HQ Contos dos Orixás, belo projeto do artista Hugo Canuto, traz as divindades africanas sob a estética do lendário Jack Kirby. Lançamento hoje, no Teatro Sesi
Em 1962, os magos da Marvel Comics Stan Lee (roteiros) e Jack Kirby (desenhos) resolveram adaptar a mitologia nórdica para lançar um novo personagem. Nascia assim a versão cultura pop de Thor, deus que os antigos vikings acreditavam controlar os trovões.
Em 2016, o arquiteto e artista visual Hugo Canuto uniu sua admiração pela arte de Kirby com sua paixão pela mitologia iorubá. Nasceu assim a HQ baiana Contos dos Orixás, uma vibrante aventura estrelada por antigos deuses africanos, a partir da estética pop de Jack Kirby.
Com lançamento amanhã no Teatro do Sesi, a graphic novel de Canuto nasceu a partir de uma série de 16 pôsteres unindo os dois mundos: o das HQs e o dos orixás.
Cada poster reproduzia alguma capa icônicas de Kirby para a Marvel. The Orixas, por exemplo, reproduz a capa de The Avengers (Vingadores) nº 4, de 1966 (arte ao lado).
Publicadas nas redes sociais, as artes de Canuto chamaram a atenção dentro e fora do Brasil, sendo inclusive expostas em galerias nos Estados Unidos (Fowler Museum, da UCLA, Universidade da Califórnia) e na Inglaterra (Fashion Gallery, em Londres).
Com a ótima repercussão, Hugo partiu para a criação de uma HQ com todos aqueles personagens fascinantes.
Abriu uma campanha de crowdfunding (via plataforma Catarse) e acabou angariando o triplo da meta pretendida. A HQ, que inicialmente teria apenas 60 páginas dobrou de tamanho, com 120.
“Os Contos dos Orixás são parte de um projeto que adapta os mitos e lendas sobre as divindades provenientes da África Ocidental, através das histórias em quadrinhos – dentro de uma linguagem artística, respeitando as tradições”, conta Hugo.
“O início da jornada deu-se a partir de uma convergência de paixões. A primeira delas, pelo legado das civilizações africanas que moldaram minha terra de origem: a Bahia e sua ancestralidade, representadas aqui pelos Itan, conjunto de narrativas ligadas aos Orixás, arquétipos milenares de força, coragem e sabedoria”, acrescenta.
A outra paixão, óbvio, são os quadrinhos e a arte do “Rei”: Jack Kirby: “Acrescento o encanto pela força narrativa das Histórias em Quadrinhos, linguagem global que reinterpreta os mitos nos dias atuais. Em 2016, reuni os dois mundos em uma homenagem ao ‘Rei’ Jack Kirby, artista, escritor e criador de personagens icônicos cuja narrativa épica de composições dinâmicas, permeadas por paisagens cósmicas, ainda hoje encanta gerações de leitores”, afirma.
Em sinal de respeito à religião, Canuto fez uma grande pesquisa sobre os orixás, tanto em livros de referência (citados em bibliografia no final da HQ), quanto assessorado pessoalmente.
“Ao longo de dois anos e meio, estive com sacerdotes, acadêmicos e autores que, com generosidade, compartilharam um pouco de sua sabedoria, leram o material e nos acompanharam, como o Mawô Adelson S. de Brito, que conheci no curso de língua e Cultura Yorubá”, conta.
Continua na próxima edição
Na HQ, acompanhamos as lutas de Xangô, Senhor do Trovão – nada mais adequado do que ter a contraparte africana de Thor como protagonista –, Oxum, Elegbá e os guerreiros do Orum (o mundo espiritual) contra os Ajogum, adversários da humanidade, a qual vive no Aiyê (o mundo físico).
Que não se espere a profundidade psicológica de uma HQ do Alan Moore (Watchmen) ou a fluidez narrativa de Brian Michael Bendis (Alias: Jessica Jones): o que vale, ao menos nesse primeiro momento, é o encanto visual da arte, que é espetacular –e o dinamismo das páginas.
Canuto, de fato, é um aluno aplicado de Kirby: como nas melhores HQs do Rei, seus personagens parecem estar sempre prontos a saltar da página – majestosos em seus trajes detalhados, com armas características e envoltos em energias cósmicas insondáveis.
Para um primeiro volume, já está de muito bom tamanho. Sim, por que haverá outros: “Sim, planejamos mais dois volumes, com certeza. Mas como costumo fazer uma pesquisa profunda antes de cada projeto, então não há uma previsão (de lançamento) ainda”, conta Hugo.
“Começamos a tradução em inglês e francês, e em breve anunciaremos novidades. Se puder, coloque meus agradecimentos a Mãe Carmen, Ialorixá do terreiro do Gantois, Mãe Angela, Iá Kekerê, que nos deu apoio ao longo do trabalho, e a comunidade do terreiro”, conclui.
Lançamento: Conto dos Orixás, de Hugo Canuto / Hoje, 19 horas / Teatro Sesi Rio Vermelho / Evento gratuito
Conto dos Orixás / Hugo Canuto / Independente - Catarse / 120 p./ R$ 45/ Vendas: www.facebook.com/ContosdosOrixas
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