sábado, dezembro 08, 2018

COMO TAPEAR E EXPOR RACISTAS COMO OTÁRIOS QUE SÃO

Adaptado por Spike Lee, Infiltrado na Klan derrapa na linguagem, mas mantém interesse ao detalhar humilhação à KKK


Adam Driver e John David Washington como Flip e Ron
Existe uma diferença sutil entre oportunismo e senso de oportunidade. Oportunismo geralmente é a busca de vantagem pessoal em detrimento de princípios ou normas.

Já senso de oportunidade é aquilo que o diretor norte-americano Spike Lee demonstrou ter em abundância ao adaptar para o cinema o livro Infiltrado na Klan, de Ron Stallworth.

Em um momento no qual muitos buscam justificar seu racismo (ou supremacismo branco, boa porcaria) evocando “liberdade de expressão”, o livro de Stallworth e o filme de Lee demonstram como é fácil tapear e expor essa gente como ela é: grandes otários.

No livro, o ex-policial Stallworth conta o caso verídico de como, quase por acaso, conseguiu se infiltrar na centenária Ku Klux Klan, organização racista norte-americana surgida pouco depois da derrota do sul escravista na sangrenta Guerra da Secessão (1861 - 1865).

Detalhe crucial: Stallworth é negro.

Os primeiros contatos do tira, então um negão black power em plenos anos 1970,  com a KKK foram por telefone, daí eles não terem percebido o “detalhe”.

Incrédulos diante da audácia de Stallworth, seus superiores no departamento de polícia de Colorado Springs não tiveram outra opção senão embarcar na investigação, designando seu colega Flip Zimmerman para atuar como Stallworth nos encontros  da KKK, enquanto o próprio Ron seguia falando ao telefone e conduzindo a investigação.

Topher Grace (Eric, de That 70's Show) é David Duke, líder da KKK e brother de Trump
Bem-sucedida, a empreitada desmascarou membros da KKK infiltrados no NORAD (North American Aerospace Defense Command), órgão responsável pela segurança aeroespacial dos EUA, além de ter impedido ações de afirmação do grupo na cidade.

Relatório de tira

Sobre o filme muito já se falou – inclusive aqui no Caderno 2+ – e pode-se acrescentar que ele fecha com chave de ouro um ano que começou combativo com o igualmente espetacular Pantera Negra, da Marvel.

O que acontece aqui, com Infiltrado na Klan, é que o livro é um “bicho” bem diferente. Stallworth não é escritor, é um agente da inteligência policial.

Dito isto, é preciso cravar: seu livro é quase um relatório.

Os fatos são contados tim tim por tim tim sem muito brilho literário, mas com muita exatidão. Enfim: às vezes o texto pode ficar enfadonho, “positivo, operante”?

Isso, porém, pode  não anular em nada o interesse do leitor em seguir acompanhando a evolução da ousada investigação, que humilhou bonito uma das instituições mais vergonhosas do planeta.

Daí o senso de oportunidade do cineasta Spike Lee, citado lá no primeiro parágrafo. Se o livro às vezes derrapa na linguagem de relatório, o filme que dele resultou acrescenta suspense, emoção e catarse – muita catarse – ao potencializar a humilhação imposta à KKK com um discurso cinematográfico poderoso e engajador.

Leia o livro, veja o filme, cuspa nos racistas.

Infiltrado na Klan / Ron Stallworth / Seoman / Trad.: Jacqueline D. Valpassos/ 216 p. / R$ 39,90

Um comentário:

rodrigo sputter disse...

quem for assistir ao filme tem que ficar preparado para o final...eu quase não consegui levantar da cadeira...forte!
quem achar que as cenas finais foram desnecessárias...não entendeu nada...vive em outro mundo...