peguei um CD na mão falei de cara: 'isso aqui eu detesto'. Joguei na lata de lixo. Eu tava na EMI Odeon. O diretor artístico Jorge Davidson me mostrou 'olha aqui, já viu como é um CD? Toma aqui um pra você'. Eu olhei, peguei a caixa já quebrou na minha mão. Ai fui ver as letrinhas pequenininhas, a capinha... Aí eu falei 'velho, isso não é produto'. Pum, joguei fora. Isso não é produto. Eu não quero estar nisso aí. Como artista, eu acho o CD um lixo. Parece uma embalagem de remédio. (Risos) Então me ouça no vinil grandão ou no download. Por que o download pelo menos é barato!



O que achou de toda aquela cena manguebeat que emergiu nos anos 90? Você nunca foi procurado por eles não?

Eles me procuraram. Meu irmão era amigo do Chico Science desde antes dele aparecer. Olha, Chico passou pela minha mão várias vezes. Meu irmão me mandou uma fita cassete do Chico. 'Olha, tem um pessoal aqui que é meu amigo e tal'. O Fred ZeroQuatro era amigo dele. Só que na época eu tava produzindo um monte de coisa. Ai eu falei 'tá bom, vou ver aqui na gravadora'. Teve um dia que eu cheguei na Sony e o Jorge Davidson era o diretor artístico, ele chegou e me disse que tinha uma coisa para eu ouvir. 'Por que se você gostar vou te dar para você produzir'. Quando botou eu falei 'Chico Science. Eu conheço, cara!' Aí ele falou, 'pô, eu tô entre você e o Liminha para produzir'. Eu falei, 'cara, já ouvi, acho muito legal, agora, para o Chico, é melhor o Liminha produzir'. Por que? Eu já sou de Recife, vai ficar uma coisa muito.... Eu acho que eu ajudei o Chico nisso, entende?

Não sei se você sabe, mas essa produção do Liminha do primeiro disco do Chico foi muito criticada na época.

É, mas eu acho que Liminha deu um toque ali. Deu uma coisa bacana ali, peraí. Inclusive ele tava produzindo todo o pessoal da época, o Rappa, o Planet Hemp, que tinha tudo a ver. Eu falei pro Jorge: 'não sou fominha de bola'. Mas sabe qual foi o meu problema? Eu estava produzindo a Angélica! (Risos) Eu falei, 'não vou ter tempo de me dedicar', tinha que ir para Recife fazer pré-produção com eles lá, depois vir para cá. Na época eu não tinha estúdio. Eu falei quer saber de uma coisa: deixa lá com o Liminha, a produção não tinha muito dinheiro... Deixa o Liminha fazer. Ele vai fazer bem e para os caras vai ser melhor. Por que se eu entrasse, ia 'pernambucalizar' mais ainda, entende? Acho que não ia ser legal para eles. Eu como produtor, eu sei se eu posso quando vou produzir alguém. O que eu posso fazer, o que eu não posso fazer e quem seria melhor para fazer. Também quando eu me meto velho... Zé Ramalho ninguém se atreva a fazer lá, sabe? (Risos) Não vai fazer tão bem quanto eu por que eu conheço bem. A gente trabalha eu e Zé numa harmonia brutal! Antes dele falar uma coisa eu já tô respondendo para ele.

Quando traz esse show a Salvador?

Cara, eu vou aonde me chamarem. Eu adoro Salvador. Sou casado com uma baiana e sou fã de muita gente aí da música. Luis Caldas que é meu amigo demais, Pepeu, Moraes, Armando (Macedo), a Thati, guitarrista que eu produzi. Adoro ela, adoro. Tem tantos que eu fico com medo, tipo 'porra, o cara não falou meu nome'. Adoro a Bahia. Bahia e Recife é a mesma coisa, eu considero a mesma coisa. Quer dizer, é aquela coisa, cada um com suas características, mas acho muito parecido, os pernambucanos se dão muito bem com os baianos. Quantos casais de baianos e pernambucanos eu conheço? Se completam, eu acho.

Robertinho, foi um prazer enorme falar com você.

O prazer foi meu, inclusive ganhei uma frase! (Risos)

Pode usar!


É, eu tô querendo tocar o céu! Você vai ver vou botar no Facebook! Olha, quando eu for para aí... Eu sou muito amigo do Távio Miranda. É um cara que hoje mora em São Paulo, faz os melhores amplificadores do Brasil. Baiano. Ele me falou outro dia que eu deveria fazer um workshop em Salvador, que tem um monte de guitarrista querendo.

Sabe o que eu queria? Ver você aqui no Carnaval com Armandinho, em cima do trio. Ia arrepiar geral!


É, né? Só precisa alguém me chamar, eu não posso me convidar. Se você me vê em algum lugar, é por que me convidaram e insistiram. Eu não gosto de ser entrão. Por que tem muita gente que diz 'ah, Robertinho não'. Pô, que é isso, bicho? Você está desinformado, não é tão fácil, não! (Risos)

Back For More / Robertinho de Recife & MetalMania / Sony Music / Disponível apenas no iTunes / Breve em LP de vinil


quinta-feira, janeiro 22, 2015

FERA DO BAIXO, O BAIANO LEFÊ SE LANÇA SOLO NO JAZZ COM O ÁLBUM MATRIZ

Luis Fernando Neto, o famoso Lefê, em foto de Julio Acevedo
O contrabaixista baiano Luis Fernando Lefê Neto é um daqueles casos que fazem o colunista blogueiro pensar: de onde sai tanto músico fera dessa cidade?

Isso eu não sei, mas sei para onde vão.

Residente em São Paulo há mais de dez anos, Lefê acaba de lançar seu primeiro álbum: Matriz, uma coleção de temas autorais de jazz avant garde.

Mas ele tem uma longa história na cena de Salvador. “Eu comecei com a banda da AMA (Academia Música Atual, escola que marcou época nos anos 1980). E era massa, todo mundo era direcionado para o que sabia fazer melhor”, conta.

No início dos anos 1990 ele integrou o power trio Stone Bull, com outros monstros locais: o guitarrista Paulinho Oliveira e o baterista Maurício Braga.

Sério, foi uma das bandas mais incríveis do cenário de Salvador que o colunista já teve a sorte de assistir.


Era uma banda tão boa que depois  Márcio Mello “roubou” essa cozinha (Lefê e Maurício), fazendo uma histórica temporada de mais ou menos seis anos no extinto bar Alambique.

“Toquei tanto tempo com Márcio que gravei dois discos com ele. E olha que ele não faz disco por ano! No Alambique eu tinha que me esconder dos amigos que pediam para entrar. Era divertido demais”, lembra.



De L.A. para São Paulo

Após um ano estudando no famoso Musician’s Institute de Los Angeles, Lefê entra na Cascadura no fim dos anos 1990, com a qual grava o lindo álbum Vivendo em Grande Estilo.

Cascadura circa 2001: Lefê, Fábio, Thiago e Martin Mendonça
"Aí depois de alguns anos eu larguei Márcio e comecei a tocar com Peu Sousa no Diga Aí Chefe. Depois toquei com Cascadura e gravei com eles o Vivendo em Grande Estilo. Vim com eles para São Paulo e não voltei mais. Tinha muitos amigos aqui, contatos que tocavam, casou tudo", resume.

E se manda para São Paulo com Fábio & Cia. Pouco tempo depois, a banda voltou, mas Lefê continua por lá  até hoje.

Em São Paulo, o rapaz logo se enturmou, graças à extrema perícia com o baixo em mãos – além de ser uma figura muito boa-praça.

"No meio das coisas com o Casca em São Paulo já rolou o Sousa Lima, um conservatório em que me matriculei. Aí em me bandeei para o outro lado (o jazz). A coisa do rock é divertida, mas a gente perde muita noite", observa.

No conservatório, Lefê deu continuidade aos seus estudos (que ainda continuam) e hoje vive das aulas que ministra, além de tocar na cena jazz de São Paulo.

Lefê, foto Júlio Acevedo
"Quando você chega aqui, encontra tem um nível muito alto. Não da para esperar, tem que estudar muito, tem que tocar de verdade. Se vacilar, já era", conta.

"Em São Paulo vc se sustenta dando aula, além de tocar jazz na noite. E a gente toca por que precisa tocar. É o que eu faço. Se eu não tocar, de que adiante dar aula? Aí vou dar aula de culinária. Tem que se manter em forma, atualizado", reflete Lefê.

“No Matriz eu me forcei a compor por quer eu queria fazer algo por mim. Faz bem pro ego, não vou mentir”, diz.

"E é legal tocar com os amigos na noite, mas muito é difícil tocar meu som autoral por que que eu tava ouvindo muita coisa maluca que eu gosto. Aí eu disse quero fazer esse som, desse caras aí, uns malucos de Nova York. Quem? Ah, tem um guitarrista chamado Wayne Krantz, tem Lage Lund, Chris Potter e Dave Holland. Esse Chris Potter tem uma banda chamada Underground que é da pesada", indica.

"Uma das coisas desse disco que foi legal é que eu voltei para a faculdade. Estou no ultimo ano de contrabaixo acústico na Unesp. É muita coisa para estudar. E eu não queria ficar sem estudar, mas como essa é uma empreitada maluca, então estou meio sem tempo. Toco em alguns barzinhos e tal, mas falta tempo agora. Preciso me formar primeiro e fazer outro disco. Ah! Quem tiver interessado, o Matriz tá na Tratore, Rdio, Deezer, iTunes e Livraria Cultura", prossegue Lefê.

"Na verdade, o Matriz é mais uma fotografia do que eu acho que eu tenho que ser. O que eu almejo ser. E mesmo assim, muita coisa de conhecimento, de abordagem, veio depois desse disco. O próximo mesmo eu nem sei como vai ser a formação, se vai ter bateria, se vai ser só baixo e vibrafone, por exemplo. Vou me formar e compor em formações diferentes, por que é legal explorar as nuances da musica e de outras linguagens", diz.

"A propósito, eu gravei três músicas no programa Jazz em Plutão (Vandex TV). Foi eu, Vandex, Jorge Solovera e Mauro Tahim. Gravamos duas músicas minhas e uma de Vandex. Foi massa, divertido. Tá disponível, já. O Mauro mora aqui em SP, então foi fácil pra caramba. Inclusive já tem uma música nova minha que não está no disco", conta.

E aí, Lefê, quer dizer mais alguma coisa? "Eu queria mandar um beijo pra minha mãe, pro meu pai e pra você".

Ouça: www.luisfernandoneto.com





sexta-feira, janeiro 16, 2015

POÇÕES RECEBE QUATRO LENDAS DO METAL

Festival Ruídos no Sertão 2015, em Poções, promove dois dias de heavy metal com direito a atração internacional Metal Singers, com 4 vocalistas de bandas de renome. Falamos com um deles, o alemão com voz de trovão Udo Dirkschneider

A cidade  de Poções (região Centro-sul, 444 quilômetros da capital) recebe no fim de semana a segunda edição do festival de heavy metal Ruídos no Sertão.

A atração principal é de dar inveja aos headbangers de qualquer capital: o espetáculo Metal Singers.

Idealizado pela Open The Road, uma produtora de shows de São Paulo, o Metal Singers reúne no Brasil quatro cantores de renome: Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), Tim Ripper Owens (ex-Judas Priest), Udo Dirkschneider (ex-Accept) e Mike Vescera (ex-Yngwie Malmsteen).

Como se vê, uma seleção de respeito de ex-membros de grandes bandas, com uma diferença: enquanto Bayley, Owens e Vescera amargaram a ingrata tarefa de substituir vocalistas icônicos em suas bandas – especialmente Bruce Dickinson (Iron Maiden) e Rob Halford (Judas Priest) – o alemão Dirkschneider é o vocalista original do Accept e ainda hoje o preferido dos fãs.

Ainda assim, são todos músicos talentosos e com histórias interessantes. Tim Owens, por exemplo, viu seu período com o Judas Priest servir de inspiração para o filme Rock Star (2001), com Mark Wahlberg.

Com dois dias, o Ruídos no Sertão é realizado com  apoio do governo estadual, via edital do Fundo de Cultura e, pelo jeito, vem para ajudar a consolidar o interior da Bahia como um pólo de heavy metal (caso tenha continuidade e cresça nos próximos anos, bem entendido).

Além do Metal Singers, o festival apresenta boa seleção de bandas baianas da capital e do interior. Amanhã tem Batrákia, Keter, Blackchest, Berzekers, Human e Malefactor.

Domingo tem Locomotiva, Natural Hate, The Savage, Suffocation of Soul e  Metal Singers.

Udo fala

De São Paulo, Udo Dirkschneider concedeu uma rápida exclusiva por telefone ao Caderno 2+, contando como deu uma pausa nas atividades com sua banda (U.D.O.) para correr o Brasil com o Metal Singers.

“Bom eles me convidaram e eu disse ‘sim, por que não?’. Vai ser legal ver o Blaze (Bayley) de novo, eu conheço esses caras, então sim, vai ser divertido e interessante, então estou dentro”, afirmou.

Ele ficou surpreso quando soube que o show seria em uma cidade que nunca viu um rock star.

“Não costuma acontecer muito comigo. Já estive em muitas cidades pequenas da Rússia, onde as bandas maiores não costumam ir. Mas é sempre muito especial cantar em uma cidade que nunca recebeu um rock star”, diz.

Frontman original de uma das bandas alemãs mais reconhecidas de todos os tempos, Udo deixou o Accept em pleno auge comercial (1987), quando o heavy metal era o prato do dia no mainstream – meados dos anos 1980.

"O problema foi que eu nunca saí do Accept, eles me despediram (risos). Foi por isso. Eles queriam ser comerciais, aí eu disse 'não, eu não quero fazer essa merda'. Então eu continuo com o U.D.O. há 25 anos, então claro que ainda toco algumas canções do Accept, mas no encore (bis, no Brasil), não no set list principal", conta.

O jornalista, apreciador do Accept desde 1985, não resiste e faz a típica pergunta do fã babão: Udo, qual o seu disco preferido na sua antiga banda?

"Para mim são dois: o Breaker e o Balls to The Wall".

Aos 62 anos, Udo sabe que não importa quanto tempo faz que ele saiu do Accept, os fãs sempre pedirão os hits da banda em seus shows.

“Sim, eu sei, claro! Isso não é nenhum desrespeito, é parte da minha história então eu ainda toco Balls To The Wall, Fast as a Shark, Metal Heart, as vezes eu ainda toco Princess of The Dawn,  uma das minhas músicas preferidas do Accept. Mas agora eu já tenho quinze álbuns com o U.D.O., então também temos tanto material. Mas a razão de tudo no fim das contas é dar as pessoas o que elas querem. Nos vemos na Bahia! Bye-bye!”, conclui.

Festival Ruídos no Sertão 2015 / Amanhã (19h30) e domingo (14 horas) / Área de eventos Os Primos (Poções) / R$ 100 (dois dias), R$ 50 (por dia)


POP, MODERNA E TRANSCENDENTAL

Sexta-feira, Mariella Santiago lança novo álbum em show nos Barris, com videomapping de Marcondes Dourado

Mariella, foto Juh Almeida
Musa do jazz e da vanguarda na Bahia, Mariella Santiago vai para as cabeças em segundo álbum, Ella, que tem show de lançamento sexta-feira hoje, no Quadrilátero da Biblioteca Pública da Bahia.

Neste novo trabalho, a cantora consegue a proeza de soar – com o perdão da má palavra – pop e bastante acessível ao grande público, sem abrir mão da sua integridade artística ou apelar para onomatopeias infantis e dancinhas bobas, como é regra no verão baiano.

Produzido pela própria cantora em parceria com o produtor paulista radicado na Bahia, Beto Neves, Ella parece marcar um ótimo momento na carreira de Mariella, que em dezembro último foi anunciada pelo selo Natura Musical como uma das contempladas do Edital Bahia para o ano de 2015.

De sonoridade limpa, cristalina – o que casa muito bem com a voz afinadíssima de Mariella – o álbum desce redondo, intercalando funk, soul, samba e jazz soft – tudo sem soar muito experimental ou hermético.

Enfim: se as rádios locais ainda se prestassem a tocar música nova e interessante, Mariella estaria pronta para invadi-las. “Fiquei muito contente com esse disco”, afirma a cantora.

“É um trabalho que eu escuto muito – e esse é o primeiro sinal de que aquilo que pensamos a gente conseguiu expressar, passar o sentimento, as letras, todo o imaginário, as ideias, as histórias”, acrescenta.

Com 15 faixas, Ella traz onze  autorais da própria Mariella, à exceção de algumas parcerias, como Calunga Exuberante (Chico César, com quem canta em dueto a faixa) e mais duas (Pássaro de Clareira e Hoje) com o guitarrista  Pascal Heranval.

As outras são releituras para  Que Beleza (Tim Maia), Fala Só de Amor (Edson Gomes), Obalalá (João Gilberto) e Batuquinho (do seu irmão, o percussionista Gilberto Santiago).

Ao longo do disco transparece uma constante na carreira de Mariella: a busca pela transcendência e pelo ancestral – embalada em uma abordagem sempre moderna, pra frente.

“É verdade. Sempre me impressiona  como a música tem um ligar ritualístico, transcendente. Até involuntariamente, eu busco a música de forma ritual na minha vida”, afirma.

“OK, música hoje é ringtone de celular, mas já passamos por tudo isso. A música é ritualística por excelência, tem esse lugar na vida  das pessoas”, aposta.

Para Mariella, Ella teve essa propriedade: “Tem várias canções compostas a partir de situações da vida. Uma vez que  a gente grava, ela serve para outras pessoas, é um polaroide daquele momento, daquele estado de alma”, observa.

Foto: Hirosuke Kitamura
“Eu insisto muito na música com essa função. Muito se fala na função política ou de mero entretenimento (da música), mas para mim é transcendência. Algo diferente do cotidiano tem de acontecer”, reivindica.

Um exemplo claro disso está na faixa Saudação, em que ela fala da capoeira e de Mestre Pastinha, casando com trechos de Que Beleza (Tim Maia) e falas sampleadas de Glauber Rocha.

“Essa música fala dessa filosofia de buscar algo tão poderoso que rompe situações de opressão e transformam a realidade. Como é a capoeira que é de uma beleza tão extrema e absoluta que rompeu sentimentos de ódio e opressão”, acredita.

DVD em abril e verão 2015

Pelo Natura, Mariella vai gravar um DVD ao vivo e fazer turnê por algumas capitais (Rio, BH, São Luis) e cidades do interior.

“Chico César é meu convidado no show, com direção de Pico Garcez. Tem canções do Ella e inéditas. Vou gravar Caetano Veloso pela primeira vez. Sempre cantei, mas nunca gravei, me sinto madura agora pra isso. Itamar Assumpção também. O show vai ser em abril, aqui em Salvador”, conta.

Ainda no verão, ela marca presença em festas importantes da estação, como o 2 de fevereiro (Festa Oferendas, Lalá Multiespaço), Festival Paisagem Sonora (dia 6, Cachoeira) e seu próprio evento anual, o Encontros de Verão (dia 8 no MAM).

“Olha, como estou divulgando o disco, só começo a falar dele depois do lançamento. Posso dizer que vou trazer figuras que não vem a cidade há muito tempo”, conclui Mariella.

Show de Lançamento do CD Ella, de Mariella Santiago / Sexta-feira, 19h30 / Quadrilátero da Biblioteca Pública do Estado da Bahia (Barris) / Gratuito

quarta-feira, janeiro 14, 2015

DAVE GROHL TEM MAIS BALA NA AGULHA DO QUE TALENTO

O melhor do novo álbum do Foo Fighters é a sua série de TV

Foo Fighters, foto Ringo
O Foo Fighters de Dave Grohl está longe de ser, assim, uma banda essencial na história do rock.

Também está longe de ser uma banda ruim.

Nada mais século 21, portanto, que, a cada álbum lançado, busque a atenção da mídia com truques de marketing extra-musicais.

É o que acontece com seu novo álbum, Sonic Highways.

Felizmente, os rapazes não são baixos como as atuais cantoras pop, que se limitam a aparecer nuas e a coçar a bacurinha em clipes cheios de “atitude”.

Na verdade, a cada empreitada, o líder do FF, Dave Grohl, aproveita a oportunidade que tem de unir ao útil ao agradável reafirmando sua profissão de fé ao rock ‘n’ roll, sua história e mitologia.

Em Sonic Highways, Grohl dá continuidade a sua investigação das vertentes do rock norte-americano iniciada no documentário Sound City (2013).

Se naquele projeto ele concentrava sua atenção em um único e lendário estúdio de gravação – o Sound City, de Los Angeles – em Sonic Highways ele selecionou outros oito estúdios históricos em oito cidades importantes para a música norte-americana, gravando uma faixa do disco em cada um desses locais.

E não ficou só nisso: a coisa toda virou uma série de TV.

Em cada cidade, ele gravou um documentário no qual esquadrinha a cena musical daquela cidade a partir daquele estúdio, entrevistando músicos, produtores, jornalistas, funcionários.

A deusa do rock Joan Jett participa do episódio Los Angeles
E mais: para cada música do álbum, ele “pescou” frases dos entrevistados, incluindo-as nas letras.

Desfile de ilustres

No fim das contas, Sonic Highways pode não ser lá um puta álbum de rock, mas a série de TV associada é, para os fãs de rock de qualquer idade, algo simplesmente imperdível.

Por que, na indústria musical norte-americana de hoje, só mesmo um cara com “bala na agulha” como Dave Grohl poderia produzir, com estardalhaço midiático, um seriado de TV no qual entrevista figuras históricas do rock.

Estão lá dando preciosos depoimentos Buddy Guy,  Rick Nielsen (lider do Cheap Trick, ambos de Chicago), Ian Mackaye (líder do Fugazi, de Washington DC), Joan Jett, Josh Homme (QOTSA), Daniel Lanois (Los Angeles), Chuck D., Rick Rubin (Nova York), Trombone Shorty, Cyrill Neville (Nova Orleans), Billy Gibbons (do ZZ Top, de Austin, Texas), Dolly Parton (Nashville) e por aí vai.

Sonic Highways é exibido no Brasil pelo Canal BIS aos domingos, às 19h30 (no horário de Salvador).


Correndo sem se mover: álbum é OK e fãs vão curtir, mas falta ousadia

Quanto a Sonic Highways, o disco em si, nada de novo no front – e nem parece ser esta a intenção de Dave Grohl, um sujeito claramente conservador e tradicionalista quando se trata de rock (nada de errado com isto, antes que me apedrejem).

Cena do episódio New Orleans
Trata-se de um álbum que, a pesar de ter apenas oito músicas, não é exatamente curto: a média de duração das faixas é de cinco minutos, o que dá espaço bastante para os músicos se espraiarem em arranjos cheios de convenções e grandiloquência de arena, tendência adotada pelo FF em One By One, álbum de 2002.

Há pouco espaço para sutilezas e a faixa de abertura, Something From Nothing, é um exemplo claro de como o álbum como um todo se desenvolve.

De início ela começa devagar e melodiosa, com Grohl cantando de forma contida sobre as guitarras bem articuladas de Pat Smear e Chris Shifflet.

Aos poucos, a canção vai ganhando outra dinâmica e a voz de Grohl, volume.

Enfim, o que parecia uma canção interessante e sensível vira um grande rock pauleira genérico e berrado, selo Foo Fighters de qualidade.

A faixa seguinte, The Feast and The Famine segue a receita, bacana, mas sem grandes novidades.

E assim vai o resto do álbum, tornando difícil apontar esta ou aquela como faixas de destaque.

Em conclusão, o Foo Fighters rodou por oito cidades diferentes dos Estados Unidos, mas parece não ter se movido um centímetro sequer em sua abordagem musical.

Claro que, a essa altura do campeonato, não se exige mais que se reinvente a roda.

Mas um pouquinho mais de ousadia na composição não faria mal a ninguém.

O público de Grohl é fiel e o seguiria de qualquer jeito.

Sonic Highways / Foo Fighters / Sony Music / R$ 24,90 / LP Importado: R$ 148,90


ANDREA MARTINS LANÇA SOLARIS EM SHOW GRATUITO NO EVA HERZ

Andrea Martins em foto de Natalia Arjones
A primeira vez que o colunista blogueiro viu Andrea Martins já foi no palco da Concha Acústica, na final do concurso Claro Que é Rock, em uma noite gloriosa fechada pela banda inglesa Placebo, então em grande momento.

Dez anos se passaram e, na próxima segunda-feira, ela sobe em outro palco, o do Teatro Eva Herz, para apresentar seu show solo, intitulado Solaris.

Pois é, foi em 2005 (parece que foi ontem) que a banda de Andrea, a Canto dos Malditos na Terra do Nunca, chegou à final do  Claro (vencido por Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta), lançou álbum pela Warner, rodou TVs, rádios e palcos Brasil afora.

A banda acabou (em 2007), voltou em 2013 e tem feito shows esporádicos e pequenas turnês pelo interior desde então. Mas entre essas idas e vindas, Andréa, uma menina inquieta, nunca ficou parada.

Quando morou em São Paulo, trabalhou em um estúdio de áudio, aonde se aperfeiçoou nas bruxarias da mesa de som e dos programas de gravação.

Acabou gravando três EPs solo, cada um com uma proposta.

“Em Art Empenada, fiz versões de canções da MPB como Super Mulher (Jorge Mautner) e Punhal de Prata (Alceu Valença). Trabalhei com a ajuda de um produtor amigo meu, aí demos uma desconstruída nos arranjos”, conta.

“O segundo EP foi Soldier of Love, com minhas composições em inglês,   como se fosse um alter ego meu”, prossegue.

“E o último é o Solaris, com composições autorais, que dá título ao show. Esse show tem as canções desse EP e do Art Empenada. Todos tem essa mistura de eletrônica com música percussiva brasileira, assim eu saio um pouco do rock que desenvolvo com a Canto”, conta.

Música traduz sensação

O título Solaris tem duplo sentido para Andrea.

Refere-se tanto ao filme de 1972 do diretor russo  Andrei Tarkovski (baseado em livro do polonês Stanislaw Lem), quanto ao momento solar de retorno à cidade.

“No filme, o planeta Solaris recria as memórias das pessoas. A música é um pouco disso, ela  capta sensações e traduz em som. Acredito que traduzo as coisas que sinto em música, então  vi uma semelhança”, diz.

E em 2015, além de voar  solo e em coletivos (Nossos Baianos, Minavu), Andrea pretende gravar material novo da Canto.

Andrea Martins apresenta: Solaris / Segunda-feira, dia 19, 19 horas / Teatro Eva Herz (Livraria Cultura) / gratuito
 


NUETAS

Conversíveis na sexta

Conversíveis: no Rhoncus sexta. Foto divulgação
Com o Irmão Carlos à frente, a banda Conversíveis faz gato, sapato, afrobeat, rock e funk do repertório de Tim Maia, Roberto Carlos e Jorge Ben. Ronchus Pub (Rio Vermelho), 22 horas, couvert não informado.

ExoSessions & Pivos no sábado

O power trio ExoEsqueleto leva o show ExoSessions ao Solar Boa Vista com os punks de Camaçari The Pivos. Sábado, 16 horas, R$ 10 e R$ 5.

Poções Metal Singers

No fim de semana, Poções recebe o festival Ruídos no Sertão. A atração principal é o espetáculo Metal Singers, com quatro vocalistas consagrados: Blaze Bayley (ex-Iron Maiden), Tim Owens (ex-Judas Priest), Udo (ex-Accept) e Mike Vescera (ex-Yngwie Malmsteen). Se informe na fanpage e se jogue!

sexta-feira, janeiro 09, 2015

PODCAST ROCKS OFF: 2014 SAI, 2015 ENTRA (LÁ ELE)

A volta do Afghan Whigs rendeu um dos melhores discos de 2014
Neste novo blá blá blá dos seiscentos demônios, Nei Bahia, Miguel Cordeiro, Osvaldo Braminha Silveira e este blogueiro relembram o que esqueceram de lembrar de 2014.

E tentam imaginar este inimaginável 2015, entre start ups (hein?!?, disse Miguel), assemblages e demais procedimentos comuns a nossa boa e velha dança de rato.

(Acho que esgotei minha cota de citações de Franciel Cruz neste post...)





BÔNUS: uma das melhores faixas de 2014, na humilde ma non troppo opinião do blogueiro.


PERCUSSA, BAIANA E ROQUEIRA

Perfil: A multi-instrumentista baiana Michelle Abu conquistou São Paulo tocando com vários artistas de renome. De férias em casa, ela lança seu primeiro trabalho solo: # 1

Michelle. Fotos de Fábio Abu.
Se o nome de Michelle Abu não soa familiar, pode acreditar que uma ligeira passada de olhos no currículo da percussionista / baterista baiana está assim de nomes largamente admirados pelo grande público.

Arnaldo Antunes, Ira!, Baby do Brasil, Zeca Baleiro, Wanessa Camargo, Lobão, Edgar Scandurra e a lista não para.

Neste momento, Michelle empresta seu talento de multi-instrumentista para Márcia Castro, Palavra Cantada (projeto de Paulo Tatit e Sandra Peres), Maria Alcina e Mercenárias.

Em paralelo, a musicista de 36 anos assume a frente do palco, cantando e tocando guitarra em seu próprio projeto solo, com o qual lançou há pouco tempo seu primeiro álbum, intitulado apenas #1.

Candidamente deitada no gramado da casa dos seus pais no litoral norte para uma sessão de fotos, Michelle lembra que tudo começou por ali mesmo, nas férias de verão dos anos 1990.

“Só dava o povo do rock por aqui naquela época”, diz.

“Na rua mais abaixo morava Emerson Borel, guitarrista da Úteros Em Fúria.  Mais para cima era a casa de Cândido Soto, guitarrista do Cascadura. Ali mais adiante ficava Leo Preto, que era da Dois Sapos & Meio. Cara, só dava nóis aqui”, ri Michelle.

Ela lembra que foi Emerson (morto em 2004), quem a ensinou os primeiros acordes ao violão: “Ele me ensinou a tocar Patience (Guns ‘n’ Roses), músicas do The Doors e tal”.

Até aí era tudo pela diversão, “hobby”. Logo estava integrando uma banda só de garotas, a Dendecumjah, que em sua  meteórica passagem pela cena se apresentou no festival mais importante da época, o Garage Rock (1998), entre outros palcos.

Detonação no Kasebre

”Aí um dia Fernanda, guitarrista da banda As Meninas (que revelou Carla Cristina) me chamou para fazer som em barzinho. Daqui a pouco, soube que Neguinho do Samba estava fazendo testes para baterista na banda Didá. Passei”, relata Michelle.

“Aí foi, comecei a tocar mesmo, como profissional. Era show em São Paulo, Brasília, compra instrumentos”, conta.

Uma coisa foi levando a outra. Um belo dia Michelle se viu excursionando mundo afora com o músico avant garde italiano (radicado no Brasil) Aldo Brizzi.

“Tocamos no Fórum Social Mundial de 2004 em Mumbai, na Índia, depois fizemos alguns shows pela Europa”, conta.

“Até aí, tudo bem. Eu ainda morava aqui em Salvador. Pegava onda, andava de bike. Aí Candida (cantora da Dendecumjah) me ligou e disse que estava indo para São Paulo, tentar carreira solo”, relata.

Animada, Michelle acompanhou a amiga como baterista. Logo estava abrindo show do RPM.

“Numa dessas, conhecemos Bocato, trombonista muito requisitado na cena de lá. Através dele, conseguimos abrir um show do Ira! no Kasebre”, diz.

“Cara, você conhece o Kasebre? É um puta reduto roqueiro histórico da Zona Leste, dá umas sete mil pessoas. Chegamos lá, casa lotada. Pirei. No que nos anunciaram como ‘banda baiana’, foi uma vaia só”, relata.

“Aí entramos detonando, Candida cuspindo na plateia e tal. Conquistamos a galera e acabou que foi ótimo o show”, lembra, visivelmente contente.

Identidade roqueira

A detonação no Kasebre impressionou um certo guitar hero. De volta a Bahia, toca o telefone.

“Era Edgar Scandurra. Achei que era trote. Aí ele diz: ‘Michelle, vamos gravar o Acústico MTV do Ira! Quer fazer um teste’”?

Sem pestanejar, Michelle enfiou tudo o que era seu em um carro, o carro em um caminhão cegonha e partiu de volta à capital paulista.

“Gravei o Acústico e depois foram três anos seguidos de turnês e shows com o Ira!. 2004, 2005, 2006. Aí eu saí”.

Não por muito tempo, pois logo Scandurra voltou a convocar Michelle para seu projeto solo, o Benzina.

“Nesse trabalho conheci a Sandra Coutinho, líder das Mercenárias (clássica banda punk paulista). Aliás, te contei que também sou baterista das Mercenárias?”, lembra.

Depois disso, Michelle se estabeleceu de vez em São Paulo, atuando ora como percussionista, ora como baterista para inúmeros artistas e bandas.

“Olha, posso fazer qualquer coisa para qualquer artista. Mas minha identidade mesmo é rock”, afirma a musicista.

Em busca de extravasar essa identidade, Michelle iniciou em 2012 o projeto solo que desembocou no álbum que acaba de lançar.

Um amigo, o produtor cultural Alê Khalil cuidou de inscrever o projeto no PROAC - Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, enquanto outro amigo, o produtor e baixista baiano Cássio Calazans começou a gravar o trabalho com ela.

“Ele gravou todos os baixos e eu, todas as baterias, percussões,  violões e vocais. Edgar cantou e gravou em uma faixa, Desespero. E Arnaldo Antunes me deu uma letra, a da faixa Gangorra”, conta Michelle.

De sonoridade rica e diversa, orgânica e visceral, # 1 traz como destaque a voz ainda jovem de Michelle passeando entre texturas de psicodelia, cordas e alguma intervenção eletrônica. Uma bela estreia.

Na capa, a artista aparece deitada em uma banheira de pipoca. Adepta do candomblé, ela jura que foi coincidência. “Foi sugestão de Cássio e do meu irmão, (o fotógrafo) Fábio Abu. Quando viu, linkou”, diz.

# 1 / Michelle Abu / Independente (viabilizado pelo PROAC - SP / Preço não divulgado / www.michelleabu.com.br




terça-feira, janeiro 06, 2015

EXPOENTE DA GERAÇÃO 2000 LOCAL, A MALCOM RETORNA COM SHOW HOJE E ÁLBUM DE INÉDITAS

A Malcom em sua formação atual. Foto: Marla Barata
Na primeira metade da década passada, uma leva de novas bandas agitou legal o cenário roqueiro de Salvador.

Era uma rapaziada que curtia – e se inspirava em – bandas como Deftones, 30 Seconds to Mars, Queens of The Stone Age e o hardcore  melódico da época.

De memória, o colunista lembra que compunham esta cena bandas como Automata, Mirabolix, Jonas e Malcom (sem o L do meio, mesmo), entre outras.

Agora a Malcom anuncia sua volta, após anos parada.

“Aquele foi um período legal, com várias bandas unidas em torno do selo Atalho que fizeram um cenário. Com o tempo, várias pessoas foram embora, casas como Miss Modular, Calypso e Anexo fecharam, o movimento esfriou. Aí  nós paramos”, lembra o vocalista Eric Bispo.

Com o álbum O Que Me Ensinaram a Pensar (2005) no currículo, o quinteto vinha gravando seu segundo álbum desde 2012, com lançamento previsto para depois do Carnaval.

“Quando lançamos o primeiro álbum estávamos em uma fase de transição, saindo da faculdade, buscando trabalho etc”, relata.

“Mas mantivemos o projeto da banda, que retomamos em 2012. Esse nosso novo álbum foi o último que (o produtor) Jera Cravo gravou aqui em Salvador, antes de se mudar para o Canadá, onde mora agora”, diz.

Sem sacrifícios

O resultado completo do trabalho com Jera no estúdio só depois do Carnaval, mas o leitor já pode ouvir o primeiro single, a faixa A Trilha do Cego.

Mais experientes, os rapazes pensam em levar adiante a banda, mas sem sacrificar a vida cotidiana de empregos formais e família.

“Pensamos em um projeto sólido que mantivesse os integrantes na banda, mas cada um com seus empregos, sem cair em estereótipo de roqueiro”, observa Eric.

“Temos um carinho muito grande pelo trabalho nesse disco e os amigos deram a maior força que a gente voltasse”, conclui.

Além de Eric, a Malcom é Henrique Ferreira e Joe (guitarras), Alessandro Ferreira (bateria) e Maul Beisl (baixo).

Quanto Vale o Show? / Com Malcom, Louder e DJ Big Bross / Dubliner’s Irish Pub / Hoje, 18 horas, grátis

www.facebook.com/malcomssa



NUETAS

Daganja free no Pub

O rapper Daganja se apresenta com super banda no Dubliner’s, com naipe de metais e tudo, com direito ao maestro Hugo Sanbone no trumpete. A night ainda tem Nova Era, Oxidante e DJ Gug. Quinta-feira, 23 horas, entrada gratuita.

Wado com Lily Braun

Dono de obra sólida, o catarinense-alagoano Wado faz show com a Lily Braun. Sábado, 22 horas, no Dubliner’s. R$ 20 (antecipado) ou R$ 30.

1º Faustão de 2015

Domingo tem o primeiro  Faustão Falando Sozinho de 2015: Irmão Carlos & O Catado, Escola Pública e Cartel Strip Club. 15 horas, grátis, no Dona Neuza. Neste  verão eles ainda oferecem oficinas de vídeo, gravação  e elaboração de projeto.