Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Coletivo paulista 5 a Seco traz ao Largo Teresa Batista o show do seu novo álbum, Síntese. Com público fiel, o quinteto passou anos polindo e testando as canções antes de grava-las
Foto Dani Gurgel
Uma banda é uma banda é uma banda, diria certo cineasta francês. Nem sempre. Às vezes é um coletivo.
Esse é o caso do 5 a Seco, ban – ops, coletivo que se apresenta hoje à noite no Pelourinho.
Formada por cinco músicos de diferentes origens e formações, o quinteto traz à cidade o show do seu álbum mais recente, Síntese.
No palco, às favas os papéis pré-determinados e hierarquias: os instrumentos são de todos e de ninguém e o troca-troca é obrigatório.
Quem está no baixo em uma música pode estar no teclado na próxima, por exemplo.
“Este movimento de nos revezarmos nos instrumentos é uma condição constitutiva do 5 a Seco, que já nasceu com essa proposta, desde que era apenas um show em 2009”, conta Vinícius Calderoni, que integra o 5aS ao lado de Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora e Tó Brandileone.
“Isso cria uma rede solidária, sem protagonistas, e vai criando nuances interessantes nos arranjos, porque cada um tem uma pegada e uma atitude específica em cada instrumento. Tudo é dinâmico, o tempo todo, e a sonoridade vai refletindo este movimento permanente”, acrescenta o músico.
Testando o repertório
Foto Dani Gurgel
No repertório, a ênfase ficará na faixas do já citado Síntese: “Doze das treze canções do disco estão presentes no show”, conta Vinícius.
“Mas há também canções de nossos dois álbuns anteriores. Aproximadamente cinco canções dos outros discos, de modo que músicas como Pra Você Dar o Nome, Feliz Pra Cachorro, Ou Não, Em Paz e Nó não ficam de fora”, acrescenta.
Com quatro anos de intervalo entre Síntese e seu antecessor, Policromo (2014), os cinco músicos levaram esse tempo compondo, polindo e testando junto ao seu público as faixas novas.
“Este processo foi fundamental para a construção do repertório de Síntese, à medida que era possível testar as canções nos shows, sentir a acolhida do público, ir pouco a pouco aperfeiçoando os arranjos e amadurecendo as execuções – o que foi fundamental para o sucesso das gravações, já que gravamos o disco ao vivo”, relata.
“Olhando em retrospecto, penso que esta decisão de excursionar por um ano com o repertório de um show novo foi fundamental para a consolidação do repertório”. afirma o músico.
Em 2016, o 5aS se apresentou na Bahia pela primeira vez e não deu outra: passaram a voltar todo ano: “Amamos a Bahia e, em especial Salvador, o que tem, em grande parte, a ver com o fato de que amamos muito a música que se produz na Bahia – mas também tem a ver com esse mistério maravilhoso que a Bahia contém. O poeta já disse: a Bahia tem um jeito”, observa Vinícius.
“Sempre sonhamos em fazer show em Salvador e fizemos nosso primeiro só em 2016, que foi muito especial. Desde então, temos voltado uma vez por ano, o que nos deixa muito felizes, porque temos muitos amigos aqui e amamos o calor do público baiano”, conclui.
5 a Seco: Síntese / Abertura: DJ Dieguito Reis / Hoje, 20 horas / Largo Tereza Batista / R$ 60 e R$ 30 / Vendas: Sympla, Soul Dila, The Hotel, Haus Kaffee
A essa altura a Bahia toda e uma banda de Sergipe já o sabem, mas vamos lá: no dia 21 último, o baterista (e cirurgião veterinário) Mário Jorge Heine anunciou no Facebook dois shows de sua antiga banda, a nossa saudosa Úteros em Fúria, para celebrar os 25 anos de lançamento do único álbum do grupo, o antológico Wombs in Rage (Natasha Records, 1993). Os concertos (recebam, rebaim de fio de corno, um "concerto de rock" na caixa dos catarros) serão nos dias 11 de novembro - no Festival BigBands, com a Maria Bacana, finalmente saindo da toca!! - e 2 de dezembro, no Portela Café. O local do show no BigBands ainda está por ser determinado. Sem mais delongas, fiquem a transcrição do tal texto de Mário no Face. No começo do ano de 1991 eu fui convidado por Vandinho (amigo que eu ainda não conhecia e que morava na mesma rua) para fazer um “teste” para baterista de uma banda de rock, do tipo rock e modelo rock mesmo. De 91 a 95 passei os anos mais divertidos dividindo minha vida com esses quatro caras... viagens, apresentações, muquifos, fome, embriaguês, ouvindo muita música, as conversas mais doidas, os novos amigos e encontros, descobertas do consciente e inconsciente... tudo que uma amizade verdadeira (me senti a princesa Elsa agora...) e uma banda de rock podem proporcionar em alto grau. Em 1993 lançamos o único disco (wombs in rage). Em 1994, Vandinho decidiu que sairia da banda e foi substituído por Ivan. Em 95 a doença já inviabilizava Emerson Borel de cumprir os compromissos e a banda teve o seu fim. Borel nos deixou no início do século. Há cinco anos atrás, nos reunimos e fizemos dois shows em comemoração aos 20 anos do disco... nos divertimos a valer e ficamos felizes em reviver aquele velho ambiente e amigos.
Úteros século 21: Mário, Mauro, Candido, Ivan e Apu
Gravamos o show e ouvimos pela primeira vez nesse ano (sim, demoraram quase cinco anos para ouvirmos o que tínhamos feito) e achamos legal... valeu a pena. Nesse ano nos reuniremos novamente para fazer dois shows. Eu, Mauro, Apu, Ivan e Cândido McFly (herdeiro musical de Borel, que o próprio trocou as fraudas e passou talco) vamos fazer dois shows para tocar as velhas musicas, rever os velhos amigos, beber conhaque da pior qualidade e fumar uns Marlboro. Vandinho, como aconteceu ha cinco anos atrás, decidiu que não participaria da comemoração... a ele cabe esse direito, mas, nunca ficou claro para mim o pq.... então, nem venham me perguntar, ok? Vamos tocar no bigbands (como se estivéssemos em casa, pois a casa de Bigs é a nossa casa) no dia 11/11 e no Portela café em 02/12. Depois disso, a gente volta às nossas vidas de tomar mingau de aveia todas as tardes. Mário Jorge Heine, 21 de agosto de 2018.
Jonga Lima vai pra Cuba (felizão), lança disco novo e faz temporada na Casa da Mãe
Jonga Lima, foto Alberto Lyra
Nos próximos dias, o músico baiano Jonga Lima vai para aquele lugar lindo que volta e meia uns doidos ficam mandando os outros irem – como se fosse ruim: Cuba.
Em duo com o argentino Sebastian Batty Paz, ele se apresentará na edição 2018 do festival No Hay Lugar Para El Odio En El Mundo, que receberá dezenas de músicos de vários países das Américas e Europa.
Em boa fase, ele também está lançando seu nono álbum solo, O Tempo Pulsa, um agitado manifesto espiritual e político, cheio de convidados.
“Apesar dos avanços tecnológicos e de comunicação, vivemos no mundo hoje e especialmente no Brasil um quadro muito sombrio e conservador. Meu sentimento e todo empenho foi tentar colocá-lo no contexto social desse momento, aqui e agora e creio que consegui”, afirma Jonga.
Um homem com uma missão no juízo é um perigo. Corajoso, Jonga arriscou soar panfletário pelas causas em que acredita, risco que poucos artistas seriam capazes.
“Arrisquei mesmo. Expressei, indaguei, cutuquei. Como um caçador de sonhos, poetizando amores, desejos, angústias e incômodos. E por que não, através das canções, panfletar ideias pra um mundo melhor, mais humano, mais justo, menos preconceituoso e menos desigual?”, pergunta.
Em Havana, Jonga e Batty desfiarão em palco nobre o repertório do álbum Caminos, Llaves y Puertas, que lançaram juntos em 2015.
“Batty é um parceiro e hermano argentino que conheço a mais de 20 anos. Compomos muitas músicas juntos. Nossa canção Solo Los Locos Cuentan La Verdadera Historia Del Mundo fez a diferença aqui na Bahia no Festival Canta Nordeste nos anos 90 - e muito sucesso em Porto Rico, Grécia, com a banda Bayanga, que deu origem a Calle 13. Gravamos um disco juntos em 2015, intitulado Caminos, Llaves y Puertas. E é com a base do repertório desse disco que iremos ter a imensa honra e alegria de cantar no palco do Teatro Nacional de Havana, por onde já passaram artistas consagrados como Pablo Milanés, Mercedes Sosa, Buena Vista Social Club”, conta o músico.
“Um show internacional é sempre uma grande emoção para um artista, como já senti na França e na Argentina. Tocar em Cuba é simplesmente um sonho, um grande momento em minha trajetória”, diz.
Volta à Casa da Mãe
Jonga e parceiro argentino Sebastian "Batty" Paz, foto Andre Carsant
Ao voltar de Cuba, Jonga seguirá com seus shows semanais (toda quinta-feira) na Casa da Mãe, onde se faz acompanhar pelo multi-instrumentista Cassius Cardozo.
“A ideia é unir meu violão, suingue e canto com a inventividade de Cassius e suas texturas eletrônicas, batidas e programações, além de umas pontas na flauta transversal, baixo e pandeiro. Um duo que se garante, com um repertório ultra dançante”, afirma.
Dê seu recado, Jonga: “O Tempo Pulsa está disponível para escuta no canal de Jonga Lima no Youtube, tem a distribuição da Tratore e já está nas principais plataformas digitais. Além de Cassius Cardozo que produziu as paisagens sonoras e eletrônicas das músicas e Caji que tocou, co-arranjou, mixou e masterizou em seu Estúdio em Massarandupió, o álbum teve as participações de Luciano Silva no sax, Andre Luba no Baixo, Marcio Mello cantando a canção Pelo Fim dos Tiranos e Thathi tocando guitarra e cantando comigo a canção ‘Ame e dê Vexame’ com a qual homenageio o escritor e psicanalista, já falecido, Roberto Freire. O disco traz também a participação do músico africano, do Chade, Willy Sahel, que tocou baixo e cantou comigo a faixa título do disco ‘O Tempo Pulsa’, canção que compus com Tito Bahiense. A capa é assinada por Rebeca Matta, com foto de Alberto Lyra”, conclui.
O Groove está com boa programação de happy-hour com shows gratuitos. Amanhã tem Ontem teve o Duo Pop (Peu Gazar & Davi Melo) e hoje, quinta-feira, tem o Duo Blues, com as feras Candice Fiais e Icaro Brito. 20 horas, entrada gratuita.
5 a Seco no Pelô
Coletivo que reúne cinco músicos com carreiras solo, o 5 a Seco (SP) lança o álbum Síntese com show no Largo Tereza Batista, sexta-feira. DJ Dieguito (Vivendo do Ócio) abre a night. 20 horas, R$ 50.
Ragna-Rock sábado
Búfalos Vermelhos & A Orquestra de Elefantes, My Friend Is A Gray e Ronco celebram o Ragnarök no Festival Doce Fim do Mundo. Despeça-se dos seus entes queridos sábado, 21 horas, no Club Bahnhof. R$ 15 e R$ 10.
Estreia em ficção do jornalista baiano Raul Moreira, Eu, Gregório, é tratado sobre o existir e o fim da vida pelos olhos de um gato pra lá de sábio
Gregório em uma das ilustrações do livro
O milenar fascínio exercido pelos gatos sobre os seres humanos acaba de ganhar mais um – belo – capítulo literário: Eu, Gregório, primeiro livro de ficção do jornalista e cineasta baiano Raul Moreira.
Aposta da editora paulista Noir – de outro grande jornalista e escritor baiano, Gonçalo Júnior – Eu, Gregório, terá eventos de lançamento aqui em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre.
Em Salvador o lançamento é hoje, no Palacete das Artes, com pompa e circunstância ao estilo irreverente do autor: com pocket show do grupo de jazz Geleia Solar (banda base da Jam no MAM), música ambiente do DJ Elettra (leia-se Professor Doutor Messias Guimarães Bandeira) e performances-surpresa.
Mais: ao chegar no Palacete, todos receberão máscaras de gato. Todo esse esquema é parte de um esforço particular de Raul, uma espécie de manifesto anti-caretice.
“Não tem coisa mais chata do que lançamento de livro, não é? No caso de Gregório, tenha certeza quem for que enfadonho não será, inclusive no que se refere ao autógrafo. O jazz da Geleia Solar e do DJ Eletra vão ajudar a levantar o nosso moral, sem falar das performances”, promete Raul.
“Sim, pretendo fazer um evento que, por via da literatura, canalize as forças reprimidas de uma cidade que parece desbotada, sem vida, aniquilada pela crise, pelo golpe”, avisa o autor.
Em um tempo onde escritores estreantes costumam encontrar as portas das editoras fechadas, recorrendo às campanhas de crowdfunding a fim de ver seus livros materializados, Raul até que não precisou gastar muita sola de sapato.
“Enviei o livro para a (editora) Boitempo, mas, depois, descobri que ele não caberia no perfil da editora. Acho que ‘dona’ Ivana Jinkings (da Boitempo) sequer o leu”, conta.
“Depois, o enviei a Noir, uma editora nova e com uma proposta arrojada. O editor, Gonçalo Jr., me ligou e, antes de terminar de lê-lo, mandou o contrato. Assinei. Agora, Gregório ganhou vida e vai seguir por aí, espero, de porto em porto”, relata.
De fato, Gregório parece que já nasceu de malas prontas: com o entusiasmo que a obra causou na editora, traduções para o espanhol, inglês, francês, italiano e alemão já estão sendo providenciadas.
Gato sapiens
Jornalista experiente, Raul Moreira cobria corridas de Fórmula 1 nos anos 90
Apesar do que está escrito lá no primeiro parágrafo, Eu, Gregório, está longe de ser um livro sobre “o milenar fascínio exercido pelos gatos sobre os seres humanos”.
Nas páginas de Eu, Gregório, o leitor vai se deparar justamente com o oposto: o fascínio exercido pelos seres humanos sobre os gatos.
Pet de uma intelectual acadêmica lésbica, Gregório, de alguma forma, absorveu toda a leitura e conhecimento de sua dona, Mimi.
Esta, contudo, está enfrentando seus últimos dias de vida, acometida por uma doença misteriosa e desenganada pelos médicos.
Narrado em primeira pessoa pelo próprio felis catus domestica, o texto é um primor de bem escrito, alternando entre os fatos que ocorreram – e seguem ocorrendo – com Mimi e as observações de Gregório.
“Bem, canalha, eu sempre gostei de gatos, tive gatos, aqui em Salvador, na Itália, na Irlanda, gatos frajolas, quase sempre. Sim, tenho um fraco por gatos, talvez pelas mesmas razões que todos se encantam: eles são assim, por demais.... A partir de um gato, o dúbio Gregório, resolvi construir uma história na qual especulo a respeito de uma questão crucial: o existir. Naturalmente que o ‘existir’ é pautado em cima da dicotomia entre a vida e a morte”, diz Raul.
“Eu, Gregório, no fundo, é uma espécie de tratado a respeito da dor da finitude. Ao lidar com tal questão, os dois personagens centrais expõem seus medos, angústias, desejos, os quais são ordenados dentro de uma narrativa que muitas vezes joga com o ‘ser e o não ser’: Gregório é vida e morte, felicidade e infelicidade, bem e mal. Gregório é foda”, entusiasma-se o autor.
Gregório, obviamente, está longe de ser o primeiro gato de ficção. A literatura infantil e os quadrinhos estão cheios de felinos das mais diversas espécies, cores e personalidades.
Mas em literatura adulta felinos – ou quaisquer outros animais – são mais raros enquanto protagonistas e narradores. Flush: Uma Biografia (1933), narrado pelo cão do título, da modernista Virginia Woolf, é um exemplo.
“Naturalmente que podemos pensar em Flush, o cão a partir do qual Virginia Woolf retrata o seu incômodo diante do seu mundo. Há, também, uma forte tradição ‘felina’ na literatura japonesa, a exemplo do clássico Eu Sou Um Gato, de Natsume Soseki, e tantos outros, tradição que se estende para os mangás, também”, lembra Raul.
"Em resumo, o gato foi, é e continuará a ser, por conta do seu fascínio e mistério, aquele bichano que alimenta a fantasia de artistas, de escritores, pois, são 'instrumentos' ideais para a condição de um tipo de narrativa que normalmente se faz sedutora a partir de sua condição, de como é visto. Os gatos têm mais chances do que bois, do que cobras, superando, também, os nossos 'queridinhos' cães", afirma.
Ex-dono de diversos gatos, Raul não esconde – agora sim – seu fascínio pelos bichanos. “Os gatos são fascinantes justamente pelo fato de que nós não somos capazes de capturá-los nas suas emoções, de domá-los, de nos tornarmos seus senhores, como conseguimos fazer com os cães”, diz.
“Gregório, na condição de narrador, se vale das ‘armas’ imputadas aos felinos pelos próprios humanos. E, de forma sarcástica e até cruel, brinca com essa ‘condição’. Ele se vinga em cima dos humanos, ainda que, em certo momentos se sinta um Homo Sapiens”, conclui Raul.
Lançamento: Eu Gregório, de Raul Moreira / Hoje, das 17h30 às 21h30 / Palacete das Artes (Graça) / Com banda Geleia Solar, DJ Elettra Eu Gregório / Raul Moreira / Editora Noir/ 140 páginas/ R$ 44,90 / www.editoranoir.com
Trecho: “Sei que você, agora, deve estar se perguntando como sou capaz de possuir, na qualidade de um mísero gato, aparato cognitivo tão sofisticado, reconheçamos. Não sei a resposta. (...) Aliás, suspeito que há muito mais felinos por aí carregando esse intelecto surpreendente.”
Priscilla Leone – uma boa filha, como se vê – volta hoje ao lar com o show Matriz, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. E por volta ao lar, entenda-se que há muitos lares.
Aos 40 anos (41 em outubro) e mãe há dois, ela veio retomando a carreira musical aos poucos desde o nascimento de sua filha, Madalena.
Lançou um single em parceria com Elza Soares (Na Pele, 2017) e, mais recentemente, outros dois: Contramão, com Emmily Barreto (da badalada banda potiguar Far From Alaska) e a rapper paulista Tássia Reis, e mais recentemente, Te Conecta.
Este último, especialmente, é o cartão de visitas do que podemos esperar de Pitty versão 2018 / 2019: mais engajada – e mais brasileira – do que nunca, namorando forte com o dub, o rap e o reggae.
Mas calma: Pitty segue roqueira na alma e no som, como reafirma nesta entrevista via email – mas sem deixar o rock ser camisa de força estética.
Em Matriz, o show, ela finalmente engata uma quinta marcha e propõe um back to basics: começar de novo, testar algumas músicas novas ao vivo junto ao maior interessado – seu público – e construir assim seu próximo álbum de estúdio, ainda sem previsão de lançamento.
No palco, uma banda quase toda nova a acompanha: o fiel escudeiro (e último remanescente baiano em cena) Martin Mendonça (guitarra), o marido Daniel Weksler (bateria, também NX Zero), Guilherme Almeida (baixo) e Paulo Kishimoto (teclados).
ENTREVISTA COMPLETA: PITTY: “A ideia era trazer as pessoas ao meu quartinho dos fundos no Costa Azul”
Essa turnê não apenas marca sua volta aos palcos depois de botar uma criança no mundo, mas também uma retomada da sua carreira em outros termos: baterista novo e uma busca de renovação da sua sonoridade, se aproximando mais da cena brasileira contemporânea. É isso? Uma nova Pitty para novos tempos?
Pitty pronta pro reggae, foto Maurício Nahas
Pitty: Podemos dizer que sim. Mas de forma natural, acho que é mais uma contestação desse fato do que a construção dele, sabe? Essa fase, esse momento, essas novas buscas, isso tudo é fruto das coisas que aconteceram e das mudanças da vida mesmo. E existe também um desejo de sempre estar explorando coisas novas, claro. De não se repetir, de ir além. É uma oportunidade para isso, aliás. Para experimentar novos instrumentos, o uso de beats com banda de rock, compor com base em diferentes estilos, tudo isso.
Como é o show? Vejo que tem todo um novo arranjo de palco e cenário (com desenhos de Eva Uviedo). Como ele traduz esse seu novo momento?
Pitty: Sim, todo um esquema novo de cenário, luzes, montagem de palco. Eu pensei na estética desse show numa onda meio “back to basics” (retorno ao básico). Nesse mundo tão tecnológico, como seria usar o bom e velho “pano de fundo” novamente? Como a gente organiza essa ideia do “faça você mesmo”, da simplicidade do punk rock de forma elegante hoje em dia? Como revisitar essa linguagem dos fanzines, da xerox preto & branco, sem soar mofado e nostálgico? Por isso o show se chama Matriz. Porque ele se propõe a investigar essas questões e a tentar encontrar essa ponte entre o passado e o futuro. A onda de ter toda essa herança do hardcore, de ser baiana, da vivência na cena nessa cidade – e isso relido e transcrito para hoje em dia, sem medo de olhar e usar as referências atuais. Todo meu pensamento estético e de roteiro do show tem a ver com isso. A gente tem usado beats e programação nas músicas novas – mas tem um momento do show que eu pego meu velho violão de nylon, aquele que Pedro Bó (Pedro Rocha, contemporâneo de Pitty na cena baiana dos anos 1990 com a banda Dinky-Dau, morto em 2017) me vendeu em 97. Minha ideia com essa cena era trazer as pessoas de volta ao meu quartinho dos fundos no Costa Azul, onde eu compus todas as músicas do primeiro disco. Mas as novas composições passeiam por lugares sonoros que, embora estejam na minha matriz, eu nunca tinha gravado. Como reggae, dub, rocksteady, por exemplo (salve Novo Tempo!, risos) (extinta casa de shows underground do Pelourinho). Pensei também numa montagem de palco diferente, que trouxesse três níveis de visão. Então tem uma parte que eu canto sobre práticável entre bateria e teclado, e ficou uma cena bem bonita – tudo montado e construído com a ajuda da minha equipe técnica, que é muito foda.
A turnê é também uma forma de testar as músicas novas junto ao público? As duas músicas já divulgadas atestam este seu novo momento, em busca de sonoridades mais próximas de uma Baiana System e do rap contemporâneo?
Pitty: A ideia é ir colocando as músicas na turnê à medida em que elas vão estando mais prontas, sim. Mas no disco que está se fazendo tem muita coisa diferente, talvez essas duas que foram mostradas sejam as mais fora da curva mesmo. Contramão é um single, um projeto isolado, como foi Na Pele, com Elza. Te Conecta pra mim já faz parte desse novo disco, que está sendo feito no próprio tempo e de forma muito diferente: eu vou encontrando as pessoas e vão surgindo coisas – tem uma música aí pra rolar com Beto (Roberto Barreto, guitarrista) e Russo (Passapusso) do Baiana System, por exemplo. Mas tem coisas de banda mesmo – banda de rock tocando de forma orgânica. E parcerias inusitadas, produção de outras pessoas... Tem muita coisa pra pintar, mas prefiro deixar ir rolando do que falar agora. Só digo que o bom mesmo é ter o privilégio de chegar nesse lugar de ser livre musicalmente e fazer o que quiser com quem der vontade, com verdade e tesão. O resto é prisão, pai.
Não é segredo pra ninguém que o rock (especialmente no Brasil) anda meio em baixa. Sua estética meio que se esgotou e ainda tem sido associada ao neoconservadorismo de direita. Como vê essa situação?
Pitty: É engraçado, mas não me sinto pertencente a nada disso que você falou. Sempre tive minha onda, andei e ando harmonicamente com pessoas diferentes de mim, mas nunca fiquei presa a nenhum movimento. Tentei construir um lance que transita e existe para além de rótulos e caixinhas. É o que sempre fiz e continuo fazendo. Dando vazão às minhas vontades artísticas do momento independentemente de modismos.
Duda (Machado, baterista original), foi embora definitivamente? Poderia dizer porque?
Pitty: Bom, definitivamente a gente nunca sabe, né. Mas sim, nesse momento é melhor que cada um siga seu caminho. Muito tempo, muita estrada, muita história – tem hora que o melhor é dar um tempo mesmo.
Para quando está previsto seu disco novo?
Pitty: Para quando estiver pronto! Hahahaha :)
Já tão perto de uma eleição tão importante, como está seu espírito? Mais para esperançosa ou preocupada?
Pitty: Preocupada e atenta. E pensando na necessidade do tão falado voto útil, mais do que nunca.
Pitty: Matriz / Show de abertura: Larissa Luz / Hoje, 18 horas / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / R$ 100 e R$ 50 / Camarote: R$ 200 e R$ 100 / Vendas: Bilheteria TCA, SACs Shopping Barra e Shopping Bela Vista e www.ingressorapido.com.br
O underground baiano nunca circulou tanto. Se no mês passado tivemos as bandas Mapa, Soft Porn e Aurata rodando juntas por oito cidades do Sudeste, este mês não deixou por menos.
O duo punk Pastel de Miolos circula neste momento por sete países da Europa (Alemanha, Leste Europeu e Escandinávia), em sua segunda turnê internacional.
Já neste fim de semana é a vez do quinteto de death metal e grindcore Aphorism decolar rumo a São Paulo para três apresentações: duas na capital e uma em Guarulhos.
Na volta, levam seu som brutal com letras em português para passear em Aracaju, Caruaru e Recife entre os dias 6 a 8 de setembro.
O giro por duas regiões é parte do esforço para divulgar seu terceiro álbum, O Grotesco e o Desespero.
“Sempre que lançamos um novo disco renovamos a nossa energia para fazer shows, que é a parte mais interessante do trampo de quem tem banda. Lançar um disco é um tanto complicado, pois envolve um investimento de dinheiro então geralmente nos juntamos com alguns selos que lançam o álbum juntamente conosco, dividindo uma parte da despesa e isso acaba criando um laço. Geralmente é uma galera que já conhece a banda e se amarra no som”, conta o baixista Rafael Inah.
Com o disco lançado por uma coalizão de selos formada pela Tropical Death (BA), Cospe Fogo (SP), Resistência Underground (PE), Oxenti Recs (RJ) e Vômito de Gato (RN), a turnê acaba sendo viabilizada por essa ação conjunta.
“Naturalmente esses selos organizam alguns shows para lançarmos o disco na terra deles, o que acaba que também é uma oportunidade para eles assistirem o show de uma banda que eles curtem. Estamos indo para São Paulo e Guarulhos agora em agosto e para Aracaju, Caruaru e Recife em setembro. Buscamos melhores datas para voltarmos ao Rio de Janeiro para mais algumas apresentações por lá e por fim conhecer o Rio Grande do Norte, terra onde ainda não tocamos”, conta.
"A banda surgiu em 2009. A Aphorism acaba sendo o resultado de diversos projetos em que tocamos juntos desde meados de 2004, basicamente com a mesma galera, mudando entre as diversas bandas, um ou outro integrante. Então já tocamos juntos há bastante tempo e isso ajuda muito no entrosamento e a entender as composições de cada um", acrescenta Rafael.
Da Rússia, com amor
Aphorism em ação, foto Vitor Moreira
Na ativa desde 2004, a Aphorism tem conseguido – a exemplo de outras bandas da cena extrema baiana – chamar atenção de veículos e do público além-fronteiras.
Já foram pauta da Noisey (site de música da conceituada revista Vice), e em blogs gringos.
"Nós demoramos muito para gravar o primeiro álbum, mas a partir daí foi quando a banda mudou e tomou um rumo mais sério. Depois disso as coisas começaram a acontecer mesmo. Acho que no cenário em que vivemos, lançar um disco já é uma grande conquista e cada um dos três álbuns que lançamos trouxeram consigo outras oportunidades e novas conquistas. Lembro que, pesquisando no Google, assim que lançamos o I (nome do primeiro disco) encontramos um blog italiano que citava esse lançamento como um entre os 10 melhores lançamentos de música extrema no mundo. Até então éramos totalmente desconhecidos", relata.
“Nos aplicativos de stream vejo sempre ouvintes de diversos paises. Conquistar esse público é legal também, mas o melhor de tudo e onde a gente se diverte é fazendo show, tocando para uma galera diferente, ver a reação do público, conhecer gente, conhecer bandas, pessoas interessadas. Em resumo, conquistamos pessoas e queremos conquistar mais pessoas para fazer mais shows e fazer a roda girar e a coisa acontecer”, conta Rafael.
Uma curiosidade sobre a banda é que, apesar de ter seu nome grafado em inglês, as letras são cantadas - vociferadas - em bom português.
“Quanto ao nome, na verdade é o primeiro problema que toda banda encara quando surge. Ensaia, compõe e até aparecer o primeiro show, é o tempo que temos para discutir um nome para a banda. A ideia de Aphorism veio por conta do nome de um disco da banda Red Sparowes (que não é uma influência nossa) que foi lançado quando começamos. A opção por cantarmos em português não foi programada, mas algo que aconteceu. Na verdade, no Brasil, a maioria das bandas de Grindcore cantam em português mesmo, enquanto que as de Deathmetal cantam em inglês. Transitamos em ambos os espaços. Com relação a tocar no exterior, isso pode ser um entrave nos EUA, mas na Europa eu acredito que o cenário é mais aberto, até por ter diversos países com línguas diferentes, então não atrapalharia. Temos ouvintes nos aplicativos de stream em diversos países europeus e latinoamericanos. Uma coisa curiosa acontece na Rússia, que sempre são os primeiros a descobrir e compartilhar quando lançamos algo novo”, acrescenta.
Vistos como punks (de estilo grindcore) pelo público do metal e como metal pelo público punk, o quinteto acaba se beneficiando dos dois gêneros e também já planeja voos para terras mais distantes.
“A banda não é ocupação principal de nenhum dos integrantes e é difícil casar o calendário com férias e outros compromissos. Mas pretendemos sim e vamos fazer isso. Temos as portas abertas em países e festivais”, conclui.
Separe a camisa havaiana. A adorável Ivan Motosserra lança Agogô, seu primeiro CD, com show no Mercadão.CC. Sábado, 16 horas, com Las Carrancas e os DJs Ivan himself e Rodrigo Sputter. R$ 10. Se pagar R$ 20, leva o CD.
Ex-Panteras sábado
O eterno Os Panteras Carlos Eládio faz o show Viva Raul na Varanda do Sesi. No repertório, canções do Maluco Beleza. Sábado, 22 horas, R$ 30.
NHL Festival debuta
A 15ª(!) edição do NHL Festival traz à cidade (o mineiro) Vitor Brauer & (a carioca) Larissa Conforto para se apresentar com os locais Bagum e Invisible Drums (coletivo reunindo Mapa + Aurata + Soft Porn). Domingo, 16h20, no Club Bahnhof, R$ 15.
Obras clássicas para adultos do quadrinho japonês chegam ao Brasil em edições caprichadas. Temas vão do folclore à temas sociais pesados, como corrupção e máfia
Ayako: obra de gênio de Osamu Tezuka
Nem só de robôs gigantes, bichinhos fofos e samurais do tempo do Toshiro Mifune (pergunte ao seu avô) vivem os quadrinhos japoneses.
Nos últimos meses, livrarias e comic shops tem recebido uma magnífica leva de obras-primas em mangá para adultos.
Aqui destacamos três dos melhores quadrinhos lançados este ano no Brasil – em qualquer gênero: Ayako, de Osamu Tezuka; NonNonBa, de Shigeru Mizuki e Tekkonkinkreet, de Taiyo Matsumoto.
A despeito de serem três obras-primas produzidas em diferentes épocas, o destaque fica mesmo com Ayako.
Quem conhece quadrinhos sabe o porque pelo mero mencionar de seu autor: Osamu Tezuka (1928 - 1989), também conhecido como Manga no Kamisama, o deus do mangá.
Criador de Astro Boy, autor de outros mangás antológicos como Buda e Adolf, Tezuka foi um dos maiores gênios da arte da narrativa sequencial, ombro a ombro com outros mestres como Carl Barks (a mente criativa por trás de Walt Disney), Will Eisner, Stan Lee & Jack Kirby e Robert Crumb.
NonNonBa e suas assombrações
Em Ayako, Tezuka construiu um dos maiores paineis sociais do Japão pós-guerra em qualquer linguagem – literatura, TV e cinema incluídos.
Com mais de 700 páginas, a obra (em bela edição capa dura da Veneta) é absolutamente viciante, como os melhores romances clássicos.
Tudo começa quando Jiro Tenge retorna da guerra, depois de anos como prisioneiro dos americanos – uma imperdoável desonra entre os japoneses. Seu pai, Sakuemon, um influente latifundiário em sua região, o “recepciona” dizendo-lhe que preferia que tivesse morrido em combate e que está deserdado.
Na sequência, Jiro descobre um vergonhoso segredo no seio de sua família.
Para completar, o próprio Jiro carrega seus segredos e vergonhas de guerra.
A partir daí, a trama só se intensifica a cada página, envolvendo diversos aspectos da sociedade japonesa no pós-guerra, como a paranoia anticomunista, espionagem, choques de gerações, luta de classes, corrupção política, Yakuza (máfia), machismo.
O visual alucinante de Tekkon Kinkreet
Sem contar as inúmeras perversões caseiras da família Tenge, coisa de fazer corar as faces de Nelson Rodrigues.
Junte-se a isso tudo a imensa maestria gráfica de Tezuka e o que se tem é uma obra-prima irretocável em todos os aspectos.
Youkais e meninos de rua
Os outros dois lançamentos (NonNonBa e Tekkonkinkreet) inauguram o selo Tsuru, da editora Devir, dedicado a lançar somente a nata dos mangás adultos, entre clássicos e contemporâneos.
E começou bem, lançando duas grandes obras bem diversas entre si. NonNonBa é uma deliciosa reminiscência lírica da infância de seu autor, Shigeru Mizuki (1922-2015), em sua cidade, Sakaiminato.
A grande estrela de NonNonBa é a avó do autor, uma senhorinha muito fofa que sabia tudo dos youkais, espíritos-monstros do folclore japonês.
Shigee-san, alter-ego do autor na infância, vivia aterrorizado com os tais youkais, por isso não desgrudava da avó, que o ajudava a enfrentar seus medos.
Delicada, engraçada e tocante, NonNonBa é outra leitura agilíssima e um clássico inescapável dos mangás.
Em Sakaiminato, Mizuki é tão querido que lá existe uma rua com seu nome, decorada com mais de 100 estátuas de bronze dos seus personagens.
Tekkonkinkreet, por outro lado, é completamente diferente. Nele, acompanhamos as aventuras de dois meninos de rua, Kuro (preto) e Shiro (branco), que se movem pela cidade como entidades parkour, entre postes e tetos de edifícios.
Eventualmente, acabam entrando em choque com a Yakuza, que busca dominar a sua cidade, a fictícia Takaramachi.
Até aí, nada demais, não fosse o fato de seu autor, Taiyo Matsumoto, ter criado um visual absolutamente alucinante e riquíssimo em detalhes.
A trama em si não deixa por menos, com sequências de ação e violência muito fortes (lembre-se, este não é um mangá para crianças), deitadas sobre o papel de forma vanguardista por Matsumoto, um artista que destoa completamente do visual tradicional da indústria do mangá.
Com show hoje no TCA, a cantora soteropolitana Luedji Luna abre turnê por seis capitais para lançar seu álbum de estreia, o belo Um Corpo No Mundo
Luedji Luna, foto Alile Dara Onawale
Quem acompanha a música da Bahia – a arte, não o comércio – sabe que o celeiro de grandes artistas que este estado sempre foi segue produzindo em alta.
Luedji Luna, que lança seu primeiro álbum hoje na Sala Principal do Teatro castro Alves, é uma prova viva desta afirmação.
Sua estreia em disco, Um Corpo no Mundo (Natura Musical), a colocou direto no seleto grupo de artistas contemporâneos que tem angariado um rápido reconhecimento de crítica e da parcela pensante do público.
Nos fones, a voz aveludada de Luedji afaga os ouvidos com uma música sutil, elegante e carregada de silêncios e significados – de forma muito similar a outro grande artista baiano de agora, Tiganá Santana, que, não por acaso, participa do show de hoje.
Além de uma estética semelhante, Luedji e Tiganá compartilham o mesmo produtor: o sueco baiano Sebastian Notini, que também assinou o premiado Mama Kalunga (2015), de Virgínia Rodrigues, entre outros discos.
“Tiganá é um grande querido e ele é uma grande inspiração pra mim”, afirma Luedji, por telefone.
“E me apresentar no TCA é um é um grande sonho realizado. É um dos maiores palcos do Brasil, não só em tamanho, é o palco co dos grandes nomes da MPB. Isso consolida essa minha trajetória, é como uma confirmação de que estou apta a me apresentar ali e fazer parte desse rol de grandes artistas que passaram por lá”, observa.
Suavidade dura
Mas se Luedji é suave na voz e na sonoridade, é dura na mensagem: seu disco é um manifesto, como ela mesma diz, de um não-lugar: o lugar do negro na sociedade.
Cabô, por exemplo, se refere ao extermínio de jovens negros nas periferias: “Cabô, vinte anos de idade / quase vinte e um / pai de um, quase dois / e depois das 20 horas / menino, volte pra casa”.
Já Iodo é um inventário de tragédias cotidianas e históricas: “nem a solidão / nem o capataz / estupro corretivo contra sapatão / a loucura da solidão / capataz / queimarem a herança de minhas ancestrais / arrastarem Cláudia / pelo camburão / caveirão / 111 tiros contra 5 corpos / 111 corpos mortos na prisão”.
“Achei (o disco pronto) um resultado muito coerente com a proposta. O som é completamente dissociado do tempo e do espaço. Estou falando de um não-pertencimento, de um não-lugar. Essa é a narrativa do disco: não é música brasileira, nem africana, nem baiana”, afirma Luedji.
Turnê e eleições
Ô! Já vai? Foto Alile Dara Onawale
O show de hoje é também a abertura da turnê de lançamento de Um Corpo no Mundo, conforme prevista pelo edital da Natura.
Até o dia 31 próximo, quando fecha esse ciclo de shows no Circo Voador (Rio de Janeiro), Luedji e banda terão passado por Aracaju (amanhã), Maceió (domingo), Belo Horizonte (dia 21) e São Paulo (dia 25).
“Minha banda são os mesmos músicos que tocaram no disco: queniano Kato Change (guitarras), o paulista criado na Bahia e filho de congoleses François Muleka (violão), o cubano Aniel Somellian (baixo elétrico e acústico), o baiano Rudson Daniel (percussão) e o sueco radicado na Bahia Sebastian Notini (percussão). Mais as convidadas sopros Mayara Almeida (sax) e Stephanie Sousa (trumpete)”, conta Luedji.
Com uma obra tão combativa em um momento de tanto retrocesso político, econômico e social, com a sociedade brasileira rachada em bandas que se odeiam mutuamente e prestes a encarar eleições gerais, Luedji se diz, assim mesmo, esperançosa.
“Sempre. Sou uma mulher de fé. Sei que o cenário não é favorável à um projeto político democrático de fato. Mas tenho esperança de que o jogo possa virar. E ainda que pior aconteça, há males que vem para o bem”, afirma.
“Não devemos temer políticos. Quem tem que ter medo são eles, pois nós somos a nação. Nós temos que ter as rédeas desse país, não esse grupo de privilegiados que manda em tudo. Nós somos a maioria. Acho que o brasileiro ainda não tomou consciência de que o povo é o verdadeiro dono do poder”, conclui.
Luedji Luna: Um Corpo no Mundo / Hoje, 20 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / filas A a P: R$ 60 e R$ 30 / filas Q a Z: R$ 40 e R$ 20 / filas Z1 a Z11: R$ 30 e R$ 15
Amanhã, o Sertanília estará na disputa de mais um Prêmio da Música Brasileira
Sertanília, foto Leonardo Monteiro
Banda que faz um belíssimo trabalho de pesquisa e difusão das diversas sonoridades do sertão baiano, a Sertanília está de dedos cruzados esta semana.
Razão: pela segunda vez, foram indicados ao Prêmio da Música Brasileira (28ª edição), categoria Grupo Regional, pelo seu segundo álbum, Gratia (Natura Musical, 2017).
Com eles, concorrem ao mesmo prêmio dois gigantes do gênero no Brasil: Trio Nordestino e Quinteto Violado, ambos de Pernambuco.
A cerimônia de premiação é amanhã, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Transmissão ao vivo pelo You Tube e Canal Brasil.
Ou seja, não é pouca coisa. “Essa indicação, assim como a primeira, traz muita confiança no trabalho e no grupo. Atesta que estamos no caminho certo na busca da nossa sonoridade”, afirma Anderson Cunha, diretor musical do projeto, violeiro e compositor.
“A indicação foi uma grande surpresa para o grupo inteiro e talvez por isso seja ainda mais gratificante recebê-la. Todos nós temos trabalhado muito individualmente e coletivamente e Gratia, nosso segundo disco, é resultado disso”, acrescenta a cantora Aiace, que divide a linha de frente do Sertanília com Anderson e o percussionista Diogo Flórez.
Volta aos palcos
Apesar do trabalho de qualidade artística indiscutível e do reconhecimento de crítica e do público apreciador da música de raiz, o Sertanília faz bem menos shows do que gostaríamos.
“Não é tão simples tocar ao vivo e viajar devido complexidade da formação. Não é fácil soar bem com tanta coisa acústica no palco, exige tempo pra solucionar os problemas com o som. Além de ser caro pra viajar”, diz Anderson.
“Apesar de termos fãs cativos, o público de Salvador aceita melhor uma sonoridade com elementos ligados ao litoral. Independente disso, estamos buscando nosso melhor formato e sonoridade para retomar nossas apresentações”, acrescenta.
A boa notícia é essa: neste momento, o trio – e seus músicos de apoio – preparam um novo espetáculo para breve: “Para os próximos meses, planejamos tocar mais por Salvador e por outros cantos, mesclando o repertório dos nossos dois discos, Ancestral e Gratia, e músicas novas. Estamos preparando um espetáculo novo e devemos divulgá-lo em breve, assim que finalizarmos nossas pesquisas”, adianta Aiace.
Fica a torcida da coluna pela vitória do trio, único representante baiano da nova geração na disputa (os outros baianos indicados são Gal Costa e Novos Baianos).
“Pra uma banda independente, que teve que abrir seu caminho na marra e construir sua história com as próprias mãos as indicações com certeza são um prêmio”, conclui Anderson.
Sábado tem a banda Malgrada (rock alternativo) lançando seu primeiro trabalho no Bardos Bardos. 16 horas, pague quanto quiser / puder.
Buster, Rosa, Anti
Grande banda do HC local, a Buster lança seu novo álbum (Still on The Road) com a rapaziada da Rosa Idiota e Antiporcos. Sábado, 18 horas, no Casarão Estúdios (Bonocô, 381, salte na estação Brotas do metrô). R$ 10.
Andaluz no Gamboa
Mais conhecido como baterista de bandas como Lo Han e Cavern Beatles, Thiago Brandão retoma sua banda solo Andaluz em show domingo, no Teatro Gamboa Nova. Acústico, o som segue a linha Clube da Esquina. A coluna recomenda. 17 horas, R$ 20.
Paulinho da Viola e Beatriz Rabello, sua filha, fazem hoje no Teatro Castro Alves show com clássicos do samba e bloco de marchinhas
Paulinho e sua filha Beatriz Rabello
Artista fundamental da MPB, Paulinho da Viola traz hoje à Sala Principal do Teatro Castro Alves o show conjunto com sua filha, a cantora Beatriz Rabello.
Em turnê pelo país, a apresentação tem sido bastante elogiada por público e crítica.
Paulinho, que está sem lançar disco de inéditas desde Bebadosamba (1996), dividirá o repertório do show de hoje entre seus clássicos de carreira, músicas dos dois álbuns de Beatriz e um bloco especial dedicado aos sambas e marchinhas que marcaram os carnavais de antigamente.
“Tem músicas do disco dela e também minhas músicas. Também peguei algumas que gravei de outros artistas, canções que são conhecidas e outras não tão conhecidas assim, mas que tem a ver com o roteiro que preparamos”, conta Paulinho, por telefone.
”A dificuldade é até essa, às vezes. É tanta música que a gente acaba indeciso”, ri.
O trecho em que relembram antigos Carnavais é, não por acaso, intitulado Bloco do Amor – mesmo título do disco mais recente de Beatriz.
“Ela canta algumas músicas em um determinado momento em que eu não estou no palco. São músicas de sucesso, um pequeno pot-pourri de carnaval, de marchinhas e sambas”, conta Paulinho.
Do repertório clássico do sambista, quem for ao TCA hoje terá o prazer de escutar ao vivo pérolas do quilate de Timoneiro, Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Pecado Capital, Eu Canto Samba, Coração Leviano e Cenários, além de outras composições de autoria da nata do samba carioca: Maria Vasco, D. Ivone Lara, Jorge Aragão, Douglas Germano e André da Mata.
Beatriz, foto Livio Campos
No palco, Paulinho e Beatriz são acompanhados pelo grupo Mulato Velho, formado por Fernando Brandão (cavaquinho), Rogério Souza (violão), Sidão Santos (baixo), Flavio Santos (bateria), Daniel Karin e Felipe Tauil (percussão), Whatson Cardoso e Dudu Oliveira (sopros), além da participação especial do violonista João Rabello, outro filho de Paulinho, irmão de Beatriz.
Bloco do Amor
Ele conta que este show começou como um projeto só de Beatriz, mas que, à medida em que foi se envolvendo, acabou se tornando um projeto a quatro mãos.
“Na verdade, este é um show que minha filha tinha preparado porque ela lançou um disco. Foi um trabalho dela, ela escolheu o repertório, eu não me envolvi. Quando estava pronto, ela veio me mostrar. Achei muito bonito, mas passou”, relata.
“Aí um dia fiquei pensando nesse disco e fiz uma música inspirado nele. Ela nem tinha me pedido nada. Mostrei a ela, que ficou entusiasmada, achou que tinha a ver. O título da música é O Bloco do Amor, que acabou por se tornar o titulo do disco dela”, conta.
Após participar de uns dois shows de lançamento do disco da filha, Paulinho acabou se envolvendo mais no trabalho e o resultado é este show conjunto de pai e filha.
“Começamos a mudar o show, por que comecei a participar mais, ficou uma coisa da gente. Então acabamos dividindo esse trabalho”, acrescenta Paulinho.
Criolo e cuidado
Paulinho da Viola
Mas esta não é a única parceria de Paulinho da Viola neste momento.
No dia 17 próximo ele faz um show em São Paulo com o rapper Criolo.
O show é na programação do A Noite Veste Azul, série de eventos em comemoração aos 90 anos da Portela, escola de samba de Paulinho.
“Serei eu, a Velha Guarda da Portela, Monarco e como convidado, o Criolo, que além de ser muito querido, fez um disco de sambas (Espiral de Ilusão, 2017). E Elifas Andreato dirige o espetáculo”, conta.
Apesar da boa fase de trabalhos, Paulinho se mostra preocupado com os rumos do país, conforme se aproximam as eleições.
“A ameaça de retrocesso é muito grande, isso está claro. Cabe a nós atenção e cuidado. Temos que estar alertas contra certas coisas que nos ameaçam. É só isso que eu digo”.
Já disse tudo, mestre.
Paulinho da Viola e Beatriz Rabello: Bloco do Amor / Hoje, 21 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / filas A a P: R$ 180 e R$ 90 / filas Q a Z6: R$ 150 e R$ 75 / filas Z7 a Z11: R$ 120 e R$ 60 / 14 anos
De hoje até domingo: Alice Caymmi traz à Caixa Cultural o show tributo Para Minha Tia Nana
Alice Caymmi na foto de Daryan Dornelles
Representante da terceira geração de uma das mais nobres famílias da MPB, Alice Caymmi traz a Salvador o show em que homenageia justamente sua tia, Nana – irmã do seu pai, Danilo Caymmi.
Em formato piano e voz, Alice vem acompanhada apenas do tecladista de sua banda, Itamar Assiere, para quatro sessões na Caixa Cultural a partir de hoje até domingo.
“Este é um show em homenagem a minha tia Nana que tem a ver com minhas referências encontrando as referências dela. Nele, eu busco o que nós duas temos em comum e também de diferente”, conta Alice, por telefone.
No repertório, as canções que notabilizaram a grande Nana, mas não só: a sobrinha inclui também algumas de suas preferidas, além de outras de seu próprio repertório, promovendo um diálogo entre seus imaginários.
Assim, quem for à Caixa esses dias poderá ouvir Alice pondo seu vozeirão a serviço de canções como Derradeira Primavera e Chora Coração (Tom Jobim), Soneto da Separação (Tom e Vinicius), Gloomy Sunday e I’m a Fool to Love You (Billie Holiday), Volver (Carlos Gardel), Nunca Mais (Dorival Caymmi), Out of My Mind Just in Time (Erykah Badu), Love is a Losing Game (Amy Winehouse), Mi Niña Lola (Concha Buika), Meu Recado, Como Vês e Agora (da própria Alice).
“São músicas muito complexas, baladas, na maioria. Levo comigo um instrumentista maravilhoso e impressionante que já tocou muito com minha família, que conhece muito minha tia e nosso jeito de cantar, que é o Itamar Assiere”, diz.
“Então escolhi essas canções, que são músicas que unem influências. São as influencias dela (Nana) e as minhas. Onde elas se encontram, nos compositores, nos intérpretes e nos repertórios”, acrescenta.
Imerso na temática
Naturalmente, Alice tem se esforçado para lidar com o peso do sobrenome famoso em seu trabalho solo.
Neste show específico, porém, o esforço é suavizado por razões óbvias.
“Um show como esse, já imerso na temática de minha família, me deixa mais confortável. Nele, não faço nada mais do que cresci fazendo em casa, então não tem muita dificuldade”, conclui.
Alice Caymmi: Para Minha Tia Nana / de Hoje até domingo / 20 horas (Hoje, sexta e sábado) e 19 horas (Domingo) / Caixa Cultural (R. Carlos Gomes, Centro) / R$ 10 e R$ 5
Ex-Cascadura, baterista Thiago Trad se lança solo com Moscote, uma trip instrumental conduzida ao piano
Thiago e a modernidade líquida. Ft Nathalia Miranda
Uma cidade imaginária onde Salvador e Marrakesh, Vale do Capão e Berlim, Santo Amaro e Paris são transversais de uma mesma avenida.
Assim é Moscote, a estreia solo de Thiago Trad, ex-Cascadura.
Baterista há mais de 25 anos, Thiago surpreende ao conduzir o álbum inteirinho ao piano.
Não, ele não é o Arthur Moreira Lima, mas sua fluência ao instrumento não deixa de ser uma boa novidade para quem o conhecia apenas (sem demérito) como baterista de bandas do rock local.
“Fui baterista a vida inteira, só no Cascadura toquei por 15 anos. Mas o piano a pareceu na minha vida muito cedo, já que minha mãe tinha um piano e nos estimulava a tocar, até porque sempre teve um gosto muito interessante, Beatles, Clube da Esquina e tal. Já na faculdade (Escola de Música da Ufba), o piano passa a ser meu instrumento de composição e conclusão de curso”, relata.
“Então me considero um pianista, o que me deixa muito a vontade para usar o piano como instrumento criativo e percussivo”, afirma.
Essencialmente instrumental, Moscote foi gravado com uma pequena grande ajuda dos amigos (via crowdfunding) e está disponível desde o último dia 20 nas plataformas e lojas digitais para venda, download e streaming.
Apesar de instrumental, algumas faixas contam com os vocalizes privilegiados de Nancy Viegas, uma das convidadas de Thiago no álbum, junto a outras feras: Kiko Souza (sax e flauta), Alexandre Vieira (baixo acústico), Ldson Galter (baixo elétrico e acústico), Stefano Cortese (acordeom e arranjos), Ivan Sacerdote (clarineta), André Borges (sax cretino) e Tadeu Mascarenhas (baixo elétrico e arranjos).
Mas o que tem a ver todas aquelas cidades citadas no início do texto com o disco? Simples: pouco depois do fim da Cascadura, em 2012, Thiago botou uma mochila nas costas e ganhou o mundo.
Caminhou pelas ruas de Berlim, Marrakesh, Nova Iorque, Lisboa, Paris, Buenos Aires, Montevidéu, Juazeiro, Santo Amaro.
Por onde passava, se enturmava com músicos de rua e fazia um som com seu pandeiro. Gravou muitos temas e trechos ali mesmo, na rua.
“Muito do que eu utilizei de ferramenta de inspiração tem a ver com minha história de vida, meus anos todos na Bahia (Thiago é paulista de nascimento mas vive desde criança em Salvador) e cidades que me marcaram, como Santo Amaro e Juazeiro, cidade-natal de minha mãe. Mas principalmente Salvador, que é a cidade mais cultural e criativa que eu conheço”, detalha.
Um piano no Capão
"Como assim, cara?", foto Nathalia Miranda
Enquanto isso, a mãe de Thiago, a juazeirense, se mudava de mala e cuia para a Vila do Capão, hoje uma localidade mais cosmopolita, por sua atuante população de estrangeiros, do que Salvador.
Entre uma viagem ao exterior e outra, lá ia Thiago visitar a mãe entre as montanhas do Vale do Capão.
“E lá eu encontrei o Stefano (Cortese), que mora há uns 8 anos no Capão e é uma figura muito atuante na cena cultural de lá, toca no Grupo Instrumental do Capão”, conta.
“Foi um encontro muito rico. Nos identificamos como músicos e como pessoas com os mesmos interesses. Lá eu mergulhei nesse processo criativo com ele, foram vários dias só trabalhando os temas ao piano (de Cortese). Ele trouxe uma bagagem muito própria e assim, as músicas foram ganhando forma”, relata.
E foi ao próprio Capão, à casa de Stefano, que se convocou o experiente produtor Tadeu Mascarenhas para registrar os temas ao piano.
“Lá mesmo gravamos todos os pianos. Então o Capão é muito importante neste processo, pois foi onde consegui transformar minhas ideias em música”, percebe.
Com sete faixas / temas, Moscote é mesmo uma viagem musical bem abrangente – versátil e agradável de ouvir.
Ainda que haja um experimentalismo mais típico aqui e ali (especialmente na faixa Calma, com quebras de ritmo e dissonâncias típicas da música erudita contemporânea), o álbum flui em bom ritmo e seduz pela diversidade dos temas.
“Eu queria o disco muito orgânico, usando a lógica do instrumento percussivo, batucando nele (no piano), usamos de uma forma não melódica e até processos à moda John Cage (inserindo objetos entre as cordas). Exploramos o piano não só de forma melódica e harmônica, mas também percussiva”, detalha.
Moscote, Macondo
Enquanto trabalhava no Capão, Thiago lia, nas horas vagas, o clássico Cem Anos de Solidão, a saga da família Buendia criada pelo Nobel de Literatura Gabriel Garcia Márquez.
“Então eu tava lá lendo o livro, viajando em solidão de final de relacionamento. O nome Moscote vem meio que num sonho, uma alusão a Macondo (cidade fictícia onde se passa o livro)”, conta.
“A originalidade do livro, esse sentimento latino, foi algo revolucionário enquanto literatura e acabou me influenciando para criar meu universo imagético, para expandir minha realidade. Isso deu sentido a obra e me ajudou a levar adiante o projeto e fazer esse registro”, relata.
Lançado o álbum, Thiago se prepara para começar as apresentações ao vivo.
“Primeiro vem a divulgação, para que as pessoas saibam do disco e lhes desperte interesse. Mas não vejo a hora de tocar. É a melhor parte, levar para o palco e compartilhar a música viva”, conclui Thiago.
Moscote / Thiago Trad / Bahia Experimental (Bex Records) & Sê-lo! Netlabel / Disponível na principais plataformas digitais
E nossos connoisseurs de plantão, senhores Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr., resolveram promover um duelo de guitar heroes RAIZ hoje: Robin Trower versus Alvin Lee!
Ambos ingleses, o primeiro iniciou a carreira na banda prog Procol Harum (aquela do hit Whiter Shade of Pale) e depois saiu em carreira solo.
Já Alvin Lee se notabilizou pela metralhadora de notas que disparou durante o festival de Woodstock, em 1969.
Ah, não conhece, conhece de ouvir falar?
Ouça os especialistas, meu filho / minha filha / mex filhx! 😎
Maestro do ritmo e da alegria, Jorge Ben Jor traz hoje à Concha Acústica seu show Salve Simpatia. Em exclusiva, ele fala da apresentação e de sua trajetória
Jorge Ben Jor, foto Natália Bezerra / Wikicommons
Tesouro vivo da música brasileira, Jorge Ben Jor, que traz o show Salve Simpatia hoje à Concha Acústica do TCA, tem sido alvo de investigações há décadas. Calma pessoal, não tem nada a ver com verbas – públicas ou privadas.
Há décadas, músicos e pesquisadores se debruçam sobre sua técnica de tocar violão, buscando decifrá-la.
Com uma mão direita veloz, Jorge imprimiu um ritmo sincopado único às suas canções, percutindo as cordas, ao invés de dedilhá-las.
Esse estilo de tocar tornou-o um ídolo entre público e crítica, leigos e músicos, bossa-novistas e jovem-guardistas.
Como todo mundo que criou algo muito próprio, Jorge tem dificuldade em explicar sua criação – seja por opção consciente, seja porque ele simplesmente toca assim mesmo e fim de papo.
“Não sei dizer exatamente… Acho que o grande segredo da música é expor sua personalidade através dela, por isso cada banda tem seu estilo, todos são únicos e especiais”, despista o mestre em uma rara – e exclusiva para o Caderno 2+ – entrevista para a imprensa baiana. No compasso do caminhar
Na verdade, foi um outro mestre do violão quem inspirou Jorge – um dos mais ilustres baianos de todos os tempos: “Quando comecei a tocar, procurei fazer o que havia de melhor na música. O estilo – a Bossa Nova – não estava na moda. Eu ouvi o João Gilberto, que tocava de modo tão coloquial e único, e levei ele como meu ídolo”, afirma.
Quando estourou com Mas Que Nada, logo no primeiro disco (Samba Esquema Novo, 1963), Jorge já disse a que veio, se tornando o único cantor apreciado tanto pelo pessoal da bossa nova quanto pela patota (termo da época) da Jovem Guarda, então movimentos antagônicos.
Jorge, que então era só Ben, passou batido pelo fenômeno.
“Procuro fazer um ‘Som Universal’ que foi inventado pela marcha e pulsa no compasso do caminhar. É o seu andar, o seu tempo, o seu passo, é o dois por dois. O rock europeu vem dele. Nosso ritmo aqui é dois por quatro, é diferente”, explica Jorge.
“Mas também é preciso fazer uma letra que caia no gosto de todo mundo. Modéstia à parte, consegui fazer uma letra que é universal até hoje: Mas Que Nada toca no mundo inteiro e, todo mundo canta. Alemão canta Mas Que Nada. Japonês faz perfeitamente”, percebe o músico.
Babulina 1972, ano do LP Ben. Arquivo Nacional / Wikicommons
Pertence a Deus
Mas o fato é que hoje é dia de show de Jorge Ben Jor no solo sagrado da Concha Acústica, uma oportunidade imperdível para velhos e novos fãs sentirem a vibração de Babulina (e sua banda) em pessoa.
E o melhor: é um show de hits, escolhidos pelos próprios fãs em enquete no Facebook do homem.
“É um show alegre e cheio de energia para que as pessoas possam cantar e dançar tanto as músicas mais antigas quanto os lançamentos”, conta.
“O público costuma pedir Mas Que Nada, Filho Maravilha, País Tropical, entre outros. Fizemos uma enquete pelo Facebook para esse show e Taj Mahal está liderando com vantagem”, acrescenta.
No palco, uma banda de feras que é sempre um show a parte: Lucas Real Fernandes (bateria), Neném da Cuíca (percussão), Marlon Sette (trombone), Jean Arnout (sax), Danilo Oliveira (teclado) e Guto (baixo).
Além de todos aqueles hits que o Brasil e o mundo amam ouvir, Jorge lança duas músicas novas: São Valentin e Mete Goal, possíveis prévias de um – espera-se – novo álbum.
Seria o primeiro desde Reactivus Amor Est (2004). (Recuerdos de Asunción 443, de 2007, foi reunião de material esquecido na Som Livre).
Mas nem isso ele revela: “Quando me perguntam isso, costumo responder que o futuro só pertence a Deus. Nem eu sei dizer se haverá esse novo álbum de inéditas, mas só esse ano já foram lançadas duas músicas: São Valentin e Mete Goal”, conclui.
Sábio Jorge.
Jorge Ben Jor: Salve Simpatia / Amanhã, 18 horas / Concha Acústica do Teatro Castro Alves / R$ 60 e R$ 120 / Camarote: R$ 120 e R$ 240 / 14 anos