terça-feira, agosto 07, 2018

UMA CIDADE NA CABEÇA

Ex-Cascadura, baterista Thiago Trad se lança solo com Moscote, uma trip instrumental conduzida  ao piano  

Thiago e a modernidade líquida. Ft Nathalia Miranda
Uma cidade imaginária onde Salvador e Marrakesh, Vale do Capão e Berlim, Santo Amaro e Paris são transversais de uma mesma avenida.

Assim é Moscote, a estreia solo de Thiago Trad, ex-Cascadura.

Baterista há mais de 25 anos, Thiago surpreende ao conduzir o álbum inteirinho ao piano.

Não, ele não é o Arthur Moreira Lima, mas sua fluência ao instrumento não deixa de ser uma boa novidade para quem o conhecia apenas (sem demérito) como baterista de bandas do rock local.

“Fui baterista a vida inteira, só no Cascadura toquei por 15 anos. Mas  o piano a pareceu na minha vida muito cedo, já que  minha mãe tinha um piano e nos estimulava a tocar, até porque sempre teve um gosto muito interessante, Beatles, Clube da Esquina e tal. Já na faculdade (Escola de Música da Ufba), o piano passa a ser meu instrumento de composição e conclusão de curso”, relata.

“Então me considero um pianista, o que me deixa muito a vontade para usar o piano como instrumento criativo e percussivo”, afirma.

Essencialmente instrumental, Moscote foi gravado com uma pequena grande ajuda dos amigos (via crowdfunding) e está disponível desde o último dia 20 nas plataformas e lojas digitais  para venda, download e streaming.

Apesar de instrumental, algumas faixas contam com os vocalizes privilegiados de Nancy Viegas, uma das convidadas de Thiago no álbum, junto a outras feras: Kiko Souza (sax e flauta), Alexandre Vieira (baixo acústico), Ldson Galter (baixo elétrico e acústico), Stefano Cortese (acordeom e arranjos), Ivan Sacerdote (clarineta), André Borges (sax  cretino) e Tadeu Mascarenhas (baixo elétrico e arranjos).

Mas o que tem a ver todas aquelas cidades citadas no início do texto com o disco? Simples: pouco depois do fim da Cascadura, em 2012, Thiago botou uma mochila nas costas e ganhou o mundo.

Caminhou pelas ruas de Berlim, Marrakesh, Nova Iorque, Lisboa, Paris, Buenos Aires, Montevidéu, Juazeiro, Santo Amaro.

Por onde passava, se enturmava com músicos de rua e fazia um som com seu pandeiro. Gravou muitos temas e trechos ali mesmo,  na rua.

“Muito do que eu utilizei de ferramenta de inspiração tem  a ver com minha história de vida, meus anos todos na Bahia (Thiago é paulista de nascimento mas vive desde criança em Salvador) e cidades que me marcaram, como Santo Amaro e Juazeiro, cidade-natal de minha mãe. Mas principalmente Salvador, que é a cidade mais cultural e criativa que eu conheço”, detalha.

Um piano no Capão

"Como assim, cara?", foto Nathalia Miranda 
Enquanto isso, a mãe de Thiago, a juazeirense, se mudava de mala e cuia para a Vila do Capão, hoje uma localidade mais cosmopolita, por sua atuante população de estrangeiros, do que Salvador.

Entre uma viagem ao exterior e outra, lá ia Thiago visitar a mãe entre as montanhas do Vale do Capão.

“E lá eu encontrei o Stefano (Cortese), que mora há uns 8 anos no Capão e é uma figura muito atuante na cena cultural de lá, toca no Grupo Instrumental do Capão”, conta.

“Foi um encontro muito rico. Nos identificamos como músicos e como pessoas com os mesmos interesses. Lá eu mergulhei nesse processo criativo com ele, foram vários dias só trabalhando os temas ao piano (de Cortese). Ele trouxe uma bagagem muito própria e assim, as músicas foram ganhando forma”, relata.

E foi ao próprio Capão, à casa de Stefano, que se convocou o experiente produtor Tadeu Mascarenhas para registrar os temas ao piano.

“Lá mesmo gravamos todos os pianos. Então o Capão é muito importante neste processo, pois foi onde consegui transformar minhas ideias em música”, percebe.

Com sete faixas / temas, Moscote é mesmo uma viagem musical bem abrangente – versátil e agradável de ouvir.

Ainda que haja um experimentalismo mais típico aqui e ali (especialmente na faixa Calma, com quebras de ritmo e dissonâncias típicas da música erudita contemporânea), o álbum flui em bom ritmo e seduz pela diversidade dos temas.

“Eu queria o disco muito orgânico, usando a lógica do instrumento percussivo, batucando nele (no piano), usamos de uma forma não melódica e até processos à moda John Cage (inserindo objetos entre as cordas). Exploramos o piano não só de forma melódica e harmônica, mas também percussiva”, detalha.

Moscote, Macondo

Enquanto trabalhava no Capão, Thiago lia, nas horas vagas, o clássico Cem Anos de Solidão, a saga da família Buendia criada pelo Nobel de Literatura Gabriel Garcia Márquez.

“Então eu  tava lá lendo o livro, viajando em solidão de final de relacionamento. O nome Moscote vem meio que num sonho, uma alusão a Macondo (cidade fictícia onde se passa o livro)”, conta.

“A originalidade do livro, esse sentimento latino, foi algo revolucionário enquanto literatura e acabou me influenciando para criar meu universo imagético, para expandir minha realidade. Isso deu sentido a obra e me ajudou a levar adiante o projeto e fazer esse registro”, relata.

Lançado o álbum, Thiago se prepara para começar as apresentações ao vivo.

“Primeiro vem a divulgação, para que as pessoas saibam do disco e lhes desperte interesse. Mas não vejo a hora de tocar. É a melhor parte, levar para o palco e compartilhar a música viva”, conclui Thiago.

Moscote / Thiago Trad / Bahia Experimental (Bex Records) & Sê-lo! Netlabel / Disponível na principais plataformas digitais

Um comentário:

Franchico disse...

Que medo!

https://www.omelete.com.br/musica/aerosmith-primeira-van-de-turne-da-banda-e-encontrada-na-floresta