Órbita Móbile, foto Luca Balthier |
A Alembaía Tour começa em Paulo Afonso (sábado), segue por Rodelas (dia 17), Abaré (18) e termina em Chorrochó (19).
Viabilizado pelo edital setorial de Música da Fundação Cultural do Estado da Bahia, o giro tem como contrapartida a realização de oficinas de gravação e produção em comunidades indígenas da região: Tuxá (Rodelas), Truká Tupan (Paulo Afonso) e Pankararé (Glória).
Legal, né? Melhor ainda é saber que a banda tem um trabalho consistente. Sonho Robô alia música e HQ em narrativa de ficção científica com um rock vanguardista de muitas facetas.
Formada por Augusto Kuarupp (vocal), Igor Galindo (bateria), Matheus Carvalho (guitarra) e Mateus Fraga (baixo), a OM está lançando o EP Sonho Robô, obra conceitual transmídia, com música e história em quadrinhos.
“Sonho Robô é uma espécie de manifesto utopia, conclamando as pessoas para a necessidade de se desprender do pragmatismo da vida contemporânea e voltar a pensar no futuro. Mas a palavra utopia deriva de duas palavras gregas: utopos e outopos. O termo que nós mais comumente acessamos deriva de outopos, que tem a ver com uma sociedade ideal, onírica, intangível. Entretanto, quando derivada de utopos, utopia quer dizer apenas terra boa. Portanto, muito mais possível de materialização. A terra boa pode existir na nossa casa. E a partir de um senso ético, de não fazer ao outro o que nós não gostaríamos que nos fosse feito. Acreditamos nessa possibilidade”, conta Augusto.
“O disco Sonho Robô, ao longo de suas seis faixas, traz a ideia de discussão crítica sobre a liberdade de sonhar no nosso cotidiano. O nome é inspirado no livro de Isaac Asimov, Sonhos de Robô (1986). Entretanto, diferente de Asimov, nosso álbum não conta a história de robôs que sonhavam, mas de uma humanidade que, tendo perdido a capacidade de sonhar, construiu um algorítmo de Inteligência Artificial, chamado 'Sonho Robô'. Quando injetado no cérebro, ele provocaria as sinapses necessárias para a simulação de sonhos. Graças à tecnologia, ele foi concebido e amadurecido durante dez anos. Ao optarmos por uma narrativa de ficção científica, que nos dá liberdade de projetar esse universo onírico e de fantasia, vimos a possibilidade de distribuir a música da Órbita Móbile com métodos inovadores e complementares. Nenhuma arte existe sem a outra. O universo sci-fi sempre teve no quadrinho um aliado. Optar por uma narrativa transmidiática nos libertou para criar uma rapsódia narrativa inspirada no álbum”, detalha.
Músico experiente da região do Vale do São Francisco, Augusto conta que, aos poucos, Paulo Afonso está (re)construindo sua própria cena.
A cena de Paulo Afonso já foi muito mais profusa da que temos hoje, em termos de movimentação, de diversidade de bandas, no final da década de 1990. Naquela época éramos todos muito jovens e a cena foi desmobilizada por dois motivos. O primeiro, na era pré-internet, era impossível difundir o trabalho a partir de Paulo Afonso. Não existiam as plataformas alternativas massivas de música que temos hoje. E era muito difícil acessar os meios de comunicação da capital. O outro fator é que a cena de 90 revelou muitos bons músicos, que, por isso mesmo, acabaram sendo sugados pela indústria de cultura de massa, indo tocar em bandas de axé, de forró eletrônico, de pagode, o que, a pretexto de oferecer uma carreira profissional, acabou por interditar a maioria desses músicos que eram ativistas da cena alternativa e underground. Ao longo desses anos, a cena musical por aqui ficou flutuante. Depois de sofrerem as agruras da cultura de massa, os músicos retornaram para a cidade e começaram a investir em carreiras alternativas, focadas no próprio trabalho e, dessa vez, de forma profissionalizada. 2017 é, de fato, um novo momento digital. Tanto pela diversificação de plataformas de promoção e divulgação de músicas e carreiras nas redes, como pela possibilidade técnica de produzir os trabalhos de forma alternativa com acesso, gratuito ou não, às tecnologias de arquitetura musicais. Isso que faz com que carreiras como a nossa, ou como a dos Nelsons, possam ser notadas hoje em outras cidades, abrindo possibilidade de circulação não só em circuitos regionais, também nacionais e internacionais", relata.
Foto Fanny Oliveira |
O título Alémbaía é mais que uma turnê para a banda: é também um movimento, uma ideia.
“Optamos por chamar a nossa turnê de AlemBaía, que também é o nome de um movimento e rede cultural encampados pela Órbita Móbile, que já existem a partir de conexões artísticas, acadêmicas e tecnológicas. Esse é também um movimento para evidenciar a produção cultural que existe para além da Baía de Todos os Santos. Há uma tendência natural das pessoas que vivem nas grandes metrópoles de ter o horizonte de observação obnubilado pela extensão do corpo metrópole. Isso é refletido, inclusive, na produção midiática que tende a vivenciar apenas o que se produz na capital. As políticas culturais, nesse contexto, possibilitam a inclusão de um interior quase sempre invisibilizado. O projeto Sonho Robô – Música para Utopias, apoiado pela Funceb, foi possível a partir do momento que nos apropriamos da tecnologia dos editais, disseminada pela própria Secretaria de Cultura do Estado. E as poucas políticas públicas que ainda existem possibilitam mais do que o retorno ao interior, não só ao interior do estado, mas ao interior de cada um de nós, a origem subjetiva da nossa identidade. Nesse sentido, AlemBaia é o desbravamento da terra boa que nós mencionamos na concepção do álbum e da HQ. A utopia de um estado diverso, plural e de um interior visível”, afirma Augusto.
Descendente de nativos, o vocalista vê a realização das oficinas em comunidades indígenas como uma forma de retomar o contato com uma história que é dele – e também de todos nós.
“A minha bisavó contava que a sua bisavó era índia nativa e fora apanhada a dente de cachorro por senhores de terra. Esse termo “apanhado a dente” era usado para designar a apreensão de povos nativos através da caça com cães. Todas essas memórias são hoje apenas memórias. Mas minha tribo são as memórias. Oficialmente, eu não sou reconhecido enquanto indígena. Sou índio desterrado”, diz.
Foto Luca Balthier |
Cumprida a fase da turnê e oficinas, a banda pretende seguir divulgando Sonho Robô pela Bahia e, eventualmente, trazer seu show à capital.
"Devemos tratar de forma mais detida do lançamento e distribuição gratuita do quadrinho. Pretendemos fazê-lo tanto em escolas e bibliotecas públicas do interior, como também na capital. Possivelmente, apostaremos ainda na possibilidade de difusão e lançamento em grandes livrarias e espaços dedicados a quadrinhos, e quem sabe estabelecer uma parceria com alguma editora que se interesse na nossa narrativa-plataforma. Como sempre, estamos desvendando tecnologias para fazer os nossos novos sonhos possíveis. E, é claro, devemos levar nossa turnê a outras praças e, certamente, Salvador estará na rota", conclui.
Alembaía Tour, com banda Órbita Móbile / Sábado, 22 horas: Paulo Afonso (Centro de Cultura Lindinalva Cabral, 16 horas, grátis) / Segunda- feira (17), 19 horas: Rodelas (Local: Praça Almeida Justinano Soares, grátis / Terça-feira (18), 19 horas: Abaré (Praça de Eventos), grátis / Quarta-feira (19), 19 horas: Chorrochó (Praça da Matriz), grátis / www.orbitamobile.rocks
NUETAS
Lo Han, PacMen, Madame
Quinta-feira tem Lo Han, Madame Rivera e The PacMen no Groove Bar. O esquema é “open bar”, daí o preço um pouco mais salgado: R$ 49,90. Às 22h30.
Laia Gaiata e o homem-alvo
O power trio avant garde Laia Gaiatta volta com o show Vaia ao Oliveira´s Bar (Santo Antônio Além do Carmo) no sábado. O performer Rafael Rebouças faz intervenção como o homem-alvo das fotos da banda. 20 horas, R$ 10 ou R$ 20 (com EP da Laia Gaiatta).
Domingão do Ronei Jorge
Domingo, Ronei Jorge faz seu segundo show de uma temporada de quatro datas no Teatro Gamboa Nova. Repertório é de inéditas que estarão em seu primeiro álbum solo. 17 horas, R$ 20 e R$ 10.
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