terça-feira, novembro 27, 2018

SAMBA DE BOCA

Hoje: projeto Bahia dá Samba lança CD e documentário e reverencia trio de mestres. Repertório de inéditas só existia em forma oral 

Guiga da Ogum, Reginaldo de Itapuã e Valmir Lima foto APUS Filmes 
Berço do samba, a Bahia, infelizmente, costuma esquecer os mestres que pavimentaram o caminho por onde hoje desfilam os ensaboados astros da atualidade, com sua versão contemporânea do gênero.

Daí a importância do projeto Bahia Dá Samba: Memória Viva dos Baluartes do Samba da Bahia, que será lançado hoje no Teatro do Irdeb e homenageia três lendas vivas com um CD e um documentário: Valmir Lima, Guiga de Ogum e Reginaldo de Itapuã.

Com direção artística do músico Ênio Bernardes e direção musical de Dudu Reis em parceria com a produtora APUS Filmes, o projeto foi viabilizado pelo Edital Setorial de Música do Fundo de Cultura do Estado da Bahia (Secult e Sefaz).

"Dentro do samba tradicional que eu gosto de fazer, existe essa vertente de sempre reverenciar os mais velhos. Eles são o alicerce pra gente estar fazendo o samba hoje. Então, esse projeto passa pela valorização da história, da obra e da memória desses mestres. Eu tinha a ideia há quase dez anos, mas foram vindo os parceiros, que ajudaram a concretizar: primeiro Fabiana Marques, depois Dudu Reis, aí veio Tiago Ribeiro. Antes de tudo, havia encontrado Marta Luna, que começou comigo o texto do projeto. Assim, o projeto foi virando um projeto coletivo, sempre com base na postura de reverenciar a memória do samba brasileiro", conta Ênio.

No álbum, 12 faixas: quatro de cada sambista, muitas delas em parceria com outro mestre, Roque Ferreira.

No documentário, a pesquisa das obras, entrevistas, bastidores das gravações e as interações entre os artistas. Agora sabe o que é o mais bonito de tudo isto?

Nenhuma das doze composições gravadas tinha qualquer registro anterior: tudo memória oral. Ou quase: “Alguns sambas realmente não tinham registro fonográfico. Alguns estão registrados no papel, mas, a maioria era na forma oral mesmo. Estavam na memória deles. Isso é fantástico! Eles não esquecem a letra nem a melodia”, conta Ênio.

Um material tão delicado certamente precisa ser registrado com muito cuidado e precisão, para não perder o espírito original.

“A gente procurou a melhor maneira de preservar essa vertente dentro daquela melodia, dentro do que a letra está dizendo, dentro da forma da música. Porque cada samba tem uma forma, tem uma métrica, você vai fazendo os arranjos a partir dos sambas”, detalha Ênio.

“Daí apresentamos os arranjos aos mestres, para que eles pudessem dizer se gostaram, se precisaria mudar algo. Ficamos sempre abertos ao diálogo. Acredito que ‘ficou além das expectativas’, como diz mestre Reginaldo”, diz.

"Quanto à escolha dos sambas: eu já tinha contato com esses mestres, amigos, há cerca de dez anos e eu já tinha contato com esses sambas. Eles cantavam, eu sempre procurava saber de outras canções, ficava curioso em ver o imenso acervo que cada um tinha. Então, de certa forma, eu já conhecia a maioria das canções deles. O critério de escolha foi a partir de uma pesquisa já prevista no projeto: eu, Dudu Reis e parte da equipe fomos à casa de cada um deles algumas vezes para uma escuta do repertório proposto por eles. Quando vimos a versatilidade das composições de cada um, escolhemos mostra a habilidade que esses mestres tem de fazer modalidades diferentes de samba. Daí, eu escolhi a partir do valor poético e da versatilidade que cada mestre tem. Até porque, eles fazem parte da história do samba brasileiro, como Walmir Lima, o mais velho deles", relata.

Todos os sambas

A trinca de sambistas, banda e equipe de produção, foto APUS Filmes
A diversidade de estilos é outra atração por si só: tem samba de breque, samba de roda, partido alto, samba-enredo, samba canção e choro.

“Eles fazem parte da história do samba e curtem diversos estilos. Passaram a vida ouvindo Ataulfo, Cartola, Nelson Cavaquinho, Batatinha. Então, acabaram sendo influenciados e vem compondo sambas mais tradicionais até hoje”, conta.

“Muita gente pensa que não há essa variedade de sambas na Bahia. É tanto que esses mestres não são conhecidos. Pode-se dizer que o mais conhecido é Nelson Rufino, porque Zeca Pagodinho gravou canções dele e também porque ele está na estrada”, observa.

"A forma de transmitir esse saber é tentar ser o mais original possível dentro do que cada samba pede. Se é um samba de breque, a gente sabe mais ou menos pra onde vai caminhar. Se é um samba enredo, a mesma coisa. Então, essa é a forma de transmissão que eu acredito mais legítima, mais autêntica. É lógico que não se compara a uma roda de samba, que é outro clima. Assim como o palco é outra coisa. Mas a gente procurou ser o mais original possível, de acordo com a tradição desse samba brasileiro. O processo de registrar as canções que só existiam oralmente é uma coisa natural. É como se fosse gravar qualquer outra música. Mas a maneira de perpetuar isso é atuando. Por isso, preferimos que eles gravassem as próprias composições. É a forma mais legítima de levar à frente uma prática da cultura popular onde os autores executam sua própria obra. No Bahia dá Samba, ele puderam gravar suas composições dentro dos padrões do mercado musical", detalha Ênio.

Além dessa trinca Guiga-Reginaldo-Valmir, a Bahia tem muitos outros grandes sambistas que também andam esquecidos. "Existem outros sambistas, que vem da tradição das escolas de samba que já existiram na Bahia, que vem da época de Ederaldo Gentil, de Batatinha, do próprio Walmir Lima, que tem quase 90 anos. Tem muitos outros. Acho que, a partir desse disco, podemos entrar em contato com outros grandes mestres de samba com boas composições guardadas, como o é o caso de Memeu. Ele faz parceria na canção Bem-vindo Amor, de Guiga de Ogum. Eu o conheci através do próprio Guiga e vi que ele tem uma obra maravilhosa. Eu estou até pensando em fazer um CD com ele ano que vem. Vamos ver como vai ser isso", conclui. Viva o samba, prestigie.

Bahia Dá Samba: Memória Viva dos Baluartes do Samba da Bahia / Show de lançamento de CD e documentário / Hoje, 20 horas / Teatro Irdeb (Federação) / Entrada Gratuita

NUETAS

Primata e Jen X 5

Os guitarristas Ricardo Primata e Douglas Jen (SP) fazem a turnê Guitar Show em cinco cidades: Feira (sexta-feira), Jacobina (sábado), Serrinha (domingo), Camaçari (segunda) e Salvador (terça). Saiba mais: www.guitarrabr.com.

Artur estreia solo

Ex-Theatro de Seraphin e Treblinka, Artur Ribeiro estreia solo em pocket-show no Bardos Bardos. Sexta, 19 horas.

Saideira da Úteros

Domingo tem aquele que provavelmente será o último show da Úteros em Fúria. Celebratório dos 25 anos do álbum Wombs in Rage, é domingo no Portela Café, com abertura da Maria Bacana (que diga-se de passagem, está fazendo um show astral demais). E por que último? Mario Jorge, baterista, afirmou isso no Face. AVISEI! 16 horas, R$ 20.

Um comentário:

Franchico disse...

RIP Stephen Hillenburg

https://www.nytimes.com/2018/11/27/obituaries/stephen-hillenburg-spongebob-squarepants-creator-dies-at-57.html

Luto na Fenda do Biquíni.