quinta-feira, abril 20, 2017

TÁ PENSANDO QUE EU SOU IDIOTA?

Relançado em capa dura com ilustrações de Rafael Coutinho, edição de 30 anos de Forrest Gump desvenda toda a sátira que passou batida no filme com Tom Hanks


O Forrest Gump do livro, segundo o ilustrador Rafael Coutinho
Ser um completo idiota está na moda, como se pode perceber pela crescente popularidade de certas aberrações políticas.

Na verdade, esse pessoal é muito atrasado. Na literatura, ser idiota é “tudo de bom” há séculos.

Um exemplo mais ou menos recente é Forrest Gump – para muitos, apenas um filme com Tom Hanks.

Idiota caçula, pelo menos em comparação com o Cândido de Voltaire (século 18) ou Myshkin, de Dostoievski (O Idiota, século 19), Forrest Gump, o personagem, surgiu no romance homônimo do norte-americano Winston Groom, publicado em 1986.

Agora, Forrest Gump, o livro, volta às prateleiras em edição de luxo com capa dura, ilustrações de Rafael Coutinho e o excelente artigo Da página à tela: a reformulação de Forrest Gump, de Isabelle Roblin.

 Na verdade, os idiotas tem uma longa tradição na literatura com inúmeros personagens inesquecíveis, como Dom Quixote (idem, de Miguel de Cervantes), Policarpo Quaresma (O Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto) Ignatius J. Reilly (Uma Confraria de Tolos, de John Kennedy Toole), Chance (O Videota, de Jerzy Kosinski), Boo Radley (O Sol é Para Todos, de Harper Lee), Lennie (Ratos e homens, de John Steinbeck) e muitos outros.

Forrest Gump é idiota, mas o é com classificação científica: idiot savant, que é alguém que combina déficit de inteligência com algumas habilidades intelectuais (o personagem de Dustin Hoffman em Rainman também era idiot savant).

Capturado por pigmeus canibais
Forrest é este tipo de idiota. Sua incapacidade de aprendizado e absoluta ingenuidade o tornam alvo fácil para todo tipo de malandros, que se aproveitam de sua boa vontade.

Mas por ser savant (sábio, em francês) ele consegue, de alguma forma, superar todas as dificuldades, sagrando-se vencedor e tornando-se, muitas vezes, ídolo para milhões de outros idiotas.


Ria com ele, não dele

Filme largamente visto e revisto, o Forrest Gump dirigido por Robert Zemeckis, na verdade, aproveitou pouco do livro, que é uma sátira feroz da sociedade norte-americana. Sim, há muita diversão e risos nestas páginas – mas nem sempre para Forrest.

Grande (1,98m) e besta, ele é pego para fazer de tudo: joga futebol americano, vai à guerra do Vietnã, atua como dublê de gorila com Raquel Welch, toca gaita numa banda de hippies, joga pingue pongue na China, é capturado por pigmeus canibais e por aí vai.

Só que, enquanto o Forrest do filme é absolutamente inconsciente (de sua idiotia, do mundo etc), o do livro, narrado em primeira pessoa pelo próprio Forrest, toma conhecimento de sua imbecilidade desde o início. Não a toa, ele abre a narrativa dizendo que “ser idiota não é nenhuma caixa de chocolate”.

Isabelle Roblin, uma professora universitária francesa especializada em literatura anglófona e sua reescrita para o cinema, desvenda esse outro Forrest em seu artigo.

“O propósito de Forrest não é apenas fazer o leitor rir, mas também permitir que entenda a tolice e o absurdo do mundo onde vive, e em particular, da história e das instituições dos Estados Unidos, como os presidentes americanos, a Guerra do Vietnã, a NASA e a indústria do cinema, que são ferozmente satirizados. (...) O tom satírico do livro foi eliminado do filme, no qual o espectador ri do idiota, e não com ele”.

Como se vê, não há limites para a idiotia no cinema norte-americano...

Forrest Gump / Winston Groom / Aleph/ Trad.: Aline Storto Pereira/  392 p./ R$ 79,90

3 comentários:

Rodrigo Sputter disse...

não cheguei a ler o livro todo, dei uma lidinha em 1998, no livro de uma amiga paquerinha da época...mas lembro de me sentir meio incomodado...isso já naquela época, por que a personagem se não me engano era negro, certo?
ser um enorme -e grande - idiota e ser negro, me causou esse incômodo, ainda mais sendo um branco escrevendo...vc sentiu isso chico?? talvez por isso não terminei o livro...
não vi essa edição, que parece ser de luxo...mas 80 pilas é dose não?
gastei uma puta grana com livro esse ano...mas meu estoque tá bem guardado pra ler o que eu quero por um bom tempo, pelo menos tem coisas interessatnes pra ler...coisas antigas q eu separei tb, coisas que comprei e já li e outras que comprei há praticamente 20 anos e não li...livros, será que conseguiremos ler todos??
mas por isso que a galera num lê caro...se bem que vc vai num boteco qualquer e se beber 8 cervas, dá mais de 80 conto...se for uma heineken então...acho que aqui no boteco perto da minha rua uma é 8 conto e num tem 10%...beba ou leia...as duas eu não consigo.

Franchico disse...

Sputter, vc se enganou. Forrest Gump é branco mesmo. Quem é negro é um amigo dele que morre no Vietnã, Bubba.

E outra, nunca leve muito a sério esse chamado "preço de capa". Olha só quanto tão cobrando na Saraiva, por exemplo:

http://www.saraiva.com.br/forrest-gump-9386205.html

Leia mais e beba menos. Às vezes.

Rodrigo Sputter disse...

como disse Chico, folheei em 1998...não tava seguro...na 2a linha eu pergunto...depois continuo minhas palavras como se ele fosse...falando em beber...bebia pouco, ultimamente bebo mais...essas cervas legais que tem no mercado...na fonte nova, no bom preço, uma puto malte da brahma..uma larger, long neck, no último jogo do Bahia, tava 2,29 mangos...quase me fudi...quase q ia antes do jerry adriani...no mesmo dia pra dizer a verdade...

vou me resguardar por três meses...economizo $$...livro pacas pra ler aqui e mandando ver em um bocado...lendo muito...

agora curioso isso...de eu achar q ele era negro...e não o amigo q tem no filme...mas como disse li em 98...na época estava mais ligado aos quadrinhos...mas valeu a correção...