quarta-feira, janeiro 05, 2005

PARA LER WILL EISNER (1917-2005)

http://www.willeisner.com/

Sim, o mestre se foi e isso, como diria Lobão, não tem nada demais. Afinal, foram 87 (!) anos de vida dedicados à arte, nos quais ele não apenas a produziu incessantemente e de forma inigualável, mas também estabeleceu parâmetros, criou formatos e mais importante, extrapolou seus limites, influenciando, além de outros quadrinistas, cineastas, músicos, dramaturgos, atores, designers e o que mais viesse. Isso é ser mais que um mero artista. E sinceramente, faltam-me até palavras para definir a importância do velho Eisner na cultura ocidental.

E como eu não tô aqui pra ensinar o Padre Nosso ao vigário, vamo deixar de punhetagem teórica e partir logo para uma listinha rapidamente comentada de alguns dos trabalhos mais significativos do homem que introduziu o termo graphic novel na literatura contemporânea e ajudou a levar os quadrinhos para dentro do (até então) sagrado território das livrarias e bibliotecas.

SPIRIT - Seu herói mais famoso não foi picado por um inseto radioativo nem era um alienígena que caiu do céu. Danny Colt, o Spirit, contava tão somente com seus punhos e sua esperteza para combate o crime em Central City. Criado ainda nos anos 30, o Spirit foi, por assim dizer, o laboratório de ensaio onde Eisner criou e testou todas as suas inovações gráficas e narrativas ao longo de duas décadas. Em sua última aventura, The outer space Spirit, Eisner o mandou para a Lua. Diversas edições do Spirit, de variados formatos, saíram no Brasil desde a década de 80, por editoras como LP&M, Abril Jovem e Sampa. E não é difícil encontra-las nos sebos.

O EDIFÍCIO - Em torno de um prédio de esquina, cuja arquitetura até lembra o nosso combalido e decadente Palace Hotel, na Rua Chile, diversos personagens circulam e vivem seus dramas cotidianos. Alguns trágicos, outros apenas melancólicos, outros ainda tristes de verdade, todos extremamente tocantes e belos, muito belos. É daqueles álbuns que se lê de uma sentada (como de resto, era praticamente toda a sua obra), para depois voltar ao início e começar de novo. Foi publicado em 1989 o Brasil pela Abril Jovem na coleção Graphic Novel. Se tiver em algum sebo, deve estar custando os olhos da cara. A menos que o dono do lugar não tenha idéia do valor artístico da obra, e aí, sorte sua.

O ÚLTIMO DIA NO VIETNAM - Seqüência de pequenos contos sobre essa guerra que eu não aguento mais ver em filmes idiotas, mas que nas suas mãos, rendem um punhado de testemunhos sinceros e desglamourizados sobre a estupidez humana, elemento em alta naqueles dias (e não apenas neles). Publicado pela Editora Devir, ainda é facilmente encontrável por aí.

UM CONTRATO COM DEUS - Ed Motta (sim, o sobrinho do Tim) gostou tanto dessa graphic que batizou seu segundo álbum de carreira, lançado em 1989, com esse mesmo nome. Considerado um de seus melhores trabalhos de todos os tempos, Um contrato(...) conta diversas histórias interligadas de vários personagens miseráveis dos guetos novaiorquinos. Se não me engano, foi aqui que ele criou o termo (e o formato editorial) graphic novel (romance gráfico), ao escrever um romance que não cabia em meras palavras, mas que dividia sua carga dramática com ilustrações primorosas. Um marco. Foi publicado ainda na década de 80 pela LP&M, e está fora de catálogo há muitos anos para desespero dos que nunca tiveram a oportunidade de lê-lo, como eu. Chuif.

O NOME DO JOGO - Lançado recentemente pela Devir, conta a saga de uma família judia nos EUA através das gerações, contando quase um século de história. Essa eu tb ainda não li, mas pretendo. Facilmente encontrável nas melhores casas do ramo.

SUNDIATA - Quadrinização de uma lenda africana, também recentemente lançado pela Devir.

NO CORAÇÃO DA TEMPESTADE - Outro de seus melhores trabalhos, em No coração (...) Eisner relembra sua juventude pobre na época da Segunda Guerra Mundial (na qual posteriormente serviu ao exército). Destaque para a denúncia de anti-semitismo que assolava também os EUA naquela época. Foi publicada em dois volumes pela Editora Abril em 1996. Se achar em algum sebo, não vacile: compre.

Muitos outros trabalhos do velho Eisner (que emprestou seu nome para a mais importante premiação dos quadrinhos americanos) foram lançados no Brasil, como Avenida Dropsie, Nova Iorque A Grande Cidade e Um sinal do espaço, mas se vc está realmente interessado(a), clica lá em cima no link para o site do homem, que tá tudo lá. Qualquer dúvida, deixe-a nos comments, que se eu puder, eu tiro. Senão, Cebola ou Márcio B.A. Martinez (os caras que me apresentaram Will Eisner em 1988) do blog Clash City Rockers, certamente saberão faze-lo.

4 comentários:

cebola disse...

velhinho, eu tenho Um Contrato com Deus ( a graphic, não o conrato), se quiser emprestado é só dizer, valeu?
No mais, Eisner é tudo isso aí e mais ainda. Pouquíssimos conseguém criar personagens tão especiais e, ao mesmo tempo, identificáveis, com aquela carga de esperança e desilusão, felicidade e agonia, amor e solidão. A forma como ele fez New York respirar na graphic de mesmo nome é de chorar. Vou reler tudo em homenagem a Eisner, e pra meu prazer pessoal tb. E tomara que, de repente, saiam lançando por aí o que falta, né? Morram em alguns vinténs e aproveitem, vale a pena.

Marcos Rodrigues disse...

Ei, Greice; dá pra me mandar "O Edifício"? Thanx a lot.

Franchico disse...

Opa, opa, que beleuza! Cebola, eu vou te cobrar, hein? E Greyce, o Edifício eu já tenho, mas te agradeço muito se vc puder me mandar New York zipada pro meu email. É possível? Aquele abç, galera.

Franchico disse...

Greyce, cê tá perguntando se macaco gosta de banana? Claro que eu gosto de tudo iso aí, alguns nem tive o prazer de ler. Maus eu já li, mas foi emprestado e há muito tempo. O que puder caber nesse disquino de bão, bote mesmo e vc terá minha eterna gratidão. Valeu...