segunda-feira, fevereiro 26, 2007

LOS CANOS: UMA BANDA FOFÚTIL

A debochada banda local finalmente chega ao aguardado primeiro disco
Eles são românticos, eles são caras-de-pau e parecem não querer crescer nunca. Ainda bem, por que é exatamente o espírito de eterno adolescente que tempera e dá cara própria ao som da Los Canos, um dos destaques do rock local, que finalmente chega ao seu aguardado primeiro CD, Cada dia mais limpo e romântico (Läjä Records).

A festa de lançamento já tem data e local: 31 de março, na casa de shows Boomerang. "Estamos vendo se trazemos o Autoramas para tocar com a gente, mas isso ainda não está confirmado. Queremos fazer um festão mesmo, tipo baile de debutantes", avisa Dudu de Carvalho (guitarra e vocal).

Formada por Dudu, Loinho Sweet (baixo), Mary (backing vocal), Michael (guitarra) e Glauco (bateria), a LC surgiu em 2002, mas só começou a fazer shows no ano seguinte. "Eu tinha uma outra banda, mas que não tinha muito a ver, na verdade. Fiz umas letras, mas o pessoal só gostou de uma, chamada Mercadologia. Isso mudou o tom da banda e acabou por definir o estilo da Los Canos", conta Dudu, autor de quase todas as faixas do disquinho.

Não a toa, Mercadologia é exatamente a primeira faixa e cartão de visitas do CD, com sua letra transbordante de angústia adolescente: "Ontem eu fui ver / um show de Wander Wildner / e lá eu percebi / que eu não tenho a guitarra que eu queria ter / que eu não tenho o carro que eu queria ter / que eu não tenho a mulher que eu queria ter / e amanhã vou acordar cedo pra fazer trabalho / de mercadologia", berra o vocalista sobre uma base inequívoca de punk rock old school, coisa de quem ouviu muito Ramones.

Esbanjando sabedoria de pátio de colégio no seu som cru - ou "tosco", como classificam os críticos mais ranhetas - a Los Canos logo começou a chamar a atenção nos cenários alternativos local e nacional. Já em 2004, lançaram seu primeiro registro em CD, o EP Meu hobby é te amar, sucesso instantâneo no meio rock n' roll, facilitado pela distribuição das faixas em MP3 pelo Brasil afora.

No mesmo ano, começaram a viajar para se apresentar nos festivais de rock de outros estados, tendo tocado no Rio, São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Norte e Paraíba. Em terras cariocas, chegaram cheios de moral, como uma das apostas do festival Ruído. "A gente tava meio apavorado de tocar no Rio. No mesmo dia, saíram matérias sobre o festival n'O Globo e no JB dando um puta destaque pra Los Canos", recorda Loinho Sweet. "Quando a gente soube que o Tom Capone estava na platéia especialmente para nos ver então, eu comecei a tremer. Sério, minha mão tremia na guitarra", confessa Dudu, referindo-se ao famoso produtor brasiliense morto em 2004 num acidente de moto em Los Angeles, logo após a cerimônia do Grammy Latino que premiou o primeiro CD da cantora Maria Rita.

De lá para cá, a banda começou a gravar o CD que acaba de chegar, além de continuarem tocando com a banda, estudando na faculdade e trabalhando nos seus empregos normais. Tocaram no histórico festival Claro q é Rock, que balançou a Concha Acústica em 2005 com o show da banda inglesa Placebo, além do Goiânia Noise, MADA e Festival Do Sol (ambos no Rio Grande do Norte) e Mor-Março (Paraíba). Já abriram shows para bandas como Autoramas, Cansei de Ser Sexy, Lulu Santos, Pitty, Marcelo D2 e Forgotten Boys, entre muitos outros.

Em Goiânia, travaram contato com Fábio Mozine, agitador da cena punk capixaba, vocalista das bandas Mukeka di Rato e Os Pedrero e dono do selo local Läjä Records. Mozine, que já havia gostado do EP de 2004, prontamente se disponibilizou para lançar o primeiro CD da LC. "Foi um lançamento do tamanho que a gente queria. O Läjä é um selo que lança várias bandas que a gente gosta e o patrão (Mozine) é super empolgado com nosso som, o cara é cheio de idéias. E mais: o CD tá baratinho (R$ 13) e será distribuído nos locais onde ele realmente será procurado", garante Loinho.

O mais legal é que o selo capixaba ainda tem um acordo com o selo japonês Karasu Killer, ganhando distribuição na Terra do Sol Nascente. "Me senti o próprio Jaspion quando recebi o material promocional da Karasu, umas fotos nossas com aqueles caracteres japoneses" brinca o baixista.

"Tentamos fazer o disco mais fofútil do mundo. Nos inspiramos em nossas namoradas, mesmo, tanto que o encarte tem um design (de Mauro Ybarros / Open Mind) imitando aquelas agendas de menina", conta Dudu.

Satisfeitos com o que conseguiram até agora, mas dispostos a conseguir muito mais, os meninos e menina da Los Canos querem trabalhar direitinho o lançamento do seu primeiro filhote. "Estou muito satisfeito com a banda e com o disco, menos comigo. A pior coisa da Los Canos é a gente mesmo", ri Loinho, cheio da auto-depreciação adolescente que é a cara da banda.

Resenha: Eles vão invadir sua praia

Um disco que já começa dizendo que "ontem eu fui ver um show do Wander Wildner" só pode ser bom. Inspirados pelo rei gaúcho do punk-brega, um bem-vindo tom de galhofa permeia todo o primeiro CD da Los Canos - a começar pelo título, Cada dia mais limpo e romântico, uma tiração de sarro com o clássico punk Cada dia mais sujo e agressivo (1987), dos Ratos de Porão de João Gordo.

Esperta, a rapaziada da LC sabe que é muito fácil fazer gênero de rockeiro malvado e parte para o caminho inverso - ou fofútil, como definiu seu vocalista Dudu de Carvalho. O resultado é uma deliciosa coleção de 14 faixas solares, velozes, auto-irônicas e despretensiosas. Punk rock bubblegum estilo Ramones até o osso, as letras enfocam aqueles tipos tão comuns e universais na vida escolar de todos nós: a patricinha que nunca nos deu bola (em Patrícia), a Garota Nota Sete ("mas que é bem melhor que sua garota nota dez") ou a adolescente lésbica ("Ela não gosta de mim / por que não gosta de garotos").

Cada dia mais limpo e romântico chega a lembrar uma outra estréia fonográfica de 22 anos atrás: Nós vamos invadir sua praia, do Ultraje a Rigor. Assim como o genial primeiro disco da banda paulista, o debute da Los Canos é uma verdadeira sucessão de canções fáceis, candidatas a hit e quase sempre, muito engraçadas, aptas a animar qualquer festinha. Desde já, um dos melhores lançamentos do rock baiano em 2007.

Cada Dia Mais Limpo e Romântico - Los Canos
R$ 13. Onde comprar: Copylux - Gráfica e Presentes Especiais (G Barbosa Costa Azul, tel.: 3341-1102) ou pelo e-mail: frangoterecords@gmail.com
http://www.fotolog.com/loscanos

Matéria publicada no jornal A Tarde do dia 24 de fevereiro de 2005. Texto sem a edição do jornal.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

MICRO RESENHAS

Faz um calorão lá fora, mas neva no meu coração
Snooze - Snooze
Monstro Discos / Solaris Discos
A razão de ainda existirem artistas que não seguem regras de mercado e convenções regionais é que discos como esse ainda possam ser gravados e lançados. Não raro, a banda sergipana Snooze é considerada uma das três melhores do indie rock brazuca, junto da baiana (e extinta) brincando de deus e da carioca Pelvs. Esse disco, o terceiro em uma carreira de 12 Anos, está à altura da fama que a acompanha e é como deve ser: cantado em inglês (oh, yes!), com vocais tímidos, guitarras altas e preguiçosas e bateria nervosa. Os ecos de Teenage Fanclub, Velvet Underground, House of Love e Galaxy 500 também estão presentes como não poderia deiar de ser. Mais um belo trabalho desses sertanejos de fibra.

Liza Minelli e Os Originais do Emo
The Black Parade - My Chemical Romance
Reprise / Warner

Quando bandas emo começam a fazer discos "conceituais", supostamente "inspirados no Monty Python e no humor inglês" e ultraproduzidos com arranjos elaborados, é melhor prestar atenção, pois uma bomba pode estar sendo armada ali. Quando se descobre que esse disco tem uma faixa com a participação de Liza Minelli, aí realmente, é hora de acender o sinal de alerta vermelho. The Black Parade foi considerado um dos "melhores álbuns de 2006", o que não quer dizer muita coisa, então, na dúvida, é melhor manter distância mesmo. No fim das contas, ainda se salva pelo menos uma faixa, Mama, com participação de... Liza Minelli.

A festa nunca termina
Chic - Live in Amsterdam 2005 (DVD).
EMI
Ao término do show apresentado neste Live in Amsterdam 2005, o clima entre banda e platéia é tão caloroso que a impressão que fica é que todo mundo saiu junto para esticar a balada depois do show. Não dava para esperar menos de uma das bandas responsáveis pela criação e popularização da disco music, no fim da década de 1970. O maestro Nile Rodgers, único remanescente original da época, é a estrela aqui, mas a banda como um todo estraçalha, com destaque para o caldeirão de suíngue providenciado pela cozinha do lendário baterista Omar Hakin e do baixista Barry Johnson (substituindo com muita responsabilidade o falecido Bernard Edwards, o grande parceiro de Rodgers nos anos áureos). Não faltam hits como Everybody dance, Le Freak e Good times, entre outras. Afaste a mesinha de centro e o sofá para o canto da sala.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

TEM CASCADURA NA PIPOCA

O maior nome atual do rock baiano estréia no circuito Barra-Ondina hoje. Saiba o que Fábio Casca e cia estão preparando para a folia rockeira

E o rock baiano, quem diria, se prepara para invadir a avenida em pleno Carnaval. Iniciando uma série de três apresentações na folia momesca de 2007, a banda Cascadura se apresenta hoje em cima de um trio elétrico no circuito Barra/Ondina, a partir das 17h.

De patinho feio da cultura baiana ao estouro nacional com Pitty (que aliás, se apresentará no Museu du Ritmo de Carlinhos Brown também nesse Carnaval), o rock local vem, aos poucos, furando bloqueios e se estabelecendo como uma alternativa à lenga-lenga habitual da axé music.

Furar bloqueios, aliás, parece ser a palavra de ordem para essa turma que assume uma postura contrária ao sectarismo que parece caracterizar o tradicional Palco do Rock, que acontece todos os anos no Coqueiral de Piatã. Chega de se esconder. O rock baiano quer mais é aparecer para o grande público e mostrar que não deve nada à ninguém no que diz respeito à qualidade do seu som e das suas apresentações. E o Cascadura, indiscutivelmente o maior representante do rock local atualmente, está na ponta de lança desse movimento.

Além de se apresentar hoje em cima do trio, a banda de Fábio Cascadura e companhia ainda toca amanhã e terça-feira no Palco Transamérica, instalado em Ondina, na altura da Prefeitura da Aeronáutica. Nesse mesmo palco, ao longo de todo o Carnaval, ainda se apresentarão nomes como Canto dos Malditos na Terra do Nunca, Meteora, O Círculo, Supergalo (de Brasília, nova banda de Fred, dos Raimundos) e os regueiros da Diamba e Mosiah.

"Nossa, nunca imaginei que ia tocar tanto no Carnaval algum dia, ainda mais em cima de um trio!", espanta-se Cândido Soto Júnior, o guitar hero do Cascadura. "Esse convite veio de Fábio Duarte, do Meteora. Eles tinham esse projeto pro trio sair todos os dias e aí nos chamaram para tocar na quinta", conta Fábio Cascadura, o vocalista.

Ainda meio atordoado com o desafio de levantar a massa na avenida, Fábio diz que a reação do público é "uma grande incógnita, não tenho a menor idéia de como o povão vai reagir, mas nossa expectativa é grande, esperamos fazer um grande show". Quanto à isso não restam dúvidas, quem tem assistido à últimas apresentações de Fábio (guitarra e vocal), Thiago Trad (bateria), Cândido (guitarra solo) e Tiago Aziz (baixo), sabe o que esperar: canções poderosas (e por vezes, até românticas) no melhor estilo do rock autêntico (ou seja, sem mistura de ritmos), refrões para cantar junto e uma performance de palco arrasadora.

"Vamos levar nosso som para as pessoas conhecerem e também vamos tocar algumas coisas que achamos que o povo vai curtir, como Beatles, Rolling Stones, The Clash, The Who e Raconteurs, entre outros. Coisas que se encaixam no nosso estilo e que costumam levantar a galera", garante o vocalista. Sobre a sensação de tocar em cima do trio, a empolgação é total: "Todo músico tem vontade de passar por essa experiência de tocar em cima de um mecanismo tão revolucionário quanto o trio elétrico", afirma.

Essa invasão do rock na avenida durante a folia de Momo, como já tem acontecido com a música eletrônica, só contribui para, finalmente, instalar a tão propalada diversidade no Carnaval. Será que esse ano estamos vendo o início de algo maior? No futuro próximo, o rock baiano fará parte da paisagem carnavalesca em Salvador?

"Sinceramente, não sei. Não dá para sabermos o que vai acontecer daqui a um ano. Mas espero sim, que não só o Cascadura, quanto outras bandas do nosso rock possam tocar todos os anos no Carnaval. Espero que haja abertura para todos os estilos e que todo mundo possa se apresentar numa estrutura legal, como vamos fazer esse ano. E o Cascadura não é nenhum bicho de sete cabeças, portanto, espero muito que as pessoas curtam bastante. Nós, com certeza, vamos", conclui.

SERVIÇO:
Trio Elétrico com CASCADURA e convidados- Quinta, Barra-Ondina, hoje (15/02) com saída marcada para às 17h.

CASCADURA & O CÍRCULO - Dia 16/02 - Sexta Feira de Carnaval, Palco Transamérica em Ondina (Altura da Pref. da Aeronáutica). A partir das 20h.

CASCADURA & MOSIAH - Dia 20/02 - Terça Feira de Carnaval, Palco Transamérica em Ondina (Altura da Pref. da Aeronáutica)A partir das 18h

Matéria publicada no jornal A Tarde de 15.02.07. Texto sem a edição do jornal.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

O PALCO DA DISCÓRDIA: FESTIVAL DE BANDAS DE ROCK INDEPENDENTES NO COQUEIRAL DE PIATÃ CHEGA À 13ª EDIÇÃO

Tradicional festa rockeira no carnaval baiano, o Palco do Rock segue em frente, apesar da estrutura deficiente e programação controversa


Não adianta reclamar. Pelo 13º ano consecutivo, o polêmico Palco do Rock, festival de bandas independentes organizado pela Associação Cultural Clube do Rock, voltará a embalar milhares de fãs do estilo que se dirigirão ao coqueiral de Piatã, de sábado à terça-feira de Carnaval. Serão 36 bandas em quatro dias - o que dá 9 apresentações por noite, sempre a partir das 17 horas. A farra - como sempre - é gratuita e contará com diversas atrações além dos shows, como presença de tatuadores atuando na hora, sorteio de brindes, um stand para comercialização de CDs e camisas das bandas que participam do evento e um hotsite, através do qual será possível acompanhar o festival ao vivo, com notícias e vídeos disponibilizados à todo momento.

Seguindo a tendência atual dos grandes eventos culturais, o PdR também terá sua parcela de responsabilidade social, solicitando aos espectadores a doação de um quilo de alimento não perecível. Tudo que for arrecadado será revertido em favor da CAASAH (Casa de Apoio e Assistência aos Portadores do Vírus HIV). Além disso, também haverá uma mobilização ecológica com a participação da ONG Jogue Limpo, com distribuição de mudas de árvores e uma caminhada ecológica até o Parque de Pituaçú na manhã da terça-feira de Carnaval, com a participação das pessoas que acampam no coqueiral.

Boas intenções e esforços pessoais à parte, a citada controvérsia que todos os anos se instala nos meios rockeiros locais diz respeito à uma suposta baixa qualidade da programação, a qual não refletiria o que de melhor a cena da cidade tem a oferecer. "Essas críticas começaram a surgir após o corte dos cachês para as bandas, logo no primeiro ano da administração Antônio Imbassahy. Foi uma retaliação ao Palco do Rock, que na verdade, nunca foi bem quisto pelo grupo político à que pertencia o ex-prefeito", acredita a presidente da Associação, Sandra de Cássia, que também é vocalista da banda Ulo Selvagem - única a tocar em todas as edições do evento. "As chamadas bandas do primeiro escalão do rock baiano acharam que, boicotando o PdR, nós poderíamos conseguir esses cachês de volta de alguma forma, mas infelizmente, isso não aconteceu até hoje", acrescentou.

Na verdade, durante esse período, o festival praticamente parou de acontecer nos moldes que se tornou conhecido e foi transferido para o extinto Teatro da Praia, um bar que ficava em Pituaçú, próximo à pista de bicicross. Finda a administração Imbassahy, o Palco do Rock conseguiu voltar ao seu reduto na praia de Plakaford, em Piatã, contando com o apoio da Prefeitura para uma estrutura mínima. "A Emtursa nos cede palco, som e iluminação. E só. Nem um copo de água mineral pros músicos vem além disso. Todo o resto é bancado pela Associação. E não podemos sequer buscar um patrocinador, já que o PdR faz parte do Carnaval e quem vende o Carnaval é a Emtursa", conta Sandra, que teve suas esperanças de ver um quadro diferente nos próximos anos renovadas, com a mudança do governo estadual. "Já tivemos um sinal positivo de que, no ano que vem, os cachês voltarão, mas ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa", avaliou.

Sandra também reclama por uma maior atenção por parte da Polícia Militar na questão da segurança do evento. "Quase sempre, é um abandono. Famílias inteiras acampam na área do coqueiral para participar do festival e todo o contingente de que dispomos para policiar as cerca de oito mil pessoas que comparecem todos os dias são os policiais do módulo que fica defronte ao antigo Casquinha de Siri. É muito pouco. Precisamos de segurança, por favor", apela.

Mesmo sem cachê e com uma estrutura deficiente, o Palco do Rock segue sua trajetória. Este ano, sete bandas de fora do estado participarão da festa ("bancadas pelas Secretarias de Cultura de suas próprias cidades", informa Sandra), que costuma atrair até 8 mil cabeludos por noite. Entre as bandas mais conhecidas da grade (ou menos desconhecidas, dependendo do ponto de vista), destacam-se o divertido cruzamento do rock com música brega do Movidos à Álcool, o metal gótico e teatral da carioca Maldita, o indie rock da Starla e o nü-metal da Meteora.

Esta última tem experimentado dificuldades de se estabelecer com credibilidade diante do público rockeiro local, devido ao fato do seu vocalista, Fábio Duarte, já ter sido dançarino no show de Ivete Sangalo - cujo selo, o Caco Discos, lançou o CD da banda. "A Meteora me surpreendeu, pois, mesmo com uma grande produtora por trás, eles seguiram os procedimentos de seleção à risca: enviaram material direitinho e no prazo, preencheram formulário e esperaram o resultado sem pressão, na maior humildade. Não dava pra limar os caras. Eles merecem uma chance de serem levados à sério", disse a presidente da Associação.

CONTROVÉRSIA - As críticas de músicos e observadores da cena rock local ao PdR não são novas. Nei Bahia, respeitado bloguista e crítico da cena como um todo, além de ex-parceiro de Fábio Cascadura em algumas composições do primeiro disco da elogiada banda, considera o PdR "equivocado": "Do jeito que ele existe - dentro do Carnaval - acaba se reduzindo à uma coisa curiosa, pitoresca, folclórica. É como se dissesse: 'aqui, nesse cantinho, tem esse monte de cabeludo'", observa.

Para Nei, o mesmo festival e a estrutura de que ele dispõe teriam muito mais impacto na mídia e com o público "se fosse feito em outra época do ano, sem a concorrência desleal do Carnaval", reflete. "Infelizmente, tocar no PdR hoje é uma queimação pras bandas. Isso, para dar uma dimensão geral do evento, pois, se for contar todas as mazelas pelas quais ele já passou, daria um livro", garante o bloguista.

Gabriel Amorim, vice-residente da Associação que organiza o PdR discorda: "Para mim, a grande contribuição do Palco é exatamente a inclusão cultural. É uma alternativa para aqueles que curtem o segmento rock possam curtir a folia momesca ao seu próprio modo", argumenta.

Com alternativa ou sem alternativa, a verdade é que, mesmo entre seu próprio público, o PdR ainda enfrenta sérias dificuldades de aceitação e adesão: "o maior inimigo do rock baiano é o próprio rock baiano. Mas pedir união na cena seria demagogia da minha parte. Respeito pelo nosso trabalho já seria o bastante. Não acho, contudo, que as bandas que não aceitam tocar de graça estejam erradas. Só gostaria que elas não queimassem o evento, pois ele não tem culpa de não dispor de recursos", conclui Sandra.

SERVIÇO:
13º FESTIVAL PALCO DO ROCK: "LIBERDADE AINDA QUE TARDIA".
36 BANDAS (PROGRAMAÇÃO NO SITE).
DE 17 À 20 DE FEVEREIRO, SEMPRE A PARTIR DAS 17H.
EVENTO GRATUITO.
SITE: http://www.accrba.com.br/


Matéria publicada no jornal A Tarde dia 5 de fevereiro. Texto sem a edição do jornal.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

DE ORELHADA

ALGUNS DISCOS QUE OUVI EM 2006

Diferente do meu chapa e colega de blog Osvaldo Brama, não ouso intitular esta breve listinha como "O Melhor de 2006", por que não tive oportunidade de ouvir muita coisa que teve lá sua relevância entre os chamados "críticos" ao longo do ano, como os Macacos do Ártico, Klaxons, Raconteurs e coisa e tal. Também não vou arriscar elucubrações acerca do futuro da música, da new rave, do i-Pod, CSS, Wii, PAC ou PQP que o valha. Muito menos vou eu dar uma de velha carpideira neste privilegiado espaço da blogosfera rocker local e chorar a morte do CD (preferiria que ele não morresse, é vero. Gosto da idéia de suporte físico para obra - pigarro - de arte). Até por que o texto introdutório (ops) do post de Brama aí embaixo já disse tudo, e disse bem. Para não cansar ainda mais os prováveis 4,7 leitores deste blog espalhados pelo mundo com minha costumeira ladainha auto-justificatória, vamos partir logo para a tal lista, sem números estabelecidos, nem ordem de importância. Apenas impressões sobre alguns CDs que chegaram às lojas (e à internet e aos meus ouvidos) em 2006. Apenas os que mais gostei.

MUSE - BLACK HOLES AND REVELATIONS
Esse eu ainda estou ouvindo com uma certa freqüência. Depois do rolo compressor que foi Absolution (2004?), Matt Bellamy e cia. praticamente se superaram com mais essa gema recheada de canções intensas, febris, pesadas, e muitas vezes, no limite da grandiloqüência. As semelhanças com o Radiohead continuam, mas é como se a influência da banda de Oxford fosse apenas a plataforma, a referência para o Muse criar seu próprio som. Supermassive Black Hole, uma das minhas preferidas, é "Prince encontra Radiohead". Ótima para a pista. Invincible coloca o Queen no lugar de Prince e repete a mistura. O solo de guitarra (solo de guitarra, coisa mais démodé!) é, fácil, o melhor do ano. Arrepia pelos que você nem sabia que tinha. Já Assassin deverá causar urticárias no meu amigo Miguel Cordeiro, pois parece um baião tocado pelo Queens of The Stone Age. City of Delusion vem embalada num invólucro luxuoso de música flamenca (ou árabe - algo assim, já que elas se parecem). Coisa fina.

THE PIPETTES - WE ARE THE PIPETTES
Gwenno, Becki e Rosie, três garotas inglesas reeditam o formato girl group americano sessentista (Supremes, Ronettes) em plena Inglaterra de 2006. O resultado? 14 faixas assobiáveis e muito agradáveis, em pouco mais de meia hora (só uma faixa, a mais longa, chega aos 3 minutos - e 3 segundos). Clima adolescente, uma certa inocência, arranjos vocais elaborados, instrumental quase limpo - às vezes um pouco excessivo em detalhes, beirando a confusão. Mas aí me lembrei de uma resenha de show delas que saiu na última Bizz (capa Pitty) e matou a charada: faltou um Phil Spector. Em todo caso, ainda é um disco é bem bacana, diverte e merece ser ouvido.

WOLFMOTHER - WOLFMOTHER
Esses são os Pipettes do mal: três garotos australianos reeditam Led Zeppelin, Black Sabbath e o que mais você pensar aí de referência de hard rock / metal setentista. Também como as Pipettes, o resultado é bacana, mas ainda ficou faltando "aquele" algo a mais. Talvez um guitarrista / criador de riffs genial como Jimmi Page ou Tony Iommi. Vai saber. Mesmo assim, vale a pena ouvir faixas como Dimension, Joker and the thief, Colossal e Witchcraft bem alto no quarto e fazer de conta que ainda temos 14 anos. Rock como fonte de juventude da mente.

TEENAGE FANCLUB - MAN MADE
Norman Blake, Gerard Love e Raymond McGinley entregam aos fãs mais uma bela coleção de melodias idem. Resenhado pelo Rock Loco aqui.

THE RAPTURE - PIECES OF THE PEOPLE WE LOVE
Basicamente, um disco de pista. Mais dançante ainda que o debut de 2004, é o disco para se ouvir antes, a caminho e durante a, uh, "balada" (nunca na volta). Pode ficar cansativo em algum momento, talvez por isso tenha a devagarzinha Callin' me no meio. Get myself into it, The devil e Don gon do it são pista cheia. E Whoo! Alright-yeah? Uh huh também, e ainda leva o troféu de "título mais pica tonta do ano".

THE FLAMING LIPS - AT WAR WITH THE MYSTICS
Tenho tudo o que quero, menos a cabeça fresca e viajante de Wayne Coyne e seus parceiros freaks. Resenhado pelo Rock Loco aqui.

SUPERGUIDIS - SUPERGUIDIS
Boa estréia da banda gaúcha de - tirem as crianças da sala - indie rock. Wander Wildner é fã. Resenhado pelo Rock Loco aqui.

WALVERDES - PLAYBACK
Mais uma pérola desovada pelo rock gaúcho em 2006. Um pau na oreia aliado à técnica publicitária de redação nas letras (sintéticas até o osso), a serviço das idéias budistas de Gustavo Mini. A gravação é um primor de clareza e volume. Resenhado pelo Rock Loco aqui.

HOUR CONCOUR: CASCADURA - BOGARY
Pô, até eu já cansei de babar nesse disco. Resenhado pelo Rock Loco aqui.

(19)88 FM NO AR - É com gáudio e de esperanças renovadas que recebemos a notícia de que Salvador volta a ter uma rádio voltada para o segmento pop rock. A 88 FM (87.9 no seu dial!), parece ter entrado no ar há poucos dias e é, segundo nosso companheiro Luciano el Cabong Matos, uma "rádio livre legalizada". Ou seja: uma rádio comunitária (acho) - só que com um belo e potente transmissor, pois parece que pega pela cidade quase toda. Não tive tempo para ficar ouvindo muito, mas já deu para perceber que não há anúncios, nem locutores. Diz que toca Cascadura, mas ainda não tive o prazer. Quase o tempo todo que ouvi, o repertório foi dominado por hits dos anos 80. Bons hits: U2, The Cure, Men at Work na pior das hipóteses. Quando chegou no Uns & Outros eu desliguei - por que aí também já é demais pros meus sofridos culhões. Ótima notícia termos uma rádio pop na cidade - ainda mais tocando Cascadura, mas uma modernizada no set list não faria mal. Ninguém quer sair chamando a rádio, que mal começou, de 1988 FM, né? Em tempo: também dá para ouvir pela internet.

NOSTALGIA DO TERROR - E quem diria: o interior da Bahia abriga o melhor site especializado em quadrinhos de terror do Brasil. No Nostalgia do Terror, fãs do gênero têm um vasto conteúdo de atrações para fuçar adoidado, entre capas de coleções inteiras de Krypta, Capitão Mistério, Mestres de Terror e diversas outras revistas que tiravam o sono da molecada nos anos 70 e 80, algumas HQs escaneadas, biografias etc. Um verdadeiro baú onde está conservada a memória dos quadrinhos de terror no Brasil e um belo serviço em prol da HQ nacional.

O site é gerado a partir de Itiúba, a 380 km de Salvador e é editado pelo batalhador Ulisses Pinto de Azeredo e seu parceiro Caveirinha Sombrio, que, "apesar do cognome, existe", garante Ulisses, um soteropolitano ex-bancário e ex-gerente de loja de departamentos. Hoje ele é dono de uma pequena escola de informática na cidade. Colecionador criterioso ("Não tenho tantas revistas de terror assim não. Mas as que tenho são importantes para o cenário de HQ de terror em nosso país, pois muitas são antigas e viraram até preciosidades do gênero"), o rapaz de 36 anos mantém o site com dinheiro do próprio bolso, pelo puro prazer de fazer algo relacionado aos quadrinhos. "Coloquei alguns banners do Google, mas só rende algo se clicarem, e até agora só rendeu $1,95, acredite se quiser!". Claro que a gente acredita, Ulisses.

Como é de praxe em nosso país, esforços pessoais pela cultura (ainda mais cultura pop, como HQs de terror), são pouco valorizados. Sabe como é, santo de casa não faz milagre. Nos meios nerds e quadrinísticos, porém, o NdT já é comemorado como o melhor do gênero no Brasil. Sites como o Universo HQ e o respeitado Blog dos Quadrinhos, do jornalista Paulo Ramos, noticiaram a existência do site com entusiasmo e o recomendaram aos leitores. Mas e quanto à repercussão local? "A cultura aqui não é valorizada. Eu não sei o que realmente eles dão valor. Sábado (27 de janeiro) e hoje (30) é que comentaram em duas rádios - isso porque eu insisti em passar a nota". É um terror, mesmo.

FOFÃO - E essa nova geração de bandas do rock Brasil mainstream, hein? O entusiasmo nas gravadoras é tanto que a MTV vai fazer um especial só com elas pra lançar na velha dobradinha CD / DVD ao vivo. Saquem só a escalação: Fresco, Ratinho, Fofão, Floptop e NX Zero à Esquerda. Salve-se quem puder!