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Planet Hemp 1994, foto Daniela Dacorso |
Hoje e amanhã, Pedro está em Salvador para lançar seu livro Planet Hemp: Mantenha o Respeito.
Hoje é no Bardos Bardos.
Amanhã, ele faz a palestra Planet Hemp e a causa da liberdade de expressão dentro do festival Digitália, no Icba - Goethe Institut (Vitória).
"O Planet Hemp está presente desde o meu primeiro livro, Niterói Rock Underground (1990-2010), lançado em 2011, e apareceu novamente nos livros Brodagens (2016) e coLUNAs (2017). Até que, enfim, tomei coragem para encarar o desafio de escrever sobre uma banda tão polêmica, corajosa e contraditória", conta Pedro.
Além de ser – muito provavelmente – a primeira biografia de fôlego de uma das principais bandas da geração ‘90, há pelo menos duas outras razões para ler Mantenha o Respeito, fruto de dois anos de trabalho do jornalista.
A primeira é que é uma leitura muito envolvente. Íntimo dos seus personagens, de suas obras e caminhos, Pedro pega o leitor pela mão e o transporta direto para a década do grunge, hip hop pré-ostentação e surgimento do mangue beat.
A outra é o detalhismo: com quase 500 páginas e mais de 60 fotos, além muito material gráfico da época, Mantenha o Respeito começa em meados dos anos 1980 e termina com o lançamento do filme Legalize Já: Amizade Nunca Morre (2018), sobre o relacionamento entre Marcelo D2 e Skunk (morto em 1994), os fundadores da banda (ao lado do guitarrista Rafael Crespo).
1997: rapeize do Planet no camarim em Fortaleza, foto acervo Apollo Nove |
"Aliás, o primeiro a deixar o Planet Hemp foi o BNegão, em 1996. Desde então ele já entrou e saiu, passou anos brigado com o Marcelo D2, e olha aí, cantando novamente com eles. O guitarrista Rafael foi demitido em 1997, um pouco antes do grupo ser preso em Brasília, e convidado a retornar para o terceiro disco. Entre idas e vindas, chegou a processar a produtora que agencia a banda. O primeiro baterista, Bacalhau, foi demitido em 1998, e deu a volta por cima gravando discos e viajando pelo mundo tocando com a banda Autoramas. Em alguns casos, existia sim uma ponta de mágoa ou rancor, mas nada que o tempo não cure. Agradeço ao editor, Marcelo Viegas, que também foi muito cuidadoso na revisão, para evitarmos os famosos mimimis, que não agregaria em nada ao livro. O resultado está aí. Apesar de ter saído no finzinho de 2018, a biografia já aparece em listas de melhores livros do ano", comemora.
Talvez hoje o impacto do surgimento do Planet Hemp no cenário não seja devidamente dimensionado, mas em 1993, quando o grupo surgiu gritando a plenos pulmões “legalize já”, o escândalo foi inevitável. E não fazia nem dez anos que a ditadura havia acabado.
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O fanzine Undergraff (CE) quadrinizava letras do PH |
"Um dos grandes desafios do jornalista, e nesse caso do biógrafo, é manter o distanciamento crítico. Eu já havia biografado um quadrinista (Marcatti), um pintor (Filipe Salvador) e um professor e parlamentar (Chico Alencar). Principalmente neste último caso, é difícil não cair na tentação da admiração e evitar perguntas mais perniciosas ou fazer um livro chapa branca. No caso do livro sobre o Planet Hemp, tive a preocupação de escrever para todo o tipo de leitor, mesmo o que conhece pouco da banda", afirma.
“Eu queria, antes de tudo, contar uma boa história. A história de jovens artistas que foram perseguidos e presos por cantar a legalização da maconha e defender a liberdade de expressão. O Planet Hemp amargou cancelamentos de shows e pegou vários dias de prisão. Isso sem falar no público, que também apanhava, era extorquido e de vez em quando acabava no xadrez também”, lembra Pedro.
"Claro que o fato de eu ter acompanhado tudo de pertinho facilitou bastante, mas eu sempre lembrava que a pessoa poderia morar num rincão do Brasil e precisava ser didático, explicar em detalhes. Por isso decidi colocar um mapa do Rio, com os lugares mais frequentados pela banda nos anos 1990, para situar o leitor geograficamente, entender os seus deslocamentos pela cidade. Tenho essa preocupação de ser 'professoral', inclusive escrevendo muitas notas de rodapé e inserindo referências. Teve gente que me escreveu dizendo que conheceu vários artistas a partir disso. Por que a pessoa foi na internet e buscou o som do artista pra ouvir", conta.
Contexto é tudo
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10 de janeiro de 1996: o PH estreia em Salvador, Foto Sora Maia |
Dois exemplos são as trajetória do Garage Art Cult, histórico inferninho carioca, e da banda pernambucana Jorge Cabeleira & O Dia em Que Seremos Todos Inúteis, companheira de palco do Planet várias vezes, inclusive no primeiro show do PH em Salvador, em 10 de janeiro de 1996, com a local The Dead Billies.
“O maior desafio foi a pesquisa. Tive que partir quase do zero, apenas com meu acervo pessoal para reconstruir a cronologia da banda e situar os depoimentos no tempo. Foram dezenas de entrevistas com integrantes, ex-integrantes, produtores, jornalistas, músicos, fãs, parentes e amigos. Tudo devidamente registrado em texto, áudio e, em alguns casos, vídeo”, conta.
"Biografar uma banda do início dos anos 1990 é como garimpar uma pedrinha de ouro. Os poucos registros disponíveis estão em vídeos na internet e na imprensa da época, o que é fundamental para montar uma cronologia precisa. Nos panfletos de shows, por exemplo, raramente tem o ano do evento, apenas o dia e o mês. Eu tive que ir de casa em casa recolhendo fotos, flyers, cartazes e reportagens, além de contar com a ajuda de fãs e amigos, que colaboraram pela internet. No livro estão pouco mais de 60 imagens, mas eu tenho centenas delas. Esse material precioso compõe, provavelmente, o maior arquivo sobre o Planet Hemp no Brasil. Foi um trabalho duro e solitário, mas muito recompensador", acrescenta.
Uma coisa interessante é que o próprio Pedro ainda não havia se ocado que o livro dele é (como já disse acima) muito provavelmente a primeira biografia aprofundada de uma banda de rock da geração 90, que ainda está por ter seu valor e sua importância para a música brasileira (e mundial) devidamente avaliada.
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Pedro de Luna, foto Elza Cohen |
O Planet foi provavelmente uma das bandas / artistas mais perseguidos pelas forças da lei na história da música brasileira. Isso, em plenos anos 90, pós-redemocratização. Mas, quem estava atento na época deve lembrar que era uma questão que mobilizava mais as instâncias "oficiais": polícia, MP etc. Hoje a repressão parece vir da própria sociedade, um retrocesso (como tantos), que não passa despercebido nem pelo autor, nem pelos músicos.
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Fanzine Undergraff, de Fortaleza |
Infelizmente, nem sempre é possível agradar a todos. No finalzinho de 2018, logo depois de o livro ter saído, a Na Moral, produtora do Planet e de Marcelo D2, soltou uma nota desautorizando o livro. Pedro e a editora Belas Letras responderam com outra.
“A exposição pública e pessoal foi desnecessária. Tanto que emitimos uma nota oficial e todos os posts foram removidos das páginas da banda. O próprio Marcelo D2 me ligou no dia em que saiu uma matéria n´O Globo me dizendo que estava triste com aquela polêmica causada pelo empresário, e somente por ele, que ficou com o ego ferido. Claro que a produtora foi importante, mas o Planet Hemp é muito maior que ela. O Planet se tornou mais que uma banda, virou uma causa. Uma causa pela legalização da maconha e a liberdade de expressão. E, mais recentemente, Marcelo D2 virou um ícone de resistência contra o presidente eleito”, rebate Pedro.
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"O pessoal que já leu Planet Hemp: mantenha o respeito está pedindo para eu escrever outras biografias. Entre os mais votados estão Raimundos, Charlie Brown Jr e Chico Science & Nação Zumbi. São ótimos nomes, mas para encarar preciso de uma boa proposta e da anuência dos envolvidos. Mesmo sem a autorização formal, é mais bacana escrever quando o biografado está remando junto no mesmo barco, conclui o autor.
Lançamentos: Hoje, 19 horas, no Bardos Bardos (Rio Vermelho) / Amanhã, 17 horas, no Digitália (Instituto Goethe) / Entrada gratuita
Planet Hemp: Mantenha o Respeito / Pedro De Luna / Belas Letras/ 497 p./ R$ 69,90/ www.livrodoplanet.com.br
2 comentários:
Chico obrigado pelo espaço e o apoio. Grande abraço!
Foi um prazer, Pedro! Seu livro tá bom demais de ler! Abraço!
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