terça-feira, junho 28, 2016

BARULHO SA ENTENDEU A LIÇÃO DO CAMISA: A MENSAGEM DEVE SER FORTE, ALTA E CLARA

Elton (gtr), Rafael (voz), Érico (gtr), Willy (btr) e Wagner (bx). Foto: Diana Couto
Uma das coisas que, na visão do colunista, atrapalham as bandas de hardcore e / ou bandas de som mais pesado é que, muitas vezes, seu discurso – necessariamente virulento, já que contestador – é vociferado de forma tão rápida e gutural, que sua mensagem se perde.

Pensem no Camisa de Vênus: jamais seria o que foi, se ninguém entendesse as letras provocadoras de Marcelo Nova.

Parece que a banda local Barulho SA entende isso. Em um rock ‘n’ roll rápido, urgente e com letras que equivalem a um soco no nariz, eles oram contam pequenas histórias de violência e crime (como na faixa POF), ora disparam contra nossa classe política “golpista, capitalista”, como em Milícia.

“Trazemos em nossas letras temas para serem discutidos, pensados”, afirma o vocalista Rafael Barulho.

“Queremos que as pessoas reflitam sobre  coisas e situações que ocorrem ao lado delas, ações inconsequentes que elas tomam diariamente, sem pensar. Além de mostrar que dá pra fazer rock pesado cantado em português e completamente entendível, um estilo pouco explorado aqui no Brasil”, acrescenta.

Formada em 2003 por um grupo de amigos do bairro do Uruguai, a Barulho se prepara para lançar o EP Prontos para o ataque.

"A banda foi formada no ano de 2003 no bairro do Uruguai, na Cidade Baixa, em Salvador, por amigos que moravam na mesma rua. Um dos guitarristas deles saiu da banda e eu fui convidado a participar. Futuramente vieram mais algumas trocas de integrantes até chegar a formação atual", conta o guitarrista Elton Alencar.

Sem levantar bandeiras

A Barulho SA fazendo... barulho! Foto Diana Couto
Para esquentar, fazem show sábado com outras bandas da cena local, no Buk Porão Bar. “Gravamos um EP há alguns anos atrás, chamado "Barulho em Salvador", e estamos no momento em processo de escolha das músicas para gravarmos um novo disco, que deverá estar pronto até o final de agosto. Entre as surpresas que podemos contar está a participação de Eduardo Scott em uma das canções”, avisa Elton.

E apesar da temática política aparecer em quase todas as músicas, a banda não segue uma doutrina específica: “É verdade, grande parte das letras tem como temática a política, pois vemos que esse é um tema que infelizmente não sai de moda no país. Volta e meia aparece um novo escândalo e, com isso, sentimos a necessidade de expor nossa indignação e nossa vontade de que essa situação mude e de que possamos viver em um país menos desonesto e mais igual para todos. A posição da banda é do lado da justiça e da verdade. Não levantamos bandeiras políticas. Queremos apenas que possa se fazer justiça. Quanto ao conservadorismo da juventude, é um tanto normal que esse tipo posicionamento cresça, já que os partidos tradicionalmente de esquerda estão no centro de toda investigação que ocorre no país. Muitos acham um avanço, mas vemos muita regressão política e de conceitos”, diz Elton.

Sobre a cena local, Elton diz: “Temos a impressão de que encolheu um pouco mais. Quando começamos, em 2003, existia um número muito grande de bandas locais e de shows aos finais de semana. Surgiam muitas novas bandas impulsionadas pela explosão do New Metal e também do Hard Core. Agora estamos em uma entre-safra do rock e esse é um dos motivos que nos fez voltar a cena. Precisamos agita-la. Voltamos pra fazer barulho. Vivemos numa época na qual não existe o "sexo, drogas e rock'n roll". Isso agora é coisa de funk, pagode e sertanejo universitário. Como eles tomaram conta dessa parte, resolvemos ficar com as letras com conteúdo”, conclui.

Barulho SA, Not Names (Pojuca-BA), Alfacore, Culinária Guerrilha e Mandala Todos Um / Sábado,  18 horas / Bukowski Porão Bar (Rua do Passo, Pelourinho) / R$ 5 / Ouça:  www.facebook.com/barulhosa



NUETAS

Van Der Vous e Soft Porn no QVOS? hoje

O Quanto Vale o Show? de hoje é de primeira, com  as bandas Van Der Vous (rock psicodélico) e Soft Porn (indie eletrônico). Às 19 horas no Dubliner’s Irish Pub, pague quanto quiser. Recomendado!

Tó Brandileone e Ze Luís quinta no TJA

O duo formado pelo músico paulista Tó Brandileone e o percussionista baiano Zé Luis Nascimento (radicado em Paris) traz o show de lançamento do disco Eu Sou Outro para o Teatro Jorge Amado. Duda Spínola, ex-Adão Negro em carreira solo, faz o show de abertura. Quinta-feira, 20 horas, R$ 60 e R$ 30.

Vandex TV inscreve

Conhece a Vandex TV? Tem banda ou trabalho solo? Quer tocar on line ao vivo? Inscreva-se: www.vandex.tv. É Berlim puro!

sábado, junho 25, 2016

SE EU QUISER FALAR COM GIL

Mauro Senise, sax dos Doces Bárbaros, traduz Gilberto Gil em ótimo álbum instrumental 

Mauro Senise, foto de Ana Luísa Marinho
Gigante consagrado da música e da cultura brasileiras, Gilberto Gil já foi homenageado tantas vezes e de tantas formas que hoje em dia fica até difícil se destacar entre elas.

A menos que você se chame Mauro Senise.

Saxofonista veterano da MPB, ele acaba de lançar Amor Até o Fim -  Mauro Senise Toca Gilberto Gil.

Acompanhado de um pequeno exército de músicos (14) se revezando entre 13 faixas do mestre baiano escolhidas a dedo, Mauro conseguiu prestar um tributo que conjuga o carinho (que por tabela, todos nós sentimos) por Gil a uma objetividade raramente vista em álbuns de música instrumental.

“É verdade, o CD tá um pouquinho algemado:  não tem muito solo de todo mundo, até por uma questão de tempo. O disco todo ficou com uns 74 minutos, que é meio que o limite”, observa o simpático músico, em entrevista por telefone.

No repertório, há desde sucessos facilmente reconhecíveis como Se Eu Quiser Falar com Deus, Drão, Ladeira da Preguiça, Preciso Aprender a Só Ser e Expresso 2222 até canções quase obscuras, como Amor até o fim (1966), Mancada (1967) e A linha e o linho (1983).

“Peguei muitas músicas antigas dele, dos anos 60, por que são músicas que dão pé de você trazer para o instrumental”, afirma Mauro.

“E apesar delas terem letras maravilhosas, se você tira-las e tocar, elas soam como instrumental. Dá para improvisar em cima, mexer na harmonia, tudo isso, por que elas são gostosas de ouvir – independente da letra”, acrescenta o músico.

No saxofone ou na flauta?

Mauro, foto Ana Luísa Marinho
Com média de duração de quatro minutos, as faixas soam precisas, econômicas –  não pobres – e elegantes.

"Ao vivo, você fica mais à vontade pra solar. Até podia ter ficado mais solto, mas pra isso, ia ter que tirar uma música. Preferi mostrar 13 musicas do que gravar só 10 e ficar improvisando meia hora. Isso ficou para o ao vivo. O improviso de punheta, de ficar 10 minutos lá viajando, afasta o público, o cara (na plateia) fica perdido - apesar de não ser mera 'bagunça', por que o cara (espactador médio) fica achando que é bagunça, 'ih o cara fumou um baseado'! (risos) É uma linguagem muito abstrata pra quem não tem o costume de ouvir", observa.

"Pra fazer um solo bom, é preciso escolher bem as notas, você vai caminhando com a harmonia, não é pra ficar fazendo muita escala de fá maior, fica burocrático. Não vou dar uma metralhada de nota nessas músicas, Em Se Eu Quiser... mesmo, com aquela letra reflexiva, ela é que inspira. Você tem que tocar de acordo com o ambiente. Pra mim, o amadurecimento do músico é isso, é escolher bem  as notas, para fazer um solo melódico. A não ser que seja livre, tipo free jazz, com intervalos dissonantes e tal. Em suma, o bom solo é o comentário bonito, é saber em qual filme você tá atuando", ensina Mauro.

A faixa mais longa do álbum é  Preciso Aprender a Só Ser, e por uma razão muito boa: o próprio Gil participa da gravação recitando – não cantando – a letra, que ganha aqui um feitio de oração.

“Foi minha, a ideia. A voz dele é tão bonita de qualquer jeito, que em vez de cantar, o que implicaria em ensaiar – ele tava em plena turnê dos 50 anos com Caetano – peguei ele um dia aqui e pedi pra ele declamar”, conta.

“Pensei em fazer um solo por trás, mas acabou que coloquei só o Jota Moraes no vibrafone. Ficou bem suave, aquela pinçelada de notas soltas fez uma cama pra ele declamar. Ficou interessante, diferente”, relata.

Soprista versátil, Mauro utilizou diversos instrumentos das famílias dos saxofones e flautas.

Mauro com Gil durante gravação de Se Eu Quiser... Ft Ana Luísa Marinho
“Ladeira da Preguiça mesmo, eu sempre ouço na flauta. No sax, não funciona muito. Posso gravar Se Eu Quiser Falar Com Deus na flauta também. Ficaria lindo. Mas, pessoalmente, sinto que no sax alto (a música) fica mais encorpada. O sax é mais blues, entende?”, diz.

Especialmente divertida ficou Expresso 2222, um baião conduzido no piccolo (ou flautim) por Mauro. “O piccolo é uma flauta mais espertinha, tem um clima percussivo”, afirma.

Admiração antiga

Aos 45 anos de carreira (66 de vida), Mauro lembra que no logo no início de sua estrada artística teve o privilégio de acompanhar Gil, Caetano, Gal e Bethania na banda de apoio dos Doces Bárbaros (1976).

“Era uma banda e tanto, com Tuzé de Abreu (flautas), Perinho (guitarra), Djalma Correia (percussão), Tomás Improta (piano)... Mas eu sempre foquei mais minha carreira na música instrumental. Nessa época, já tocava em paralelo com Hermeto Paschoal e estudava com Paulo Moura, sempre ligado em  improvisação”, conta.

“Mas o Gil me chamava muito a atenção, porque além de grande compositor e cantor, tocava um violão maravilhoso. Aí ele aparecia nos shows do Hermeto, subia pra improvisar com a gente, dava opiniões etc”, relata.

Como não poderia deixar de ser, mauro espera trazer este show a Salvador o quanto antes (alô, Café Rubi!). "Olha, se você me arrumar um show aí, eu vou correndo! Arranja um produtor bacana. Fiz o show de lançamento em São Paulo com todos os músicos que participaram do disco. Óbvio que pra viajar não dá pra levar todo mundo, mas vou com meu quartetinho, com o Gabriel (piano e acordeom), Ricardo Costa (bateria) e Rodrigo Villa (baixo). Te garanto que o o show tá tinindo",  afirma.

Ex-membro da antológica banda instrumental Cama de Gato e parceiro constante do pianista Gilson Peranzzetta (que assina três arranjos no CD), faltava o tributo a Gil na lista pessoal do músico: “Já gravei CDs só de Noel Rosa, Sueli Costa e Dolores Duran e um outro para o Edu Lobo. Falta um pro Gil, que eu adoro”.

Agora não falta mais.

Amor Até o Fim - Mauro Senise Toca Gilberto Gil / Mauro Senise /  Fina Flor / CD + DVD: R$ 34,90

sexta-feira, junho 24, 2016

SILÊNCIO DE ORQUESTRA

Projeto do maestro Fred Dantas, a Orquestra Brasileira de São Salvador fez seu último concerto no Festival de Música Instrumental da Bahia. Saiba por que

10 de junho: a OBSS faz "último concerto" no TCA. Ft Alessandra Nohvais
Um cachorro e um gato surgem no alto da escada que leva à casa do  maestro Fred Dantas, no Barbalho.

Quando este  chega ao portão para receber a reportagem de A TARDE, logo tranquiliza: “Não morde, não. Só é carente. Se fizer carinho, não vai largar mais de você”. Não deixa de ser uma ameaça.

É terça-feira, 14 de junho. Fred ainda digere o sucesso do concerto da Orquestra Brasileira de São Salvador na sexta-feira última (10).

Regente e diretor musical da Orquestra desde 2011, o conjunto de vinte jovens músicos fez um raro concerto em Salvador dentro da programação do 21º  Festival de Música Instrumental da Bahia.

“Foi um sucesso acachapante”, entusiasma-se.

“Eu insisti com Zeca (Freitas, curador do festival) para inclui-la por que sabia que seria assim. Era o endereço certo para a Orquestra, o público certo. (Fernando) Marinho (um dos organizadores)  me disse que foi a única atração do festival inteiro que recebeu pedidos de bis de pé”, afirma o maestro.

Agora, a má notícia: por enquanto, este foi o último concerto da Orquestra Brasileira de São Salvador. A razão, óbvio, é a de sempre: não há patrocínio para que ela continue seus trabalhos.

Antes que haja mal-entendido, é bom esclarecer: a orquestra de que se fala aqui não é a Oficina de Frevos e Dobrados, que tornou Fred famoso em solo baiano desde os anos 1980. Esta vai bem, obrigado.

“O repertório da OBSS é bem específico. Ela traz como proposta uma leitura da música brasileira, um resgate de modinhas de Carlos Gomes, Villa-Lobos e Alberto Nepomuceno, além de fazer um passeio pelas músicas regionais do Brasil”, conta.

Vida breve

Fred assumiu a  Orquestra em 2011, quando a telefônica Tim encerrou seu projeto de educação musical Música nas Escolas.

“Aí uma empresa de São Paulo, chamada La Fabbrica Comunicação e Marketing, assumiu o projeto e conseguiu um novo financiamento junto à Basf, para criar uma orquestra com os alunos remanescentes”, conta Fred.

Convidado para assumir a direção artística da Orquestra, Fred impôs como condição deixar de tocar o material imposto por São Paulo no tempo da Tim.

“Meu objetivo foi chegar na música atonal contemporânea. Não queria ver os meninos tocando feijão com arroz”, diz.

Como contrapartida ao patrocínio, Fred e os jovens músicos da Orquestra passaram a dar aulas de educação musical em escolas públicas das comunidades carentes de Camaçari, onde a Basf está instalada no Pólo Petroquímico.

“Esses jovens professores tiveram uma atuação de pedagogia musical arrasadora. Em coisa de um ano, tinha criança lendo pequenas partituras na sala de aula”, diz.

Fred rege e Irma Ferreira canta. Foto: Alessandra Nohvais
A cantora soprano Irma Ferreira foi uma dessas professoras.

“Era impressionante ver a reação das crianças ao receber essas informações. A maioria delas nunca ouviu nada na vida, além de pagode e arrocha”, conta.

“Quando elas ouviam, pela primeira vez na vida, o som de uma flauta transversal ou até quando eu cantava, algumas chegavam a se emocionar”, lembra Irma.

A experiência foi importante para os jovens músicos da Orquestra, que também aprendiam enquanto ensinavam às crianças. “Passamos a ver a música de outra perspectiva. Ser músico não é só tocar um instrumento, é também propagar um conhecimento”, afirma a cantora.

Ainda com patrocínio da empresa petroquímica, a OBSS gravou um CD com 13 faixas, chamado Bandeira do Divino.

No repertório, composições de Alberto Nepomuceno (Cantiga), Waldir Azevedo (Brasileirinho) e Anacleto de Medeiros (Os Bohêmios), além de músicas da cultura popular de Ilhéus, Barra do Pojuca e outras três da safra atonal do próprio Fred Dantas.

Infelizmente, o projeto, apesar de promissor, teve fim com a saída da Basf. “Alegaram  a crise”, diz Fred.

Isto foi em 2014.

Sem dinheiro, os músicos da orquestra abandonaram a música para se dedicar a trabalhos convencionais.

“Jovens realmente promissores tiveram de trabalhar com telemarketing e em caixas de supermercados, para ajudar a sustentar suas famílias”, relata.

Pós-concerto, Fred aguarda decisão da La Fabbrica. Ft: Alessandra Nohvais
Alguns poucos, o maestro ainda conseguiu aproveitar em sua orquestra profissional de baile, como o saxofonista Reinan Proença e o baterista Lucas Paulo.

“E meu contramestre, Mário Douglas, agora é regente da Oficina de Frevos e Dobrados”, conta.

“Já Maicon Oliveira, um flautista excelente, foi estudar enfermagem. Os irmãos Henrique (sax) e Vinícius (clarineta) foram estudar Engenharia.  Por outro lado, Irma Ferreira segue o curso de Canto da Ufba. Já Daniela Natali e David  Brito foram para a Neojibá”, relata o maestro.

Só quem não teve o destino definido foi a OBSS.

“Agora, a Orquestra está parada. A perspectiva é esperar que La Fabbrica demonstre interesse em buscar outro patrocinador local. Ou então buscar espaço no mercado baiano através de produtores culturais”, conclui Fred Dantas.

DESOVANDO MAIS ALGUMAS MICRO-RESENHAS (BEM) ATRASADAS....

Chopin via pianos velhos
  
Filha de alemão com japonesa, a pianista erudita revelação Alice Sara Ott se junta ao compositor islandês Ólafur Arnalds neste tocante tributo a Chopin. Executado em pianos velhos, aqui o que conta é a emoção e a ambiência. Belo. Ólafur Arnalds & Alice Sara Ott / The Chopin Project / Universal / R$ 26,90








Sobre mitos

Subintitulado Estrutura mítica para escritores, este estudo do roteirista de Hollywood retoma os conceitos do clássico O herói de mil faces (1949), de Joseph Campbell, sobre como todas as grandes histórias já contadas pela humanidade parecem compartilhar da mesma estrutura. Obra de referência, em 3ª edição. A jornada do escritor / Christopher Vogler / Aleph/ 488 p. / R$ 69,90






Excesso de fofura

Com dois álbuns já publicados, a webcomic Como eu realmente..., da  cartunista carioca Fernanda Nia, coloca a própria autora (na pele da personagem Niazinha) diante de situações cotidianas contemporâneas, mostrando como é possível ter atitudes mais positivas. Há um excesso de  fofura no desenho, mas este é compensado pelo humor e inteligência da moça. Como eu realmente... - Volumes 1 e 2 / Fernanda Nia / Nemo/ 80 p. / R$ 29,90





Na casa do Senhor não existe satanás, xô, satanás!

Um especialista na figura literária do diabo cai na maior fria ao viajar com a filha para Veneza e testemunhar um fenômeno sobrenatural. De arrepiar, este livro foi premiado com o International Thriller Award 2014, sendo apontado como “o filho d’O Código Da Vinci com O Exorcista”. Breve no cinema, em filme de Robert Zemeckis. O Demonologista / Andrew Pyper / DarkSide Books/ 320 p./ R$ 49,90






Marguerite vê Mishima

Em 1970, o consagrado escritor japonês Yukio Mishima cometeu seppuku (suicídio ritual japonês) diante de uma tropa em um quartel de Tóquio. Neste ensaio, a famosa intelectual francesa investiga essa personalidade perturbada e as motivações que o levaram ao ato. Mishima Ou A Visão Do Vazio / Marguerite Yourcenar / Estação Liberdade/ 128 p./ R$ 33







Chá sonoro

Radicado em São Paulo, o cearense Talles Lucena traduz em música sua experiência xamânica com o chá do ayahuasca em cinco faixas longas e viajandonas. Interessante, mas é preciso estar aberto ao “transe” proposto aqui. T4les / A flight into the occult / Brechó DiscoS/ R$ 10







Talento inegável

Surpreendente estreia da pianista e cantora mineira. Em arranjos espartanos, ela desnuda até o osso a beleza de canções de Caymmi, Milton, Tom, Gonzaga e até Björk em interpretações cheias de entrega e paixão. Bravo. Andrea dos Guimarães / Desvelo / Independente - Tratore / R$ 27,90






Bom quinteto local

Liderada pela cantora Sohl, o quinteto A Flauta Vértebra é uma boa surpresa da cena local, com um rock pop acessível e bem feito. A menina se destaca com sua interpretação emocionada e voz forte. A princípio, as letras politizadas soam algo ingênuas, mas pensando bem, talvez elas digam o que precisa ser dito. A Flauta Vértebra / A Flauta Vértebra / Brechó - Big Bross / R$ 10






Mestre das teclas

Mestre do piano bossa samba jazz, pioneiro da gravação independente, Antonio Adolfo solta mais uma coleção de composições autorais de sofisticação absoluta e muito bem acompanhado. Som brasileiro e universal. Antonio Adolfo / Tema / AAM Music / R$ 29







Campestre e moderno

Um brasileiro (Raphael Evangelista, violoncelo) e um argentino (Mauricio Candussi, teclados), formam o duo Finlandia. No quinto álbum, o som é  instrumental, campestre e moderno. Boa alquimia sonora multicultural. Finlandia / Mundo Rural / Independente / Baixe: finlandiamusica.com.br






Quem inventou o amor?

Professoras do Departamento de Psicologia da Universidade de Barcelona, as autoras realizam extenso e profundo estudo sobre o amor. Elas defendem que este não é um sentimento isolado, mas um “complexo de sentimentos”. Como construímos universos: Amor, cooperação e conflito / Montserrat M. Marimón e Genoveva S. Vilarrasa / Editora Unesp/ 353 p./ R$ 59







O livro que deu origem a série

Com a volta da franquia ao cinema, Jurassic Park, o romance de Michael Crichton  que deu origem à série, volta às livrarias em bela edição da Aleph. A trama é conhecida: após clonar animais pré-históricos, milionário abre um zoológico de dinossauros. Inclui posfácio de Marcelo Hessel (Omelete) e entrevista com o autor. Jurassic Park / Michael Crichton / Aleph/ 528 p./ R$ 49,90






Porres literários em SP

O blogueiro baiano Tarcísio Buenas estreia em livro com uma coletânea de textos publicados em seu blog. Em suas páginas, a nada mole vida de um roqueiro baiano vivendo em São Paulo, entre porres, bandas underground e mulheres. Conheça seu blog, Puro Malte18 de Maio, Quanto Tens Por Dizer... / Tarcísio Buenas / Buenas Books / 116 p. / R$ 25 / Vendas: buenasrocks@gmail.com







Sabedoria de veterano

Herói incompreendido da geração considerada brega pela intelectualidade dos anos 1970, Odair José abraça o rock no novo álbum, cuja faixa de abertura já diz a que veio com riffs que parecem ter saído da gaveta de Angus Young. Mais jovem do que muito garotão barbudo por aí. Odair José / Dia 16 / Saravá Discos / R$ 19,90





Back to the future

O carioca Sergio Pi estreia em álbum no ritmo do pop vintage circa 1977 - 83, cheio de texturas AOR que até hoje domina as FMs. A voz é curtinha, mas a produção é de primeira, o clima é alto astral e favorece passinhos de dança. Sergio Pi / Meu pop é black power / Lab 344 / R$ 25,90







Recuerdos de turnê

O senhor Leonard nunca decepciona: neste ao vivo gravado em passagens de som da última turnê, releituras (Field Commander Cohen, Joan of Arc) e duas inéditas lindas: Got a Little Secret e Never Gave Nobody Trouble. Leonard Cohen / Can't Forget: A Souvenir Of The Grand Tour / Sony Music / R$ 24,90







Prodigioso piloto automático

Por mais simpático que se possa ser ao Prodigy, fica difícil não acreditar que a banda até hoje não superou a ressaca pós-sucesso arrasador do LP The Fat of The Land (1996). Este novo álbum é OK (e feroz, claro) mas a sensação de piloto automático persiste. The Prodigy / The Day Is My Enemy / Lab 344 / R$ 29,90







Paraíba punk!

É simplesmente inacreditável o esporro produzido pelo trio paraibano Zefirina Bomba em seu terceiro álbum, de mizerentos nove minutos em nove faixas sangrentas. Eta, punk rock duzinferno. Zefirina Bomba / Hey Hey Mizerasound / Sub Folk - Monstro - Brechó - Big Bross / R$ 10 / Baixe: zefirina.bandcamp.com






Transex mesmo, e daí?

Autor do belíssimo As Virgens Suicidas (depois filme de Sofia Coppola), Jeffrey Eugenides conta neste livro a saga familiar (ao longo de três gerações) e pessoal da garota Calíope, que aos 14 anos se torna menino e passa a se chamar Cal. Premiada com o Pulitzer, esta é sua obra mais aclamada. Middlesex / Jeffrey Eugenides / Companhia das Letras/ 576 p./ R$ 59,90/ E-book: R$ 39,90






Não perca a cabeça

Romance de suspense do gaúcho Leonardo Brasiliense, autor de outros nove livros e duas vezes premiado com o Jabuti. Aqui, narra o caos que toma conta de uma pequena cidade após o sumiço de uma relíquia religiosa. Relíquia esta que surge no quarto de um jovem. Amedrontado, ele a mantém escondida, por não saber como devolvê-la. Decapitados / Leonardo Brasiliense / Benvirá/ 120 p./ R$ 29,90






Recuerdos dos tempos do Led...

O escocês Martin Millar é da escola Nick Hornby: sua literatura é leve, engraçada e recheada de referências ao rock e cultura pop costuradas com habilidade na narrativa. Aqui, ele relembra o show do Led Zeppelin em Glasgow, quando tinha 12 anos. Angústia adolescente e rock n’ roll: uma combinação imbatível até em livro. Suzy, Led Zeppelin e Eu / Martin Millar / Ideal/ 176 p./ R$ 39,90






Duo ducacete

Gigantes do instrumental, Gilson Peranzzetta (piano) & Mauro Senise (saxes, flautas) quebram tudo neste belo álbum gravado ao vivo. Entre autorais, versões vívidas para Só Louco (Caymmi), Aqui Ó (Horta, Brandt) e Deixa (Powell, Vinícius). Rico. Gilson Peranzzetta & Mauro Senise / Dois na roda / Fina Flor / R$ 30






Baiano grava Bukowski


O baiano Tony Lopes se arma de iPad com Garage Band musica poemas de Charles Bukowski traduzidas por Fernando Koproski. Entre rugidos e ruídos, estilhaços poéticos. Os Elefantes Elegantes / Os Elefantes Elegantes Mergulham na Poesia Ácida de Charles Bukowski / São Rock - Brechó - Big Bross / R$ 10

Brazucas regravam hermanos

Bela iniciativa do site Scream & Yell, que chamou artistas brasileiros para regravar clássicos do pop latino. Como toda coletânea, há altos e baixos. Da Bahia, temos André LR Mendes com El Fantasma, da banda Árbol (Argentina). Vários artistas / Somos Todos Latinos / Independente / Baixe: screamyell.com.br

terça-feira, junho 21, 2016

DECLINIUM FAZ SHOW HOJE PARA LANÇAR DOCUMENTÁRIO

Com 16 anos de estrada, a Declinium é, provavelmente, o mais bem guardado segredo do rock baiano.

Fundada em Dias D’ávila e hoje baseada em Camaçari, a banda tem, muito provavelmente, a mais bela voz do rock baiano: o senhor Erivaldo Reis, o popular Oreah.

É possível que, ao ouvi-lo pela primeira vez, o ouvinte mais desavisado pense de cara: “Renato Russo”.

E faz sentido: o vozeirão à Jerry Adriani – grave, profundo, arrepiante –, aliado às guitarras encharcadas de pedal chorus e as levadas soturnas da Declinium podem mesmo levar a uma comparação à Legião Urbana.

Mas seria extremamente injusto reduzi-los a isto. Consistente, a banda já ultrapassou a fase da cópia há muito tempo, criando uma personalidade própria, capaz de ganhar fãs apaixonados.

Um deles é o baixista e videomaker Arthur Caria (leia-se Clipoems), que, em codireção com Fernando UDO e a assistência de Candido Martinez (Estúdio Casarão) e Nuno Nascimento, acaba de lançar no You Tube um documentário com cerca de 15 minutos sobre o quarteto: Marte: Uma ode Audiovisual à Declinium.

Nele, outros fãs ilustres dão depoimentos sobre a banda, como o Doutor em Letras e Linguística Sandro Ornellas e o escritor Lima Trindade (da revista Verbo 21).

"Quando Edvaldo (ex-guitarrista) foi morar um tempo em Curituba, decidimos fazer um EP novo. Fizemos o Marte, que deu certo, teve uma boa aceitação junto à galera. Éramos mais focados no pós-punk mais soturno, aí partimos para uma amplitude maior de referências - dentro do rock inglês - tipo Stone Roses, o lance mais baggy, então nosso som foi mudando um pouco. Isso refletiu bastante na voz. Passei a ouvir mais coisas que não tinha tanto a ver com a banda. Aí conhecemos o Caria, que adorou o trabalho da banda. Ele ouviu o EP e resolveu fazer nosso primeiro clipe pela produtora dele. E escolheu a música Marte e aí aconteceu, rolou", relata Oreah.

Único membro original ainda na banda, ele conta que a atual formação já está há cinco anos na atividade: “Sempre fui o mais persistente. O pessoal foi saindo por que achava que a banda atrapalhava o trabalho e tal”.

Com Oreah (voz e baixo), Edvaldo Filho e Leandro Rodrigues (guitarras) e Ericson França (bateria), a Declinium lançou, em 2014, seu último registro : o arrasador EP Marte, com cinco faixas.

“Vamos gravar outro EP, mas para gravar, a gente mesmo se banca. Só contamos com a distribuição do selo Brechó”, diz Oreah.

 Hoje, a Declinium faz show no Dubliner’s com a banda Pancreas, para lançar o documentário de Arthur, que será exibido.

“A música independente da Bahia existe, é forte e tem qualidade. Só falta o grande público, as casas de show e os empresários abrirem os olhos. Muitos ainda enxergam essa cena como se fosse mambembe, mal feita – e não é. Quem está envolvido tem  a meta de se tornar cada vez mais profissional”, conclui.

Quanto Vale o Show? com Declinium e Pancreas / Hoje, 20 horas / Dubliner's Irish Pub / pague quanto quiser / www.facebook.com/Declinium.Rock



NUETAS

Pausa junina

Cidade  meio vazia, chuva e pausa nos eventos do rock. Por isso, as dicas aqui são para a semana que vem, OK?

Power blues

O power trio Pedrão, Uzeda & Candido toca quinta-feira (29) no Rhoncus Bar, 22 horas.

Indominus, Blessed

 No 1º de julho (sexta-feira), as bandas Indominus e Blessed in Fire se apresentam no Taverna. A Indominus é nova, mas formada por veteranos do metal: Ronaldo Pitanga (o vozeirão da banda Síncope), André "McGyver" Poveda (guitarra, da lendária Zona Abissal), Márcio Farias (baixo, ex-Facção) e Ákillas (bateria). 22 horas, R$ 10.

quinta-feira, junho 16, 2016

ARTES MARCIAIS E FANTASIA

Estreias: Apesar de baseadas em HQs e com muita porrada, Tartarugas Ninja: Fora das Sombras e Black Butler - O Mordomo de Preto são filmes bem diferentes entre si 


Sebastian, o implacável e misterioso mordomo faixa-preta de Black Butler 
Nem só dos filmes da Marvel e DC vivem os fãs de quadrinhos, fantasia e ação.

Duas extravagantes produções que correm por fora  dessas grandes editoras estreiam nas telas, com muita pancadaria:  As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras e Black Butler - O Mordomo de Preto.

Fora das Sombras é o segundo filme dos quelônios mutantes mestres do ninjutsu, desde que o produtor Michael Bay (que também comanda a série Transformers), assumiu a franquia em 2014.

Já Black Butler é, de fato, uma raridade em telas locais: uma produção japonesa, baseada no mangá homônimo de grande popularidade.

Mas atenção: o filme só entra em cartaz semana que vem (dia 23), e com exclusividade no Cinépolis Bela Vista, dentro do seu Projeto Cinema de Arte.

April O'Neill (Megan Fox) passa uma chuva com Mikey, Leo e Rafa
Jabuti é a mãe

Criadas pela dupla Kevin Eastman e Peter Laird, as Tartarugas Ninjas surgiram nos longínquos  anos 1980 como uma paródia das HQs do Demolidor de Frank Miller, com suas hordas de ninjas lutando nas ruas imundas de Hell’s Kitchen.

Sucesso nas HQs,   não tardaram em ser levadas à TV e ao cinema. Com isso, sua pegada inicial, mais “suja” e sangrenta, foi suavizada em séries de desenhos animados e filmes (lançados em 1990, 91 e 93) dirigidos ao publico infantil.

Nesta leva mais recente de filmes produzidos pelo megalomaníaco Michael Bay, a abordagem infantilizada continua. Nem uma gota de sangue espirra na tela.

A boa notícia é que há um aparente esforço para dar uma personalidade delineada para cada Tartaruga.

Bebop, o javali de moicano roxo, burro como uma porta
Leonardo, por exemplo, surge como um líder natural, sendo o mais sério e disciplinado do quarteto. Já Donatello (ou Donnie), é o expert em tecnologia. Michelangelo (Mikey) é o adolescente gaiato. E Rafael é o fortão.

Na trama, acompanhamos as Tartarugas e sua aliada na imprensa, a repórter April O’Neill (Megan Fox), às voltas com a ameaça do vilão Destruidor, que voltou à cena e ainda fez um pacto com o conquistador interdimensional Krang, para – claro – conquistar a Terra.

O fan service (prática de dar aos fãs exatamente aquilo que eles esperam) surge no próprio Krang (basicamente um chiclete mastigado com rosto, que vive na barriga de um robô), dos capangas mutantes Bebop (o javali de moicano roxo) e Rocksteady (o rinoceronte) e de Casey Jones, o aliado das Tartarugas que atua com máscara e taco de hóquei.

Com muitas cenas de pancadaria e perseguição por terra, mar (rio, na verdade) e ar, o filme se desenvolve ligeiro como uma refeição completa no fast food de sua preferência: colorido, divertido e sem consistência.

Até aí, tudo bem. Só não as chame de jabutis. Ou Rafael quebra seu nariz.



O mordomo não é culpado 

Modelos japoneses, Hiro Mizushima e Ayame Gôriki protagonizam Black Butler
Completamente diferente em estética, ritmo e estilo é Black Butler - O Mordomo de Preto, baseado em um mangá publicado no Brasil pela Panini Comics.

Na verdade, esta produção japonesa chega mesmo a ser sofisticada, em comparação às Tartarugas Ninjas.

Na trama, acompanhamos Sebastian (Hiro Mizushima), um misterioso mordomo cheio de habilidades, cuja missão é servir e proteger a jovem Kiyoharu (Ayame Gôriki), cujos pais foram assassinados na infância, tornando-se herdeira de um império.

Apesar de intrincada, a trama, que ainda engloba tráfico de drogas experimentais, disputas políticas e pactos demoníacos, não chega a ser confusa.

Bem ao estilo narrativo pop japonês, cada detalhe é explicado quase à exaustão.

O que realmente difere este filme do tradicional cinema-pipoca norte-americano é o ritmo da narrativa, que equilibra bem os tempos fortes e calmos, como um bom filme noir.

O visual limpo e sofisticado – incluindo fotografia, figurinos e cenário – é outro atrativo.

As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras (Teenage Mutant Ninja Turtles: Out of the Shadows) / Dir.: David Green / Com Megan Fox, Will Arnett, Stephen Amell, Tyler Perry / Cinemark, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinépolis Bela Vista, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, Orient Shopping Center Lapa, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / 10 anos

Black Butler - O Mordomo de Preto (Kuroshitsuji) / dir.: Kentaro Ohtani e Keiichi Sato / Com Hiro Mizushima, Ayame Gôriki, Yuku, Masatô Ibu / Cinépolis Bela Vista / 14 anos

quarta-feira, junho 15, 2016

LIMBO: ROCK E ATIVISMO MADE IN ALAGOINHAS

Limbo, foto Haze Estúdio de Criação
Notícia velha: o rock no interior tá bombando mais do que na capital.

Notícia nova: Alagoinhas é um dos destaques desta nova cena baiana.

E a banda Limbo, na ponta de lança do movimento cultural da cidade, se apresenta em Salvador neste sábado, dentro da programação (gratuita!) do NHL Festival 6, no Dubliner’s.

Com um EP intitulado Milequatro lançado no ano passado, a Limbo apresenta boas composições em inglês e português de sabor pós-grunge, pesado e psicodélico.

Aluno de Direito em Salvador, Zé Neto (o cabeludo de poncho na foto) responde pelos vocais, guitarra e teclado na banda. Articuladíssimo, ele quase esquece de falar da própria banda para vender a cena cultural de sua cidade como um todo: “Alagoinhas pulsa potencial. Tem muita gente criativa aqui, desde o início da cidade (fundada em 1853 por um padre português)”, diz.

“Aqui tem marcas fortes de arte, é uma cidade muito expressiva”, garante Zé, que do alto dos seus 19 anos, deixa muito roqueiro velho com suas ideias reaças no chinelo.

Rapaziada consciente

Limbo live. Foto Haze
Ativista, a banda chegou a atuar em iniciativas de difusão e disseminação de arte junto Conselho de Cultura do Município.

“Entendemos que o governo deve suprir a necessidade popular de acesso a cultura. Então tentamos viabilizar apresentações gratuitas, até para as pessoas daqui verem que Alagoinhas tem banda de rock, que é possível”, afirma.

“Não precisamos ficar se anulando. As práticas digitais de produção e difusão estão aí, então o que temos feito envolve isso, como a Caminhada Cultural da Cidade. Precisamos nos reconectar com as raízes, parar de olhar pra  fora e olhar para Alagoinhas, ver o que temos, porque tem – só que  as vezes tá escondido”, diz Zé.

Como o espaço aqui é limitado, não dá para falar de todos os artistas e espaços culturais citados, como o artista plástico Litho Silva, as bandas Inventura e Reggae Zambê, o Let's Go Pub, artista gráfico Antonio Lins, o grafiteiro Pinho Blures, a Casa do Boi Encantado e o coletivo Na Lata Cultural, mas fica o registro.

Formada por Zé, Levi (guitarra), Vagner (baixo), Victor (bateria) e Hiran (backing vocals), a Limbo, garante o artista, está em plena mutação.

“Nas novas músicas, vamos desenvolver uma linguagem nova. Antes vamos soltar um single ainda esse ano, gravado no Irmão Carlos, que vai sair na coletânea Ponto Sonoro, que ele lança em breve”, avisa.

NHL Festival 6 Especial Dia da Música apresenta: My Magical Glowing Lens (ES), SOFT PORN, Van der Vous, Limbo, Zaul, Barrunfo do Samba / Sábado, 19 horas / Dubliners Irish Pub / Grátis



NUETAS

Neto Lobo e Corisco

Neto Lobo & A Cacimba e  Capitão Corisco & Bando Virado no Mói de Coentro cantam os maiores compositores nordestino no Projeto Salve Nordeste. Amanhã, 21 horas,  Praça Pedro Archanjo, gratuito.

Ayam no Rockambo

O Rockambo de junho traz o incrível Ayam Ubráis Barco, Tabuleiro Musiquim e Gazumba. Sexta, 22 horas, Taverna Music Bar, R$ 15, R$ 10 (lista).

Wander Wildner quinta no Portela

O astro do rock gaúcho Wander Wildner é a atração do evento Quintas Artesanais no Portela Café, nesta quinta-feira. O músico, notabilizado nacionalmente nos anos 1980 à frente da pioneira banda punk Os Replicantes, traz a cidade o show do seu último álbum, Wanclub - Música para dançar Vol. 59. O disco, viabilizado em crowdfunding, é uma coletânea de hits como Um Lugar do Caralho, Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo, Bebendo Vinho e Surfista Calhorda – tudo regravado ao vivo em estúdio, marcando os 20 anos de sua carreira solo. No evento, a casa ainda oferece carta de cervejas artesanais e discotecagem do DJ Big Bross.

segunda-feira, junho 13, 2016

TODAS AS NOTAS PARA LUGUITA

Luciano Souza, lenda do jazz rock brasileiro, morre de insuficiência respiratória e deixa em conclusão o CD de inéditas Alma

Texto de Zezão Castro, fã número 1 e produtor executivo dos seus três últimos álbuns

Luciano e sua melhor amiga, em foto de Nancy Viegas
Quando o programa Jovem Guarda, da TV Record, lançava moda na programação televisiva para o público jovem brasileiro com Roberto, Erasmo e Wanderléa, as demais emissoras davam seus pulos e imitavam o formato.

Um desses êmulos televisivos foi o Programa O Bom, da TV Excelsior, apresentado por Eduardo Araújo e Silvinha. A grade era formada por uma espécie de “time B” da Jovem Guarda.

Desse grupo participavam Os Incríveis, Os Brasas, Sérgio Reis, Enza Flori e também Os Minos, um grupo de garotos que saíram da Bahia com o nome de Os Príncipes do Yé,Yé,Yé e, após o grego Minus Matzas pegá-los para garotos propaganda de sua loja de roupas, (Minos Ports), foi rebatizado em homenagem ao rei de Creta.

Os guris eram Pepeu Gomes (baixo e vocal) 14, Jorginho Gomes (bateria), 11, Ricardo Souza (guitarra base) 12, e Luciano Souza, (guitarra solo) 10.

Foram de Kombi pela Rio-Bahia até São Paulo. Luciano, no dizer de Pepeu Gomes “era o macaquinho da banda”.

Todos engomadinhos e de terno, como Os Beatles, os guris eram atração fixa. E o tal macaquinho, desde 1966, antes de os discos de Jimi Hendrix serem lançados no Brasil, já tocava com a guitarra nas costas desde os tempos de Salvador.

Franzino, parecia ser menor do que o instrumento. Num certo dia, Eduardo Araújo lançou um concurso pra ver quem tocava mais entre todos os grupos do programa. Já eram quinteto após a entrada do solista vocal Leif Ericksson.

Pois bem, Os Incríveis ganharam na primeira edição da “competição” porque Manito, que era saxofonista (multi-instrumentista, na verdade) tocou teclados com o nariz.

O empresário dos Minos, Seo Dilson (pai de Luciano e Ricardo), enérgico que só ele, sempre dizia: “Vocês podem não ser os maiores mas tem que ser os melhores”.  Retou-se e emendou, “Luciano, na próxima semana você vai tocar com o pé”.

Quando foi na outra semana, após as narigadas dos Incríveis, o guri de 10 anos colocou a guitarra virada pra cima apoiada num cavalete, a banda atacou e ele, com um pé, deslizava a sola da bota (revestida com uma chapa de ferro), no braço do instrumento. Com a mão direita, paletava na parte debaixo, perto dos captadores.

Desbancaram Os Incríveis.

Falecido ao dar entrada no Hospital Geral do Estado no último dia 7 de junho devido à insuficiência respiratória provocada por enfisema pulmonar, Luciano Mário Soares Souza, o Luguita, já poderia ter parado aí.

Ainda bem que não parou e foi até os 58 anos.

Conhecido por ser o músico dos músicos, esta lenda do jazz rock brasileiro ganhou de Luis Vagner (Os Brasas), já nos anos 70, o citado apelido de Luguita, de Luciano + guitarra. E era verdade. Eu o vi pela primeira vez em 1995, na Jam do Mam.

Fiquei chocado.

A sensação era a de que, se o braço da guitarra medisse 1 km² ele tocaria em todas as notas do perímetro. De quebra, Dom Lula Nascimento na bateria.

Eu fazia questão de, toda vez que ele estava gravando os dois CDs que produzi, (Virtuose, de 2008 e Olhando o Acordar da Esperança, de 2013) sentar-me no chão do estúdio Casa das Máquinas, de Tadeu, para ser bombardeado pela radiação.

Sem essa de sala de isolamento.

Adolescente, de 13 anos, trabalhava num banco no Comércio, em Salvador, quando viu pela vidraça a trupe dos Novos Baianos.

O ex-companheiro Pepeu, uma menina com o espelho na testa, além de outros magrelos cabeludos. A galera olhou pra o “jovem-futuro-quase-bancário” e começaram a fazer gestos, chamando pra rua e tocando guitarras imaginárias, sugerindo que ali jamais seria o seu lugar.

Às vezes ele e o irmão Ricardo ficavam cada um com sua guitarra Snake, imitando carros de fórmula 1 se ultrapassando, controlando e descontrolando a microfonia em paletadas esquizóides para descabelamento da mãe, dona Nair, responsável por segurar muitas ondas do filho até o fim da vida do músico.

Em 1972, ele passou a integrar o power trio de rock progressivo baiano Creme, com Jaime Sodré (bateria) e Moisés Gabrielli (baixo e vocal). Entrou substituindo Perinho Santana que tinha ido tocar com Luiz Melodia.

Após sair do Creme, em 1975, Luciano vai aventurar em Sampa e Eduardo Araújo, que empregava Os Minos no passado, o convida para tocar guitarra com ele e a esposa Sylvinha em sua nova banda, que contava também com Lanny Gordin.

Seu exame de ingresso na banda foi ouvir as bases do LP Sou Filho Deste Chão, de Eduardo Araújo e Sylvinha e, na mesma hora, colar a guitarra.

Coisa pouca sempre foi bobagem...

Nessa época, Piska, do Casa das Máquinas o viu tocar e, simplesmente lhe deu a guitarra Royer de dois braços que tinha sido de Steve Hackett, do Gênesis.

Em 1977, passa a integrar o conjunto de rock Som Nosso de Cada Dia, onde imprimiu mais brasilidade ao progressivismo do grupo paulistano fundado por Manito (ex-Os Incríveis) Pedrão Baudanza (baixo) Pedrinho (bateria) e outros.

Era um tempo em que os caras tomavam ácido lisérgico até pra gripe.

“Eu sou da geração do ácido, Zé, esse pessoal de hoje só toma porcaria e fuma cocô de cavalo”, desabafava.

No início dos 1980, passa a integrar a banda de Baby Consuelo e de Pepeu Gomes, excursionando pelo Brasil e Europa.

No mesmo ano, integra na qualidade de convidado especial do 1º Festival Instrumental da Bahia onde toca com o pianista de jazz Jeff Gardner.

Discreto, sem estrelismos, Luciano (o Baby) era sideral. Conseguia, ainda, ser melhor pessoa do que
músico. Pra tocar com Luciano só Lula Nascimento, costumavam dizer os músicos.

Quando pude juntá-los em CD, no Virtuose, em 2008, (com Didi Gomes!!) eu próprio pensei, que, se um raio me fulminasse naquele momento, eu morreria feliz.

O guitarrista deixou também gravado o CD Alma, que está em fase de conclusão, mas ainda sem data  para lançamento.

Da próxima vez que uma sonda partir pro fim de linha do universo com lembrancinhas da Terra vou solicitar à Nasa para colocar seus CDs no balaio com a seguinte mensagem: Quando superarem isso, apareçam (e tragam a seda).

DISCOGRAFIA DE LUCIANO SOUZA

Trabalhos Autorais

CD – Virtuose – Projeto contemplado pelo Fundo de Cultura 2008, da Secretaria

Estadual de Cultura.

CD – Olhando o Acordar da Esperança – Projeto contemplado pelo Edital de Demandas

Espontâneas 2013 da Secretaria Estadual de Cultura.

Com Os Minos

Compacto Vem meu bem/ Fingindo me amar

Compacto Febre de Minos /Menina. Copacabana, 1967.

Com o Som Nosso de Cada Dia

Compacto Black Rio / Identificação, CBS, 1978.

Como músico acompanhante

Arnaud Rodrigues – LP Som do Paulinho, Som Livre, 1976.

Eduardo Araújo e Sylvinha – Sou Filho Desse Chão, Beverly, 1976.

Roze – LP Acorde, Chantecler, 1979.

Projeto Pixinguinha, Governo do Estado da Bahia – 1981.

CD Trilhas Urbanas – Antologia Musical da Cidade do Salvador, (com o Jazz Rock

Quartet), Fundação Gregório de Mattos, 2007. Coletânea de Artistas.

sábado, junho 11, 2016

ACHOU POUCO? ENTÃO TOMA MAIS MICRO-RESENHAS

Cabra psicodélico da peste

Clássico absoluto da psicodelia nordestina, o LP de estreia (1974) da  banda pernambucana Ave Sangria foi relançado em CD e LP com álbum ao vivo gravado no mesmo ano. Um barato, bicho! Ave Sangria / Ave Sangria e Perfumes Y Baratchos / Ripohlandya / CD: R$ 25 (cada) / LP:  R$ 80 (Cada)








B&S pós-hype

A trupe indie escocesa que foi modinha há uns 15 anos segue ativa e chega ao nono LP fora da zona de conforto (indie folk fofo), investindo em faixas dance como The Party Line. Um álbum interessante de uma banda madura. Belle And Sebastian / Girls in Peacetime Want to Dance / Lab 344 / R$ 29,90







Leva pra igreja

Fenômeno do You Tube com o hit Take Me To Church (bela canção, de  fato),  o irlandês Andrew Hozier-Byrne lança seu primeiro álbum, disposto a não ser cantor de um único sucesso. E estreia bem, com um LP consistente, climático, adequado ao seu vozeirão. Hozier / Hozier / Universal / R$ 27,90







Seresta brasuca

O paulista Roberto Seresteiro apresenta aqui profunda e bela pesquisa da seresta brasileira, recuperando canções pouco conhecidas de Silvio Caldas, Mario Lago, Noel Rosa, João de Barro e outros. Muito brasileiro e bonito. Roberto Seresteiro / Cordiais Saudações / Por do Som / R$ 24,90







Melhor impossível

A banda carioca Matanza faz a linha Ramones / Motorhead: nunca muda. O que é legal e fideliza os fãs. No novo álbum, mais algumas daquelas adoráveis crônicas de crime e ódio embaladas em hardcore acelerado. Abra uma cerveja. Matanza / Pior cenário possível / Deck / R$ 24,90







Anarquia com arte

Anarquista notório, anti-igreja, anti-establishment etc, o italiano Fo tem aqui um de seus trabalhos mais importantes. Baseado em evangelhos apócrifos e contos medievais, apoiado na tradição da commedia dell’arte, Mistero Buffo faz graça da miséria humana, sempre explorada pelos poderosos e pela religião. Mistero Buffo / Dario Fo / SESI-SP Editora/ 120 p./ R$ 34,90







Só no Brasil essa raça desgraçada não é julgada

Nobel de Literatura em 2002, o húngaro Kertész sobreviveu primeiro a  Auschwitz e depois à URSS, que dominou seu país no pós-guerra. Aqui, ele assume a persona de Martinez, torturador de um regime político ditatorial sul-americano, narrando suas memórias em primeira pessoa. História policial / Imre Kertész / Tordesilhas/ 120 p./ R$ 27,50/ E-book: R$ 19,50







Sobe!

O gênio de Arthur C. Clarke (2001: Uma Odisseia no Espaço) narra neste livro, publicado em 1979, a saga de um engenheiro visionário que quer construir um elevador da Terra até o espaço. Dois milênios antes, um chefe tribal em uma ilha exige de seus súditos a construção de um palácio no topo de um rochedo. O que um tem a ver com o outro? As fontes do paraíso / Arthur C. Clarke / Aleph / 352 p./ R$ 39,90






Uma dúzia de Doutores

Alienígena imortal que trafega pelo tempo e espaço, o Doutor já teve 12 encarnações terrestres ao longo das décadas em que seu seriado tem sido exibido pela BBC (TV Cultura no Brasil). Aqui, doze autores criam contos para cada Doutor. Boa introdução para novatos. Doctor Who: 12 doutores, 12 histórias / Vários autores / Rocco/ 480 p./ R$ 48/ E-book: R$ 29,50







Debatendo e andando

Considerado um renovador da prosa portuguesa, Almeida Garret (1799-1854) conta aqui a jornada de Carlos, um jovem liberal ao Vale do Santarém. No percurso, muita discussão política entre o protagonista e Frei Dinis, representante do velho absolutismo. A nata da língua portuguesa. Viagens na minha Terra / Almeida Garrett / L&PM/ 256 p./ R$ 16,90/ E-book: R$ 5






Kid Obi-Wan

Nos vinte anos que separam os episódios 3 e 4 da saga Star Wars, o mestre Jedi Obi Wan Kenobi viveu no planeta Tatooine, onde acompanhou, de longe, o crescimento de Luke Skywalker. Aqui, tudo o que ele viveu nesse período em um romance de estilo western,  com o Jedi tirando onda de cowboy, tipo pistoleiro solitário. Star Wars - Kenobi / John Jackson Miller / Aleph/ 528 p./ R$ 39,90






Rumo ao desconhecido

Lisboa, 1553. Um dia antes de embarcarem em uma nau para o Brasil, o jovem noviço José de Anchieta conta para o menino Joaquim a saga dos europeus que se lançaram ao mar ávidos pela descoberta de novas terras e riquezas. Uma bela HQ de cunho educativo que não é chata. Descobrindo um Novo Mundo / Lillo Parra, Rogê Antônio e Akira Sanoki / Nemo/ 64 p./ R$ 42






Moderno há 90 anos

Escrito há quase 100 anos (1926), este tratado do filósofo inglês ainda hoje soa avançado ao fazer a defesa do ensino universal para meninas e meninos, além de debater a dualidade entre a educação do caráter e a educação para o conhecimento. Educação sexual e castigo físico também são temas aqui. Sobre a educação/ Bertrand Russell / Ed. Unesp/ 268 p./ R$ 38







Novas aventuras estéticas do menino Ronei

Estreia em EP do duo Ronei Jorge e João Meirelles, com cinco faixas e belo projeto gráfico de Lia Cunha. No som, canções de acento tropical desnudadas em arranjos mínimos, meio áridos. É cabeça – desejando ser coração. Tropical Selvagem / Idem / Independente / Preço não divulgado







Vigor amazonense

Boa estreia da banda amazonense Alaidenegão, que pratica uma mistura envenenada de rock e ritmos brasileiros. Diferente de boa parte da produção nortista recente, esta não é só bat-macumba pra turista. Som vigoroso e suingado. Alaídenegão / Senoide sensual / Deck / R$ 24,90



Careqa canta Waits

O adorável cabaré decadente de Tom Waits ganha releitura a altura com as versões brasileiras do prolífico Carlos Careqa. Na verdade, já é o segundo tributo do cantor ao mestre, mas parece a primeira vez, tamanho o frescor da sua abordagem. Carlos Careqa / Por um Pouco de Veneno: Carlos Careqa canta Tom Waits / Barbearia Espiritual Discos / R$  30 (via Facebook)