Momento relax do jovem Chico, foto Cynira Arruda |
Artista, cantor, compositor, sambista, trovador, escritor, dramaturgo, ícone, ídolo, poeta, “pão”, pai, filho, avô, esportista, subversivo, especialista da alma feminina e Julinho da Adelaide: Chico Buarque não é nem nunca foi um só. É muitos.
E no livro de arte Revela-te, Chico, todos eles estão contemplados.
Organizado pelo designer e jornalista Augusto Lins Soares e com textos do jornalista e escritor Joaquim Ferreira dos Santos, o livrão de capa dura é, como o próprio Augusto define, “uma fotobiografia”.
Fruto de árdua e longa pesquisa em arquivos diversos (de pessoas físicas e jurídicas), Revela-te, Chico reúne 210 imagens, muitas delas raras e inéditas, além de mais 22 obras de arte, sendo 21 delas criadas especialmente para o livro.
A única que já estava pronta é o retrato que o pintor Di Cavalcanti (1897-1976) fez de Chico em 1972 – e que desde então repousa na parede de sua casa, longe dos olhos do público até ser publicada.
Que galera é essa, meu rei? Foto David Drew Zingg |
“Como busquei principalmente sobras de ensaios e reportagens, tinha muito material disponível – mesmo na época do filme (fotográfico). Em um cálculo aproximado, em alguns acervos, como no do Jornal do Brasil, cheguei a ver umas duas mil imagens”, afirma o autor.
Além do JB, Augusto fuçou outros acervos bem importantes, como Folha Press, institutos Moreira Salles, Antônio Carlos Jobim, Museu da Imagem e do Som (RJ), Editora Abril, Funarte e ainda de alguns fotógrafos.
“Desse material todo que pesquisei, publicamos apenas um por cento. E nem teria como ser de outra forma”, observa.
E mesmo assim, teve acervo que ele sequer pôde pesquisar: “O acervo da Editora Bloch (das revistas Manchete, Amiga e Fatos & Fotos) está bloqueado por razões jurídicas. Na Manchete, a foto era muito importante, deve ter muita coisa boa ali”, lamenta.
3 momentos, 3 critérios
No aconchego do apê / biblioteca em Paris, foto João Wainer |
“Valor histórico: a foto que contextualiza o tempo em que foi feita. Qualidade estética: uma composição bonita, uma luz bonita, o registro de uma época. E por fim, memória afetiva: às vezes, a foto não é conhecida, não é aquela que foi divulgada, mas te remete a uma época”, detalha.
“Tudo isso foi importante. Montei uma linha do tempo a partir dos livros que contam a história dele e fui complementado com informações novas, que foram emergindo ao longo da pesquisa”, conta.
Um craque desde gruri, Acervo Inst. Antonio Carlos Jobim |
“Isso dá uma contemporaneidade à obra. Não temos nenhuma imagem fotográfica nova, produzida para o livro. Tudo estava disponível em arquivos. Então, de original mesmo, temos as obras dos artistas plásticos”, nota.
Ele conta que Chico não teve qualquer interferência no projeto, apenas liberou o uso de sua imagem: “Conheço o Mário Canivelo, assessor de imprensa do Chico. Falei com ele, ele consultou Chico, que achou interessante. Só disse que não ia participar. Foi tranquilo”
Viabilizado através da Lei Rouanet, o livro está à venda, mas também está sendo distribuído em escolas, bibliotecas e fundações culturais.
Um grande artista inspira outros grandes artistas
Além das fotos, Revela-te Chico é enriquecido com obras de artistas visuais brasileiros, como Di Cavalcanti
Na parte fotográfica, como pode ser visto em uma pequena amostra na página anterior, reúne mais de 50 grandes fotógrafos, como Adhemar Veneziano, Adriana Pittigliani, Alécio de Andrade, Arlete Soares, Bob Wolfenson, Bispo, Bruno Veiga, Carlos Horcades, Cristiano Mascaro, Cristina Granato, Dadá Cardoso, Daryan Dornelles, David Drew Zingg, Fernando Seixas, João Farkas, João Wainer, Leo Aversa, Luiz Garrido, Madalena Schwartz, Marisa Alvarez Lima, Maureen Bisilliat, Murillo Meirelles, Paulo Garcez, Paulo Salomão e Ricardo Chaves.
Da mesma forma, o organizador se esforçou em selecionar artistas para criar retratos de Chico, a fim de oferecer um material absolutamente inédito à obra.
São 22 imagens. 21 uma delas foram criadas especialmente para Revela-te, Chico.
A única que já estava pronta é a de Di Cavalcanti, que abre a série.
Todas as outras foram encomendadas por Augusto.
“A (pintura) do Di é a única que não foi feita para o livro, mas era inédita e do acervo dele mesmo. Ele liberou fotografar e está no livro”, conta.
“As outras todas eu pedi aos artistas e eles toparam meu desafio, que era fazer um retrato de Chico sem te-lo como modelo vivo. Alguns artistas recusaram. Todas as imagens foram feitas para o livro e depois cada artista ficou com sua obra”, acrescenta.
Cada artista, uma técnica
Além de Di Cavalcanti, que dispensa apresentações, alguns artistas presentes no livro são J.Borges, Paulo Bruscky, Regina Parra, Alex Flemming, Daniel Lannes, Nino Cais e Rodrigo Freitas, entre outros.
As técnicas são variadas. Há as clássicas pinturas à óleo (Di, Parra, Camila Soato, Marcelo Amorim, Bel Magalhães), acrílico (Lannes, Adriano Melhem, Gunga Guerra) e aquarela (Ingrid Bittar, Danielle Carcav).
J. Borges, mestre da xilogravura, o retratou jovem, na sua técnica consagrada.
E há trabalhos curiosos, como a instalação de Claudia Hersz, o bordado em linho de Bel Moura ou o prosaico e eficiente lápis de Ramonn Vieitez.
Revela-te, Chico / Augusto Lins Soares (org.) e Joaquim Ferreira dos Santos (textos) / Bem-Te-Vi / 240 p. / R$ 145
Um comentário:
rsrs curiosidade resolvida!
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