Simone Leitão em pleno ofício e profissão de fé |
As razões já estão claras no enunciado: é música de altíssima qualidade, executada com maestria, quase de graça.
Mineira, Simone vem a Salvador dentro de turnê internacional que já passou por São Paulo, Quito, Curaçao, Miami e Los Angeles, viabilizada pela CCR via Lei Rouanet.
No repertório, a magnífica Rhapsody in Blue, de George Gershwin, que muitos lembram pela abertura do clássico Manhattan (1979), de Woody Allen.
“É um concerto bem eclético. O público vai poder assistir a orquestra só, com coro e com solista (eu). Escolhemos a Rapsódia em Blue por ser uma obra bem descontraída e acessível, já que o concerto é matutino e de formação de plateia”, conta Simone.
“Essa obra também é uma das minhas favoritas. Ela trata a forma piano e orquestra bem dentro do idioma de jazz e blues. O toque pianístico é diferente, dá para explorar sonoridades que não exploraria por exemplo nos grandes mestres alemães, russos e franceses. A orquestração é excelente, de forma que toda a orquestra poderá ser ouvida, assim como a solista. Não vejo a hora de tocar com eles”, diz.
A relação de Simone com o Programa NEOJIBA não é de hoje. Este é o terceiro concerto que fazem juntos desde 2010.
“O NEOJIBA é uma grande paixão minha. Saber que no Brasil temos um projeto como esse me traz aquele bálsamo de esperança todo dia”, afirma.
“Musicalmente, é sempre uma troca maravilhosa. Esses jovens são muito musicais e bem orientados. Ricardo Castro é uma inspiração para mim desde que era adolescente e ele já ganhava concursos mundo afora. Ou seja, privilégio, muita troca gostosa e alegria enorme”, acrescenta.
O entusiasmo não é a toa. No Rio de Janeiro, ela mantém desde 2012 seu próprio projeto de qualificação de jovens músicos, a Academia Jovem Concertante
“Queria um espaço de encontro desses jovens, para que o potencial deles fosse trabalhado ao máximo e que o resultado fosse levado para novos públicos. Na primeira edição tivemos dois grandes talentos do NEOJIBA. Um jovem violista extraordinário, fruto do projeto: Laércio Souza e um grande percussionista: Isaac Falcão”, conta.
“Desde então sempre convidamos os jovens do Programa NEOJIBA. Quando vem alguém da Bahia já sabemos que o nível será elevado para o grupo todo”, afirma.
Fora de Bach não há nada
Simone, foto Rodrigo Lopes |
Em 16 de janeiro, Simone se apresenta mais uma vez no Carnegie Hall (Nova York), uma das casas de show mais tradicionais do planeta. Do TCA um domingo de manhã a night do Carnegie, ela garante apreciar demais as duas ocasiões.
"São momentos diferentes. Carnegie Hall é aquele momento onde o solista é testado na pureza do seu ofício. Eu me preparo como um atleta para uma prova final de olimpíada, para um momento como esse. É gostoso ver o crescimento cada vez que volto lá. Ver que estou conquistando aquele público e me sinto parte daquela atmosfera. Não deixa de ser uma grande conquista para uma pianista brasileira nascida no interior de Minas, como eu. O roteiro dessa turnê foram nove cidades. Tem de tudo. São cinco países representados. Essa turnê só foi possível acontecer através da Lei Rouanet, com o patrocínio e a visão do Instituto CCR. Pude tocar nos Andes, Caribe, Brasil, Califórnia e agora Salvador, Carnegie Hall e Costa Rica. Tocar para novos públicos, tanto os cultivados com a linguagem de concerto ou os novos públicos, é sempre desafiador e rico. Minha habilidade como intérprete é testada aí ao máximo, afinal estou interpretando obras e preciso que o público entenda, seja tocado e se emocione. Por que no fim de tudo, salas tradicionais ou não, público conhecedor ou não, o importante é a comunicação que existe entre o palco e a platéia. O encontro entre as histórias pessoais diversas e a mágica que nos une em nossa condição humana. Essa ponte, a música instrumental clássica faz muito bem! Não existe barreira para a excelência. Quando se toca bem e com propriedade, todo mundo entende e se emociona. É só trabalhar duro e se entregar. A música faz o resto", declara.
Seu último álbum, Bach Piano Recital (MSR Classics) expôs sua paixão pelo compositor alemão, que fez 333 anos de nascimento em 2018. “Bach é a música pura. Sem ajuda extra. Não é canção, não conta uma história, não descreve, ainda não serve a forma. É um processo. Música pura”, diz.
“Veja o que os grandes disseram dele. Beethoven: 'Bach é o infinito'. Shostakovitch: 'Bach é o maior amigo da humanidade'. Schumann: 'De todas as fontes que me inspiram, a única inesgotável e que nunca me canso de voltar é a música de Bach'. Villa-Lobos: 'O único que me influencia é Bach. Bach é o resultado de tudo o que veio antes dele na evolução da música ocidental, mas também consegue ser o alicerce para tudo que veio depois. Música de concerto, jazz, rock, até o pop. Tocar a música dele é um exercício de fé pra mim. Em Bach eu vivo o meu êxtase religioso no palco e fora dele. A música antes de Bach apontava para Bach e a música depois dele, olha de volta para ele. E o mais bacana é que ele viveu e trabalhou duro, cuidou dos filhos, era um cara legal, companheiro. Como um bom protestante, fez tudo para Deus e pela alegria e privilégio de trabalhar. Ele não se preocupou em ser uma estrela. Ele nunca saiu da Alemanha e a música dele é a mais tocada em todo o mundo. Simplesmente uma lição de vida em tudo”, conclui.
Aí conhece.
Domingo no TCA: Simone Leitão e Orquestra Juvenil da Bahia / Amanhã, 11 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / R$ 1
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