segunda-feira, dezembro 17, 2018

DOMINGO NO TCA: EXCELÊNCIA MUSICAL QUASE DE GRAÇA

Pianista de livre trânsito no cenário erudito internacional, Simone Leitão volta à Bahia para concerto com Orquestra Juvenil

Simone Leitão em pleno ofício e profissão de fé
Apreciadores e amantes de Música – favor manter a caixa alta, revisor – tem um compromisso absolutamente inadiável amanhã: testemunhar mais um encontro da pianista Simone Leitão com a Orquestra Juvenil da Bahia (NEOJIBA), na sessão saideira de 2018 do Domingo no TCA (que custa só R$ 1 a entrada).

As razões já estão claras no enunciado: é música de altíssima qualidade, executada com maestria, quase de graça.

Mineira, Simone vem a Salvador dentro de turnê internacional que já passou por São Paulo, Quito, Curaçao, Miami e Los Angeles, viabilizada pela CCR via Lei Rouanet.

No repertório, a magnífica Rhapsody in Blue, de George Gershwin, que muitos lembram pela abertura do clássico Manhattan (1979), de Woody Allen.



“É um concerto bem eclético. O público vai poder assistir a orquestra só, com coro e com solista (eu). Escolhemos a Rapsódia em Blue  por ser uma obra bem descontraída e acessível, já que o concerto é matutino e de formação de plateia”, conta Simone.

“Essa obra também é uma das minhas favoritas. Ela trata a forma piano e orquestra bem dentro do idioma de jazz e blues. O toque pianístico é diferente, dá para explorar sonoridades que não exploraria por exemplo nos grandes mestres alemães, russos e franceses. A orquestração é excelente, de forma que toda a orquestra poderá ser ouvida, assim como a solista. Não vejo a hora de tocar com eles”, diz.

A relação de Simone com o Programa NEOJIBA não é de hoje. Este é o terceiro concerto que fazem juntos desde 2010.

“O NEOJIBA é uma grande paixão minha. Saber que no Brasil temos um projeto como esse me traz aquele bálsamo de esperança todo dia”, afirma.

“Musicalmente, é sempre uma troca maravilhosa. Esses jovens são muito musicais e bem orientados. Ricardo Castro é uma inspiração para mim desde que era adolescente e ele já ganhava concursos mundo afora. Ou seja, privilégio, muita troca gostosa e alegria enorme”, acrescenta.

O entusiasmo não é a toa. No Rio de Janeiro, ela mantém desde 2012 seu próprio projeto de qualificação de jovens músicos, a Academia Jovem Concertante

 “Queria um espaço de encontro desses jovens, para que o potencial deles fosse trabalhado ao máximo e que o resultado fosse levado para novos públicos. Na primeira edição tivemos dois grandes talentos do NEOJIBA. Um jovem violista extraordinário, fruto do projeto: Laércio Souza e um grande percussionista: Isaac Falcão”, conta.

“Desde então sempre convidamos os jovens do Programa NEOJIBA. Quando vem alguém da Bahia já sabemos que o nível será elevado para o grupo todo”, afirma.

Fora de Bach não há nada

Simone, foto Rodrigo Lopes
Doutora em Piano Performance e Musicologia (University of Miami), Mestre em piano pela Academia de Música da Noruega e Bacharel em Educação Musical pela Uni-Rio, Simone faz na média de 40 apresentações por ano mundo afora.

Em 16 de janeiro, Simone se apresenta mais uma vez no Carnegie Hall (Nova York), uma das casas de show mais tradicionais do planeta. Do TCA um domingo de manhã a night do Carnegie, ela garante apreciar demais as duas ocasiões.

"São momentos diferentes. Carnegie Hall é aquele momento onde o solista é testado na pureza do seu ofício. Eu me preparo como um atleta para uma prova final de olimpíada, para um momento como esse. É gostoso ver o crescimento cada vez que volto lá. Ver que estou conquistando aquele público e me sinto parte daquela atmosfera. Não deixa de ser uma grande conquista para uma pianista brasileira nascida no interior de Minas, como eu. O roteiro dessa turnê foram nove cidades. Tem de tudo. São cinco países representados. Essa turnê só foi possível acontecer através da Lei Rouanet, com o patrocínio e a visão do Instituto CCR. Pude tocar nos Andes, Caribe, Brasil, Califórnia e agora Salvador, Carnegie Hall e Costa Rica. Tocar para novos públicos, tanto os cultivados com a linguagem de concerto ou os novos públicos, é sempre desafiador e rico. Minha habilidade como intérprete é testada aí ao máximo, afinal estou interpretando obras e preciso que o público entenda, seja tocado e se emocione. Por que no fim de tudo, salas tradicionais ou não, público conhecedor ou não, o importante é a comunicação que existe entre o palco e a platéia. O encontro entre as histórias pessoais diversas e a mágica que nos une em nossa condição humana. Essa ponte, a música instrumental clássica faz muito bem! Não existe barreira para a excelência. Quando se toca bem e com propriedade, todo mundo entende e se emociona. É só trabalhar duro e se entregar. A música faz o resto", declara.

Seu último álbum, Bach Piano  Recital (MSR Classics) expôs sua paixão pelo compositor alemão, que fez 333 anos de nascimento em 2018. “Bach é a música pura. Sem ajuda extra. Não é canção, não conta uma história, não descreve, ainda não serve a forma. É um processo. Música pura”, diz.

“Veja o que os grandes disseram dele. Beethoven: 'Bach é o infinito'. Shostakovitch: 'Bach é o maior amigo da humanidade'. Schumann: 'De todas as fontes que me inspiram, a única inesgotável e que nunca me canso de voltar é a música de Bach'. Villa-Lobos: 'O único que me influencia é Bach. Bach é o resultado de tudo o que veio antes dele na evolução da música ocidental, mas também consegue ser o alicerce para tudo que veio depois. Música de concerto, jazz,  rock,  até o pop. Tocar a música dele é um exercício de fé pra mim. Em Bach eu vivo o meu êxtase religioso no palco e fora dele. A música antes de Bach apontava para Bach e a música depois dele, olha de volta para ele. E o mais bacana é que ele viveu e trabalhou duro, cuidou dos filhos, era um cara legal, companheiro. Como um bom protestante, fez tudo para Deus e pela alegria e privilégio de trabalhar. Ele não se preocupou em ser uma estrela. Ele nunca saiu da Alemanha e a música dele é a mais tocada em todo o mundo. Simplesmente uma lição de vida em tudo”, conclui.

Aí conhece.

Domingo no TCA: Simone Leitão e Orquestra Juvenil da Bahia / Amanhã, 11 horas / Sala Principal do Teatro Castro Alves / R$ 1

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