terça-feira, março 27, 2018

20 ANOS DEPOIS, MARIA BACANA RETORNA E FAZ MARAVILHOSA SEQUÊNCIA DO ÁLBUM DE ESTREIA

André, Macello e Lelê: Maria Bacana 2018
Nos últimos vinte anos, vimos de um tudo acontecer: torres desabando, um operário chegando ao poder, as redes sociais envenenando o planeta, dinheiro que não existe, um negro na presidência dos EUA (seguido de um personagem de South Park), ficções noticiadas como verdades.

Só não vimos justiça social e um disco novo da Maria Bacana.

Bem, a espera acabou – pelo disco novo da Maria Bacana.

O power trio oriundo da Cidade Baixa acaba de lançar A Vida Boa Que Tem Os Dias Que Brincam Leves, uma maravilhosa sequência para o mítico álbum de estreia, Maria Bacana (1997), lançado pelo selo Rock It! de Dado Villa-Lobos, então fã de carteirinha da banda.

Gravado nos Estúdios WR com produção de Apú Tude (ex-Úteros em Fúria), o CD traz 14 faixas com aquela pegada pop punk tropical da Baixa do Bonfim: direto, melodioso, cheio de riffs matadores e canções boas pra cantar junto: Palmeiras Ao Vento, Ego & Poeira, No Ônibus, Nosso Filme.

“Pra mim, ficou perfeito. É um disco que respeita nossa sonoridade mas nos coloca no século 21 em termos de  timbres, arranjos. É um disco de rock moderno que quer se comunicar com todo mundo, não é só pra iniciados no rock”, afirma o band leader André LR Mendes (guitarra e vocais).

“Inclusive, eu acho que o rock hoje comete um grande erro de falar só  ‘pra iniciados’. Nós, como sempre, tentamos falar pra todos”, acrescenta.

Simplão, o álbum segue praticamente a mesma receita do primeiro: não há convidados, todas as faixas são de André e tirando um violãozinho aqui outro ali, o instrumental é baixo-guitarra-bateria.

“Nós não poderíamos ficar mais satisfeitos com a produção de Apú. O cara respeitou totalmente o que trouxemos pronto / ensaiado e ajudou a ‘polir’ o resultado final com atenção aos detalhes e à como o todo estava soando. Apú é um grande produtor e uma grande pessoa, muito fácil de trabalhar junto e com um ótimo ouvido musical”, diz.

“André é muito talentoso e banda ainda tem uma química muito boa”, devolve Apú. De fato, o trio formado por André, Macello Medeiros (bateria) e Lelê Marins (baixo e backing vocals marcantes) soa como se nunca tivesse parado.

Produção independente, A Vida Boa... teve parte das gravações financiada pelos fãs e amigos, via campanha de crowdfunding. Esta, infelizmente, não alcançou a meta, mas ajudou. “A versão física deve sair daqui  um mês, mais para ser recompensa dos apoiadores e souvenir pros fãs antigos”, conta André.

“Hoje em dia, o importante é estar nas plataformas de streaming. No nosso site (www.mariabacana.com) o ouvinte tem a experiência do disco, com encarte pra acompanhar as letras e a ficha técnica. Provavelmente vamos vender o CD no nosso site também. Mas o importante é ouvir, seja no site, no spotify ou no CD”, ressalta.

Pequenas, pequenez

André, Macello e Lelê em 1996
André conta que a ideia de gravar um disco novo surgiu depois de um reencontro feliz em um estúdio, só para fazer um som.

"Em 2015, numa sexta feira véspera do feriado da Páscoa, eu tava no telefone com Lelê (baixista) e conversa vai, conversa vem, falei em fazermos um som. Ele topou na hora. Aí ficou aquela pergunta “Será que Macello (baterista) topa?” Aí eu disse: “Peraí” e liguei pra Macello que topou na hora! No outro dia, estávamos no estúdio tocando TODAS AS MUSICAS do nosso disco de 1997 como se nunca tivéssemos parado de tocar juntos. Uma química que, até pra mim que sou da banda, é impressionante. Aí combinamos de fazer um show em 2017 pra comemorar os 20 anos do lançamento do disco de 1997. Só que eu sugeri algo maior e mais duradouro “que tal se a gente lançar o segundo disco, depois de 20 anos?” Era um terreno meio doido de pisar porque aquele disco e a banda viraram “cult” e lançar uma obra inferior “queimaria” a nossa história. Mas eu tinha certeza que lançaríamos um disco MELHOR que o de 1997. Sem falsa modéstia, nós conseguimos alcançar essa meta. Os 20 anos que vivemos entre os dois discos nos amadureceram como pessoas...e isso se reflete na música", relata.

Cronista do homem comum, André explora nas letras as pequenas alegrias do dia-a-dia,  como em Palmeiras Ao Vento: “Cheiro de mijo / palmeiras ao vento / Roberto Carlos ainda toca no rádio / Brasil medieval, doce purgatório à beira-mar / Escultura de areia que o mar dissolve / Picolé de dois Reais”.

Em outras, como Ego e Poeira,  explora a pequenez do ser humano perante o universo: “Você já viu aquela foto da Terra vista distante? / Um ponto entre outros, nem maior, nem menor, nem mais brilhante /.../  E a gente fica aqui, ego e poeira cósmica / Com histórias repetidas como farsa”.

“O disco fala das pequenas coisas da vida que marcam pra sempre: um telefonema, um cheiro de café que toma conta da casa, o amor de um casal que dura a vida inteira. Uma tentativa de viver bem, uma busca pela leveza”, afirma.

"Algo tão difícil de alcançar plenamente nesse momento que nosso país vive, onde fascistas, racistas, demagogos, canalhas, misóginos e avarentos tomaram o poder com um golpe jurídico midiático e hoje fazem o que querem, rindo da cara do povo que, em alguma parcela, como numa síndrome de Estocolmo, apoia seus algozes. Mas a gente tenta falar de amor e sinceridade. Uma gota de positividade nessa sociedade que se encontra doente. É a poesia diária e simples da vida do homem comum", acrescenta.

Em breve, o trio anuncia a data do show de lançamento: “Ainda não tem data porque estávamos completamente focados no disco.  Agora vamos voltar à ensaiar, construir um show. Na sua história, a Maria Bacana passou mais tempo em estúdio criando do que no palco. Talvez seja uma característica nossa. Mas também temos nosso lado explosivo no palco. Quem já nos assistiu sabe da nossa entrega ao vivo”, garante.

"Seria massa ter um empresário ou produtor que cuidasse dessa parte pra gente, ajudasse à tornar a banda uma “empresa” nesse momento.. Estamos abertos à propostas! Quem quiser ganhar dinheiro com a gente, estamos aí (risos). Nosso plano agora é continuar fazendo nossa música, levando presencialmente ou virtualmente nosso som pro maior número de pessoas, mostrar que dá pra fazer rock com canções no país no século 21 sem soar requentado, burro ou brocha", conclui André.

Maria Bacana / A Vida Boa Que Tem Os Dias Que Brincam Leves / Independente / produção: Apú Tude / Ouça: www.mariabacana.com



Leia a história da primeira encarnação da Maria Bacana neste belo texto de Ricardo Cury: 
http://rockloco.blogspot.com.br/2011/10/saga-da-maria-bacana.html

NUETAS

Soulshine na quinta

Com Candice Fiais a frente, a Soulshine Blues Band faz a night véspera de feriado nesta  quinta-feira, na Tropos. No repertório, clássicos de Joni Mitchell, Allman Brothers, Eric Clapton e Bonnie Raitt e outros. 21 horas, pague o quanto quiser / puder.

Danilo faz Cazuza

Com direção artística de Lelo Filho, o cantor Danilo Medauar apresenta na semana que vem duas sessões do seu espetáculo   Todo Músculo que Sente, só com repertório de Cazuza. No Teatro Sesi  Rio Vermelho, dias 5 (quinta-feira) e 6 (sexta), 20 horas. R$ 60 e R$ 30. Ingressos na  bilheteria do Teatro Sesi ou no Sympla

Maglore, Canto

Duas bandas bem queridas da rapaziada, Maglore e Canto dos Malditos na Terra do Nunca, inauguram a session Sons Daqui, que promete “apresentações de artistas locais nos largos do Pelourinho a preços populares“. Começou bem, ficam os votos de sucesso da coluna. Vai ser no dia 14 de abril (um sábado), 20 horas, no Largo Pedro Arcanjo. R$ 20 e R$ 10, no Sympla.

Garotos Podres, oi!

Esse também é pra se programar: a clássica banda punk paulista Garotos Podres se junta às locais Barulho S/A e Carburados Rock Motor para um show no dia 12 de maio, no Largo Quincas Berro D'Água. R$ 30 (1º lote) e R$ 40 (2º), no www.pelorockfest.com.br.

sexta-feira, março 23, 2018

MÚSICA CALMA PARA NERVOSOS

Banda Ira! estreia na Sala Principal do Teatro Castro Alves com seu show Folk, no qual relê clássicos e canções mais românticas do repertório em versões acústicas 

Scandurra e Nasi: quase 40 anos de parceria. Foto Carina Zaratin
Uma das principais bandas surgidas no boom do rock brasileiro dos anos 1980, o Ira! volta a Salvador com seu novo show acústico, intitulado Folk, hoje a noite, na Sala Principal do Teatro Castro Alves.

Habitué de apresentações memoráveis na Concha Acústica há uns 30 anos, o duo Nasi (vocais) e Edgard Scandurra (guitarra) faz sua estreia na Sala Principal do TCA com os músicos de acompanhamento do projeto Folk: Daniel Scandurra (baixolão) e Johnny Boy Chaves (piano).

“Pois é, nossa primeira vez na Sala Principal! É um detalhe muito importante, pois (o TCA) é um teatro imponente, histórico, em um ponto histórico de Salvador. Pra nós, é a mesma emoção de tocar no (Teatro) Municipal de São Paulo. Me senti o próprio Pavarotti”, brinca Nasi, por telefone.

Febre nos anos 1990, início dos 2000, os álbuns acústicos ofereciam uma forma mais “amigável” para o grande público se iniciar no repertório de muitas bandas de rock.

Em 2005, o próprio Ira! lançou seu Acústico MTV – que é bom lembrar, contou até com uma participação da baiana Pitty (na faixa Eu Quero Sempre Mais).

Já o Folk, lançado em CD e DVD no final do ano passado, em uma parceria com Canal Brasil, traz uma outra abordagem de formato acústico para o repertório da banda, segundo o vocalista.

Scandurra, Nasi, Daniel Scandurra e Johnny Boy. Foto Marcos Paulo
“Olha, muita coisa difere o Acústico MTV do Ira! Folk. O próprio termo folk já define, por que fizemos no estilo dos bardos folk estilo Bob Dylan, que se caracteriza pelo despojamento, é o artista e seu violão, sem bateria”, afirma.

“No Acústico a gente tinha nove músicos no palco, com piano, cordas, bateria, percussão, muita massa sonora, enfim. Este é um show delicado, o violão é o astro-rei da apresentação. É um show com mais silêncios, onde o público pode apreciar melhor as harmonias, pois valorizamos bastante os vocais. Até porque não estamos lutando contra microfonia da guitarra, conta o esporro da bateria”, detalha Nasi.

No repertório, além de alguns clássicos inescapáveis (Dias de Luta, Flores em Você, Envelheço na Cidade, Núcleo Base), Nasi e Edgard privilegiaram as canções  mais românticas da banda, além de alguns lados b.

“Quando começamos o projeto, eu e o Edgard nos encontramos algumas tardes, cada um com sua lista de umas vinte músicas. Aí, além das clássicas que não podem faltar, escolhemos aquelas que neste formato ficam valorizadas, as baladas que saem em conta gotas nos shows de rock, como Tolices, Mariana Foi Pro Mar, Mudança de Comportamento, Tarde Vazia, Quinze Anos, Mesmo Distante”, enumera.

“Nesse show elas ganham grande destaque, por que neste formato elas valorizam bastante. E o público também pode observar os formatos iniciais, já que 80% das músicas do show nasceram nesse estilo em que estamos tocando, então é um show bem diferente”, acrescenta o cantor.

Foto Lening Abdal
Esquenta para disco novo 

De volta em 2013 após alguns anos desativada devido a brigas entre os membros e seu empresário, a banda ainda não apresentou material inédito.

Para Nasi, a atual turnê acústica não deixa de ser uma forma de esquentar os motores para um futuro álbum com novas canções.

“Quando começamos esse projeto não tínhamos a pretensão de que virasse  um disco. A gente queria fazer algo diferente em palcos diferentes. Então estamos fazendo muitos shows em teatros, locais incomuns para shows de rock”, conta Nasi.

“O show tem crescido muito, tem sido bem requisitado. Aí veio a parceria com o Canal Brasil por que virou um show de sucesso. Em algumas capitais fizemos duas, três vezes. Acabou virando mais um capítulo de nossa discografia”, relata o cantor.

Com o fim da turnê Folk (que começou em 2016), Nasi, Edgard, Daniel, Johnny Boy e o baterista Evaristo Pádua já se preparam para entrar em estúdio em breve.

“Esses shows não deixam de ser um esquenta mesmo para um material inédito. Estamos trabalhando,  esboçando as primeiras músicas, para lançar um disco novo já no segundo semestre”, conclui Nasi.

IRA! Folk / Hoje, 21 horas / Teatro Castro Alves / filas A a P:  R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) / Filas Q a Z6: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia) / filas  Z7 a Z11: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia) / Vendas: Bilheteria do Teatro, SACs Shopping Barra e Shopping Bela Vista ou pelo www.ingressorapido.com.br

quarta-feira, março 21, 2018

FEIRENSE EM CACHOEIRA, PABLUES (CLUBE DE PATIFES) APRESENTA SEU NOVO PROJETO: CASAPRONTA

Pablues (último à esquerda) e o Casapronta. Foto Heloísa França
Band leader do Clube de Patifes, banda fundamental da cena alternativa feirense, Pablício Jorge, o Pablues, volta a esta coluna com seu novo trabalho, o Casapronta (assim mesmo, tudo junto, revisor!).

Com um EP  já disponível pela trinca de selos Brechó-BigBross-SãoRock, o trabalho traz cinco faixas, sendo três autorais (Vem, Calmaria e Deserto Coração) e duas releituras: Herói Trancado (do pernambucano Ortinho) e Rosa (de Jorge de Angélica, lenda viva do reggae feirense).

“Casapronta é um projeto que já vinha em minha cabeça faziam uns quatro anos e nunca colocara em prática. Ficava imaginando como seria ter um outro trabalho musical, sabendo o quão difícil é ter um... outro então, avemaria! São algumas canções que não se encaixavam no Clube de Patifes, aí fui guardando numa espécie de caixinha lá no canto do meu quarto, e nos meus shows solitários com o meu violão. Tinha muito receio em concretizar o Casapronta, não sei bem explicar, mas tinha. Eis que um dia na sala de aula na Ufrb, conheci Igor Skay, um jovem prodígio, que lida com artes visuais e com música. Rolou uma afinidade no campo das ideias, mostrei o projeto e na hora ele topou. Na sequência vieram Dante José e Christian Azevedo, todos ligados com artes em suas mais variadas vertentes – pintura, artesanato, tatuagem e claro, música”, conta Pablues.

Atualmente morando em Cachoeira para estudar na UFRB, o cantor acabou conhecendo outros músicos na nova cidade e... não deu outra: formou uma banda paralela com Igor Skay (guitarra) Dante José (baixo) Cristhian Azevedo (bateria). “Os caras são mais novos, com média de vinte e poucos anos, e eu um quarentão, aprendendo muito com eles e me divertindo. Sou o Tio Pabi da galera”, ri Pablues.

"Nunca gostei muito da ideia de disco solo, trabalho solo. Até porque é e sempre será trabalho em equipe, coletivo, tendo mais gente ali no palco. É um posicionamento meu, há quem discorde. Casapronta é um trampo despretensiosamente pretensioso, sabe como é? É coletivo, é um trabalho paralelo, trabalho esse que queremos imprimir uma energia positiva, uma parada com tranquilidade e liberdade na escolha do repertório e nas parcerias. Agradeço muitos aos 'os caras' por terem colado na ideia e podermos juntos fazer esse projeto girar", acrescenta.

Música de preto

Casapronta, foto Heloísa França
Se o Clube de Patifes é, assumidamente, uma banda de blues – ainda que não ortodoxo, com influências do candomblé baiano – o Casapronta prefere não colar um rótulo em seu som.

"Eu entendo essa necessidade de rótulo na música. A galera precisa se orientar através de rótulos, muitas delas, mas nem todos. O Clube de Patifes ficou estigmatizado como uma banda de blues, não sendo blues para os blueseiros ortodoxos, e uma banda de rock que também não era rock para certos rockeiros. Enfim, uma confusão retada. Mas a gente sempre soube que o que fazíamos era o nosso bluesrock, que mais tarde com o amadurecimento da banda e com as variadas influências e referências, chegamos a nos alto intitular uma banda de 'candomblues' e o Clube segue aí com seus 20 anos de serviços prestados. Já com o Casapronta, pensamos em não ficar preso a rótulos", observa.

“Mas tem coisas que são inerentes, sabe? O rock n roll é uma escola pra todos da banda. Mas tem muito mais aí, na música pode tudo, desde que seja feito com verdade. Como usamos muito o violão, tanto pra compor quanto no palco, querendo ou não temos a influência do folk, que lá fora é a música que vem do popular, do povo. Aqui com a gente não é diferente. Temos influência do 'folk-lore' brasileiro, suas culturas e musicalidades... afinal, somos da Bahia. Mas não se assustem que não queremos ter a música do carnaval não, podem ficar sossegados. Blues, rock, folk, reggae, forró, samba de caboclo – a música de preto sempre será bem vinda, desde que se encaixe com nossas ideias”, afirma.

Sobre as duas releituras, Pablues diz que "É muita gente na vida da gente que nos influência, nos forma em quantos pessoas, músicos e cidadãos. Vou começar por Jorge de Angélica. Jorge é um dos grandes reggaemen do Brasil. Há quem diga que o movimento reggae em Feira de Santana foi o primeiro no Brasil, juntamente com Tonho Dionorina e outros tantos lá na Princesa do Sertão. Frequentei muito as festas de rock n roll em Feira, na década de 1990, quando fui estudar na Uefs, antes de montarmos o Clube de Patifes. Muitas vezes, dentro dessas festas, o reggae se fazia presente e Jorge de Angélica era nosso herói alternativo naquelas noitadas. Os movimento rock e reggae andaram muito juntos e se respeitavam, como até os dias atuais. Rosa era um dos hits do filho de Dona Angélica. Um canção de uma pureza e força que me emocionava muito nos shows de Jorge. Claro, tocava no violão nas rodinhas que se formavam nos tempos áureos. Daí me veio a vontade de homenagear esse artista que até hoje vive na resistência, firme e de pé, fazendo o que acredita, na terra que tanto amamos e respeitamos, que é Feira de Santana. Viva a Jorge de Angélica, o Jorge 'Radical'. Ortinho encontrei no quarto de Jó. Estava um dia baixando uns arquivos de música na casa de Joilson, baixista do Clube, quando me deparei na letra O, com um nome pequeno que me chamou a atenção. Cliquei e estava lá o senhor Warton Gonçalves, o Ortinho, com seu disco Herói Trancado. Um disco que parecia muito ter sido gravado ao vivo, com uma sonoridade peculiar, do jeito que procurava na época. Quem puder, escute. A canção que dava nome ao disco – Herói Trancado – me bateu logo de cara. Uma poesia forte com uma melodia perfeita. Ortinho é um pernambucano, contemporâneo de Chico Science desde os tempos que antecederam movimento Mangue Beat, que revolucionou nossa música na década de 1990. Cheguei a conhecer Ortinho, aqui em Cachoeira em 2013 quando veio mostrar seu show por essas bandas de cá. Quando pensei em gravar a canção, mandei uma mensagem pra ele pedindo a autorização, e na própria resposta me dizia que estava autorizado e pronto. Ortinho é um grande artista e compositor, com discos incríveis. Ouçam", recomenda.

"O plano do Casapronta agora é fazer o próximo show. Deixando as 'aleotrias' de lado, a gente quer tocar, experimentar os diversos palcos e públicos que nos forem possíveis. Tocar, tocar, gravar, tocar, gravar mais e assim construindo um trabalho coeso. Pelo menos essa é a ideia. Não vou dizer que não temos pretensões, que seria uma falácia, pois como disse Glauber Rocha: 'Artista sem pretensão não é artista'. As parcerias com a galera são super bem vindas, pra podermos trocar experiências e circular. Em abril completamos um ano de projeto e estamos muito felizes com o feedback do público com a nossa demo tape que gravamos ao vivo, no Estúdio Netuno em Feira de Santana. Estaremos lançando a demo tape dia 24 de março em Feira de Santana, na Cúpula do Som, juntamente com a banda de um dos maiores rockers que conheço, que é Duda Brandão e banda Presente de Grego – você precisa conhecer esse cara, tem muita história e muita música foda. Estamos aceitando convites para os rolês, inclusive Salvador. Não somos peixes, mas podem nos encontrar nas redes e plataformas de streaming", acrescenta.

No sábado, a galera de Feira vai poder  curtir a banda nova desta figura no show de lançamento na Cúpula do Som.

Além desse, o Casapronta já tem marcadas apresentações no Empório Cervejaria (Feira), em Camaçari e em Catu (It´s Not Pub). Se liga nas redes sociais dos caras pra ver a agenda.

"Bicho, pode parecer clichêzão, mas o respeito com o outro, com suas crenças, suas verdades e musicalidades, não pode deixar de existir, isso é um ponto que tem que ser batido sempre que necessário. Estamos no mesmo barco nas naveganças, como diz Ayam Ubráis Barco, ao mesmo tempo andando entre 'Sombras e Luzes' que tanto a Declinium fala, sonhando com 'Um dia blue' tão cantado pelo Clube de Patifes, lutando sempre por uma 'Segunda Chance' né isso, Calafrio? E cantando 'Coisas do Coração', sabidamente palavras de Raul. Outro dia vi uma entrevista de Mano Brown no Racionais MCs, onde falava da critica que recaíra sobre ele em estar cantando coisa ligadas ao amor. Brown diz que os pretos querem falar de outras coisas, querem outras coisas também. As músicas que canto, muitas delas falam dessa dor do amor, da sofrência que já era cantada pelo Originais do Samba do final da década de 1960 e pelo saudoso Tim Maia... não tem nada de novo, ninguém precisa inventar a roda. Tá tudo aí, basta saber ressignificar como mandam as verdades dos corações que cada um habita. Êita, ficou meio poético isso, né? Tô com essa mania agora", conclui.



NUETAS

Neal Alger (EUA), foto Ryan Bennett
Ronei e JosyAra

Sexta-feira agitada esta semana. Ronei Jorge e JosyAra se apresentam a partir das 22 horas no Commons Studio Bar. R$ 15 (nome na lista www.commons.com.br) ou R$ 20. Apenas cash.

Álvaro Assmar Vive!

Vivo ainda estivesse, o grande Álvaro Assmar completaria hoje  60 anos. Na sexta-feira e no sábado, seu filho Eric, seu irmão Adelmo e a Mojo Blues Band se juntam ao lendário gaitista carioca Flávio Guimarães (Blues Etílicos) para homenagear o saudoso bluesman  baiano. Às 20h30, no Café-Teatro Rubi, R$ 60.

Neal Alger na Avenida

O guitarrista norte-americano Neal Alger é o convidado da session Jazz Na Avenida nesta sexta-feira. Veterano de redutos como o Blue Note e o Carnegie Hall, se junta à bandaça local com Joatan Nascimento (trompete), Luizinho Assis (piano), Alexandre Montenegro (contrabaixo) e Laurent Rivemales (bateria). 18 horas, na Boca do Rio (Av. Simon Bolivar, 156), gratuito.

terça-feira, março 20, 2018

HOJE: MESTRE DO SAMBA RESGATADO

Joia do samba, obra do baiano Ederaldo Gentil é tirada do limbo em caixa de CDs e site pela Natura Musical. Show de lançamento é hoje no TCA, com Baiana System, Larissa Luz, JosyAra e Zé Manoel

Ederaldo. Foto Arquivo A TARDE
Gigante do samba baiano, Ederaldo Gentil (1947-2012) tem sua obra devidamente recuperada e revalorizada na caixa Acervo (Natura Musical), que reúne seus três álbuns lançados em vida, mais um, reunindo gravações esparsas.

A iniciativa foi do seu sobrinho, o também músico e produtor Luisão Pereira, que já integrou bandas como Dois Em Um e Penélope.

Hoje, ele também estará à frente da banda que presta tributo ao sambista em show de lançamento da caixa e do site (www.ederaldogentil.com.br), com BaianaSystem, Larissa Luz, Josyara e o pernambucano Zé Manoel.

Em Acervo, de tiragem limitada, estão os álbuns Samba, Canto Livre de Um Povo (1975), Pequenino (1976), Identidade (1984) e o póstumo Raridades 1968-1981, exclusivo desta caixa.

No site oficial é possível ouvir todas as faixas de todos os discos, além de saber mais sobre Ederaldo através de textos, fotos e vídeos.

Autor de clássicos do samba como O Ouro e a Madeira, Rose e A Saudade me Mata, Ederaldo tinha aquela qualidade poética delicada, uma certa singeleza característica dos grandes sambistas como seu contemporâneo (e parceiro) Batatinha, o carioca Cartola e o paulista Adoniran Barbosa.

“Ederaldo era irmão do meu pai. Ele morreu cedo, com 68 anos. Achei que ia fazer algo com ele ainda em vida. Meu projeto mesmo era produzir um disco e um show dele”, conta Luisão.

Infelizmente, não foi assim que aconteceu. “Depois do velório, a filha dele, Sandra, me procurou: ‘Primo, a gente tem que manter a obra dele viva’. Comecei a pensar de que maneira eu poderia escoar a obra de Ederaldo. E não só pelo parentesco. Como produtor acho a obra de Ederaldo genial. Ele foi bem popular nos anos 70, depois deu uma sumida. Mas suas canções seguem e são gravadas até hoje”, diz.

Com o projeto de recuperação da obra de Ederaldo – até então inédita em CD – aprovado na Natura Musical, Luisão levou três anos só negociando com a Warner, dona do selo Chantecler, pelo qual Ederaldo gravou seus dois primeiros álbuns, pela liberação dos fonogramas.

“(As fitas master) Estavam no porão da Warner, que deixou os discos fora de catálogo. Aí foi aquela burocracia com advogados ‘a Warner não vai lançar e vocês não podem lançar’”, conta.

“Depois de duas viagens ao Rio e três  anos de troca de emails e telefonemas, conseguimos. Fizemos uma quantidade limitada, que não pode ir para as lojas. Mas criamos uma plataforma no site, está tudo lá pra ouvir. Agora vamos negociar pra botar nas plataformas de streaming”, diz.

Hoje, Luisão e uma banda de apoio prestam o devido tributo à Ederaldo no palco do TCA, ao lado de grandes artistas contemporâneos que reconhecem a influência da obra do sambista.

“Tem sido muito emocionante ensaiar com esses artistas e ver que as músicas seguem muito atuais. Com a ajuda deles, esperamos que a música de Ederaldo alcance um novo público”, diz.

Além das tradições

Os 4 ases do samba baiano: Edil Pacheco, Riachão, Batatinha e Ederaldo 
Responsável, ao lado do jornalista Lucas Cunha, pela pesquisa que acompanha caixa e site Acervo Ederaldo Gentil, o músico Paquito defende que ele era mais do que um sambista tradicional, ortodoxo: era também, de certa forma, um inovador do gênero.

“A obra de Ederaldo é a prova de que o samba não é uma música encastelada no nicho da tradição, é música de invenção também. No entanto, o senso comum encastela o samba nesse nicho”, afirma.

Como exemplo, ele cita a faixa-título do LP Identidade, em que Ederaldo canta os números do próprio RG: “05342635 / é o  meu número o meu nome / Minha identidade/ Minimo salário é o meu ordenado/ 12 horas de trabalho / Que felicidade, que felicidade”.

“Esse mesmo procedimento tem numa canção de Tom Zé no disco Nave Maria (1984) em que ele lista os documentos dele. Gosto de bater nessa tecla: o sambista não é só guardião de tradições, ele também tem seus arrojos”, conclui.

Acervo Ederaldo Gentil / Show de lançamento com BaianaSystem, Larissa Luz, Zé Manoel e Josyara / Hoje, 20 horas / Teatro Castro Alves / R$ 20 e  R$ 10

Acervo Ederaldo Gentil / Ederaldo Gentil /  Natura Musical / Caixa com quatro CDs: Preço não divulgado / Ouça: www.ederaldogentil.com.br

terça-feira, março 13, 2018

OLHAR ETNOGRÁFICO

Sebastião Salgado não vem ao Fórum Social Mundial que começa hoje em Salvador, mas mandou algumas fotos para uma exposição que começa hoje, na Reitoria da Ufba

Índios Korubo. Fotos Sebastião Salgado
Obviamente, a expressão "algumas fotos", em se tratando do fotógrafo em questão, está longe de fazer justiça ao material exposto.

Índios Korubo: Vale do Javari, título da mostra, reúne 15 imagens registradas por Salgado do povo Korubo, que vive no Vale do Javari, oeste da Amazônia.

Os Korubo são um dos últimos povos indígenas isolados, quase sem contato com os brancos. Conhecidos como "caceteiros", são considerados violentos e costumam usar bordunas (espécie de porrete) para se defender.

"É um registro raro", afirma Maria Hilda Baqueiro Paraíso, professora da Ufba ligada às questões indígenas e responsável pela mostra.

"Mas não porque seja tão arriscado. São índios que mantêm contatos eventuais com as frentes que trabalham com grupos isolados, o que quer dizer que começam a confiar em alguns brancos que os atendem. Também a presença de indígenas da região, já conhecidos pelos Korubo e que falam sua língua, facilitou bastante o contato e a realização do trabalho.  Além do mais, a presença da equipe de Salgado foi devidamente negociada e autorizada pelos Korubo", conta.

Junte-se a estes fatos o inegável apuro estético, característico do olhar de Salgado, e é possível mensurar a importância destas imagens – historiografica e etnograficamente falando, no mínimo.

"O apuro estético também impressiona, como não poderia deixar de ser. Porém, quando a estética se associa à sensibilidade social para com o destino de seres humanos, ela toma uma dimensão maior: a arte como forma de atrair a atenção das pessoas para os dramas sociais e registrar  para a posteridade o resultado de decisões equivocadas e da falta de respeito para com o direito à vida, à dignidade e a sua alteridade", observa a professora.

"Por exemplo, ainda são faladas 214 línguas indígenas diferentes no Brasil, o que faz deste país o que apresenta maior diversidade linguística no mundo, o que deverá ser reconhecido pela UNESCO como patrimônio mundial. Porém, não somos capazes de valorizar essa riqueza. Só olhares especialmente sensíveis, como o de Salgado, são capazes de perceber e revelar a importância da alteridade dos seres humanos", acrescenta.

11 HORAS - Como quase tudo que se relaciona à selva amazônica profunda, o acesso à região onde vivem os Korubo e as próprias condições de hospedagem – para um branco septuagenário – não são nada fáceis. Nem mesmo para um septuagenário aventureiro como Salgado, acostumado a desbravar os recantos mais remotos do planeta.

"É raro um fotógrafo da  idade e qualidade de Salgado se dispor a uma viagem tão difícil e prolongada - só de barco foram 11 dias entre a cidade de Tabatinga e a aldeia e sua permanência na área para realização dos trabalho duraram 20 dias", conta Maria Hilda.

"A absoluta falta de conforto não deve ser desconsiderada, como também a capacidade de se fazer entender e interagir com um grupo que vive sob constantes ameaças de mineradores e madeireiros ilegais que atuam na região e que os atacam com frequência", acrescenta.

Todos estes fatores – e mais alguns – tornam as fotos dos Korubo feitas por Salgado um tesouro brasileiro, inestimável em diversos níveis: estético, histórico, etnográfico, antropológico, filosófico.

"Essas dificuldades e o cuidado no trato com os Korubo, além da sensibilidade e extraordinária qualidade do material produzido,  tornam as fotos extremamente importantes como registro de um determinado momento histórico da vida desse grupo e da sua forma de viver, sobreviver e resistir", afirma Maria.

PIRIPKURA, ARISSANA - A mostra das fotos de Salgado abre também uma série de atividades relacionadas aos povos indígenas, no âmbito do Fórum Social. Pelo menos duas delas merecem registro: o filme Piripkura e a exposição Resistência, da artista plástica Arissana Pataxó.

Piripkura: Jair Candor e os índios que o ajudam na busca pela tribo perdida
Piripkura, documentário de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, vem ganhando muitos prêmios e elogios em festivais mundo afora com sua história de busca dos últimos membros da tribo Piripkura.

Nele, acompanhamos Jair Candor, funcionário da Funai, se embrenhando na floresta em busca desses índios, a fim de provar sua existência e garantir a preservação de suas terras.

"O filme aborda a história dos três últimos sobreviventes deste povo após o avanço desordenado da sociedade nacional sobre suas terras, seguida de debates com antropólogos, produtora do filme, o índio que intermediou a filmagem e o coordenador da política de localização de índios isolados na Funai", conta Maria.

Já a exposição Resistência traz as obras de Arissana Pataxó, membro da etnia Pataxó e primeira cotista indígena da Ufba, na Escola de Belas Artes.

"Arissana foi premiada com o Prêmio Investidor Profissional de Arte, promovido pelo Investidor Profissional de Arte, iniciativa do PIPA Global Investments, uma parceria com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro que busca estimular a produção de arte contemporânea no Brasil", conta Maria.

"Assim, procuramos articular nossas atividades buscando demonstrar que os povos indígenas no Brasil, apesar das dificuldades e políticas adotadas pelos Estados português e brasileiro, acreditam e praticam o princípio de que 'Resistir é criar, resistir é transformar'", conclui Maria, citando o lema do Fórum Social.

Em tempo: tanto Piripkura quanto Resistência estão em cartaz no Espaço Itaú de Cinema.

sexta-feira, março 09, 2018

CANTORIA SEM CARICATURA

Com novos e veteranos artistas, o quinto Encontro de Cantadores privilegia a legitimidade e a diversidade de estilos. Em dois dias gratuitos no Pelourinho, programação traz Josyara, Raymundo Sodré, Roze, Celo Costa e vários outros

Júlio Santim (SP) leva o som da viola caipira ao Encontro Foto Adriano Rosa
A cultura popular ganha o centro do palco no Largo pedro Archanjo neste fim de semana. É a quinta edição do Encontro de Cantadores no Pelô, que traz para o Centro Histórico veteranos e novas gerações de artistas populares da cantoria.

São dois dias de música com entrada gratuita: sábado e domingo, sempre a partir das dezoito horas.

No palco, grandes nomes da Bahia e do Brasil,como Raymundo Sodré, Josyara, Celo Costa, João Sereno, Roze, Bia Marinho (PE), Paulo Matricó (PE), Júlio Santin (SP), Ednardo Dali (PE), Marcelo Fonseca (MG), Luiza Brito, Rodrigo Sestrem e Verlando Gomes.

Entre os destaques, pode-se citar a veterana Roze, cantora de Tucanos, que lançou alguns álbuns muito elogiados por gravadoras major entre o fim dos anos 1970 e ínício dos 80.

Há também a celebrada Josyara, da nova geração, que lança disco ainda este ano pela Natura Musical.

O fantástico Raymundo Sodré, guardião da cultura popular do Recôncavo e autora da inesquecível A Massa.

Maviael Melo, cantador e curador do Encontro foto Heitor Rodrigues
Curador do Encontro, o cantador e poeta Maviael Melo indica ainda outros artistas dessa edição: "A gente está sempre trazendo novidades. Esta é a primeira vez que trazemos músicos instrumentais, como o paulista Júlio Santim, que toca viola caipira, e o mineiro Marcelo Fonseca, que toca violino e rabeca".

"Também apresentamos dois jovens artistas que fazem um trabalho novo, inédito no Encontro, que são Rodrigo Sestrem e Luiza Brito. São seis artistas por dia. Oito deles são inéditos no Encontro", contabiliza Maviael.

Diferente do que se pode imaginar também, o evento não se prende ao estereótipo do cantador, algo que costuma afastar pessoas menos familiarizadas com as músicas regionais do Brasil.

"A gente tirou essa concepção de ser 'ligado a terra'. Desde o segundo Encontro, quando trouxemos o (grupo carioca) 4Cabeça", lembra Maviael.

Luiz Brito, novo talento, foto divulgação
"O cantador também pode ser urbano, como no caso de Aiace, de Cláudia Cunha. A cantoria não precisa ser só da terra", reitera.

Realizado este ano quase sem recursos, apenas com alguns apoios, o Encontro se beneficia de parcerias de alguns artistas com empresas, as quais bancam os custos de sua apresentação.

"É tudo feito na base da colaboração de todo mundo. Em outros anos tivemos apoio de edital, mas esse não conseguimos, aí fazemos parcerias com artistas, empresas e vamos tocando", conta.

"Essas empresas bancam passagem, hospedagem, cachê. A gente aceita, desde que acreditemos no artista, caso do Júlio Santim. Isso também evita repetições: quanto mais gente nova, melhor", afirma o curador.

Ainda assim, o Encontro é um sucesso tão grande entre os artistas e apreciadores que Maviael é praticamente "assediado" para trazer de novo artistas de outras edições: "Olha, por nós, trazia todo mundo de novo todo ano. O pessoal liga e pede pra vir só pela passagem e hospedagem. Nem são shows propriamente ditos, são amostras de trinta minutos para cada artista, mas o astral é tão bom que se torna uma grande confraternização, uma grande celebração da cultura popular", afirma.

"Até meu irmão que também é cantador, Maciel Melo, disse que vem de qualquer jeito: 'Não quero dinheiro não, quero é subir no palco'", diverte-se Maviael.

Josyara, foto Micaela Wernicke
VIOLÃO E BATE-PAPO

Badalada na cena, a juazeirense Josyara deve fazer uma das apresentações mais aguardadas do Encontro.

Em pleno processo de gravação de seu segundo álbum – o primeiro pela Natura Musical, previsto para o segundo semestre, Josyara é o exemplo pronto da filosofia do Encontro delineada por Maviael: conectada às raízes, mas também urbana e com estilo próprio.

"Eu fico muito feliz de estar entre esses artistas que resgatam e mantém essa coisa do violão que eu trago no meu trabalho, a coisa da canção é muito presente no que eu faço. E em um espaço com o Pelourinho tudo fica melhor ainda. Estou muito feliz e ansiosa pelo Encontro", afirma Josyara.

No palco, a cantora e compositora mostrará tanto canções do seu primeiro álbum, quanto do vindouro disco pela Natura: "Esse show é uma mescla dessa músicas inéditas com meu trabalho antigo, o álbum Uni Versos, de 2012", conta.

"Mas tudo com arranjos novo e em cima do violão. A ideia é resgatar essa minha hstória, e também conversar com o publico", conclui.

Quinto Encontro de Cantadores no Pelô / Amanhã e domingo, 18 horas / Largo Pedro Archanjo, Pelourinho / Gratuito

terça-feira, março 06, 2018

SUÍÇA BAHIANA NAS OROPA

Coletivo conquistense é o único representante brasileiro no Primavera Pro em Barcelona

Gilmar Dantas (de vermelho) e a galera do Suíça Baiana. Foto Rafael Flores
Fundado em Vitória da Conquista em 2010, o Coletivo Suíça Bahiana é o único representante brasileiro selecionado para participar do Primavera Pro, encontro da indústria da música realizado pelo festival Primavera Sound, um dos mais importantes do mundo hoje, e que acontece desde 2001 em Barcelona.

Com o tema “Transformando una ciudad a través de su cultura”, o pessoal do Suíça vai apresentar um workshop e aproveitar para fazer contatos com músicos e produtores de todas as partes do planeta.

“O Suíça Bahiana tem duas missões no Primavera Pro: a primeira é um workshop de vinte minutos contando nossa história”, conta Gilmar Dantas, do Coletivo.

“A segunda missão é representar o interior baiano, levando material dos artistas e festivais que acontecem no estado, buscando parcerias e intercâmbios. Para esta segunda, a gente contará com a companhia do Feira Coletivo (de Feira de Santana), um dos nossos principais parceiros”, acrescenta Gilmar.

Dedicado a botar Vitória da Conquista e seus artistas no mapa, além de interliga-los em redes colaborativas por meio de outros coletivos, o Suíça foi selecionado  da forma mais simples possível: respondendo à convocatória do evento.

“Vimos uma chamada pública pra apresentação de trabalhos e nos inscrevemos. Pra nossa surpresa, foi a única proposta brasileira selecionada, mas certamente encontraremos outros representantes do Brasil e buscaremos nos aproximar. Vamos tentar todos os tipos de parcerias que estiverem ao alcance. Acredito que o modelo de trabalho do Suíça Bahiana é interessante e que as bandas que fazem parte do nosso selo podem ser exportadas pra outros lugares”, diz Gilmar.

Antes e depois

Tudo muito bom, mas afinal, de que forma o Coletivo tem a ajudado a transformar sua cidade?

“A melhor maneira de mensurar o trabalho do Suíça Bahiana é analisar a agenda cultural da cidade antes de nossa fundação (janeiro/2010) e durante o período de atuação do Coletivo. Em 2018 já tivemos shows de nomes como Vivendo do Ócio, Ronei Jorge e Giovani Cidreira, e em março teremos Márcia Castro. Antes do coletivo poderia demorar anos pra gente ver uma única atração na cidade”, afirma.

“Outro ponto positivo é o grande aumento de espaços pra música ao vivo, com um crescimento em cerca de 1000%. São espaços que, embora a maioria tenha a base de sua programação com artistas e bandas covers, tem investido em estrutura de palco, som, iluminação”, acrescenta.

Outro foco de atuação do SB nos últimos meses tem sido o seu selo fonográfico, o Piripiri. "O Piripiri ainda está em fase de experimentação. Conseguimos um êxito muito grande com os lançamentos e agenciamento de Achiles no ano passado e este ano estamos com lançamentos previstos de nove artistas: o soteropolitano Dimazz e as conquistenses Taro, Luiza Audaz, Dost, Balaio, Marx Eduardo, Marcus Marinho e Ana Barroso", enumera Gilmar.

"Talvez o nosso grande desafio pra 2018 seja o fortalecimento e integração das cidades do interior baiano. A música em geral tem passado, infelizmente, por uma volta da concentração de atividades e recursos no eixo Rio/São Paulo. Com um interior dialogando mais e se ajudando, as chances de criarmos um circuito com mais shows, mais circulação e rotas para a realização de mini tours pelo estado serão bem maiores", conclui.

www.coletivosuicabahiana.com.br

NUETAS

Jô Estrada na quinta

Ex-integrante da lendária Dead Easy, coprodutor (ao lado de andré t.) de álbuns históricos do rock baiano, o multi-instrumentista Jô Estrada faz set acústico no Groove Bar nesta quinta, em horário de gente: 20 horas. Gratuito.

Mil Milhas vezes 2

A veterana banda Mil Milhas faz duas nights de sábado na Varanda do Sesi: neste agora (dia 10) e no dia 24. A partir das 22h, R$ 30.

Arranca Canela 12 

Domingo tem a 12ª edição do Arranca Canela, encontro da rapaziada do HC local pra trocar ideia e fazer som. Na programação, as  bandas Gorinez D.L.R, Mácula, Orelha seca e 288. Nas quadras da Boca do Rio a partir das 14 horas, pague o quanto puder.

segunda-feira, março 05, 2018

VISÕES DO INFERNO

Membro do Hall da Fama do Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos, Richard Corben tem suas adaptação de contos e poemas de Edgar Allan Poe reunidas no estupendo O Espírito dos Mortos

Um mestre da literatura universal e um outro, dos quadrinhos. O resultado desta soma não poderia ser diferente: uma obra-prima da narrativa sequencial.

Isto é Espíritos dos Mortos (Mino Editora), livrão de capa dura que reúne as adaptações em quadrinhos que Richard Corben fez de contos e poemas de Edgar Allan Poe.

Publicados pela editora norte-americana Dark Horse em diversas revistas, o volume traz a visão lúgubre e espetacular de Corben para clássicos da literatura como Os Assassinatos na Rua Morgue, O Verme Vencedor, A Queda da Casa de Usher, O Corvo, A Cidade no Mar, O Barril de Amontillado e mais onze obras do imortal autor nascido  em 1809 e morto aos 40 anos.

Poucas vezes, na história das adaptações de clássicos da literatura em quadrinhos, dois artistas “casaram” tão bem.

Conhecido pelo estilo original afeito ao terror, Richard Corben fez fama nas HQs em coletâneas mensais de horror e fantasia como Creepy, Eerie e Heavy Metal.

No prefácio assinado M. Thomas Inge, catedrático em Poe e quadrinhos pela Randolph-Macon College (Virginia), descobrimos porque Richard e Allan combinam tão bem: “Enquanto quase todos os grandes e boa parte dos pequenos artistas e autores de quadrinhos se voltaram a Poe em algum momento de suas carreiras, apenas um tem dedicado a maior parte do trabalho de sua vida a adaptar os contos e poemas de Poe: Richard Corben”.

“O volume aqui presente é o pico de sua colaboração, um resumo dessa relação”, acrescenta o estudioso.

Hoje aos 77 anos, Richard Corben publicou sua primeira adaptação de Poe em 1974, para O Corvo. Desde então não parou mais.

“Todo o seu trabalho em quadrinhos, na verdade, foi imbuído com a mesma sensibilidade gótica e olhar para o grotesco que possuía o próprio Poe. Consequentemente, sua aliança com Poe foi fortuita e produtiva”, nota Thomas Inge.

Bem, “sensibilidade gótica e olhar para o grotesco” é quase um eufemismo ao se contemplar passagens como a do homem em pânico ao se ver sepultado vivo em O Enterro Prematuro, ou os corpos dilacerados em Os Assassinatos na Rua Morgue.

Ou mesmo a magnífica ambientação macabra d’A Queda Casa de Usher, repleta de estátuas assustadoras, cadáveres putrefatos e o pântano sombrio em volta.

O primeiro superdetetive

Como toda adaptação de literatura em quadrinhos, Espíritos dos Mortos é também uma excelente porta de entrada para novos leitores descobriram o fascinante mundo sombrio de Edgar Allan Poe, um autor tão fundamental para a língua inglesa quanto Herman Melville, Charles Dickens, Mark Twain  ou Jack London.

Poe era tão genial que, entre outros feitos, precedeu Arthur Conan Doyle e seu super detetive Sherlock Holmes com Auguste Dupin, o primeiro detetive impassível e superdotado, capaz de decifrar crimes insolúveis sem o menor esforço.

A estreia de Dupin, em  Os Assassinatos na Rua Morgue  foi em 1841. Holmes só apareceu em 1887, em Um Estudo em Vermelho. A influência da criação de  Poe sobre Conan Doyle é objeto de pesquisa para vários especialistas até hoje.

Para além das maestrias literária do autor e artística do desenhista, há que se louvar também a excelência da edição da Mino.

Em capa dura e com o miolo em papel cuchê, o que valoriza sobremaneira tanto os desenhos quanto as cores de Corben, a editora optou por utilizar traduções de alto nível dos poemas.

O Corvo tem sua tradução por ninguém menos que Machado de Assis.

Já O Verme Vencedor tem tradução de Victor H. Azevedo, enquanto A Cidade no Mar, Espíritos dos Mortos e O Palácio Assombrado foram vertidos para o português por Gustavo Gomes Arruda.

Espíritos dos Mortos /  Richard Corben, Edgar Allan Poe / Mino/ 216 páginas/ R$ 89,90