Ocupar este nobre espaço* para louvar as qualidades literárias de Carlos Drummond de Andrade (1902-87) é uma tolice, é chover em terreno já perigosamente molhado, perigando ceder encosta abaixo.
Farei um favor aos prezados leitores e os pouparei da devida apreciação técnica / literária que o gênio de Itabira merece (até por que o repórter não tem o mestrado em letras que tal tarefa exige).
A formação deficiente, contudo, não o impede de perceber que, mais do que escrever (muito) bonito, Drummond esbanjava em seus textos uma sabedoria e uma generosidade que parecem quase alienígenas no Brasil hoje.
Pegue qualquer texto d’O Poder Ultrajovem, um dos muitos títulos do autor que vem sendo relançados pela Companhia das Letras.
Qualquer um, pode até ser um de apenas duas páginas.
É espantoso, mas mesmo estes tem mais sabedoria contida em apenas duas páginas do que em uma coleção inteira de livros de autoajuda, desses que lotam listas de mais vendidos.
A maior aspiração
Por que Drummond, além do olímpico poder de síntese, da imaginação fértil, da multiplicidade de vozes, da elegância absoluta e do sherlockiano poder de observação, tinha isso: através de suas crônicas – sempre leves e divertidas – ele guardava lições de vida que, neste momento complicado por que passa nosso país, parecem mais atuais e necessárias do que nunca.
É preciso ter a paciência do pai da menininha fascista por lasanha em O Poder Ultrajovem (a crônica).
É preciso disseminar a atrevida humildade perante a religião de JC, Eu Estou Aqui.
É preciso adquirir a autoconsciência apurada de Hoje Não Escrevo.
É preciso cultivar o amor pelos livros e pelo conhecimento de O Sebo.
É preciso encontrar, em nós mesmos, a delicadeza de Boato de Primavera.
É preciso buscar a saudável cuca fresca de Versos Negros (Mas Nem Tanto).
Conclusão: ser aprendiz de Drummond é a maior aspiração que podemos ter hoje.
O poder ultrajovem / Carlos Drummond de Andrade / Companhia das Letras / 240 p. / R$ 41,90 / E-Book: R$ 28,90
*Por "nobre espaço", entenda-se a resenha literária do Caderno 2+, no qual trabalho.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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2 comentários:
Que história foi essa, Sputter?
Eu nunca peguei mototaxista por que não confio neles, agora vc só confirmou meu feeling.
rapaz...tudo pq eu estava na bike, na ciclofaixa, ele estava no caminho, o sinal verde pra mim, ele parado com a bike de lado na ciclofaixa e fui falar pra ele, de boa, que ele estava no local errado, que ali era pra bicicletas e a história começa por aí...num quero contar mais pq cansei de contar, mas ele otário caiu no chão ao tentar me chutar...eu num pisei na cabeça dele pq num queria confusão...mas me quebrei no fone de ouvido...enfim...xá lá...a história é surreal mesmo...
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