Pitty pronta pra luta, foto Jorge Bispo |
Aos 40 anos (41 em outubro) e mãe há dois, ela veio retomando a carreira musical aos poucos desde o nascimento de sua filha, Madalena.
Lançou um single em parceria com Elza Soares (Na Pele, 2017) e, mais recentemente, outros dois: Contramão, com Emmily Barreto (da badalada banda potiguar Far From Alaska) e a rapper paulista Tássia Reis, e mais recentemente, Te Conecta.
Este último, especialmente, é o cartão de visitas do que podemos esperar de Pitty versão 2018 / 2019: mais engajada – e mais brasileira – do que nunca, namorando forte com o dub, o rap e o reggae.
Mas calma: Pitty segue roqueira na alma e no som, como reafirma nesta entrevista via email – mas sem deixar o rock ser camisa de força estética.
Em Matriz, o show, ela finalmente engata uma quinta marcha e propõe um back to basics: começar de novo, testar algumas músicas novas ao vivo junto ao maior interessado – seu público – e construir assim seu próximo álbum de estúdio, ainda sem previsão de lançamento.
No palco, uma banda quase toda nova a acompanha: o fiel escudeiro (e último remanescente baiano em cena) Martin Mendonça (guitarra), o marido Daniel Weksler (bateria, também NX Zero), Guilherme Almeida (baixo) e Paulo Kishimoto (teclados).
ENTREVISTA COMPLETA: PITTY: “A ideia era trazer as pessoas ao meu quartinho dos fundos no Costa Azul”
Pitty pronta pro reggae, foto Maurício Nahas |
Como é o show? Vejo que tem todo um novo arranjo de palco e cenário (com desenhos de Eva Uviedo). Como ele traduz esse seu novo momento?
Pitty: Sim, todo um esquema novo de cenário, luzes, montagem de palco. Eu pensei na estética desse show numa onda meio “back to basics” (retorno ao básico). Nesse mundo tão tecnológico, como seria usar o bom e velho “pano de fundo” novamente? Como a gente organiza essa ideia do “faça você mesmo”, da simplicidade do punk rock de forma elegante hoje em dia? Como revisitar essa linguagem dos fanzines, da xerox preto & branco, sem soar mofado e nostálgico? Por isso o show se chama Matriz. Porque ele se propõe a investigar essas questões e a tentar encontrar essa ponte entre o passado e o futuro. A onda de ter toda essa herança do hardcore, de ser baiana, da vivência na cena nessa cidade – e isso relido e transcrito para hoje em dia, sem medo de olhar e usar as referências atuais. Todo meu pensamento estético e de roteiro do show tem a ver com isso. A gente tem usado beats e programação nas músicas novas – mas tem um momento do show que eu pego meu velho violão de nylon, aquele que Pedro Bó (Pedro Rocha, contemporâneo de Pitty na cena baiana dos anos 1990 com a banda Dinky-Dau, morto em 2017) me vendeu em 97. Minha ideia com essa cena era trazer as pessoas de volta ao meu quartinho dos fundos no Costa Azul, onde eu compus todas as músicas do primeiro disco. Mas as novas composições passeiam por lugares sonoros que, embora estejam na minha matriz, eu nunca tinha gravado. Como reggae, dub, rocksteady, por exemplo (salve Novo Tempo!, risos) (extinta casa de shows underground do Pelourinho). Pensei também numa montagem de palco diferente, que trouxesse três níveis de visão. Então tem uma parte que eu canto sobre práticável entre bateria e teclado, e ficou uma cena bem bonita – tudo montado e construído com a ajuda da minha equipe técnica, que é muito foda.
A turnê é também uma forma de testar as músicas novas junto ao público? As duas músicas já divulgadas atestam este seu novo momento, em busca de sonoridades mais próximas de uma Baiana System e do rap contemporâneo?
Pitty: A ideia é ir colocando as músicas na turnê à medida em que elas vão estando mais prontas, sim. Mas no disco que está se fazendo tem muita coisa diferente, talvez essas duas que foram mostradas sejam as mais fora da curva mesmo. Contramão é um single, um projeto isolado, como foi Na Pele, com Elza. Te Conecta pra mim já faz parte desse novo disco, que está sendo feito no próprio tempo e de forma muito diferente: eu vou encontrando as pessoas e vão surgindo coisas – tem uma música aí pra rolar com Beto (Roberto Barreto, guitarrista) e Russo (Passapusso) do Baiana System, por exemplo. Mas tem coisas de banda mesmo – banda de rock tocando de forma orgânica. E parcerias inusitadas, produção de outras pessoas... Tem muita coisa pra pintar, mas prefiro deixar ir rolando do que falar agora. Só digo que o bom mesmo é ter o privilégio de chegar nesse lugar de ser livre musicalmente e fazer o que quiser com quem der vontade, com verdade e tesão. O resto é prisão, pai.
Não é segredo pra ninguém que o rock (especialmente no Brasil) anda meio em baixa. Sua estética meio que se esgotou e ainda tem sido associada ao neoconservadorismo de direita. Como vê essa situação?
Pitty: É engraçado, mas não me sinto pertencente a nada disso que você falou. Sempre tive minha onda, andei e ando harmonicamente com pessoas diferentes de mim, mas nunca fiquei presa a nenhum movimento. Tentei construir um lance que transita e existe para além de rótulos e caixinhas. É o que sempre fiz e continuo fazendo. Dando vazão às minhas vontades artísticas do momento independentemente de modismos.
Duda (Machado, baterista original), foi embora definitivamente? Poderia dizer porque?
Pitty: Bom, definitivamente a gente nunca sabe, né. Mas sim, nesse momento é melhor que cada um siga seu caminho. Muito tempo, muita estrada, muita história – tem hora que o melhor é dar um tempo mesmo.
Para quando está previsto seu disco novo?
Pitty: Para quando estiver pronto! Hahahaha :)
Já tão perto de uma eleição tão importante, como está seu espírito? Mais para esperançosa ou preocupada?
Pitty: Preocupada e atenta. E pensando na necessidade do tão falado voto útil, mais do que nunca.
Pitty: Matriz / Show de abertura: Larissa Luz / Hoje, 18 horas / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / R$ 100 e R$ 50 / Camarote: R$ 200 e R$ 100 / Vendas: Bilheteria TCA, SACs Shopping Barra e Shopping Bela Vista e www.ingressorapido.com.br
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