Em Salon, mestres da arte moderna vivem uma agitada aventura
Uma estranha bebida azul com poderes alucinógenos é o ponto de partida para uma louca aventura envolvendo alguns dos principais nomes da arte moderna. Isto é Salon, romance gráfico do premiado cartunista americano Nick Bertozzi, recheado de ação, comédia, e claro, arte, que acaba de chegar as livrarias.
A história se passa em 1907, ano considerado marco zero do Cubismo, movimento artístico liderado por Pablo Picasso e Georges Braque – não por acaso, dois dos personagens principais da HQ, que ainda conta com outras estrelas famosas, como a escritora americana Gertrude Stein, o compositor Erik Satie e o poeta Guillaume Apollinaire, entre outros.
Na efervescente Paris de 102 anos atrás, uma série de assassinatos de pintores modernistas cometidos por uma criatura de azul intriga o grupo dos artistas citados, que temem ser as próximas vítimas.
Investigações anteriores de Leo Stein, irmão de Gertrude, apontavam como suspeita Annah, uma mulher javanesa, amante do pintor Paul Gauguin.
Costa que ela e Gauguin teriam se viciado em um estranho absinto azul, antes da morte do último em 1903. Enlouquecida após a perda do amante, ela teria se tornado uma criatura do absinto, passando a assassinar artistas pelas ruas de Paris.
A obra por dentro – Nick Bertozzi conduz sua história de arte, assassinatos e alucinação como um diretor de filme de ação de Hollywood, no melhor sentido da definição.
Em entrevista ao site Newsarama, Bertozzi conta que a inspiração inicial de Salon surgiu em 2002. “Eu tinha ideias para duas histórias. Uma era sobre Cubismo, assunto que estava sempre de ressaca nas aulas de de História da Arte para entender. E a outra era sobre um absinto mágico que permitiria a quem o bebesse, penetrar em qualquer pintura com a qual quisesse interagir. As duas ideias se juntaram como chocolate e manteiga de amendoim“.
De ritmo ágil, com muito humor e recheada de personagens (reais) interessantíssimos, Salon corre o risco de ser um dos melhores lançamentos do ano na área de quadrinhos.
Publicada nos Estados Unidos em 2007, a obra tirou Bertozzi do semi-anonimato direto para as páginas de veículos de renome, como o jornal New York Times e as revistas Playboy, Wired e Time Out New York, sempre saudada com entusiasmo pelos críticos.
Não é para menos, dada a extravagância das idéias do autor e a forma bem resolvida como ele lida com elas ao longo da narrativa. O ponto alto de sua saudável loucura, certamente, é o tal absinto azul.
Destilado a partir do extrato de uma raiz encontrada apenas no cume de uma montanha no interior da Hungria, a tal bebida confere a quem a ingere “o poder de entrar em qualquer quadro que quiser“, como explica Leo Stein. Incrédulo, Georges Braque, recém-chegado a Paris, reage de maneira cômica: “Testículos de porco! Não acredito em uma só palavra!“.
Convencido pelo grupo dos irmãos Stein e Apollinaire (um mulherengo incorrigível), Braque ingere o líquido azul e passa a se concentrar na tela Os Jogadores de Futebol, de Henry Rosseau. O cubista é em seguida atirado dentro da tela, recebendo uma bolada dos engraçados esportistas de roupas listradas.
A relação entre os assassinatos, a bebida azul e as viagens ao interior das telas vai se desenvolvendo em meio a própria história do nascimento do Cubismo.
E sua estrela principal, claro, é Pablo Picasso.
Picasso de fora – O genial espanhol é retratado como um baixinho invocado que fala mal francês e inglês, volta e meia pula no pescoço de alguém com intenções de socar narizes e quase sempre anda pelado.
Ele e Braque imediatamente se identificam ao se conhecer. Esta cena aliás, é outro trecho antológico da HQ. Sempre nervosinho (e nu), Picasso intima Braque a desenha-lo naquele momento.
”Se o desenho for una mierda, eu luto con usted. Usted cai no chão e diz: ‘Ah, mamã, sou hombre grande, mas homenzito me derrubou”.
Para sorte de Braque, o desenho agradou o tampinha invocado, que proclama: ”Con este desenho, usted es irmão”.
Outro personagem histórico que ganha tons cômicos em Salon é o compositor vanguardista Erik Satie. Quando aparece pela primeira vez, ele é visto se atirando ao chão, do alto de uma escada, diante de seus alunos.
Ao se levantar, pergunta: ”Bem, o que foi isso?”. “Um dó maior perfeito, maestro!“, responde um dos pupilos. Salon surpreende a cada página.
Salon
Nick Bertozzi
Desiderata
188 páginas | R$ 39,90
www.editoradesiderata.com.br
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
terça-feira, março 31, 2009
sexta-feira, março 27, 2009
UMA NIGHT PARA OS FORTES DE CORAÇÃO (E TÍMPANOS TAMBÉM)
Segunda festa Rock Sujo traz estreia da Bestiário, além de Paulinho Oliveira, Mortícia e ET 26
A night de hoje na Boomerangue é para os fortes. Quatro bandas que fazem som essencialmente pesado se apresentam hoje na segunda edição da festa Rock Sujo: Mortícia, ET 26, Paulinho Oliveira (foto) e Bestiário.
A expectativa é para a estreia desta última, novo projeto dos ex-Úteros em Fúria Mauro Pithon (vocais) e Apú (guitarra).
Após o fim da Sangria, banda em que tocaram entre os anos de 2004 e 2007, os dois músicos resolveram continuar juntos, recrutando para completar o grupo alguns ótimos músicos da cena rock local: o Retrofoguete CH no baixo, o Mizeravão Wally Beerman na guitarra e o baterista Emanuel Venâncio (outro ex-Sangria).
A proposta não difere muito da ex-banda da dupla: rock pesado com letras em português, influenciado por Slayer, Metallica, Motorhead, Foo Fighters e Queens of The Stone Age. Nas letras, toda a verve anti-humorística de Mauro, que esbanja ódio e desencanto com a humanidade. Promete.
Já a Morticia pode ser considerada praticamente uma banda irmã (mais velha, já que existe há mais tempo). Perguntado qual o estilo do som, o vocalista Leonardo “Lionman“ Leão candidamente reponde: “MPB“. Hein? “Música Pesada e Barulhenta“. Ah, OK.
Paulinho Oliveira, único artista-solo da noite, é um dos mais exímios guitarristas de classic rock que já se viu por esta terra e apresentará o repertório do seu CD Um Bom Motivo, além de novas composições.
A ET 26 faz noise-punk com influências de Pixies e Dead Kennedys, passando até por algum regionalismo. Loucura perde.
Rock Sujo
Shows com Bestiário, ET26, Mortícia e Paulinho Oliveira
Hoje, 22 horas | Boomerangue (3334-5577)
R$10 até 23:30 | R$15 depois
A night de hoje na Boomerangue é para os fortes. Quatro bandas que fazem som essencialmente pesado se apresentam hoje na segunda edição da festa Rock Sujo: Mortícia, ET 26, Paulinho Oliveira (foto) e Bestiário.
A expectativa é para a estreia desta última, novo projeto dos ex-Úteros em Fúria Mauro Pithon (vocais) e Apú (guitarra).
Após o fim da Sangria, banda em que tocaram entre os anos de 2004 e 2007, os dois músicos resolveram continuar juntos, recrutando para completar o grupo alguns ótimos músicos da cena rock local: o Retrofoguete CH no baixo, o Mizeravão Wally Beerman na guitarra e o baterista Emanuel Venâncio (outro ex-Sangria).
A proposta não difere muito da ex-banda da dupla: rock pesado com letras em português, influenciado por Slayer, Metallica, Motorhead, Foo Fighters e Queens of The Stone Age. Nas letras, toda a verve anti-humorística de Mauro, que esbanja ódio e desencanto com a humanidade. Promete.
Já a Morticia pode ser considerada praticamente uma banda irmã (mais velha, já que existe há mais tempo). Perguntado qual o estilo do som, o vocalista Leonardo “Lionman“ Leão candidamente reponde: “MPB“. Hein? “Música Pesada e Barulhenta“. Ah, OK.
Paulinho Oliveira, único artista-solo da noite, é um dos mais exímios guitarristas de classic rock que já se viu por esta terra e apresentará o repertório do seu CD Um Bom Motivo, além de novas composições.
A ET 26 faz noise-punk com influências de Pixies e Dead Kennedys, passando até por algum regionalismo. Loucura perde.
Rock Sujo
Shows com Bestiário, ET26, Mortícia e Paulinho Oliveira
Hoje, 22 horas | Boomerangue (3334-5577)
R$10 até 23:30 | R$15 depois
GUERRA & MEMÓRIA
Chega as livrarias versão em quadrinhos de Valsa Com Bashir, premiado documentário em animação sobre a guerra no Líbano
Desde os anos 80, o tema da guerra tem rendido excelente obras de romance gráfico, como Maus, de Art Spiegelman (premiada com o Pulitzer) e Persépolis, de Marjane Satrapi, só para ficar nos exemplos mais notórios. Agora, com o lançamento de Valsa Com Bashir, esta lista acaba de ganhar mais um item de valor.
O que realmente difere Bashir de seus predecessores é que a HQ veio a reboque de uma película previamente lançada (ganhadora de diversos prêmios, entre ela o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro), enquanto Persépolis só virou filme de sucesso anos após sua aclamação como HQ. O caso de Maus é ainda mais diverso, já que seu criador é publicamente contra a adaptação de sua obra para as telas de cinema.
Já a forma como o roteirista (e diretor do filme) Ari Folman costura sua narrativa se aproxima de Maus e Persépolis no sentido de que todos eles partem do tema da memória para reconstruir, de forma cronológica, os acontecimentos de um período traumático de guerra e privação.
Folman utiliza sua obra como uma terapia para reconstruir, na sua cabeça, aqueles dias tenebrosos da invasão israelense a Beirute (capital do Líbano) em 1982, quando a milícia cristã Falangistas, apoiada por Israel, massacrou cerca de 3,5 mil refugiados palestinos nos campos de Sabra e Shatila – com a desculpa de que iam purgá-los dos terroristas.
Folman, então um recruta do exército, não participou ativamente do massacre.
O papel do exército israelense – comandado pelo então ministro da defesa Ariel
Sharon – no caso, foi o de cruzar os braços e abrir caminho para a milícia fazer o que fez.
O trauma ao testemunhar o resultado da ação dos Falangistas foi tal na cabeça de Folman, que ele simplesmente apagou tudo da sua memória.
Somente décadas depois, conversando em um bar com um amigo dos tempos do exército, Folman se dá conta desta lacuna em sua memória. Ao sair do bar, ele é atingido por uma cena específica da época: ele, mais dois companheiros, saem nus de uma praia em Beirute, enquanto sinalizadores cruzam o céu em meio a hotéis de luxo semi-destruídos pelo conflito.
A partir deste momento-chave em sua vida – e na obra em si –, ele começa a procurar outros parceiros de combate para reconstruir os dias que vieram antes e depois daquilo, além de conversar com um psicólogo e uma especialista em estresse pós-traumático.
O que se vê daí em diante é uma sucessão de depoimentos fortíssimos, entremeados de sonhos e alucinações, que denunciam, como nas melhores obras do gênero, toda a estupidez e falta de sentido que há em qualquer forma de conflito bélico.
Maquiagem pop – Se em Persépolis a narradora era uma jovem intelectual que via o conflito Irã-Iraque enquanto vítima, e, em Maus, o relato da guerra serviu para aproximar pai e filho, em Bashir, a narração parte de alguém diretamente envolvido no combate.
Pior: o relato aqui surge embotado pela óbvia culpa que, silenciosamente, corroeu um homem durante décadas, até que um gatilho – no caso, uma conversa de bar – disparou uma memória enterrada no subconsciente desta pessoa.
Não a toa, muitos críticos apontaram a obra de Folman como uma forma de descarrego da sua consciência – certamente pesada, depois de testemunhar, de braços cruzados, o massacre de milhares de mulheres, velhos e crianças que habitavam os campos de refugiados em Sabra e Shatila, já que os homens estavam no campo de batalha.
Marcada por um clima intimista de conversas face a face em que memórias e confissões surgem a todo momento, Valsa Com Bashir tem momentos fortíssimos, como, por exemplo, o relato do seu amigo Carmi.
Após beberem a noite toda em um barco, ele e seus companheiros desembarcaram em uma praia qualquer do Líbano. No lusco-fusco da aurora, atiravam a esmo em qualquer coisa que se mexesse diante deles. Quando o sol surgiu, o resultado a sua frente foi um carro civil – furado como uma peneira – com um família inteira massacrada dentro.
Mas o pior mesmo ficou para o final: com sua memória restaurada, Folman – e o desenhista e diretor de arte do filme, David Polonsky – substituem os desenhos por imagens reais aterradoras do massacre nos campos de refugiados.
Um golpe final na sofisticada maquiagem pop que emprestava uma moldura artística a história até ali.
O filme, premiado e aplaudidíssimo em festivais, tem estreia no Brasil marcada para 3 de abril. A versão em HQ, idêntica ao filme, já se encontra a disposição nas livrarias.
Valsa com Bashir
Ari Folman e David Polonsky
L&PM Editores
120 p. | R$ 46
www.lpm.com.br
Desde os anos 80, o tema da guerra tem rendido excelente obras de romance gráfico, como Maus, de Art Spiegelman (premiada com o Pulitzer) e Persépolis, de Marjane Satrapi, só para ficar nos exemplos mais notórios. Agora, com o lançamento de Valsa Com Bashir, esta lista acaba de ganhar mais um item de valor.
O que realmente difere Bashir de seus predecessores é que a HQ veio a reboque de uma película previamente lançada (ganhadora de diversos prêmios, entre ela o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro), enquanto Persépolis só virou filme de sucesso anos após sua aclamação como HQ. O caso de Maus é ainda mais diverso, já que seu criador é publicamente contra a adaptação de sua obra para as telas de cinema.
Já a forma como o roteirista (e diretor do filme) Ari Folman costura sua narrativa se aproxima de Maus e Persépolis no sentido de que todos eles partem do tema da memória para reconstruir, de forma cronológica, os acontecimentos de um período traumático de guerra e privação.
Folman utiliza sua obra como uma terapia para reconstruir, na sua cabeça, aqueles dias tenebrosos da invasão israelense a Beirute (capital do Líbano) em 1982, quando a milícia cristã Falangistas, apoiada por Israel, massacrou cerca de 3,5 mil refugiados palestinos nos campos de Sabra e Shatila – com a desculpa de que iam purgá-los dos terroristas.
Folman, então um recruta do exército, não participou ativamente do massacre.
O papel do exército israelense – comandado pelo então ministro da defesa Ariel
Sharon – no caso, foi o de cruzar os braços e abrir caminho para a milícia fazer o que fez.
O trauma ao testemunhar o resultado da ação dos Falangistas foi tal na cabeça de Folman, que ele simplesmente apagou tudo da sua memória.
Somente décadas depois, conversando em um bar com um amigo dos tempos do exército, Folman se dá conta desta lacuna em sua memória. Ao sair do bar, ele é atingido por uma cena específica da época: ele, mais dois companheiros, saem nus de uma praia em Beirute, enquanto sinalizadores cruzam o céu em meio a hotéis de luxo semi-destruídos pelo conflito.
A partir deste momento-chave em sua vida – e na obra em si –, ele começa a procurar outros parceiros de combate para reconstruir os dias que vieram antes e depois daquilo, além de conversar com um psicólogo e uma especialista em estresse pós-traumático.
O que se vê daí em diante é uma sucessão de depoimentos fortíssimos, entremeados de sonhos e alucinações, que denunciam, como nas melhores obras do gênero, toda a estupidez e falta de sentido que há em qualquer forma de conflito bélico.
Maquiagem pop – Se em Persépolis a narradora era uma jovem intelectual que via o conflito Irã-Iraque enquanto vítima, e, em Maus, o relato da guerra serviu para aproximar pai e filho, em Bashir, a narração parte de alguém diretamente envolvido no combate.
Pior: o relato aqui surge embotado pela óbvia culpa que, silenciosamente, corroeu um homem durante décadas, até que um gatilho – no caso, uma conversa de bar – disparou uma memória enterrada no subconsciente desta pessoa.
Não a toa, muitos críticos apontaram a obra de Folman como uma forma de descarrego da sua consciência – certamente pesada, depois de testemunhar, de braços cruzados, o massacre de milhares de mulheres, velhos e crianças que habitavam os campos de refugiados em Sabra e Shatila, já que os homens estavam no campo de batalha.
Marcada por um clima intimista de conversas face a face em que memórias e confissões surgem a todo momento, Valsa Com Bashir tem momentos fortíssimos, como, por exemplo, o relato do seu amigo Carmi.
Após beberem a noite toda em um barco, ele e seus companheiros desembarcaram em uma praia qualquer do Líbano. No lusco-fusco da aurora, atiravam a esmo em qualquer coisa que se mexesse diante deles. Quando o sol surgiu, o resultado a sua frente foi um carro civil – furado como uma peneira – com um família inteira massacrada dentro.
Mas o pior mesmo ficou para o final: com sua memória restaurada, Folman – e o desenhista e diretor de arte do filme, David Polonsky – substituem os desenhos por imagens reais aterradoras do massacre nos campos de refugiados.
Um golpe final na sofisticada maquiagem pop que emprestava uma moldura artística a história até ali.
O filme, premiado e aplaudidíssimo em festivais, tem estreia no Brasil marcada para 3 de abril. A versão em HQ, idêntica ao filme, já se encontra a disposição nas livrarias.
Valsa com Bashir
Ari Folman e David Polonsky
L&PM Editores
120 p. | R$ 46
www.lpm.com.br
quinta-feira, março 26, 2009
ROCK-SAMBA-FUNK - MAS NÃO APENAS ISSO
Muito suíngue, ritmos variados e poesia. Isso é o que promete o show do músico Libório e sua banda Combustão Espontânea, hoje, na casa de shows Boomerangue.
Geólogo de formação e músico por opção, Libório milita no underground local desde o início da década de 90, quando tocou na bandas Dê Cream Cracker, Pã e Palhaços do Universo. Após alguns anos fora da cidade, quando chegou a morar na Itália e também no estado do Tocantins, ele voltou disposto a retomar a atividade no cenário musical local.
O show de hoje marca exatamente este reinício, com o lançamento do seu primeiro álbum-solo, intitulado Sozinho, Arrudiado de Gente. A noite ainda contará com show de abertura da banda Irmão Carlos & O Catado.
“Meu som é samba-funk-rock“, define Libório. “Não exatamente nessa ordem e não exatamente apenas isso“, acrescenta.
Nascido em Petrolina (PE), ele adiciona as suas influências urbanas toques de brasilidade. Ou seja: o homem é chegado numa mistureba. “Como sou de Petrolina, tenho sim, influência de música regional e também a coisa da percussão, típica de Salvador“, diz.
“Esse CD que eu estou lançando agora eu venho trabalhando há cerca de três anos. Com a rotatividade de músicos na banda, eu percebi que era impossível não ter esse tipo de influência. Então, tudo isso agrega valor. No meu som tem rock, tem samba? Tem, mas não apenas isso“, explica.
“O que eu não quero é ficar preso a rótulos. Samba, funk, rock, essas coisas são as bases. A isso podem ser acrescentados outros elementos“, acrescenta.
Para Libório, a popularização das tecnologias de informação possibilitam que hoje ninguém fique mais a espera de ser descoberto pelo “produtor encantado“.
“Eu gravei o CD, fiz clipe, foto, site, tudo. Os meios estão aí e as pessoas ficam esperando. Temos que levantar o traseiro gordo da cadeira, como dizem Fucker & Sucker (Casseta & Planeta), e buscar nossos espaços“, conclui.
Libório e a Combustão Espontânea
Show de lançamento do CD Sozinho, Arrudiado de Gente
Abertura: Irmão Carlos & O Catado
Hoje, 22 horas | Boomerangue (3334-5577) | Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho
R$ 10 | Classificação: 18 anos
PARA OUVIR LIBÓRIO: www.myspace.com/somdoliborio
Geólogo de formação e músico por opção, Libório milita no underground local desde o início da década de 90, quando tocou na bandas Dê Cream Cracker, Pã e Palhaços do Universo. Após alguns anos fora da cidade, quando chegou a morar na Itália e também no estado do Tocantins, ele voltou disposto a retomar a atividade no cenário musical local.
O show de hoje marca exatamente este reinício, com o lançamento do seu primeiro álbum-solo, intitulado Sozinho, Arrudiado de Gente. A noite ainda contará com show de abertura da banda Irmão Carlos & O Catado.
“Meu som é samba-funk-rock“, define Libório. “Não exatamente nessa ordem e não exatamente apenas isso“, acrescenta.
Nascido em Petrolina (PE), ele adiciona as suas influências urbanas toques de brasilidade. Ou seja: o homem é chegado numa mistureba. “Como sou de Petrolina, tenho sim, influência de música regional e também a coisa da percussão, típica de Salvador“, diz.
“Esse CD que eu estou lançando agora eu venho trabalhando há cerca de três anos. Com a rotatividade de músicos na banda, eu percebi que era impossível não ter esse tipo de influência. Então, tudo isso agrega valor. No meu som tem rock, tem samba? Tem, mas não apenas isso“, explica.
“O que eu não quero é ficar preso a rótulos. Samba, funk, rock, essas coisas são as bases. A isso podem ser acrescentados outros elementos“, acrescenta.
Para Libório, a popularização das tecnologias de informação possibilitam que hoje ninguém fique mais a espera de ser descoberto pelo “produtor encantado“.
“Eu gravei o CD, fiz clipe, foto, site, tudo. Os meios estão aí e as pessoas ficam esperando. Temos que levantar o traseiro gordo da cadeira, como dizem Fucker & Sucker (Casseta & Planeta), e buscar nossos espaços“, conclui.
Libório e a Combustão Espontânea
Show de lançamento do CD Sozinho, Arrudiado de Gente
Abertura: Irmão Carlos & O Catado
Hoje, 22 horas | Boomerangue (3334-5577) | Rua da Paciência, 307, Rio Vermelho
R$ 10 | Classificação: 18 anos
PARA OUVIR LIBÓRIO: www.myspace.com/somdoliborio
segunda-feira, março 23, 2009
MAIORIDADE NO HARDCORE
Com 18 anos de estrada, banda Dead Fish ajuda a consolidar mercado de porte médio na cena musical brasileira
Os capixabas da banda de hardcore Dead Fish podem até não incorrer no pecado da soberba, mas ao olhar para trás, deve ser impossível não sentir uma ponta de orgulho. Com 18 anos de estrada, a rapaziada chega ao seu sexto disco com uma carreira consolidada e público fiel de norte a sul do País.
Contra Todos, a bolachinha em questão, é a primeira após a saída do guitarrista Hóspede, reduzindo o então quinteto a quatro membros: Rodrigo (vocais), Nô (bateria), Alyand (baixo) e Philipe (guitarra).
O desfalque, contudo, não penalizou a garra da banda, que ganhou mais velocidade e objetividade depois de um CD, Um Homem Só (2006), onde foram experimentados climas mais épicos e subjetivos.
“Pra mim (este CD novo) foi o mais espontâneo e fácil de fazer“, avalia Rodrigo. “Por que simplesmente deixamos rolar. Nosso baterista tem estúdio próprio, o Hell No, aí fomos produzindo com um MacIntosh. Foi um aprendizado brutal e gostamos muito do resultado“.
Afinação baixa – Cru, direto e sem firulas, como todo bom álbum de punk hardcore deve ser, Contra Todos é aquilo que a crítica especializada, na falta de termo mais apropriado (ou mesmo de imaginação), costuma definir como “retorno às raízes“.
“Por isso as pessoas dizem que é parecido com o nosso segundo CD, que fizemos em Vitória. Por que foi feito em várias sessions, jams, horas conversando e dando risada“, revela Rodrigo.
Nem por isso, porém, o álbum soa como mais do mesmo. Talvez também por causa da espontaneidade com que foi confeccionado, o álbum traz temperos diversos ao HC tradicional do grupo, como stoner rock (na faixa Descartáveis) e até heavy metal (em Autonomia).
“Agora como quarteto, ganhamos um pouco de velocidade e também mais peso. Daí a afinação mais baixa e por isso a associação com o stoner e o heavy metal tradicional. Com uma guitarra a menos o som ficou mais grave“, observa o vocalista.
Porte médio – Residente em São Paulo desde 2004, quando assinou contrato com a Deckdisc, a rapaziada da Dead Fish sabe que, nesses últimos anos, cumpriu uma missão quase impossível: manter-se economicamente viável – longe de casa – sendo uma banda de hardcore atuando em um incipiente mercado de porte médio.
Um feito no mínimo notável em um cenário perverso como o brasileiro.
“Estamos indo pro nosso 5º ano aqui em São Paulo. Temos as limitações do estilo, claro, mas como aqui tem uma boa infraestrutura de shows de médio e pequeno porte, isso facilitou muito. Então, a gente consegue viver da parada“, conta Rodrigo.
O esforço do grupo ganha ainda mais valor quando se percebe que, diferente da maioria dos grupos de hardcore de sucesso, a Dead Fish não apela para aquelas letrinhas românticas baratas que ficariam ótimas em canções de duplas sertanejas.
“Cara, isso é complicado e até meio inexplicável. Por sermos muito velhos em relação a essa galera mais jovem (nossa média de idade é de 34 anos), houve uma renovação grande na cena. Nunca fomos uma banda grande estourada, mas sempre tivemos um núcleo duro na nossa audiência. Então quando a gente vai aí em Salvador, dá 600 pessoas, o que é sensacional“, diz.
“Ficamos no meio do caminho. Somos uma banda de porte médio num país onde ou você é mainstream ou não é nada. Agora com a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), acho que vamos conseguir estabelecer esse mercado médio. Ainda sou otimista de que as bandas da próxima década possam colher os frutos do que as bandas como nós, da década de 90, plantaram“, conclui.
Contra Todos
Dead Fish
Deck Disc
R$ 24,90
www.deadfish.com.br
Os capixabas da banda de hardcore Dead Fish podem até não incorrer no pecado da soberba, mas ao olhar para trás, deve ser impossível não sentir uma ponta de orgulho. Com 18 anos de estrada, a rapaziada chega ao seu sexto disco com uma carreira consolidada e público fiel de norte a sul do País.
Contra Todos, a bolachinha em questão, é a primeira após a saída do guitarrista Hóspede, reduzindo o então quinteto a quatro membros: Rodrigo (vocais), Nô (bateria), Alyand (baixo) e Philipe (guitarra).
O desfalque, contudo, não penalizou a garra da banda, que ganhou mais velocidade e objetividade depois de um CD, Um Homem Só (2006), onde foram experimentados climas mais épicos e subjetivos.
“Pra mim (este CD novo) foi o mais espontâneo e fácil de fazer“, avalia Rodrigo. “Por que simplesmente deixamos rolar. Nosso baterista tem estúdio próprio, o Hell No, aí fomos produzindo com um MacIntosh. Foi um aprendizado brutal e gostamos muito do resultado“.
Afinação baixa – Cru, direto e sem firulas, como todo bom álbum de punk hardcore deve ser, Contra Todos é aquilo que a crítica especializada, na falta de termo mais apropriado (ou mesmo de imaginação), costuma definir como “retorno às raízes“.
“Por isso as pessoas dizem que é parecido com o nosso segundo CD, que fizemos em Vitória. Por que foi feito em várias sessions, jams, horas conversando e dando risada“, revela Rodrigo.
Nem por isso, porém, o álbum soa como mais do mesmo. Talvez também por causa da espontaneidade com que foi confeccionado, o álbum traz temperos diversos ao HC tradicional do grupo, como stoner rock (na faixa Descartáveis) e até heavy metal (em Autonomia).
“Agora como quarteto, ganhamos um pouco de velocidade e também mais peso. Daí a afinação mais baixa e por isso a associação com o stoner e o heavy metal tradicional. Com uma guitarra a menos o som ficou mais grave“, observa o vocalista.
Porte médio – Residente em São Paulo desde 2004, quando assinou contrato com a Deckdisc, a rapaziada da Dead Fish sabe que, nesses últimos anos, cumpriu uma missão quase impossível: manter-se economicamente viável – longe de casa – sendo uma banda de hardcore atuando em um incipiente mercado de porte médio.
Um feito no mínimo notável em um cenário perverso como o brasileiro.
“Estamos indo pro nosso 5º ano aqui em São Paulo. Temos as limitações do estilo, claro, mas como aqui tem uma boa infraestrutura de shows de médio e pequeno porte, isso facilitou muito. Então, a gente consegue viver da parada“, conta Rodrigo.
O esforço do grupo ganha ainda mais valor quando se percebe que, diferente da maioria dos grupos de hardcore de sucesso, a Dead Fish não apela para aquelas letrinhas românticas baratas que ficariam ótimas em canções de duplas sertanejas.
“Cara, isso é complicado e até meio inexplicável. Por sermos muito velhos em relação a essa galera mais jovem (nossa média de idade é de 34 anos), houve uma renovação grande na cena. Nunca fomos uma banda grande estourada, mas sempre tivemos um núcleo duro na nossa audiência. Então quando a gente vai aí em Salvador, dá 600 pessoas, o que é sensacional“, diz.
“Ficamos no meio do caminho. Somos uma banda de porte médio num país onde ou você é mainstream ou não é nada. Agora com a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), acho que vamos conseguir estabelecer esse mercado médio. Ainda sou otimista de que as bandas da próxima década possam colher os frutos do que as bandas como nós, da década de 90, plantaram“, conclui.
Contra Todos
Dead Fish
Deck Disc
R$ 24,90
www.deadfish.com.br
quinta-feira, março 19, 2009
DIVERSIDADE ROCKER DE GRAÇA EM IPITANGA
Uma das mais visíveis – e melhores – características da cena roqueira local é que não há uma unidade estilística. Cada banda faz o que quer, da melhor maneira possível, ou pelo menos até onde seu talento (ou nos piores casos, a ausência do mesmo), permite.
Felizmente, falta de talento não é o caso das bandas Movidos a Álcool e Declinium, que fazem apresentação gratuita amanhã, junto aos colegas da Opus Incertum e Jato Invisível, no Caverna Rock Bar, na Praia de Ipitanga, a partir das 17 horas.
A primeira, original de Lauro de Freitas, é rock brega até o osso, com direito a todos porres, dores de corno e papelões que o estilo permite. Suas apresentações divertidíssimas e bem-humoradas já se tornaram um must tanto para fãs de Reginaldo Rossi quanto dos Rolling Stones.
Já lançaram dois CDs, verdadeiros evangelhos da sabedoria de boteco: Vamos Biritar? (2004) e Mulheres Que Nos Fazem Beber Demais. No repertório, hits impagáveis como Sônia Louca, Eu Vou Morar no Brega e Litrão de Pinga, além de alguns covers.
Já a Declinium, de Camaçari, é outra história: pós-punk ortodoxo, com se fazia nos anos 80, mas cheio de personalidade, graças as letras inspiradas e ao vozeirão renatorrussiano do vocalista e baixista Oreah, dono de um enorme potencial.
Som denso e carregado de influências de Joy Division, The Smiths e da lenda local brincando de deus.
Já a Opus Incertum e a Jato Invisível ainda não têm tanta estrada, mas podem surpreender.
A primeira segue a linha Camisa de Vênus e a segunda, com uma vocalista feminina, traz influências de Beatles e Oasis.
Movidos à Álcool, Declinium, Jato Invisível e Opus Incertum
Caverna Rock Bar
Praia de Ipitanga (ao lado do Kartódromo Ayrton Senna)
Entrada franca Sábado (21.03), 17h
Felizmente, falta de talento não é o caso das bandas Movidos a Álcool e Declinium, que fazem apresentação gratuita amanhã, junto aos colegas da Opus Incertum e Jato Invisível, no Caverna Rock Bar, na Praia de Ipitanga, a partir das 17 horas.
A primeira, original de Lauro de Freitas, é rock brega até o osso, com direito a todos porres, dores de corno e papelões que o estilo permite. Suas apresentações divertidíssimas e bem-humoradas já se tornaram um must tanto para fãs de Reginaldo Rossi quanto dos Rolling Stones.
Já lançaram dois CDs, verdadeiros evangelhos da sabedoria de boteco: Vamos Biritar? (2004) e Mulheres Que Nos Fazem Beber Demais. No repertório, hits impagáveis como Sônia Louca, Eu Vou Morar no Brega e Litrão de Pinga, além de alguns covers.
Já a Declinium, de Camaçari, é outra história: pós-punk ortodoxo, com se fazia nos anos 80, mas cheio de personalidade, graças as letras inspiradas e ao vozeirão renatorrussiano do vocalista e baixista Oreah, dono de um enorme potencial.
Som denso e carregado de influências de Joy Division, The Smiths e da lenda local brincando de deus.
Já a Opus Incertum e a Jato Invisível ainda não têm tanta estrada, mas podem surpreender.
A primeira segue a linha Camisa de Vênus e a segunda, com uma vocalista feminina, traz influências de Beatles e Oasis.
Movidos à Álcool, Declinium, Jato Invisível e Opus Incertum
Caverna Rock Bar
Praia de Ipitanga (ao lado do Kartódromo Ayrton Senna)
Entrada franca Sábado (21.03), 17h
terça-feira, março 17, 2009
MICRO-RESENHAS PARA IR ENROLANDO O LEITOR EM PROL DA ATUALIZAÇÃO DO BLOG
Mestre black volta à pista
Contemporâneo da época áurea dos bailes blacks que fizeram a fama de Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado e Lady Zu, entre outros, Tony Bizarro atravessou as últimas décadas como um artista cult, conhecido apenas por pesquisadores e outros músicos interessados nesse nicho específico da música popular brasileira. Agora ele volta, com o CD Estou Livre, reeditando velhos sucessos e lançando novas faixas. O vozeirão negro continua poderoso, assim como o suíngue de suas composições continua irresistível. A única ressalva fica para certos timbres utilizados de bateria eletrônica e metais sintetizados, o que compromete o caráter essencialmente orgânico de uma música tão pé-no-chão como o samba soul. Mas o CD está longe de ser descartável por conta desse detalhe. Na faixa-título, Estou Livre, basta fechar os olhos para visualizar o globo espelhado girando no teto do salão, de tão convidativa que ela é. Resgatada de um compacto lançado em 1983, a música foi composta no improviso por Bizarro, Lincoln Olivetti e Robson Jorge logo depois de escapulirem de uma blitz policial no Rio de Janeiro. Esta nova versão ainda conta com a participação do rapper B Negão garantindo o diálogo com a molecada de hoje em dia, assim como na faixa Já Tentei de Tudo, que conta com as rimas improvisadas de Thayde. Dono de um passado glorioso, Bizarro mira na juventude para construir o futuro com um som vigoroso, pra frente. O negócio agora é botar pra rodar nas pistas.
Estou Livre
Tony Bizarro
Amplitude Records
Preço não divulgado
www.tonybizarro.com.br
Mais Mestre dos Mares a bordo
O capitão Jack Aubrey e o médico de bordo Stephen Maturin, os heróis da série de aventura Mestre dos Mares, estão de volta no quinto livro (de vinte), A ilha da desolação. Considerada umas das melhores séries de literatura aventuresca surgida no século vinte, MdM foi criada pelo escritor inglês Patrick O‘Brian (1914-2000) e já rendeu um filmaço: Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo, (2003), com onze indicações ao Oscar. Neste episódio, que inclusive tem passagens no Brasil (em Recife), Aubrey e Maturin se vêem as voltas com uma epidemia de febre tifóide a bordo, um porão abarrotado de presos condenados, uma espiã americana e o resgate de um capitão. Diversão classuda.
A ilha da desolação
Patrick O‘Brian
Record
416 p. R$ 45
www.record.com.br
Aguarraz ainda pode render mais
O trio baiano de pop rock Aguarraz, formado por Roberta Simões (voz), René Pedro (voz, violões) e Rodrigo Fróes (baixo) estreou em CD cheio com O Mundo Gira Ao Seu Redor. Muito bem assessorados no estúdio por andré t. e o padrinho Fábio Cascadura, o CD soa redondo, bem executado e bem gravado. Não por acaso, o grupo as vezes soa como uma espécie de Cascadura Júnior – descontado o peso da banda matriz, aqui bem suavizado. Bastante acessível a ouvintes de qualquer idade, o grupo não faz feio, mas também não chega a surpreender quem espera algo mais arrojado. Contudo, o talento do trio está confirmado – só falta desenvolver e crescer.
O Mundo Gira ao Seu Redor
Aguarraz
Independente
R$ 12
www.aguarraz.com
Sai o reggae ska, entra o tecnopop
A boquinha suja da jovem cantora / encrenqueira Lily Allen pode ter ficado menos bem-humorada neste seu segundo disco em comparação com a estreia, em Alright Still (2005), mas nem por isso, ela deixa de soar bem aos ouvidos dos apreciadores da boa música pop. Se no primeiro álbum seu som namorava com reggae e ska – de forma bastante suave –, It‘s Not Me, It‘s You flerta com tecnopop e girl groups dos anos 60, como se pode ouvir em faixas como Chinese e Fuck You, respectivamente. A melancolia tipicamente britânica que parece ter tomado conta do coraçãozinho da moça pode ter eliminado o diferencial que chamou a atenção quando do seu surgimento, mas até que fez bem à sua música.
It‘s Not Me, It‘s You
Lily Allen
EMI
R$ 29,90
www.lilyallenmusic.com
Entertainer faz boa estreia
A melhor maneira de se apreciar a arte de Silvia Machete é vendo-a em ação no palco. Por que ela não é apenas uma boa cantora, dona de uma voz bastante decente – a qual ela parece saber usar muito bem. Mas sim, por que, essa carioca de 32 anos, experimentada artista de rua, é, antes de tudo, uma entertainer, categoria cada vez mais rara no showbiz brasileiro. Ela canta, dança, faz graça com o público, fecha e acende um cigarro (de tabaco, claro) enquanto gira um bambolê, faz a dança do ventre e ainda dá um CD de graça a voluntários que aceitem chupar seu dedão no palco. O show tem clima de cabaré total, com direito a troca de figurinos, muitas performances e boa música, entre canções de autoria própria, covers (Sweet Child O‘Mine e Girls Just Wanna Have Fun) e bons convidados, como Nina Becker, Rubinho Jacobina e o cantor e guitarrista Momo. Para quem ainda não conhece, esse DVD com vários extras é a porta de entrada.
Eu Não Sou Nenhuma Santa
Silvia Machete
EMI
R$ 39,90
www.silviamachete.com
Remixes de Kylie num pacote só
Ídolo do povo GLS nas pistas do mundo inteiro, Kylie Minogue vem apresentando nesta década um trabalho bem mais consistente do que Madonna, que, convenhamos, segue no piloto automático criativo há tempos. Neste CD, ela reúne alguns dos melhores remixes feitos para suas músicas por DJs badalados, The Chemical Brothers, Mylo, Fischerspooner e outros – razão mais do que suficiente para fechar o Off Club uma noite inteira só com o repertório aqui apresentado. O CD abre com o ótimo mash up Can‘t Get Blue Monday Out of My Head, amalgamando o hit da sexy australiana com o clássico do New Order. Outro destaque é Slow, com o remix dos Irmãos Químicos.
Boombox - The Remix Album 2000-2008
Kylie Minogue / Vários DJs
EMI
R$ 34,90
www.kylie.com
The Rakes mantém pique
Parte da cena indie britânica mais recente, a banda The Rakes cometeu há alguns anos uma das músicas mais icônicas desta década que está quase no fim: The World Was a Mess (But His Hair Was Perfect). Neste seu terceiro disco, o grupo mantém a receita que o consagrou, bem como a seus contemporâneos The Futureheads, Art Brut e Maximo Park: pós-pós punk com levadas dançantes de baixo, riffs econômicos, vocais quase falados e letras cínicas de temas essencialmente urbanos. Apesar de bem competente no que se propõe, ainda falta ousadia (a esta geração como um todo, na verdade) para ir além da receita da moda. Mas quem curte a banda vai gostar, pois o CD no geral é bom.
Klang
The Rakes
V2 (Importado)
Preço não divulgado
www.therakes.co.uk
Mago das cordas de volta
Como o título já explicita, este não é o disco de um músico comum. É um disco que resume a história de um músico virtuoso no seu instrumento: no caso, de Luciano Souza e a guitarra. Experiente, Souza tem história no rock e no jazz brasileiros. Aos 10 anos, já solava com a guitarra nas costas com sua banda Os Minos, da qual fazia parte Pepeu Gomes (no baixo!). Aos 17, partiu para o jazz rock no grupo Creme, obviamente inspirado no Cream, de Eric Clapton. Fez parte ainda do lendário Som Nosso de Cada Dia e das bandas de Baby e Pepeu nos anos 80. Após mais de uma década de ostracismo, foi resgatado pelo jornalista e pesquisador Zezão Castro, que o juntou ao feríssimo baterista Dom Lula Nascimento no Jazz Rock Quartet, em tempos mais recentes. Dom Lula, aliás, é quem acompanha Luciano em todas as faixas, entre outros músicos. No encarte, Zezão conta em texto bilíngue toda a interessante trajetória deste mago das cordas.
Virtuose
Luciano Souza
Independente
Preço não divulgado
zezaocastro@yahoo.com.br
Os Infames são boa surpresa rock
É mesmo impressionante a vitalidade da cena rock local. Além das bandas mais visíveis e hypadas, como Cascadura e Retrofoguetes, existe toda uma infinidade de bons grupos nadando um pouco abaixo desta superfície e fazendo um barulho de responsa. Uma boa surpresa é esta Os Infames, que na contramão das tendências de mercado, aposta no bom e velho rock ‘n‘ roll para dançar, beber cerveja e se divertir adoidado, mais ou menos como faz a ótima Capitão Parafina & Os Haoles. Entre rocks, blues e boogie woogies, a banda do vocalista Dan Borges e do guitarrista Pedro Duarte faz bonito e instiga a vontade de vê-los tocar ao vivo.
Os Infames
Os Infames
Independente
Preço não-divulgado
www.myspace.com/osinfames
Dead Fish mostra resistência do HC
Parte da rica cena de hardcore capixaba, a banda Dead Fish se destaca por conseguir estabelecer uma ponte entre o radicalismo dos seus conterrâneos da Mukeka de Rato e o HC de FM de um CPM 22. Militando nesse saudável equilíbrio, o grupo chega agora ao seu sexto álbum em dezoito anos de carreira, com mais uma boa coleção de rocks quase sempre bem acelerados, mas que não dão a impressão de se estar ouvindo a mesma música o tempo todo. Aqui e ali há ecos de stoner rock (Descartáveis) e até heavy metal (Autonomia), dando uma refrescada boa no andamento do CD. Nas letras, muita raiva e ironia contra a sociedade de consumo.
Contra Todos
Dead Fish
Deck Disc
R$ 24,90
www.deadfish.com.br/
Mestre das misturas ao vivo
Quem verdadeiramente conhece de música brasileira, sabe que Marku Ribas é uma espécie de ídolo oculto de muitos dos nomes mais importantes dos cenários da MPB e música pop dos últimos 30 anos. Um dos nomes fundamentais desde que se começou a misturar samba com rock, soul e reggae no Brasil, ainda nos anos 70, este mineiro de Pirapora e seu vozeirão marcaram época com clássicos que andaram esquecidos durante décadas, mas que aos poucos, vão voltando a baila, como Zamba Ben (uma obra-prima), Alerta Geral (censurada pela ditadura e posteriormente gravada por Alcione) e Meu Samba Regué (primeira vez que se misturou música brasileira com o ritmo jamaicano), entre outras. Neste DVD ao vivo lançado pelo Instituto Itaú Cultural, Ribas, agora aos 60 anos de idade, demonstra estar bem inquieto e cheio de idéias. Das 14 músicas, 10 são inéditas e só quatro são do seu repertório clássico. Descontraído e totalmente a vontade no palco, Ribas justifica o show com predominância de material inédito dizendo que não é "bombeiro pra resgatar ninguém". Entre as novas músicas, destaque para o sambalanço de Altas Horas, a homenagem a Carlos Marighella em Pas Pour Ça (em bom francês) e Ato Tridimensional nº 5. Aliás, quem se admira com os vocalizes percussivos de Ed Motta (fã declarado de Ribas) em tempos mais recentes nem imagina do que é capaz este senhor, ainda no auge da forma e cheio de ginga.
Toca Brasil
Marku Ribas
Brasil Musical / Itaú Cultural
R$ 22
www.myspace.com/markuribas
Contemporâneo da época áurea dos bailes blacks que fizeram a fama de Tim Maia, Cassiano, Toni Tornado e Lady Zu, entre outros, Tony Bizarro atravessou as últimas décadas como um artista cult, conhecido apenas por pesquisadores e outros músicos interessados nesse nicho específico da música popular brasileira. Agora ele volta, com o CD Estou Livre, reeditando velhos sucessos e lançando novas faixas. O vozeirão negro continua poderoso, assim como o suíngue de suas composições continua irresistível. A única ressalva fica para certos timbres utilizados de bateria eletrônica e metais sintetizados, o que compromete o caráter essencialmente orgânico de uma música tão pé-no-chão como o samba soul. Mas o CD está longe de ser descartável por conta desse detalhe. Na faixa-título, Estou Livre, basta fechar os olhos para visualizar o globo espelhado girando no teto do salão, de tão convidativa que ela é. Resgatada de um compacto lançado em 1983, a música foi composta no improviso por Bizarro, Lincoln Olivetti e Robson Jorge logo depois de escapulirem de uma blitz policial no Rio de Janeiro. Esta nova versão ainda conta com a participação do rapper B Negão garantindo o diálogo com a molecada de hoje em dia, assim como na faixa Já Tentei de Tudo, que conta com as rimas improvisadas de Thayde. Dono de um passado glorioso, Bizarro mira na juventude para construir o futuro com um som vigoroso, pra frente. O negócio agora é botar pra rodar nas pistas.
Estou Livre
Tony Bizarro
Amplitude Records
Preço não divulgado
www.tonybizarro.com.br
Mais Mestre dos Mares a bordo
O capitão Jack Aubrey e o médico de bordo Stephen Maturin, os heróis da série de aventura Mestre dos Mares, estão de volta no quinto livro (de vinte), A ilha da desolação. Considerada umas das melhores séries de literatura aventuresca surgida no século vinte, MdM foi criada pelo escritor inglês Patrick O‘Brian (1914-2000) e já rendeu um filmaço: Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo, (2003), com onze indicações ao Oscar. Neste episódio, que inclusive tem passagens no Brasil (em Recife), Aubrey e Maturin se vêem as voltas com uma epidemia de febre tifóide a bordo, um porão abarrotado de presos condenados, uma espiã americana e o resgate de um capitão. Diversão classuda.
A ilha da desolação
Patrick O‘Brian
Record
416 p. R$ 45
www.record.com.br
Aguarraz ainda pode render mais
O trio baiano de pop rock Aguarraz, formado por Roberta Simões (voz), René Pedro (voz, violões) e Rodrigo Fróes (baixo) estreou em CD cheio com O Mundo Gira Ao Seu Redor. Muito bem assessorados no estúdio por andré t. e o padrinho Fábio Cascadura, o CD soa redondo, bem executado e bem gravado. Não por acaso, o grupo as vezes soa como uma espécie de Cascadura Júnior – descontado o peso da banda matriz, aqui bem suavizado. Bastante acessível a ouvintes de qualquer idade, o grupo não faz feio, mas também não chega a surpreender quem espera algo mais arrojado. Contudo, o talento do trio está confirmado – só falta desenvolver e crescer.
O Mundo Gira ao Seu Redor
Aguarraz
Independente
R$ 12
www.aguarraz.com
Sai o reggae ska, entra o tecnopop
A boquinha suja da jovem cantora / encrenqueira Lily Allen pode ter ficado menos bem-humorada neste seu segundo disco em comparação com a estreia, em Alright Still (2005), mas nem por isso, ela deixa de soar bem aos ouvidos dos apreciadores da boa música pop. Se no primeiro álbum seu som namorava com reggae e ska – de forma bastante suave –, It‘s Not Me, It‘s You flerta com tecnopop e girl groups dos anos 60, como se pode ouvir em faixas como Chinese e Fuck You, respectivamente. A melancolia tipicamente britânica que parece ter tomado conta do coraçãozinho da moça pode ter eliminado o diferencial que chamou a atenção quando do seu surgimento, mas até que fez bem à sua música.
It‘s Not Me, It‘s You
Lily Allen
EMI
R$ 29,90
www.lilyallenmusic.com
Entertainer faz boa estreia
A melhor maneira de se apreciar a arte de Silvia Machete é vendo-a em ação no palco. Por que ela não é apenas uma boa cantora, dona de uma voz bastante decente – a qual ela parece saber usar muito bem. Mas sim, por que, essa carioca de 32 anos, experimentada artista de rua, é, antes de tudo, uma entertainer, categoria cada vez mais rara no showbiz brasileiro. Ela canta, dança, faz graça com o público, fecha e acende um cigarro (de tabaco, claro) enquanto gira um bambolê, faz a dança do ventre e ainda dá um CD de graça a voluntários que aceitem chupar seu dedão no palco. O show tem clima de cabaré total, com direito a troca de figurinos, muitas performances e boa música, entre canções de autoria própria, covers (Sweet Child O‘Mine e Girls Just Wanna Have Fun) e bons convidados, como Nina Becker, Rubinho Jacobina e o cantor e guitarrista Momo. Para quem ainda não conhece, esse DVD com vários extras é a porta de entrada.
Eu Não Sou Nenhuma Santa
Silvia Machete
EMI
R$ 39,90
www.silviamachete.com
Remixes de Kylie num pacote só
Ídolo do povo GLS nas pistas do mundo inteiro, Kylie Minogue vem apresentando nesta década um trabalho bem mais consistente do que Madonna, que, convenhamos, segue no piloto automático criativo há tempos. Neste CD, ela reúne alguns dos melhores remixes feitos para suas músicas por DJs badalados, The Chemical Brothers, Mylo, Fischerspooner e outros – razão mais do que suficiente para fechar o Off Club uma noite inteira só com o repertório aqui apresentado. O CD abre com o ótimo mash up Can‘t Get Blue Monday Out of My Head, amalgamando o hit da sexy australiana com o clássico do New Order. Outro destaque é Slow, com o remix dos Irmãos Químicos.
Boombox - The Remix Album 2000-2008
Kylie Minogue / Vários DJs
EMI
R$ 34,90
www.kylie.com
The Rakes mantém pique
Parte da cena indie britânica mais recente, a banda The Rakes cometeu há alguns anos uma das músicas mais icônicas desta década que está quase no fim: The World Was a Mess (But His Hair Was Perfect). Neste seu terceiro disco, o grupo mantém a receita que o consagrou, bem como a seus contemporâneos The Futureheads, Art Brut e Maximo Park: pós-pós punk com levadas dançantes de baixo, riffs econômicos, vocais quase falados e letras cínicas de temas essencialmente urbanos. Apesar de bem competente no que se propõe, ainda falta ousadia (a esta geração como um todo, na verdade) para ir além da receita da moda. Mas quem curte a banda vai gostar, pois o CD no geral é bom.
Klang
The Rakes
V2 (Importado)
Preço não divulgado
www.therakes.co.uk
Mago das cordas de volta
Como o título já explicita, este não é o disco de um músico comum. É um disco que resume a história de um músico virtuoso no seu instrumento: no caso, de Luciano Souza e a guitarra. Experiente, Souza tem história no rock e no jazz brasileiros. Aos 10 anos, já solava com a guitarra nas costas com sua banda Os Minos, da qual fazia parte Pepeu Gomes (no baixo!). Aos 17, partiu para o jazz rock no grupo Creme, obviamente inspirado no Cream, de Eric Clapton. Fez parte ainda do lendário Som Nosso de Cada Dia e das bandas de Baby e Pepeu nos anos 80. Após mais de uma década de ostracismo, foi resgatado pelo jornalista e pesquisador Zezão Castro, que o juntou ao feríssimo baterista Dom Lula Nascimento no Jazz Rock Quartet, em tempos mais recentes. Dom Lula, aliás, é quem acompanha Luciano em todas as faixas, entre outros músicos. No encarte, Zezão conta em texto bilíngue toda a interessante trajetória deste mago das cordas.
Virtuose
Luciano Souza
Independente
Preço não divulgado
zezaocastro@yahoo.com.br
Os Infames são boa surpresa rock
É mesmo impressionante a vitalidade da cena rock local. Além das bandas mais visíveis e hypadas, como Cascadura e Retrofoguetes, existe toda uma infinidade de bons grupos nadando um pouco abaixo desta superfície e fazendo um barulho de responsa. Uma boa surpresa é esta Os Infames, que na contramão das tendências de mercado, aposta no bom e velho rock ‘n‘ roll para dançar, beber cerveja e se divertir adoidado, mais ou menos como faz a ótima Capitão Parafina & Os Haoles. Entre rocks, blues e boogie woogies, a banda do vocalista Dan Borges e do guitarrista Pedro Duarte faz bonito e instiga a vontade de vê-los tocar ao vivo.
Os Infames
Os Infames
Independente
Preço não-divulgado
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Dead Fish mostra resistência do HC
Parte da rica cena de hardcore capixaba, a banda Dead Fish se destaca por conseguir estabelecer uma ponte entre o radicalismo dos seus conterrâneos da Mukeka de Rato e o HC de FM de um CPM 22. Militando nesse saudável equilíbrio, o grupo chega agora ao seu sexto álbum em dezoito anos de carreira, com mais uma boa coleção de rocks quase sempre bem acelerados, mas que não dão a impressão de se estar ouvindo a mesma música o tempo todo. Aqui e ali há ecos de stoner rock (Descartáveis) e até heavy metal (Autonomia), dando uma refrescada boa no andamento do CD. Nas letras, muita raiva e ironia contra a sociedade de consumo.
Contra Todos
Dead Fish
Deck Disc
R$ 24,90
www.deadfish.com.br/
Mestre das misturas ao vivo
Quem verdadeiramente conhece de música brasileira, sabe que Marku Ribas é uma espécie de ídolo oculto de muitos dos nomes mais importantes dos cenários da MPB e música pop dos últimos 30 anos. Um dos nomes fundamentais desde que se começou a misturar samba com rock, soul e reggae no Brasil, ainda nos anos 70, este mineiro de Pirapora e seu vozeirão marcaram época com clássicos que andaram esquecidos durante décadas, mas que aos poucos, vão voltando a baila, como Zamba Ben (uma obra-prima), Alerta Geral (censurada pela ditadura e posteriormente gravada por Alcione) e Meu Samba Regué (primeira vez que se misturou música brasileira com o ritmo jamaicano), entre outras. Neste DVD ao vivo lançado pelo Instituto Itaú Cultural, Ribas, agora aos 60 anos de idade, demonstra estar bem inquieto e cheio de idéias. Das 14 músicas, 10 são inéditas e só quatro são do seu repertório clássico. Descontraído e totalmente a vontade no palco, Ribas justifica o show com predominância de material inédito dizendo que não é "bombeiro pra resgatar ninguém". Entre as novas músicas, destaque para o sambalanço de Altas Horas, a homenagem a Carlos Marighella em Pas Pour Ça (em bom francês) e Ato Tridimensional nº 5. Aliás, quem se admira com os vocalizes percussivos de Ed Motta (fã declarado de Ribas) em tempos mais recentes nem imagina do que é capaz este senhor, ainda no auge da forma e cheio de ginga.
Toca Brasil
Marku Ribas
Brasil Musical / Itaú Cultural
R$ 22
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sexta-feira, março 13, 2009
RETRORESSACA ENQUANTO O CD NOVO NÃO SAI
2009 promete ser um ano decisivo para o trio instrumental baiano Retrofoguetes.
Na verdade, já começou bem paca, com a banda lotando diversos shows desde janeiro, sendo cada vez mais reconhecida e convidada para tocar em cima de um trio independente no Carnaval.
Hoje, a Boomerangue – certamente abarrotada mais uma vez – testemunhará o fim de um ciclo e o início de outro, com o show Retroressaca.
Como de costume, o trio contará com diversos convidados, como Aroldo Macedo, Ronei Jorge, Fábio Cascadura, Kaverna, Paquito, Jackson Dantas, Roberto Barreto e Júlio Moreno.
Há outros dois bem famosos que, segundo o baterista Rex, "são uma incógnita, então a gente mesmo só vai saber na hora se vão aparecer", conta. Dica: um deles apareceu de surpresa na Retrofolia (um mês atrás, em 13 de fevereiro) e quase que não desce mais do palco, de tanto que curtiu a farra.
O CD NOVO - Depois disso, os Retros entram na expectativa para a chegada do CD novo da fábrica – em tempo para o show no festival Abril Pro Rock, no dia 18, além de uma pequena temporada no sul do País em maio, "entre 20 e 30 dias, onde vamos tocar em um festival de música instrumental no Sesc Pompéia e aí vamos aproveitar para divulgar o CD e emendar outros shows", acrescenta Rex.
Sobre o longo período entre o lançamento do primeiro álbum, Ativar Retrofoguetes! (2004, Mostro Discos) e o que está prestes a sair, Rex reflete: "Somos verdadeiramente independentes. Não temos compromisso com ninguém: indústria, mercado, publico, nada. Então, isso nos permite fazer as coisas no nosso tempo certo. Para conseguir fazer um CD como queríamos, era necessário fazer com calma, então o processso de composição foi bem criterioso, cuidadosos mesmo".
Para quem espera mais do mesmo no disquinho, ele alerta: "Desencanamos da surf music. Aquele referência muito forte era necessária naquele momento, mas hoje, como já te disse, não temos compromisso mais com isso. Então o CD tem mambo, tango, tarantella, polca... é bem diversificado. Nosso trabalho hoje é música de uma forma muito mais abrangente".
A própria escalação dos músicos convidados para atuar no CD com o trio Rex-Morotó-CH reflete isso. Vejam só: músicos de sopros da Orkestra Rumpilezz, com arranjos de Letieres Leite em Maldito Mambo! (premiada no Festival da Educadora com Melhor Arranjo); Rudson Daniel (percussionsta), em Mambo e Venus Cassino; Humberto Monteiro (músico da Osba), toca marimbas evibrafone em O Falso Turco e Bikini 1958; Saulo Gama toca acordeon em Constelacion (tango) e Santa Cecilia (tarantella inspirada em Nino Rota), Joe Tromondo toca ukulele em B1958 e Glauber Guimarães (ex-Moskabilly) grita em Maldito Mambo!
"Demos um jeito de botar os Dead Billies todos nesse disco", ri Rex.
Com o título em segredo, o 2º CD foi produzido por andré t. e Nancy Viegas. "Nossa condição para este CD era essa: ele tem que ser melhor do que primeiro. Banda independente tem que aproveitar ao máximo esse tipo de oportunidade. Não sabemos quando teremos outra", conclui Rex, sábio.
Retroressaca
Retrofoguetes, com participação especial de Paquito, Ronei Jorge, Aroldo Macêdo, Gabriel Macêdo, Fábio Cascadura, Júlio Moreno, Roberto Barreto e Nancyta + DJ El Cabong e DJ Bigbross.
13/03/2009 (sexta-feira), às 22 horas
Boomerangue (Rua da Paciência, 307 – Rio Vermelho. Tel.: 3334-6640)
Censura: 18 anos
Ingresso: R$ 15 (até a meia-noite) / R$ 20 (após a meia-noite)
VEJA! ASSISTA!
Fotos do Trio do Rock (por Jera Cravo): www.flickr.com/jeracravo
Retrofolia 2009: www.youtube.com/retrocanal
Retrofoguetes no Festival de Verão 2009: www.youtube.com/watch?v=5BM-VfkrgVc
Na verdade, já começou bem paca, com a banda lotando diversos shows desde janeiro, sendo cada vez mais reconhecida e convidada para tocar em cima de um trio independente no Carnaval.
Hoje, a Boomerangue – certamente abarrotada mais uma vez – testemunhará o fim de um ciclo e o início de outro, com o show Retroressaca.
Como de costume, o trio contará com diversos convidados, como Aroldo Macedo, Ronei Jorge, Fábio Cascadura, Kaverna, Paquito, Jackson Dantas, Roberto Barreto e Júlio Moreno.
Há outros dois bem famosos que, segundo o baterista Rex, "são uma incógnita, então a gente mesmo só vai saber na hora se vão aparecer", conta. Dica: um deles apareceu de surpresa na Retrofolia (um mês atrás, em 13 de fevereiro) e quase que não desce mais do palco, de tanto que curtiu a farra.
O CD NOVO - Depois disso, os Retros entram na expectativa para a chegada do CD novo da fábrica – em tempo para o show no festival Abril Pro Rock, no dia 18, além de uma pequena temporada no sul do País em maio, "entre 20 e 30 dias, onde vamos tocar em um festival de música instrumental no Sesc Pompéia e aí vamos aproveitar para divulgar o CD e emendar outros shows", acrescenta Rex.
Sobre o longo período entre o lançamento do primeiro álbum, Ativar Retrofoguetes! (2004, Mostro Discos) e o que está prestes a sair, Rex reflete: "Somos verdadeiramente independentes. Não temos compromisso com ninguém: indústria, mercado, publico, nada. Então, isso nos permite fazer as coisas no nosso tempo certo. Para conseguir fazer um CD como queríamos, era necessário fazer com calma, então o processso de composição foi bem criterioso, cuidadosos mesmo".
Para quem espera mais do mesmo no disquinho, ele alerta: "Desencanamos da surf music. Aquele referência muito forte era necessária naquele momento, mas hoje, como já te disse, não temos compromisso mais com isso. Então o CD tem mambo, tango, tarantella, polca... é bem diversificado. Nosso trabalho hoje é música de uma forma muito mais abrangente".
A própria escalação dos músicos convidados para atuar no CD com o trio Rex-Morotó-CH reflete isso. Vejam só: músicos de sopros da Orkestra Rumpilezz, com arranjos de Letieres Leite em Maldito Mambo! (premiada no Festival da Educadora com Melhor Arranjo); Rudson Daniel (percussionsta), em Mambo e Venus Cassino; Humberto Monteiro (músico da Osba), toca marimbas evibrafone em O Falso Turco e Bikini 1958; Saulo Gama toca acordeon em Constelacion (tango) e Santa Cecilia (tarantella inspirada em Nino Rota), Joe Tromondo toca ukulele em B1958 e Glauber Guimarães (ex-Moskabilly) grita em Maldito Mambo!
"Demos um jeito de botar os Dead Billies todos nesse disco", ri Rex.
Com o título em segredo, o 2º CD foi produzido por andré t. e Nancy Viegas. "Nossa condição para este CD era essa: ele tem que ser melhor do que primeiro. Banda independente tem que aproveitar ao máximo esse tipo de oportunidade. Não sabemos quando teremos outra", conclui Rex, sábio.
Retroressaca
Retrofoguetes, com participação especial de Paquito, Ronei Jorge, Aroldo Macêdo, Gabriel Macêdo, Fábio Cascadura, Júlio Moreno, Roberto Barreto e Nancyta + DJ El Cabong e DJ Bigbross.
13/03/2009 (sexta-feira), às 22 horas
Boomerangue (Rua da Paciência, 307 – Rio Vermelho. Tel.: 3334-6640)
Censura: 18 anos
Ingresso: R$ 15 (até a meia-noite) / R$ 20 (após a meia-noite)
VEJA! ASSISTA!
Fotos do Trio do Rock (por Jera Cravo): www.flickr.com/jeracravo
Retrofolia 2009: www.youtube.com/retrocanal
Retrofoguetes no Festival de Verão 2009: www.youtube.com/watch?v=5BM-VfkrgVc
quarta-feira, março 11, 2009
O HERÓI FALHO, A FAUNA EM POLVOROSA E O CASAL EM PÂNICO
Álbuns de Overman, Níquel Náusea e Baby Blues trazem melhor do humor em tiras de jornal
Uma das mais tradicionais – e nobres – formas de se fazer quadrinhos é a chamada tirinha diária, geralmente publicada em jornais, e hoje cada vez mais presente na internet.
Apreciadores do gênero têm três ótimas opções em lançamentos recentes da Devir Livraria: Overman - O álbum, o mito (de Laerte Coutinho), Níquel Náusea - Em boca fechada não entra mosca (de Fernando Gonsales) e Baby Blues - O Bebê chegou... e agora?, da dupla Rick Kirkman & Jerry Scott.
Lidos os três volumes, é possível afirmar, sem qualquer ufanismo, que os dois primeiros, assinados por conhecidos artistas brasileiros, são sensivelmente superiores em graça e imaginação à sua contraparte americana. Baby Blues, contudo, analisada isoladamente, não deixa de ter seu valor e fazer rir – principal missão a que se propõe.
Herói brazuca – Publicadas originalmente no jornal Folha de São Paulo, as tirinhas de Overman - O álbum, o mito trazem as aventuras e mancadas (não exatamente nessa ordem) do herói do título, um sujeito casca-grossa e não muito inteligente.
Morador do bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde divide um beliche num quarto de pensão mal-ajambrado com seu indiferente amigo Ésquilo, Overman é, muito provavelmente, o mais humano dos heróis – já que ele sempre falha.
Mais homenagem bem humorada às HQs de super-heróis do que uma crítica ao gênero, Laerte arranca gargalhadas dos leitores ao alternar aventuras do Overman contra vilões estapafúrdios – o Maníaco Flatulento e o Capitalista Imundo, entre outros – com crises de identidade, como quando ele vira uma barata amarela e roxa.
Bem brasileiro, Overman ainda gosta de encher a cara de conhaque barato e ir a caça de sexo nas sextas-feiras – motivo de pânico no Ipiranga.
Infelizmente, o álbum do Overman marca também a despedida do seu criador dos quadrinhos de personagens. Recentemente, Laerte anunciou que não fará mais tiras com nenhum dos seus personagens – Piratas do Tietê, Os Gatos, o Síndico, Fagundes e muitos outros.
Quem tem acompanhado sua tira diária na Folha já pôde perceber que o autor agora se dedica a praticar filosofia em quadrinhos. Uma fase melancólica para um mestre do humor.
Humor animal – Quem não toma jeito e não perde o bom humor mesmo – para alegria dos seus muitos leitores – é o veterinário e quadrinista Fernando Gonsales, criador da série Níquel Náusea, protagonizada pelo rato homônimo, a barata tonta (literalmente) Flit e uma infinidade de outros animais que aparecem e desaparecem tão rápido quanto se pode ler uma tira de três quadrinhos.
Em boca fechada não entra mosca, oitavo álbum de NN, traz mais uma leva de piadas hilariantes e ligeiras onde qualquer coisa pode acontecer.
Contemporâneo de Laerte, Gonsales surgiu na mesma brilhante leva de cartunistas que revelou Angeli, Glauco e Luiz Gê, entre outros. Talvez o menos politizado entre seus pares, ele é mestre em fazer rir ao utilizar animais para fazer troça de características típicas dos seres humanos, como se vê nas tiras que mostram vacas feministas (sem duplo sentido, por favor), galinhas com veia artística, cobras fumantes e burros debochados, entre outras criaturas hilárias.
Vida em família – A boa estreia desta leva é Baby Blues, uma série americana que acompanha a vida do casal Darryl e Wanda, pais de primeira viagem, a partir do nascimento da bebê Zoe.
A série é um sucesso em vários países do mundo, sendo publicada desde 1990 em 1.100 jornais e 13 línguas diferentes. Até um desenho animado, exibido no Brasil pelo canal Cartoon Network, já foi produzido. No Brasil, Baby Blues é publicada em alguns jornais com o nome de Zoe e Zezé.
O segredo do sucesso é óbvio: o humor universal que a vida em família proporciona. Uma boa novidade para quem curte humor simples e direto.
Overman - O álbum, o mito
Laerte Coutinho
Devir Livraria
48 p. R$ 24,00
Uma das mais tradicionais – e nobres – formas de se fazer quadrinhos é a chamada tirinha diária, geralmente publicada em jornais, e hoje cada vez mais presente na internet.
Apreciadores do gênero têm três ótimas opções em lançamentos recentes da Devir Livraria: Overman - O álbum, o mito (de Laerte Coutinho), Níquel Náusea - Em boca fechada não entra mosca (de Fernando Gonsales) e Baby Blues - O Bebê chegou... e agora?, da dupla Rick Kirkman & Jerry Scott.
Lidos os três volumes, é possível afirmar, sem qualquer ufanismo, que os dois primeiros, assinados por conhecidos artistas brasileiros, são sensivelmente superiores em graça e imaginação à sua contraparte americana. Baby Blues, contudo, analisada isoladamente, não deixa de ter seu valor e fazer rir – principal missão a que se propõe.
Herói brazuca – Publicadas originalmente no jornal Folha de São Paulo, as tirinhas de Overman - O álbum, o mito trazem as aventuras e mancadas (não exatamente nessa ordem) do herói do título, um sujeito casca-grossa e não muito inteligente.
Morador do bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde divide um beliche num quarto de pensão mal-ajambrado com seu indiferente amigo Ésquilo, Overman é, muito provavelmente, o mais humano dos heróis – já que ele sempre falha.
Mais homenagem bem humorada às HQs de super-heróis do que uma crítica ao gênero, Laerte arranca gargalhadas dos leitores ao alternar aventuras do Overman contra vilões estapafúrdios – o Maníaco Flatulento e o Capitalista Imundo, entre outros – com crises de identidade, como quando ele vira uma barata amarela e roxa.
Bem brasileiro, Overman ainda gosta de encher a cara de conhaque barato e ir a caça de sexo nas sextas-feiras – motivo de pânico no Ipiranga.
Infelizmente, o álbum do Overman marca também a despedida do seu criador dos quadrinhos de personagens. Recentemente, Laerte anunciou que não fará mais tiras com nenhum dos seus personagens – Piratas do Tietê, Os Gatos, o Síndico, Fagundes e muitos outros.
Quem tem acompanhado sua tira diária na Folha já pôde perceber que o autor agora se dedica a praticar filosofia em quadrinhos. Uma fase melancólica para um mestre do humor.
Humor animal – Quem não toma jeito e não perde o bom humor mesmo – para alegria dos seus muitos leitores – é o veterinário e quadrinista Fernando Gonsales, criador da série Níquel Náusea, protagonizada pelo rato homônimo, a barata tonta (literalmente) Flit e uma infinidade de outros animais que aparecem e desaparecem tão rápido quanto se pode ler uma tira de três quadrinhos.
Em boca fechada não entra mosca, oitavo álbum de NN, traz mais uma leva de piadas hilariantes e ligeiras onde qualquer coisa pode acontecer.
Contemporâneo de Laerte, Gonsales surgiu na mesma brilhante leva de cartunistas que revelou Angeli, Glauco e Luiz Gê, entre outros. Talvez o menos politizado entre seus pares, ele é mestre em fazer rir ao utilizar animais para fazer troça de características típicas dos seres humanos, como se vê nas tiras que mostram vacas feministas (sem duplo sentido, por favor), galinhas com veia artística, cobras fumantes e burros debochados, entre outras criaturas hilárias.
Vida em família – A boa estreia desta leva é Baby Blues, uma série americana que acompanha a vida do casal Darryl e Wanda, pais de primeira viagem, a partir do nascimento da bebê Zoe.
A série é um sucesso em vários países do mundo, sendo publicada desde 1990 em 1.100 jornais e 13 línguas diferentes. Até um desenho animado, exibido no Brasil pelo canal Cartoon Network, já foi produzido. No Brasil, Baby Blues é publicada em alguns jornais com o nome de Zoe e Zezé.
O segredo do sucesso é óbvio: o humor universal que a vida em família proporciona. Uma boa novidade para quem curte humor simples e direto.
Overman - O álbum, o mito
Laerte Coutinho
Devir Livraria
48 p. R$ 24,00
segunda-feira, março 09, 2009
SUPER-OBAMA NAS BANCAS
Edição do Homem-Aranha com Barack Obama chega às bancas esta semana
Que Barack Obama é o presidente mais pop de todos os tempos – inesquecível a cena dele dançando Stevie Wonder – todo mundo já sabe. A novidade é que ele agora é também, hoje, um dos “personagens“ mais populares nos quadrinhos em todo o mundo. Sua primeira aparição em HQs no Brasil está chegando esta semana às bancas, na edição de nº 87 da revista Homem-Aranha (Panini Comics).
Na história curta, de apenas cinco páginas, o herói aracnídeo e o presidente vivem uma aventura juntos, quando o Camaleão, um antigo inimigo do primeiro, que, como o nome diz, tem a capacidade de assumir a forma de outras pessoas, toma o lugar de Obama em plena posse.
Escrita por Zeb Wells e desenhada por Todd Nauck, a HQ transformou a edição de número 583 da revista The Amazing Spider-Man (título original do escalador de paredes) no gibi mais vendido do século, atingindo a marca de 350 mil exemplares.
A idéia de juntar o Homem-Aranha e o presidente eleito surgiu quando Joe Quesada, editor-chefe da Marvel (editora original do herói) soube que o político é fã de HQs e colecionador de gibis do Homem-Aranha e de Conan, O Bárbaro.
“Um aracno-fã se mudando para a Sala Oval (gabinete do presidente na Casa Branca) é um evento que certamente merece ser comemorado nas páginas da revista do Homem-Aranha“, declarou Quesada ao blog Political Punch, do site ABC News.
Obama com certeza deve ter gostado da homenagem. Meses antes, ele havia dito à revista Entertainment Weekly que sempre foi fã do “modelo Homem-Aranha / Batman de herói. Os caras que tem muito poder, como o Superman, me fazem pensar que não merecem de fato seu status de super-herói. É muito fácil para eles. Já o Homem-Aranha e o Batman tem seus conflitos internos. Eles se arrebentam um pouco“.
No Brasil, a editora do personagem esfrega as mãos, na expectativa de vendas acima da média, graças a aparição do simpático político na capa da revista. “A expectativa no Brasil é ótima para essa edição especial. É de certa forma como os próprios EUA enxergam a chegada de Barack Obama à Casa Branca e seu papel ímpar neste momento de crise mundial: ele já é super-herói!", comentou o diretor de marketing e comercial da Editora Panini, Márcio Borges.
Obama comics – As páginas do Homem-Aranha, contudo, não foram as únicas frequentadas pelo 44º presidente americano.
Meses antes da eleição, o quadrinista Erik Larsen, criador do personagem Savage Dragon (brevemente publicado no Brasil na década de 90) colocou o herói lado a lado de Obama, na capa da edição 137, com o seguinte balão de fala: “Eu sou Savage Dragon e eu apoio Barack Obama para presidente dos Estados Unidos“. Mais direto, impossível.
Com o havaiano – filho de queniano – eleito, Larsen voltou a carga, desta vez, de forma ainda mais espetacular. Na capa alternativa da edição 145, criada especialmente para a convenção de HQ Wondercon (em São Francisco), ele estampou Obama dando uma “muqueta nas fuças“ de Osama Bin Laden, enquanto o Savage Dragon liberta a estátua da liberdade, que estava amarrada em um míssil nuclear.
Francamente ingênua, a ilustração Obama versus Osama é uma citação direta à histórica capa de Captain America número um, publicada em 1941, onde se vê o bandeiroso herói dando um soco na cara de Adolf Hitler.
Propositalmente, Larsen “envelheceu“ a capa de Savage Dragon 145, com amarelado e amassados artificiais e design copiado dos antigos gibis da Marvel.
Outro “gibi Obama“ foi a sua biografia em quadrinhos, lançada na época da eleição, pela editora IDW. Democrática, a revista trazia do outro lado a biografia do concorrente John McCain.
Mais recentemente, Obama ainda foi visto nas HQs se encontrando com a equipe de heróis – financiada pelo governo – Youngblood.
Homem-Aranha nº 87
Zeb Wells / Todd Nauck
Panini Comics
100 p. | R$ 7,50
www.paninicomics.com.br
Que Barack Obama é o presidente mais pop de todos os tempos – inesquecível a cena dele dançando Stevie Wonder – todo mundo já sabe. A novidade é que ele agora é também, hoje, um dos “personagens“ mais populares nos quadrinhos em todo o mundo. Sua primeira aparição em HQs no Brasil está chegando esta semana às bancas, na edição de nº 87 da revista Homem-Aranha (Panini Comics).
Na história curta, de apenas cinco páginas, o herói aracnídeo e o presidente vivem uma aventura juntos, quando o Camaleão, um antigo inimigo do primeiro, que, como o nome diz, tem a capacidade de assumir a forma de outras pessoas, toma o lugar de Obama em plena posse.
Escrita por Zeb Wells e desenhada por Todd Nauck, a HQ transformou a edição de número 583 da revista The Amazing Spider-Man (título original do escalador de paredes) no gibi mais vendido do século, atingindo a marca de 350 mil exemplares.
A idéia de juntar o Homem-Aranha e o presidente eleito surgiu quando Joe Quesada, editor-chefe da Marvel (editora original do herói) soube que o político é fã de HQs e colecionador de gibis do Homem-Aranha e de Conan, O Bárbaro.
“Um aracno-fã se mudando para a Sala Oval (gabinete do presidente na Casa Branca) é um evento que certamente merece ser comemorado nas páginas da revista do Homem-Aranha“, declarou Quesada ao blog Political Punch, do site ABC News.
Obama com certeza deve ter gostado da homenagem. Meses antes, ele havia dito à revista Entertainment Weekly que sempre foi fã do “modelo Homem-Aranha / Batman de herói. Os caras que tem muito poder, como o Superman, me fazem pensar que não merecem de fato seu status de super-herói. É muito fácil para eles. Já o Homem-Aranha e o Batman tem seus conflitos internos. Eles se arrebentam um pouco“.
No Brasil, a editora do personagem esfrega as mãos, na expectativa de vendas acima da média, graças a aparição do simpático político na capa da revista. “A expectativa no Brasil é ótima para essa edição especial. É de certa forma como os próprios EUA enxergam a chegada de Barack Obama à Casa Branca e seu papel ímpar neste momento de crise mundial: ele já é super-herói!", comentou o diretor de marketing e comercial da Editora Panini, Márcio Borges.
Obama comics – As páginas do Homem-Aranha, contudo, não foram as únicas frequentadas pelo 44º presidente americano.
Meses antes da eleição, o quadrinista Erik Larsen, criador do personagem Savage Dragon (brevemente publicado no Brasil na década de 90) colocou o herói lado a lado de Obama, na capa da edição 137, com o seguinte balão de fala: “Eu sou Savage Dragon e eu apoio Barack Obama para presidente dos Estados Unidos“. Mais direto, impossível.
Com o havaiano – filho de queniano – eleito, Larsen voltou a carga, desta vez, de forma ainda mais espetacular. Na capa alternativa da edição 145, criada especialmente para a convenção de HQ Wondercon (em São Francisco), ele estampou Obama dando uma “muqueta nas fuças“ de Osama Bin Laden, enquanto o Savage Dragon liberta a estátua da liberdade, que estava amarrada em um míssil nuclear.
Francamente ingênua, a ilustração Obama versus Osama é uma citação direta à histórica capa de Captain America número um, publicada em 1941, onde se vê o bandeiroso herói dando um soco na cara de Adolf Hitler.
Propositalmente, Larsen “envelheceu“ a capa de Savage Dragon 145, com amarelado e amassados artificiais e design copiado dos antigos gibis da Marvel.
Outro “gibi Obama“ foi a sua biografia em quadrinhos, lançada na época da eleição, pela editora IDW. Democrática, a revista trazia do outro lado a biografia do concorrente John McCain.
Mais recentemente, Obama ainda foi visto nas HQs se encontrando com a equipe de heróis – financiada pelo governo – Youngblood.
Homem-Aranha nº 87
Zeb Wells / Todd Nauck
Panini Comics
100 p. | R$ 7,50
www.paninicomics.com.br
sábado, março 07, 2009
RUBINHO & FORÇA BRUTA: PEGADA DANÇANTE
Quem se esbaldou ontem no show da Orquestra Imperial na Concha Acústica pode se acabar de dançar novamente e rever diversos membros da trupe hoje a noite, no show da banda Rubinho & Força Bruta, no Tarrafa Botequim. A night ainda será aberta pelos locais da banda Radiola.
Liderada por Rubinho Jacobina e contando com Pedro Sá (baixo), Bartolo (guitarra), Bubu (guitarra) e Domenico Lanceloti (bateria), todos membros da Orquestra, o grupo promete um show no qual “a pegada dançante vai ser a tônica“, garante o próprio Rubinho.
Irmão de Nélson Jacobina – parceiro de Jorge Mautner – Rubinho é o responsável por um dos maiores hits da Orquestra, a divertida Artista é o Caralho, e também por uma carreira solo de respeito.
Seu primeiro CD, lançado de forma independente em 2005, foi considerado a revelação daquele ano pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Seu som, uma mistura do pop bem humorado tipicamente carioca, com traços de tropicália e “música da era do rádio que minha mãe ouvia“, como ele conta, pode ser ouvido no myspace.com/rubinhojacobina.
No show de hoje, Rubinho e sua banda executam parte do repertório do CD de 2005, adicionando várias canções novas. “Vai ser mesclado, então também vão rolar músicas do disco que estou para gravar agora, nesse primeiro semestre“, conta.
Rubinho & Força Bruta e Radiola
Hoje, 22 horas
Tarrafa Botequim e Galeria
Rua da Paciência, 116, Rio Vermelho (em cima do antigo Nhô Caldos)
R$ 10 | Até 0h, mulher paga R$ 7
Liderada por Rubinho Jacobina e contando com Pedro Sá (baixo), Bartolo (guitarra), Bubu (guitarra) e Domenico Lanceloti (bateria), todos membros da Orquestra, o grupo promete um show no qual “a pegada dançante vai ser a tônica“, garante o próprio Rubinho.
Irmão de Nélson Jacobina – parceiro de Jorge Mautner – Rubinho é o responsável por um dos maiores hits da Orquestra, a divertida Artista é o Caralho, e também por uma carreira solo de respeito.
Seu primeiro CD, lançado de forma independente em 2005, foi considerado a revelação daquele ano pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Seu som, uma mistura do pop bem humorado tipicamente carioca, com traços de tropicália e “música da era do rádio que minha mãe ouvia“, como ele conta, pode ser ouvido no myspace.com/rubinhojacobina.
No show de hoje, Rubinho e sua banda executam parte do repertório do CD de 2005, adicionando várias canções novas. “Vai ser mesclado, então também vão rolar músicas do disco que estou para gravar agora, nesse primeiro semestre“, conta.
Rubinho & Força Bruta e Radiola
Hoje, 22 horas
Tarrafa Botequim e Galeria
Rua da Paciência, 116, Rio Vermelho (em cima do antigo Nhô Caldos)
R$ 10 | Até 0h, mulher paga R$ 7
sexta-feira, março 06, 2009
ORQUESTRA IMPERIAL HOJE NA CONCHA
Repórter encara maratona de entrevistas com três membros da Orquestra Imperial antes do show de hoje, na Concha Acústica, pela promoção Sua Nota é um Show
Surgida há cerca de seis anos no Rio de Janeiro, como uma grande brincadeira entre músicos notórios e amigos, a Orquestra Imperial (em foto de Caroline Bittencourt) se tornou uma sensação no cenário musical carioca com seus animadíssimos bailes com clima de carnaval, despretensão e muita boa música.
Flertando com a boa e velha gafieira, mas com uma certa pegada pop rock, já que a maioria dos integrantes é oriunda da cena alternativa de lá, o grupo resgatou - mesmo sem querer - o estilo das orquestras de baile, gerando uma pequena onda de novos grupos.
No show de hoje na Concha, nove dos cerca de vinte integrantes originais estarão presentes no palco. Confira a escalação das feras: Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas, Nina Becker, Kassin, Pedro Sá, Domenico, Nelson Jacobina, Wilson das Neves e Moreno Veloso.
No repertório, clássicos da música nacional em releituras dançantes, incluindo boleros e temas dos anos 60, além de sucessos da música pop, com novos arranjos.
Na abertura do evento, o Rei Momo de 2009, Gerônimo esquenta o público com sucessos como Jubiabá e Eu Sou Negão, entre outros. A festa ainda contará com o DJ Som Peba e o VJ e videomaker Marcondes Dourado.
Nas entrevistas a seguir, saiba mais sobre a Orquestra Imperial e três dos seus integrantes: Rodrigo Amarante (Los Hermanos, Little Joy), a cantora e atriz Thalma de Freitas (voz) e o baixista e produtor Alexandre Kassin (baixo).
SERVIÇO:
Sua Nota é o Show – Orquestra Imperial, Gerônimo, DJ Som Peba e Marcondes Dourado
Concha Acústica do Teatro Castro Alves | Praça Dois de Julho, s/n, Campo Grande.
Hoje, 06/03/2009, às 18h
Trocas por internet e call center: ingressorapido.com.br / 4003 1212
RODRIGO AMARANTE
“Sou velejador, então respeito muito o vento”
O bom navegador tem uma ligação quase umbilical com o vento. É a direção e a intensidade deste último que nortearão o curso de sua embarcação nas águas. Revelando-se velejador nesta esclusiva por email, Rodrigo Amarante (em foto de Caroline Bittencourt) parece navegar calmamente seu próprio curso, de acordo com os caminhos que o vento lhe oferece.
Depois da interrupção que a banda que o revelou para os holofotes da mídia, a Los Hermanos, fez há dois anos, Amarante consultou sua bússola, calculou sua rota e buscou novos destinos a bordo da banda Little Joy e da Orquestra Imperial, com a qual ele se apresenta hoje, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves.
Os dois projetos (termo que ele detesta, como se lê na entrevista) não poderiam ser mais distintos.
Enquanto o primeiro traz uma releitura tropical e bem desencanada de um certo indie rock, o segundo, formado por um who‘s who da música carioca, flerta com o som dos bailes de gafieira que parecia, até então, relegado ao limbo. Apesar de não ter um caráter “resgatista“ do estilo, como frisou seu parceiro Alexandre Kassin, baixista da Orquestra (leia sua entrevista mais abaixo), a iniciativa deu frutos, gerando uma pequena onda de novos projetos similares no Rio de janeiro, segundo o próprio Amarante.
Preparando-se para os dois shows especiais do Los Hermanos no festival Just a Fest, onde abrirá a noite com Radiohead e Kraftwerk nos dias 20 (no Rio) e 22 (em São Paulo), ele é lacônico quando se trata de revelar se há futuro para sua antiga banda após estas apresentações. Como ele mesmo já escreveu, “o vento vai dizer“.
Além da injeção de sangue novo que a proposta da Orquestra obviamente traz, graças aos talentos surgidos na última década que constituem sua formação (descontado o senhor Wilson das Neves, claro), o que o projeto traz de efetivamente novo ao cenário da música brasileira? Ou você refuta essa abordagem e não acredita em "novidade" na música?
Rodrigo Amarante: A Orquestra é uma celebração, uma pelada como dizia Seu Jorge, é o jardim da infância eterna. É uma festa mais do que um projeto, entende? É uma celebração da diversidade, da convivência de diferentes mentes, idéias e gerações, que se tornou uma escola para cada um de nós. Agora, musicalmente, qual a importância do que a gente faz eu não sei, isso aí é mais o seu trabalho do que o meu.
O formato orquestra, infelizmente, meio que caiu em desuso nas últimas décadas, devido a uma infinidade de razões. A Orquestra Imperial veio mesmo para ficar ou é um projeto sazonal? Você acha que com o tempo, a iniciativa de vocês poderá gerar uma nova onda de orquestras de música popular, resgatando o formato do limbo?
RA: Quando a gente começou não me lembro de ver bandas assim por aí e agora tem um monte, pelo menos no Rio. Mas a gente é diferente das bandas de gafieira tradicional porque a gente mistura o repertório clássico com qualquer coisa, faz uma putaria danada com os arranjos, mastiga tudo em nome da alegria, anda na corda bamba. Quanto a questão de se nós somos um projeto sazonal, não acho que somos um projeto, odeio essa terminologia, projeto é alguma coisa que não está pronta ou não se tem convicção de que é viável e nós já estamos nessa há sete anos. É sazonal a longo prazo, um estação que vai durar 50 anos, se deus quiser.
Como estão os preparativos para o show do Los Hermanos no festival Just a Fest? Vocês estão ensaiando direto ou estão indo de mansinho, no sentido de deixar a velha química atuar na hora do vamos ver?
RA: Não existe isso de deixar a química atuar quando se trata de tocar bem, relaxado, com uma banda que não se reúne há dois anos. Música também é trabalho (pasme). Muita gente acha que fazer música é fumar maconha e deixar rolar a inspiração, mas é muito trabalho, um trabalho meticuloso que exige horas e horas de prática e estudo. Com a gente não é diferente. A função do ensaio é fazer a gente não pensar no que tá tocando e poder tocar livre de qualquer pensamento mecânico e, aí sim, deixar o corpo falar pela alma, relaxado, sem grilo.
E depois do show do Just a Fest? Há planos para reativar a banda efetivamente?
RA: Ainda não.
Abrir para o Radiohead e o Kraftwerk tem algum significado especial para você? Ou é só mais um show?
RA: Eu adoro as duas bandas, tô muito feliz de poder dividir o palco com eles. Além de poder ver o show de perto. Esse não é só mais um show mesmo!
O som do Little Joy exala uma alegria e uma leveza que eram bem raras no som dos Los Hermanos (salvo engano de minha parte). Foi a sensação de algo começando do zero novamente (um Brand New Start, de fato) que concedeu essa característica ao Little Joy?
RA: Acho que sim, ter tido a oportunidade de começar de novo, num lugar novo, foi uma benção pra mim (e pro Fab). E esse disco foi sendo feito assim, sem muito a gente acreditar que ia mesmo ser um disco, que a gente ia acabar em turnê com uma banda e tudo. Então nossa alegria de tudo isso ter acontecido, de muitas pessoas terem gostado mesmo do que a gente fez é muito grande. A gente é muito agradecido de poder ter tido essa oportunidade, de ter tido tempo de fazer esse disco e essa turnê.
O que o futuro reserva ao Little Joy? Há planos imediatos para a banda?
RA: A gente já tem algumas músicas novas que a gente vinha fazendo na turnê. A questão é que o Fab tá em NY agora com os Strokes então acho eu vou ter que ir pra lá pra gente continuar isso. Vamos ver o que dá.
Você tem planos de lançar disco solo, como fez Marcelo Camelo, ou você gosta mesmo é de atuar em grupo, fazendo parte de uma banda?
RA: Eu gosto de fazer parte de banda, mas pra ser sincero, não escolhi esse caminho, ele me escolheu. Eu poderia ter feito um disco sozinho fossem outras as circunstâncias. O negócio é que o destino se apresentou assim e eu não deixei passar. Sou velejador então respeito muito o vento.
O que você tem ouvido de interessante, Rodrigo? Aqui no Brasil e lá fora?
RA: Esquivel, Zé Menezes, Julie London, France Galle, Serge Gainsboug, Zombies, Devendra Banhart, The Pop's, Cidadão Instigado, Wailers, funk africano dos anos 70, Monochorme Set, Talking Heads, + 2, WIlson das Neves, Victor Araujo, Luiz Melodia, Rolling Stones, Smiths, Adam Green, The Strokes, Fleetwoods, Leonard Cohen, Dylan...
ALEXANDRE KASSIN
Como surgiu a Orquestra Imperial?
Alexandre Kassin: Começou de um jeito nada planejado. A gente tinha uma data no Balroom (casa de shows do Rio de Janeiro), o cara de lá queria uma coisa semanal, e aí marcamos uma temporada e aí rolou legal. Eu liguei pra duas pessoas que tocam soporos e aí eles rapidamente arranjaram outras pesoas, liguei també pro Nelson Jacobina, que eu sabia que gostava de gafieira. Daqui a pouco outras pessoas começaram a ligar interessadas, amigos de amigos, todo mundo a fim de participar. Isso numa quinta feira. Tivemos ensaios sábado e domingo e na segunda estreamos. Nenhum de nós tinha tocado essa música (gafieira) antes, todo mundo era de banda de rock, mas todos gostavam daquele tipo de coisa. E foi isso que deu um som diferente. Era para durar quatro shows e já tem seis anos. Se fosse uma orquestra mesmo,seria bem mal planejada (risos). Tem três guitarras, sabe, umas coisas que não tem um porquê. Temos três guitarras simplesmente por que apareceram três guitarristas. Aí a coisa foi desenvolvendo desse jeito estranho.
O repertório será mais baseado nos bailes, onde vocês executam vários covers ou mais das músicas próprias que estão no CD? O que o público do show de hoje pode esperar?
AK: O repertório ao vivo era das décadas de 50, 60, que a gente achou que não fazia sentido ser regravado. A Orquestra Imperial nunca foi um projeto "resgatista", é uma coisa depretensiosa, mas nada careta, tipo aula de OSPB, não temos nenhuma pretensão de não deixar o samba morrer ou outra logística nacionalista. Como ninguém queria regravar nada, então gravamos as músicas que as pessoas compuseram para o projeto. A gente não é um show, a gente um baile. Mas show de hoje vai ter músicas das duas vertentes.
Você é considerado um dos grandes nomes da música brasileira desta década, como músico e como produtor. Ao contrário de outras décadas, quando os músicos agiam dentro de um nicho próprio (rock, MPB, etc), você transita com facilidade por várias vertentes, de CSS a Vanessa da Matta. Você vê toda a música brasileira hoje como uma coisa só? Caíram todas as barreiras? Onde acaba o rock e começa a MPB?
AK: Puxa, não sei, agora você me pegou. Nunca parei para pensar nisso. MInha banda nos anos 90, a Acabou La Tequila, era basicamente rock, mas não só de rock, a gente do lado do Barão Vermelho, por exemplo, era uma coisa muito distante. Nunca pensei muito nessa coisa de gêneros indefinidos. Acho, na verdade, que alguns gêneros estão se tornando mais fechados. O rock está mais aberto, mas outros gênertos estão mais fechados. O hip hop está menos experimental, menos interessante. Já o rock passou por uma época em que as pessoas começaram a se desinteressar e talvez por isso voltou desse jeito, mais difuso.
Seu projeto mais querido são as produções para os discos dos outros ou as coisas mais autorais, como o projeto +2?
AK: Olha, o que eu me divirto mais de fazer e tocar é a Orquestra. Eu não gosto muito de fazer show, mas com a Orquestra é muito divertido. Geralmente quando o show tá ficando bom, ele acaba. Como o show da Orquestra é grande, podendo durar até quatro horas, então mata bem a minha vontade de tocar. Sobre o + 2, devemos seguir gravando, mas sem muito compromisso, é um projeto aberto. Ainda não pensamios muito sobre isso.
Quais foram as suas últimas produções?
AK: Terminei agora o dvd ao vivo da Vanessa da Matta, o CD da Mariana Aydar e a trilha de um desenho japonês, que é ambientado no Rio de Janeiro, Michiko e Hatchin. A trilha saiu lá no Japão em dois discos, com vinte temas. Foi um ano de trabalho.
Dizem que você é um cara que transita muito bem entre o experimental e o convencional. Como é se equilibrar nessa corda bamba?
AK: Acho que não existe isso, que é tudo a mesma coisa. Esse negócio de que as coisas são diferentes, eu quase discordo (risos). Tem um lance que me anima a fazer música, é que o dia a dia nunca é igual. Por isso que eu não gosto de ter banda,sabe, é quivalente a peça de tatro. Todo dia você tem que subir no palco e tocar as mesmas músicas. E isso é distante da música. Tem um dia que eu tô tocando baixo, outro eu tô tocando um piano malzão (risos), outro dia eu só faço barulho... A vida tem que ter um pouco de tudo. Até em casa, se eu ouço o mesmo disco umas quatro vezes, eu já entendi, então eu quero ouvir outras coisas, para ter outro ponto de vista.
É a primeira vez da Orquestra em Salvador, não é?
AK: Infelizmente, é a primeira vez da Orquestra, mas eu já toquei aí outras vezes, com o + 2, com o Lenine, com Arto Lindsay no Cortejo Afro, no Carnaval. E também com o Acabou La Tequila, acho que em 1995. Adoro tocar aí em Salvador, é uma grande cidade.
Que banda recente te chamou a atenção aqui no Brasil?
AK: Rockz. Eu gosto muito dessa banda.
THALMA DE FREITAS
Quais músicas você canta na Orquestra Imperial? O que o público pode esperar do show de hj?
TF: Entre outras, canto a musica que eu gravei no disco, Não Foi Em Vão, que é minha e Onde Anda o Meu Amor, do Orlandivo. O público pode esperar muita boa música.
É a primeira vez da Orquestra aí, então tenho certeza q vai ser bem legal. Tomara que as pessoas gostem.
Como você entrou na Orquestra? O Kassin disse que o projeto surgiu numa quinta-feira, ensaiou-se sábado e domingo e na segunda, a Orquestra já estava no palco do Ballroom (Rio de Janeiro).
TF: Entrei logo que começou desde a tal quinta-feira. Eu tava no estúdio com o Kassin na hora que o dono do Ballroom ligou para ele fazendo o convite da temporada. Kassin desligou o telefone e me perguntou: "quer cantar numa orquestra de gafieira"?
Qual é o grande barato da Orquestra Imperial?
TF: É tocar com os meus amigos, que també são meus músicos prediletos. A Orquestra tem músicos dos grupos que eu mais gosto, como o Amarante (Los Hermanos), Pedro Sá (Do Amor, Caetano Veloso), Nelson Jacobina (Jorge Mautner), o Wilson das Neves, o Kassin (+ 2). Enfim, tocar com os meus amigos o som que eu gosto. Isso me pira.
Além de ser cantora, você também tem uma carreira sólida como atriz. Do que você gosta mais, de cantar ou de atuar? Ou dos dois mesmo?
TF: (Demonstrando irritação) Olha, me desculpe, mas eu não vou responder essa pergunta. Já tem seis anos que a Orquestra Imperial existe. É óbvio que eu prefiro e gosto de fazer os dois, e conheço muita gente que toca as duas carreiras, atuando e cantando de forma sólida, e ainda dá tempo de sair com os amigos, fazer compras e pagar as contas.
Quando sai seu próximo CD solo?
TF: Vou gravar meu disco novo ainda esse ano, produzido por Kassin e Berna Ceppas, com canções de minha autoria.
Você utiliza recursos cênicos de atriz no palco quando canta? Como você lida com isso?
TF: Palco é palco, sabe? Não uso técnica, uso meu estilo mesmo. Trabalho nisso há vinte anos, então eu nem penso mais.
Surgida há cerca de seis anos no Rio de Janeiro, como uma grande brincadeira entre músicos notórios e amigos, a Orquestra Imperial (em foto de Caroline Bittencourt) se tornou uma sensação no cenário musical carioca com seus animadíssimos bailes com clima de carnaval, despretensão e muita boa música.
Flertando com a boa e velha gafieira, mas com uma certa pegada pop rock, já que a maioria dos integrantes é oriunda da cena alternativa de lá, o grupo resgatou - mesmo sem querer - o estilo das orquestras de baile, gerando uma pequena onda de novos grupos.
No show de hoje na Concha, nove dos cerca de vinte integrantes originais estarão presentes no palco. Confira a escalação das feras: Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas, Nina Becker, Kassin, Pedro Sá, Domenico, Nelson Jacobina, Wilson das Neves e Moreno Veloso.
No repertório, clássicos da música nacional em releituras dançantes, incluindo boleros e temas dos anos 60, além de sucessos da música pop, com novos arranjos.
Na abertura do evento, o Rei Momo de 2009, Gerônimo esquenta o público com sucessos como Jubiabá e Eu Sou Negão, entre outros. A festa ainda contará com o DJ Som Peba e o VJ e videomaker Marcondes Dourado.
Nas entrevistas a seguir, saiba mais sobre a Orquestra Imperial e três dos seus integrantes: Rodrigo Amarante (Los Hermanos, Little Joy), a cantora e atriz Thalma de Freitas (voz) e o baixista e produtor Alexandre Kassin (baixo).
SERVIÇO:
Sua Nota é o Show – Orquestra Imperial, Gerônimo, DJ Som Peba e Marcondes Dourado
Concha Acústica do Teatro Castro Alves | Praça Dois de Julho, s/n, Campo Grande.
Hoje, 06/03/2009, às 18h
Trocas por internet e call center: ingressorapido.com.br / 4003 1212
RODRIGO AMARANTE
“Sou velejador, então respeito muito o vento”
O bom navegador tem uma ligação quase umbilical com o vento. É a direção e a intensidade deste último que nortearão o curso de sua embarcação nas águas. Revelando-se velejador nesta esclusiva por email, Rodrigo Amarante (em foto de Caroline Bittencourt) parece navegar calmamente seu próprio curso, de acordo com os caminhos que o vento lhe oferece.
Depois da interrupção que a banda que o revelou para os holofotes da mídia, a Los Hermanos, fez há dois anos, Amarante consultou sua bússola, calculou sua rota e buscou novos destinos a bordo da banda Little Joy e da Orquestra Imperial, com a qual ele se apresenta hoje, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves.
Os dois projetos (termo que ele detesta, como se lê na entrevista) não poderiam ser mais distintos.
Enquanto o primeiro traz uma releitura tropical e bem desencanada de um certo indie rock, o segundo, formado por um who‘s who da música carioca, flerta com o som dos bailes de gafieira que parecia, até então, relegado ao limbo. Apesar de não ter um caráter “resgatista“ do estilo, como frisou seu parceiro Alexandre Kassin, baixista da Orquestra (leia sua entrevista mais abaixo), a iniciativa deu frutos, gerando uma pequena onda de novos projetos similares no Rio de janeiro, segundo o próprio Amarante.
Preparando-se para os dois shows especiais do Los Hermanos no festival Just a Fest, onde abrirá a noite com Radiohead e Kraftwerk nos dias 20 (no Rio) e 22 (em São Paulo), ele é lacônico quando se trata de revelar se há futuro para sua antiga banda após estas apresentações. Como ele mesmo já escreveu, “o vento vai dizer“.
Além da injeção de sangue novo que a proposta da Orquestra obviamente traz, graças aos talentos surgidos na última década que constituem sua formação (descontado o senhor Wilson das Neves, claro), o que o projeto traz de efetivamente novo ao cenário da música brasileira? Ou você refuta essa abordagem e não acredita em "novidade" na música?
Rodrigo Amarante: A Orquestra é uma celebração, uma pelada como dizia Seu Jorge, é o jardim da infância eterna. É uma festa mais do que um projeto, entende? É uma celebração da diversidade, da convivência de diferentes mentes, idéias e gerações, que se tornou uma escola para cada um de nós. Agora, musicalmente, qual a importância do que a gente faz eu não sei, isso aí é mais o seu trabalho do que o meu.
O formato orquestra, infelizmente, meio que caiu em desuso nas últimas décadas, devido a uma infinidade de razões. A Orquestra Imperial veio mesmo para ficar ou é um projeto sazonal? Você acha que com o tempo, a iniciativa de vocês poderá gerar uma nova onda de orquestras de música popular, resgatando o formato do limbo?
RA: Quando a gente começou não me lembro de ver bandas assim por aí e agora tem um monte, pelo menos no Rio. Mas a gente é diferente das bandas de gafieira tradicional porque a gente mistura o repertório clássico com qualquer coisa, faz uma putaria danada com os arranjos, mastiga tudo em nome da alegria, anda na corda bamba. Quanto a questão de se nós somos um projeto sazonal, não acho que somos um projeto, odeio essa terminologia, projeto é alguma coisa que não está pronta ou não se tem convicção de que é viável e nós já estamos nessa há sete anos. É sazonal a longo prazo, um estação que vai durar 50 anos, se deus quiser.
Como estão os preparativos para o show do Los Hermanos no festival Just a Fest? Vocês estão ensaiando direto ou estão indo de mansinho, no sentido de deixar a velha química atuar na hora do vamos ver?
RA: Não existe isso de deixar a química atuar quando se trata de tocar bem, relaxado, com uma banda que não se reúne há dois anos. Música também é trabalho (pasme). Muita gente acha que fazer música é fumar maconha e deixar rolar a inspiração, mas é muito trabalho, um trabalho meticuloso que exige horas e horas de prática e estudo. Com a gente não é diferente. A função do ensaio é fazer a gente não pensar no que tá tocando e poder tocar livre de qualquer pensamento mecânico e, aí sim, deixar o corpo falar pela alma, relaxado, sem grilo.
E depois do show do Just a Fest? Há planos para reativar a banda efetivamente?
RA: Ainda não.
Abrir para o Radiohead e o Kraftwerk tem algum significado especial para você? Ou é só mais um show?
RA: Eu adoro as duas bandas, tô muito feliz de poder dividir o palco com eles. Além de poder ver o show de perto. Esse não é só mais um show mesmo!
O som do Little Joy exala uma alegria e uma leveza que eram bem raras no som dos Los Hermanos (salvo engano de minha parte). Foi a sensação de algo começando do zero novamente (um Brand New Start, de fato) que concedeu essa característica ao Little Joy?
RA: Acho que sim, ter tido a oportunidade de começar de novo, num lugar novo, foi uma benção pra mim (e pro Fab). E esse disco foi sendo feito assim, sem muito a gente acreditar que ia mesmo ser um disco, que a gente ia acabar em turnê com uma banda e tudo. Então nossa alegria de tudo isso ter acontecido, de muitas pessoas terem gostado mesmo do que a gente fez é muito grande. A gente é muito agradecido de poder ter tido essa oportunidade, de ter tido tempo de fazer esse disco e essa turnê.
O que o futuro reserva ao Little Joy? Há planos imediatos para a banda?
RA: A gente já tem algumas músicas novas que a gente vinha fazendo na turnê. A questão é que o Fab tá em NY agora com os Strokes então acho eu vou ter que ir pra lá pra gente continuar isso. Vamos ver o que dá.
Você tem planos de lançar disco solo, como fez Marcelo Camelo, ou você gosta mesmo é de atuar em grupo, fazendo parte de uma banda?
RA: Eu gosto de fazer parte de banda, mas pra ser sincero, não escolhi esse caminho, ele me escolheu. Eu poderia ter feito um disco sozinho fossem outras as circunstâncias. O negócio é que o destino se apresentou assim e eu não deixei passar. Sou velejador então respeito muito o vento.
O que você tem ouvido de interessante, Rodrigo? Aqui no Brasil e lá fora?
RA: Esquivel, Zé Menezes, Julie London, France Galle, Serge Gainsboug, Zombies, Devendra Banhart, The Pop's, Cidadão Instigado, Wailers, funk africano dos anos 70, Monochorme Set, Talking Heads, + 2, WIlson das Neves, Victor Araujo, Luiz Melodia, Rolling Stones, Smiths, Adam Green, The Strokes, Fleetwoods, Leonard Cohen, Dylan...
ALEXANDRE KASSIN
Como surgiu a Orquestra Imperial?
Alexandre Kassin: Começou de um jeito nada planejado. A gente tinha uma data no Balroom (casa de shows do Rio de Janeiro), o cara de lá queria uma coisa semanal, e aí marcamos uma temporada e aí rolou legal. Eu liguei pra duas pessoas que tocam soporos e aí eles rapidamente arranjaram outras pesoas, liguei també pro Nelson Jacobina, que eu sabia que gostava de gafieira. Daqui a pouco outras pessoas começaram a ligar interessadas, amigos de amigos, todo mundo a fim de participar. Isso numa quinta feira. Tivemos ensaios sábado e domingo e na segunda estreamos. Nenhum de nós tinha tocado essa música (gafieira) antes, todo mundo era de banda de rock, mas todos gostavam daquele tipo de coisa. E foi isso que deu um som diferente. Era para durar quatro shows e já tem seis anos. Se fosse uma orquestra mesmo,seria bem mal planejada (risos). Tem três guitarras, sabe, umas coisas que não tem um porquê. Temos três guitarras simplesmente por que apareceram três guitarristas. Aí a coisa foi desenvolvendo desse jeito estranho.
O repertório será mais baseado nos bailes, onde vocês executam vários covers ou mais das músicas próprias que estão no CD? O que o público do show de hoje pode esperar?
AK: O repertório ao vivo era das décadas de 50, 60, que a gente achou que não fazia sentido ser regravado. A Orquestra Imperial nunca foi um projeto "resgatista", é uma coisa depretensiosa, mas nada careta, tipo aula de OSPB, não temos nenhuma pretensão de não deixar o samba morrer ou outra logística nacionalista. Como ninguém queria regravar nada, então gravamos as músicas que as pessoas compuseram para o projeto. A gente não é um show, a gente um baile. Mas show de hoje vai ter músicas das duas vertentes.
Você é considerado um dos grandes nomes da música brasileira desta década, como músico e como produtor. Ao contrário de outras décadas, quando os músicos agiam dentro de um nicho próprio (rock, MPB, etc), você transita com facilidade por várias vertentes, de CSS a Vanessa da Matta. Você vê toda a música brasileira hoje como uma coisa só? Caíram todas as barreiras? Onde acaba o rock e começa a MPB?
AK: Puxa, não sei, agora você me pegou. Nunca parei para pensar nisso. MInha banda nos anos 90, a Acabou La Tequila, era basicamente rock, mas não só de rock, a gente do lado do Barão Vermelho, por exemplo, era uma coisa muito distante. Nunca pensei muito nessa coisa de gêneros indefinidos. Acho, na verdade, que alguns gêneros estão se tornando mais fechados. O rock está mais aberto, mas outros gênertos estão mais fechados. O hip hop está menos experimental, menos interessante. Já o rock passou por uma época em que as pessoas começaram a se desinteressar e talvez por isso voltou desse jeito, mais difuso.
Seu projeto mais querido são as produções para os discos dos outros ou as coisas mais autorais, como o projeto +2?
AK: Olha, o que eu me divirto mais de fazer e tocar é a Orquestra. Eu não gosto muito de fazer show, mas com a Orquestra é muito divertido. Geralmente quando o show tá ficando bom, ele acaba. Como o show da Orquestra é grande, podendo durar até quatro horas, então mata bem a minha vontade de tocar. Sobre o + 2, devemos seguir gravando, mas sem muito compromisso, é um projeto aberto. Ainda não pensamios muito sobre isso.
Quais foram as suas últimas produções?
AK: Terminei agora o dvd ao vivo da Vanessa da Matta, o CD da Mariana Aydar e a trilha de um desenho japonês, que é ambientado no Rio de Janeiro, Michiko e Hatchin. A trilha saiu lá no Japão em dois discos, com vinte temas. Foi um ano de trabalho.
Dizem que você é um cara que transita muito bem entre o experimental e o convencional. Como é se equilibrar nessa corda bamba?
AK: Acho que não existe isso, que é tudo a mesma coisa. Esse negócio de que as coisas são diferentes, eu quase discordo (risos). Tem um lance que me anima a fazer música, é que o dia a dia nunca é igual. Por isso que eu não gosto de ter banda,sabe, é quivalente a peça de tatro. Todo dia você tem que subir no palco e tocar as mesmas músicas. E isso é distante da música. Tem um dia que eu tô tocando baixo, outro eu tô tocando um piano malzão (risos), outro dia eu só faço barulho... A vida tem que ter um pouco de tudo. Até em casa, se eu ouço o mesmo disco umas quatro vezes, eu já entendi, então eu quero ouvir outras coisas, para ter outro ponto de vista.
É a primeira vez da Orquestra em Salvador, não é?
AK: Infelizmente, é a primeira vez da Orquestra, mas eu já toquei aí outras vezes, com o + 2, com o Lenine, com Arto Lindsay no Cortejo Afro, no Carnaval. E também com o Acabou La Tequila, acho que em 1995. Adoro tocar aí em Salvador, é uma grande cidade.
Que banda recente te chamou a atenção aqui no Brasil?
AK: Rockz. Eu gosto muito dessa banda.
THALMA DE FREITAS
Quais músicas você canta na Orquestra Imperial? O que o público pode esperar do show de hj?
TF: Entre outras, canto a musica que eu gravei no disco, Não Foi Em Vão, que é minha e Onde Anda o Meu Amor, do Orlandivo. O público pode esperar muita boa música.
É a primeira vez da Orquestra aí, então tenho certeza q vai ser bem legal. Tomara que as pessoas gostem.
Como você entrou na Orquestra? O Kassin disse que o projeto surgiu numa quinta-feira, ensaiou-se sábado e domingo e na segunda, a Orquestra já estava no palco do Ballroom (Rio de Janeiro).
TF: Entrei logo que começou desde a tal quinta-feira. Eu tava no estúdio com o Kassin na hora que o dono do Ballroom ligou para ele fazendo o convite da temporada. Kassin desligou o telefone e me perguntou: "quer cantar numa orquestra de gafieira"?
Qual é o grande barato da Orquestra Imperial?
TF: É tocar com os meus amigos, que també são meus músicos prediletos. A Orquestra tem músicos dos grupos que eu mais gosto, como o Amarante (Los Hermanos), Pedro Sá (Do Amor, Caetano Veloso), Nelson Jacobina (Jorge Mautner), o Wilson das Neves, o Kassin (+ 2). Enfim, tocar com os meus amigos o som que eu gosto. Isso me pira.
Além de ser cantora, você também tem uma carreira sólida como atriz. Do que você gosta mais, de cantar ou de atuar? Ou dos dois mesmo?
TF: (Demonstrando irritação) Olha, me desculpe, mas eu não vou responder essa pergunta. Já tem seis anos que a Orquestra Imperial existe. É óbvio que eu prefiro e gosto de fazer os dois, e conheço muita gente que toca as duas carreiras, atuando e cantando de forma sólida, e ainda dá tempo de sair com os amigos, fazer compras e pagar as contas.
Quando sai seu próximo CD solo?
TF: Vou gravar meu disco novo ainda esse ano, produzido por Kassin e Berna Ceppas, com canções de minha autoria.
Você utiliza recursos cênicos de atriz no palco quando canta? Como você lida com isso?
TF: Palco é palco, sabe? Não uso técnica, uso meu estilo mesmo. Trabalho nisso há vinte anos, então eu nem penso mais.
quinta-feira, março 05, 2009
BAIA VOLTA A SALVADOR EM DOSE DUPLA
Um dos mais interessantes músicos surgidos no cenário underground dos anos 90, Mauricio Baia se apresenta hoje e amanhã em clima intimista no Balcão Botequim.
Roqueiros de quilometragem mais avançada devem lembrar de sua antiga banda, Baia & Os Rockboys, que fez ótimos shows no circuito alternativo local na década passada. Em 2006, após o fim dos Rockboys (em 2003), lançou seu primeiro CD solo, o elogiado Habeas Corpus. De lá para cá, volta e meia ele se apresenta na Bahia, terra onde nasceu e cultivou um público fiel.
Nos shows do Balcão, Baia será acompanhado por dois músicos locais: Graco (ex-Inkoma e Scambo) no baixo e Thiago Trad (Cascadura) na bateria. “O repertório vai ser um apanhado das minhas duas fases: Rockboys e solo. Costumo também fazer músicas de Zé (Ramalho), Raul (Seixas) e alguma coisa do (Bob) Dylan“, adianta.
De Zé Ramalho e Bob Dylan, aliás, ele pode falar de cadeira. O CD mais recente do primeiro, em homenagem ao último, inclui duas versões suas para canções do velho bardo ianque: Tá Tudo Mudando (versão de Things Have Changed) e Rock Feelingood (versão para Tombstone Blues), sendo que a primeira deu título ao disco.
Em outra frente, Baia dá continuidade ao projeto 4 Cabeça, grupo que integra junto a outros nomes significativos da cena alternativa carioca: Luis Carlinhos, Gabriel Moura e Rogê.
No momento, ele se encontra no processo de gração do primeiro CD do grupo. “Depois de umas temporadas lotadas no Rio, resolvemos gravar. Sai no meio do ano“, promete.
Maurício Baia
Sexta e sábado (6 e 7.03), no Balcão Botequim (3334-7450)
Rua da Paciência, Rio Vermelho | R$ 20
Roqueiros de quilometragem mais avançada devem lembrar de sua antiga banda, Baia & Os Rockboys, que fez ótimos shows no circuito alternativo local na década passada. Em 2006, após o fim dos Rockboys (em 2003), lançou seu primeiro CD solo, o elogiado Habeas Corpus. De lá para cá, volta e meia ele se apresenta na Bahia, terra onde nasceu e cultivou um público fiel.
Nos shows do Balcão, Baia será acompanhado por dois músicos locais: Graco (ex-Inkoma e Scambo) no baixo e Thiago Trad (Cascadura) na bateria. “O repertório vai ser um apanhado das minhas duas fases: Rockboys e solo. Costumo também fazer músicas de Zé (Ramalho), Raul (Seixas) e alguma coisa do (Bob) Dylan“, adianta.
De Zé Ramalho e Bob Dylan, aliás, ele pode falar de cadeira. O CD mais recente do primeiro, em homenagem ao último, inclui duas versões suas para canções do velho bardo ianque: Tá Tudo Mudando (versão de Things Have Changed) e Rock Feelingood (versão para Tombstone Blues), sendo que a primeira deu título ao disco.
Em outra frente, Baia dá continuidade ao projeto 4 Cabeça, grupo que integra junto a outros nomes significativos da cena alternativa carioca: Luis Carlinhos, Gabriel Moura e Rogê.
No momento, ele se encontra no processo de gração do primeiro CD do grupo. “Depois de umas temporadas lotadas no Rio, resolvemos gravar. Sai no meio do ano“, promete.
Maurício Baia
Sexta e sábado (6 e 7.03), no Balcão Botequim (3334-7450)
Rua da Paciência, Rio Vermelho | R$ 20
segunda-feira, março 02, 2009
WATCHMEN DESVENDADO
Chega ao Brasil o livro Os bastidores de Watchmen, making of do clássico romance gráfico de Alan Moore
Tornou-se lugar-comum, de 20 anos para cá, apontar o romance gráfico Watchmen como A Melhor História em Quadrinhos de Todos os Tempos. Se predicados não lhe faltam para tanto, informações mais acuradas sobre sua criação e feitura eram esparsas e, não raro, pouco confiáveis.
Em tempo para a estreia (no dia 6) da aguardadíssima adaptação cinematográfica, a Editora Aleph solta nas livrarias o livro Os bastidores de Watchmen.
A edição caprichadíssima, e, por isso mesmo, de preço salgado, é assinada pelo próprio co-autor de Watchmen, Dave Gibbons, que desenhou as 12 edições originais da série e colaborou, como se pode depreender da leitura do livro, com o escritor Alan Moore na criação de muitos dos conceitos e detalhes da obra.
Em capa dura (com sobrecapa), papel de primeira e impressão soberba, Os bastidores de Watchmen está, na verdade, mais para um livrão de arte do que para uma análise aprofundada da complexa obra-prima que é a HQ em si.
A impressão de "livro de arte" é reforçada pela assinatura – conjunta à de Gibbons – dos aclamados designers Chip Kidd e Mike Essl, ganhadores de diversos prêmios Eisner (o Oscar dos quadrinhos) pelos seus trabalhos em livros importantes, como Peanuts: the art of Charles Schulz e DC Comics Covergirls, respectivamente.
Arquivos – Gibbons se limita a abrir seus arquivos e demonstrar ao leitor a exaustiva – e também frutífera – tarefa que foi desenhar Watchmen ao longo de pouco mais de dois anos de sua vida, deixando a análise aprofundada para os muitos ensaístas e pesquisadores (sem esquecer os gaiatos) que pululam pelo chamado fandom (ambiente virtual que reúne os fãs de HQ e cultura pop em geral).
O grande barato do livro é ver como o conceito geral de Watchmen foi sendo maturado pela dupla Moore & Gibbons ao longo da confecção da obra, além de diversas curiosidades sobre esta que é a única HQ presente na lista dos 100 Melhores Romances em Língua Inglesa, segundo a revista Time.
Estão lá desde desenhos feitos por Gibbons aos 13 anos de idade de um certo Night Owl – depois reaproveitado por ele mesmo já adulto, na criação do Nite Owl (Coruja) de Watchmen – até os leiautes preliminares de absolutamente todas as páginas da série.
Entre as revelações mais surpreendentes de Gibbons está o visual inicial do personagem Rorschach, o implacável justiceiro com a máscara inspirada nas manchas aleatórias do famoso teste psiquiátrico de mesmo nome. Ao invés do consagrado conjunto de sobretudo marrom e chapéu Stetson que os leitores conhecem, o lunático espancador de criminosos usava inicialmente um traje colante de corpo inteiro, algo mais convencional quando se pensa em heróis de HQ.
Da mesma forma, o azulado Doutor Manhattan, pivô da série e o único personagem a possuir, de fato, poderes sobre-humanos, chegou a ter orelhas pontudas como as do senhor Spock (Jornada nas Estrelas) e um calção preto como uniforme.
Por fim, tanto as orelhas pontudas quanto o calção foram abolidos, com os autores partindo para a nudez frontal assumida pelo personagem.
Ainda há muitas curiosidades e detalhes, como uma pequena HQ de Gibbons, onde ele relata como conheceu Alan Moore em Londres em 1984, além do relato do colorista John Higgins, artes enviadas a Gibbons pelos fãs da série (alguns famosos) e as imagens dos grosseiros bonecos de chumbo que acompanhavam o RPG de Watchmen, lançado no rastro do sucesso da série.
Os bastidores de Watchmen
Dave Gibbons / Chipp Kidd / Mike Essl
Editora Aleph
280 p. R$ 124
http://www.editoraaleph.com.br/
DESCONSTRUINDO UM GÊNERO
Detalhista ao extremo, HQ marcou por várias razões
É difícil escrever alguma coisa nova sobre Watchmen, que é considerada, ao lado de Maus de Art Spiegelman e Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, a HQ que mudou a cara das HQs e concedeu, de uma vez por todas, dignidade artística e profundidade literária a um gênero visto com desconfiança por muitos – até hoje, na verdade.
Para quem ainda não sabe direito do que se trata essa HQ cuja milionária adaptação para os cinemas têm despertado tanta curiosidade e interesse, aqui vai um breve resumo.
Watchmen (a HQ) retrata, com um grau de realismo e apego a detalhes até então nunca visto, como seria o mundo (ambientado na década de 80), se vigilantes e justiceiros mascarados realmente existissem.
Moore se vale de uma narrativa fragmentada que vai e volta no tempo (na época, outra novidade que hoje é largamente utilizada em tudo que é mídia), mostrando quando os heróis surgiram nas décadas de 30 e 40, homenageando a literatura pulp e a chamada Era de Ouro dos quadrinhos, quando estes eram bem mais ingênuos, dirigidos ao público infantil.
No anos 50, porém, com os McCarthistas caçando bruxas a torto e a direito, os vigilantes foram considerados ilegais e colocados na clandestinidade, fazendo com que a maioria deles abandonasse o colante e as máscaras. É importante notar que todos eles eram meros humanos com certas habilidades de luta e apetrechos especiais. Nenhum deles tinha superpoderes.
Aceleração de partículas – A grande virada de Watchmen ocorre quando um acidente em um campo de pesquisas nucleares americano desintegra um funcionário, preso inadvertidamente numa câmara de aceleração de partículas (algo similar àquela máquina que se temia que criasse um buraco negro na Europa, no fim de 2008).
Poucos dias depois desse acidente, esse funcionário reaparece, totalmente transformado, com a pele azulada (e brilhante) e superpoderes de verdade.
O surgimento dessa criatura, chamada de Doutor Manhattan (referência ao Projeto Manhattan, que resultou na criação da bomba atômica americana) desequilibrou a já frágil balança de poder entre Estados Unidos e União Soviética em plena Guerra Fria. Quando estoura a Guerra do Vietnã, o governo americano não hesita em enviar Manhattan ao campo de batalha.
Resultado: os Estados Unidos ganham a Guerra do Vietnã, Watergate nunca houve e Richard Nixon foi reeleito diversas vezes. Nos anos 80, quando se passa a história, ele está em plena campanha, para ganhar "four more years" (mais quatro anos).
Terrível simetria – Moore parte dessa premissa já complexa e eleva o tom ainda mais, criando, com o auxílio de Gibbons e do colorista John Higgins um mundo alternativo inteiro, onde a cultura, a política, a economia, a filosofia e a religião foram profundamente influenciadas pela presença na Terra de uma criatura de poderes praticamente divinos – e que, por mais parecido que isso possa soar com a possível existência de um Deus, parece se distanciar cada vez mais da humanidade, inclusive da sua própria.
Em paralelo a tudo isso, a narrativa (que está longe de ser linear) ainda consegue estabelecer uma conexão profunda entre o leitor e todos os personagens da história, minuciosamente radiografados ao longo da série em todos os detalhes mais sórdidos (ou não) de suas personas.
Há ainda uma forte simbologia que percorre todas as suas páginas, com ícones recorrentes aqui e ali (atenção para a carinha Smiley), bem como personagens transeuntes que se repetem em um certo cruzamento em Nova Iorque, marcas de produtos e empresas fictícias e até mesmo – o cúmulo da sofisticação – uma edição inteira (o capítulo 5) totalmente simétrica, "planejada para ter o mesmo arranjo de quadros quando vista de trás para frente e de frente para trás", como explica Gibbons em Os bastidores de Watchmen.
Enfim: em Watchmen, nada – absolutamente nada – é por acaso. Tudo tem seu significado e sua função dentro da história. E o que não falta ali é detalhe.
Por tudo isso, Alan Moore sempre se mostrou radicalmente contra a adaptação de suas obras, seja para o cinema ou qualquer outro meio, já que, segundo ele próprio, a obra em HQ tem recursos inerentes ao próprio meio que só podem ser apreciados numa HQ.
Ele chegou mesmo a abrir mão formalmente de todos os lucros (há quem desminta, claro) com os filmes baseados em suas HQs em favor dos artistas que trabalham com ele. Uma coerência raramente vista em qualquer meio artístico.
EDIÇÃO EM CAPA DURA VEM AÍ
Lançada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1986, em doze edições mensais pela DC, Watchmen chegou ao Brasil em novembro de 1988 pela Editora Abril, que optou por lançá-la em seis edições, com cada uma contendo dois capítulos da versão original.
Onze anos depois, em 1999, a mesma Abril a relançou de forma mais fiel à original, em doze edições mensais. Uma terceira edição foi lançada no meio desta década pela Via Lettera, desta vez direto em livrarias e em quatro volumes (três capítulos em cada volume).
Agora, com a estreia do filme já pertinho, a Panini Books se prepara para soltar nas livrarias a quarta edição brasileira de Watchmen, e com certeza, a mais luxuosa, baseada na edição Absolute americana, com capa dura, diversos extras e recolorida digitalmente (pelo próprio John Higgins).
Bastardos venenosos – Sobre o filme e a relação de Moore com tudo o que o cerca, a novidade é que não há novidade. Ele continua, como avisou que ia fazer desde 2007, "cuspindo veneno" na mídia sobre a adaptação.
Na sua última entrevista sobre o assunto, para a revista britânica Total Film (noticiada no Brasil através do site Omelete), o barbudão de Northampton chegou a negar a própria obra, associando o gênero de super-heróis com a conhecida deslealdade americana: "Na época em que escrevi Watchmen, eu ainda acreditava nos bastardos venenosos [os super-heróis], eu tinha uma opinião diferente sobre quadrinhos de super-herói norte-americanos e o que eles significavam (...). Os EUA têm uma afeição desmedida por lutas desleais. É por isso que armas são tão populares lá – porque você pode atacar de supresa, atirar pelas costas, lutar de forma bastante covarde. O que lá chamam de fogo amigo, no resto do mundo a gente chama de fogo americano", disparou.
Conhecido não apenas pela genialidade e complexidade que imprime em cada quadrinho que cria em sua vasta obra, mas também por ser um praticante assumido de bruxaria, Alan Moore ainda é um mito oculto, um enigma a ser descoberto por futuras gerações.
Até já existe um documentário sobre ele, The Mindscape of Alan Moore (2003), de Dez Vylenz e Moritz Winkler.
Tornou-se lugar-comum, de 20 anos para cá, apontar o romance gráfico Watchmen como A Melhor História em Quadrinhos de Todos os Tempos. Se predicados não lhe faltam para tanto, informações mais acuradas sobre sua criação e feitura eram esparsas e, não raro, pouco confiáveis.
Em tempo para a estreia (no dia 6) da aguardadíssima adaptação cinematográfica, a Editora Aleph solta nas livrarias o livro Os bastidores de Watchmen.
A edição caprichadíssima, e, por isso mesmo, de preço salgado, é assinada pelo próprio co-autor de Watchmen, Dave Gibbons, que desenhou as 12 edições originais da série e colaborou, como se pode depreender da leitura do livro, com o escritor Alan Moore na criação de muitos dos conceitos e detalhes da obra.
Em capa dura (com sobrecapa), papel de primeira e impressão soberba, Os bastidores de Watchmen está, na verdade, mais para um livrão de arte do que para uma análise aprofundada da complexa obra-prima que é a HQ em si.
A impressão de "livro de arte" é reforçada pela assinatura – conjunta à de Gibbons – dos aclamados designers Chip Kidd e Mike Essl, ganhadores de diversos prêmios Eisner (o Oscar dos quadrinhos) pelos seus trabalhos em livros importantes, como Peanuts: the art of Charles Schulz e DC Comics Covergirls, respectivamente.
Arquivos – Gibbons se limita a abrir seus arquivos e demonstrar ao leitor a exaustiva – e também frutífera – tarefa que foi desenhar Watchmen ao longo de pouco mais de dois anos de sua vida, deixando a análise aprofundada para os muitos ensaístas e pesquisadores (sem esquecer os gaiatos) que pululam pelo chamado fandom (ambiente virtual que reúne os fãs de HQ e cultura pop em geral).
O grande barato do livro é ver como o conceito geral de Watchmen foi sendo maturado pela dupla Moore & Gibbons ao longo da confecção da obra, além de diversas curiosidades sobre esta que é a única HQ presente na lista dos 100 Melhores Romances em Língua Inglesa, segundo a revista Time.
Estão lá desde desenhos feitos por Gibbons aos 13 anos de idade de um certo Night Owl – depois reaproveitado por ele mesmo já adulto, na criação do Nite Owl (Coruja) de Watchmen – até os leiautes preliminares de absolutamente todas as páginas da série.
Entre as revelações mais surpreendentes de Gibbons está o visual inicial do personagem Rorschach, o implacável justiceiro com a máscara inspirada nas manchas aleatórias do famoso teste psiquiátrico de mesmo nome. Ao invés do consagrado conjunto de sobretudo marrom e chapéu Stetson que os leitores conhecem, o lunático espancador de criminosos usava inicialmente um traje colante de corpo inteiro, algo mais convencional quando se pensa em heróis de HQ.
Da mesma forma, o azulado Doutor Manhattan, pivô da série e o único personagem a possuir, de fato, poderes sobre-humanos, chegou a ter orelhas pontudas como as do senhor Spock (Jornada nas Estrelas) e um calção preto como uniforme.
Por fim, tanto as orelhas pontudas quanto o calção foram abolidos, com os autores partindo para a nudez frontal assumida pelo personagem.
Ainda há muitas curiosidades e detalhes, como uma pequena HQ de Gibbons, onde ele relata como conheceu Alan Moore em Londres em 1984, além do relato do colorista John Higgins, artes enviadas a Gibbons pelos fãs da série (alguns famosos) e as imagens dos grosseiros bonecos de chumbo que acompanhavam o RPG de Watchmen, lançado no rastro do sucesso da série.
Os bastidores de Watchmen
Dave Gibbons / Chipp Kidd / Mike Essl
Editora Aleph
280 p. R$ 124
http://www.editoraaleph.com.br/
DESCONSTRUINDO UM GÊNERO
Detalhista ao extremo, HQ marcou por várias razões
É difícil escrever alguma coisa nova sobre Watchmen, que é considerada, ao lado de Maus de Art Spiegelman e Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, a HQ que mudou a cara das HQs e concedeu, de uma vez por todas, dignidade artística e profundidade literária a um gênero visto com desconfiança por muitos – até hoje, na verdade.
Para quem ainda não sabe direito do que se trata essa HQ cuja milionária adaptação para os cinemas têm despertado tanta curiosidade e interesse, aqui vai um breve resumo.
Watchmen (a HQ) retrata, com um grau de realismo e apego a detalhes até então nunca visto, como seria o mundo (ambientado na década de 80), se vigilantes e justiceiros mascarados realmente existissem.
Moore se vale de uma narrativa fragmentada que vai e volta no tempo (na época, outra novidade que hoje é largamente utilizada em tudo que é mídia), mostrando quando os heróis surgiram nas décadas de 30 e 40, homenageando a literatura pulp e a chamada Era de Ouro dos quadrinhos, quando estes eram bem mais ingênuos, dirigidos ao público infantil.
No anos 50, porém, com os McCarthistas caçando bruxas a torto e a direito, os vigilantes foram considerados ilegais e colocados na clandestinidade, fazendo com que a maioria deles abandonasse o colante e as máscaras. É importante notar que todos eles eram meros humanos com certas habilidades de luta e apetrechos especiais. Nenhum deles tinha superpoderes.
Aceleração de partículas – A grande virada de Watchmen ocorre quando um acidente em um campo de pesquisas nucleares americano desintegra um funcionário, preso inadvertidamente numa câmara de aceleração de partículas (algo similar àquela máquina que se temia que criasse um buraco negro na Europa, no fim de 2008).
Poucos dias depois desse acidente, esse funcionário reaparece, totalmente transformado, com a pele azulada (e brilhante) e superpoderes de verdade.
O surgimento dessa criatura, chamada de Doutor Manhattan (referência ao Projeto Manhattan, que resultou na criação da bomba atômica americana) desequilibrou a já frágil balança de poder entre Estados Unidos e União Soviética em plena Guerra Fria. Quando estoura a Guerra do Vietnã, o governo americano não hesita em enviar Manhattan ao campo de batalha.
Resultado: os Estados Unidos ganham a Guerra do Vietnã, Watergate nunca houve e Richard Nixon foi reeleito diversas vezes. Nos anos 80, quando se passa a história, ele está em plena campanha, para ganhar "four more years" (mais quatro anos).
Terrível simetria – Moore parte dessa premissa já complexa e eleva o tom ainda mais, criando, com o auxílio de Gibbons e do colorista John Higgins um mundo alternativo inteiro, onde a cultura, a política, a economia, a filosofia e a religião foram profundamente influenciadas pela presença na Terra de uma criatura de poderes praticamente divinos – e que, por mais parecido que isso possa soar com a possível existência de um Deus, parece se distanciar cada vez mais da humanidade, inclusive da sua própria.
Em paralelo a tudo isso, a narrativa (que está longe de ser linear) ainda consegue estabelecer uma conexão profunda entre o leitor e todos os personagens da história, minuciosamente radiografados ao longo da série em todos os detalhes mais sórdidos (ou não) de suas personas.
Há ainda uma forte simbologia que percorre todas as suas páginas, com ícones recorrentes aqui e ali (atenção para a carinha Smiley), bem como personagens transeuntes que se repetem em um certo cruzamento em Nova Iorque, marcas de produtos e empresas fictícias e até mesmo – o cúmulo da sofisticação – uma edição inteira (o capítulo 5) totalmente simétrica, "planejada para ter o mesmo arranjo de quadros quando vista de trás para frente e de frente para trás", como explica Gibbons em Os bastidores de Watchmen.
Enfim: em Watchmen, nada – absolutamente nada – é por acaso. Tudo tem seu significado e sua função dentro da história. E o que não falta ali é detalhe.
Por tudo isso, Alan Moore sempre se mostrou radicalmente contra a adaptação de suas obras, seja para o cinema ou qualquer outro meio, já que, segundo ele próprio, a obra em HQ tem recursos inerentes ao próprio meio que só podem ser apreciados numa HQ.
Ele chegou mesmo a abrir mão formalmente de todos os lucros (há quem desminta, claro) com os filmes baseados em suas HQs em favor dos artistas que trabalham com ele. Uma coerência raramente vista em qualquer meio artístico.
EDIÇÃO EM CAPA DURA VEM AÍ
Lançada pela primeira vez nos Estados Unidos em 1986, em doze edições mensais pela DC, Watchmen chegou ao Brasil em novembro de 1988 pela Editora Abril, que optou por lançá-la em seis edições, com cada uma contendo dois capítulos da versão original.
Onze anos depois, em 1999, a mesma Abril a relançou de forma mais fiel à original, em doze edições mensais. Uma terceira edição foi lançada no meio desta década pela Via Lettera, desta vez direto em livrarias e em quatro volumes (três capítulos em cada volume).
Agora, com a estreia do filme já pertinho, a Panini Books se prepara para soltar nas livrarias a quarta edição brasileira de Watchmen, e com certeza, a mais luxuosa, baseada na edição Absolute americana, com capa dura, diversos extras e recolorida digitalmente (pelo próprio John Higgins).
Bastardos venenosos – Sobre o filme e a relação de Moore com tudo o que o cerca, a novidade é que não há novidade. Ele continua, como avisou que ia fazer desde 2007, "cuspindo veneno" na mídia sobre a adaptação.
Na sua última entrevista sobre o assunto, para a revista britânica Total Film (noticiada no Brasil através do site Omelete), o barbudão de Northampton chegou a negar a própria obra, associando o gênero de super-heróis com a conhecida deslealdade americana: "Na época em que escrevi Watchmen, eu ainda acreditava nos bastardos venenosos [os super-heróis], eu tinha uma opinião diferente sobre quadrinhos de super-herói norte-americanos e o que eles significavam (...). Os EUA têm uma afeição desmedida por lutas desleais. É por isso que armas são tão populares lá – porque você pode atacar de supresa, atirar pelas costas, lutar de forma bastante covarde. O que lá chamam de fogo amigo, no resto do mundo a gente chama de fogo americano", disparou.
Conhecido não apenas pela genialidade e complexidade que imprime em cada quadrinho que cria em sua vasta obra, mas também por ser um praticante assumido de bruxaria, Alan Moore ainda é um mito oculto, um enigma a ser descoberto por futuras gerações.
Até já existe um documentário sobre ele, The Mindscape of Alan Moore (2003), de Dez Vylenz e Moritz Winkler.
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