sexta-feira, fevereiro 19, 2016

A VOZ DE VELUDO ENCONTRA SUTILEZA PERDIDA DA BAHIA

Lazzo faz dois dias de show no Café-Teatro Rubi homenageando o saudoso compositor e cantor Ederaldo Gentil, entre outros grandes poetas populares

Lazzo Matumbi, a voz da Bahia. Foto Filipe Cartaxo
Eis um encontro que mais parece forjado nos céus: Lazzo, a mais bela voz da Bahia, encontra uma das mais importantes obras do samba: as canções de Ederaldo Gentil.

Intitulado Voltando às Origens, o show é hoje e amanhã, no Café-Teatro Rubi.

Amigo do sambista morto em 2012, Lazzo conta que o show é parte de um projeto que vem desenvolvendo desde o ano passado: “Como diz o título, no show eu lembro de figuras marcantes pra mim como Ederaldo e (seu parceiro) Walmir Lima”, conta.

“Mas,  de certo modo, Ederaldo foi o mais marcante, por que ouvi várias músicas dele que marcaram minha vida, então o homenageado mesmo é ele. Mas (o show) também tem músicas dele com Nelson Rufino, por exemplo. É uma forma de homenagear poetas e compositores de nossa terra. E Ederaldo foi  um dos nossos maiores poetas”, detalha Lazzo.

No repertório, o cantor dá sua versão para clássicos do samba baiano, como A Saudade Me Mata, O Ouro e a Madeira, Rose e Canto Livre de um Povo, além de receber o convidado Tote Gira, autor do hit O Canto da Cidade.

Tapete vermelho

Lazzo conta que, até os vinte anos, ainda não conhecia Ederaldo. Até o dia em que este foi recebido com pompa em um histórico espaço do samba no bairro em que cresceu, o Garcia.

“Eu era garotão, aos 19, 20 anos e  ele ia chegando no lugar em que a juventude ensaiava, a Legião Hebert de Castro, que era o reduto do samba”, conta.

“Eu ficava impressionado em encontrar aquelas figuras lendárias. Aí quando ele chegou na quadra, estiraram um tapete vermelho pra ele. Isso me chamou atenção, ‘pô, quem é esse cara’? Aí me contaram que era um grande compositor que morou no Rio e estava voltando. Na época, ele estava lançando O Ouro e a Madeira, que estourou no Brasil”, lembra.

Anos depois, já célebre, Lazzo teve a felicidade de ser abordado pelo ídolo: “Dali em diante, minha admiração e carinho só cresceu. Até que nos cruzamos, e ele, já curtindo meu trabalho, me ofereceu Luandê, dele e de Capinam, para gravar”.

“Lembro que ele me disse que queria montar uma escola de samba, tipo uma ONG, onde pudesse ensinar  aos novos compositores, uma coisa profunda, de muito respeito pelas origens dele no candomblé, de dar continuidade ao que os terreiros faziam, que era abraçar os seus, fortalecendo aquilo que você aprende na vida. Aquele lance dos anos 70, ‘vou aprender a ler para ensinar meus camaradas’, sabe? Eu o admirava muito”, relata.

Curiosamente, Lazzo ainda não sabia do projeto, contemplado pela Natura Musical, do músico Luisão Pereira, sobrinho de Ederaldo, que prevê o resgate da obra do sambista em uma caixa e um show com vários artistas no Teatro Castro Alves.

“Se for convidado, vou ficar super feliz. Inclusive, já participei de um disco produzido por Edil Pacheco em homenagem ao Ederaldo, Pérolas Finas. Nele, canto uma música que fiz questão de pedir ao Edil, Rose. Por que eu lembro de mim mesmo jovem, namorando uma menina chamada Rose e essa música me marcou, 'o que houve com Rose' (cantarola). Eu canto no show com o maior prazer, apesar de que, quando você mergulha na letra, ela é bastante triste e dolorida. Ederaldo fez para uma irmã dele que não estava bem de saúde. Sei que de tanto falar disso para os amigos, o pessoal que trabalha comigo começou a sugerir esse show homenageando Ederaldo. No carnaval é aquela coisa, a euforia, ninguém se liga na poesia. Mas no teatro as pessoas ouvem a poesia de forma mais profunda. Então está sendo muito gratificante”, conclui.

Lazzo Matumbi: Voltando às Origens / Hoje e amanhã,  20h30 / Café- Teatro Rubi (Sheraton da Bahia Hotel, Tel:  3013-1011) / R$ 60

2 comentários:

Paulo Sales disse...

Pérolas Finas é um disco lindo, Poetinha. Gravações antológicas das canções de Ederaldo Gentil, incluindo a Rose de Lazzo. Elza cantando A Saudade me mata é de cortar o coração. Se você não conhece vale a pena conferir.
Abração.

Franchico disse...

Vou procurar sim, Paulinho!

Saudades, garouto!

Abraço!