quinta-feira, setembro 06, 2018

50 ANOS DE CHUMBO

Amanhã,  50 anos terão se passado desde que quatro cabeludos subiram juntos no palco pela primeira vez – e o rock nunca mais foi o mesmo. Confira as novidades e relatos que marcam os 50 anos do Led Zeppelin

Chicago, 1977, foto Jim Summaria / Wikimedia Commons
No primeiro episódio da série Sharp Objects, badalada super-produção da HBO, a protagonista interpretada por Amy Adams entra em seu carro e, ato contínuo, acessa via digital o álbum Led Zeppelin I, de 1969. Dá a partida e acelera em direção ao seu destino. Canções deste e de outros álbuns do quarteto inglês são ouvidas ao longo da série.

Este é só um exemplo banal de como, 50 anos – e muitas mudanças de tecnologia – depois, o Led Zeppelin segue entranhado na cultura pop e no imaginário coletivo.

Cientes disso, os três membros remanescentes anunciaram no dia 8 de junho último, via redes sociais, o lançamento de um livrão de arte de 400 páginas com fotos e artes inéditas da banda, selecionadas através de curadoria que contou com os pitacos dos próprios Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones.

Led Zeppelin by Led Zeppelin, o já cobiçado volume, sai pela editora inglesa Reel Art Press e chega às lojas agora em 2 de outubro, mesmo dia em que a recém-formada banda The  New Yardbirds resolveu trocar de nome para Led Zeppelin.

Versões para italiano, alemão, japonês e holandês já foram anunciadas. Ainda não há previsão de lançamento de uma edição em  português.

Além disso, o álbum ao vivo The Song Remains the Same (1976), trilha-sonora do extravagante filme-concerto do mesmo ano, também ganha reedição remasterizada em diversas versões, incluindo  uma caixa de luxo com quatro discos de vinil, dois CDs e três DVDs, além dos mimos de praxe.

Maio de 2018: Jones, Plant e Page apresentam o livro, foto Reel Art Press
Se bem entendessem, Plant, Page e Jones poderiam ainda inventar outros produtos para inundar as prateleiras das lojas e esvaziar as carteiras dos fãs – e ainda seria pouco, diante da permanência de sua música e a extensão de sua influência.

Culto igual só encontra paralelo nos Beatles – de fato, imbatíveis neste quesito. Listar as razões do porque são um convite à precipitação pluvial sobre terreno encharcado.

Apesar dessa movimentação recente na casa do Zepelim de Chumbo animar os fãs mais esperançosos por uma nova  reunião da banda, as chances disso voltar a acontecer são bem baixas.

Em uma recente entrevista à revista inglesa Mojo, Robert Plant foi perguntado se estava animado com a marca de 50 anos da banda.

“Não. Isso só me deixa mais consciente de como o tempo voa e há quanto tempo John Bonham (baterista cuja morte em 1980 precipitou o fim do LZ) não está mais conosco, um baita preço que pagamos por tudo isto”, respondeu.

“São 50 anos, mas não só: são 38 anos de tristeza para uma família”, acrescentou.

Mas nem tudo está perdido. Jimmy Page contou em entrevista à revista Planet Rock que muito material ao vivo inédito, engavetado há décadas, deverá chegar às prateleiras das lojas nos próximos dez anos.

A capa do livrão, Reel Art Press
Na O2 Arena

Amanhã, 7 de setembro, faz 50 anos que Page, Plant, Jones e Bonzo (John Bonham) subiram em um palco juntos pela primeira vez. Local: Gladsaxe, Dinamarca.

Se apresentaram ainda como The New Yardbirds, jogada de Page para ganhar o público da ex-banda, extinta há pouco tempo.

Menos de um mês depois, se tornariam Led Zeppelin, nome sugerido por Keith Moon, baterista do The Who.

O resto, como se diz é história. E fãs, milhões de fãs.

Um ilustre fã baiano é Martin Mendonça, o guitar-hero que responde pelas seis cordas na banda de Pitty.

Curiosamente, seu maior ídolo no LZ não é Jimmy Page, e sim, o indefectível Bonzo.

“Sua displicência e precisão, as levadas insanas de bumbo, a pegada matadora e o som que ele tirava da bateria (muitas vezes microfonada com nada além de alguns Shure SM 57!) ainda não encontraram paralelo nesse mundo”, afirma.

“Meu álbum favorito é o Houses Of The Holy (1973), que escolho por questões afetivas: foi o primeiro deles que me pegou, acabou sendo minha porta de entrada”, diz.

Outro fã de carteirinha é um felizardo: o jornalista Ricardo Palmeira, que teve a felicidade de assistir ao único show de retorno do Led Zeppelin, em dezembro de 2007. De graça. E ainda foi pago por isso.

Amostra de divulgação do conteúdo do livro
Na época, Ricardo trabalhava em uma empresa que fornecia cerveja às arenas no Reino Unido.

No dia do show, lá foi o rapaz, que então já era fã de carteirinha, com uma mochila cheia de cerveja em garrafa pet vender bebida aos fãs eufóricos na beira do palco.

Quando o show começou na Arena O2, em Londres, “Eu estava petrificado, com a musculatura tensa e medo de ver uma idolatria se desfazer diante de mim. Olhei ao redor e vi 20 mil pessoas travadas da mesma forma, até porque os músicos já haviam passado dos 60 anos”, conta.

Depois que a tensão se desfez, foi só alegria: “As duas horas seguintes se transformaram em um showzaço de rock ’n’ roll como nunca imaginei. No palco, a maior banda de todos os tempos. Na plateia, uma multidão ensandecida, dançando, vibrando, se divertindo e cantando cada pedaço de cada letra. Na reta final do show, eu e  dois colegas estávamos pulando e acompanhando as músicas usando as long necks como baquetas de bateria. Voltei para casa realizado”, relata.

Ô, felicidade.

DEPOIMENTOS NA ÍNTEGRA

Martin Mendonça e seu LP favorito, foto Tomás Mendonça
Martin Mendonça:

O Led Zeppelin é uma de minhas bandas favoritas e das mais importantes na minha formação. o curioso é que, apesar de contar com ninguém menos que Jimmy Page nas guitarras, o integrante que teve mais impacto sobre mim foi o baterista, John 'Bonzo' Bonham. sua displicência e precisão, as levadas insanas de bumbo, sua pegada matadora e o som que ele tirava da bateria (muitas vezes microfonada com nada além de alguns Shure SM 57!!!) ainda não encontraram paralelo nesse mundo. sem falar que aquela sua postura anti-rockstar / fazendeiro / rabugento era irresistível, hahahaha. Meu álbum favorito é o Houses Of The Holly, que escolho por questões afetivas pois foi o primeiro deles que me pegou, acabou sendo minha porta de entrada para o que estava por vir e, até hoje, é impossível escutar sem sentir aquela novidade.

Ricardo Palmeira, exclusivo para o A TARDE ON LINE.

Led  Zeppelin, 10 dezembro de 2007, O2 Arena, Londres, por Ricardo Palmeira

O Led Zeppelin é minha banda favorita há pelo menos 15 anos. Só que, instintivamente, dentro de mim, esta minha admiração era como se fosse por uma lenda. Afinal, a banda acabou em 1980 e eu só nasci em 1982. Era assim que eu enxergava o Led Zeppelin: uma lenda!

Eis que, em 2007, eu morando em Londres, surge a noticia, por volta de outubro, que o Led Zeppelin faria um show único na cidade. A princípio, marcado para meados de novembro. Mas foi adiado devido a um machucado na mão de Jimmy Page, o que levou a banda a adiar os ensaios. Mal sabia eu que estava dando uma das maiores sortes da minha vida ali...

O concerto seria realizado em 10 de dezembro. Uma segunda-feira. Nunca vou esquecer! Pela gigantesca procura, os compradores seriam definidos por sorteio. Para participar, era necessário se inscrever pela internet.

Lá vou eu fazer minha inscrição e... o site já estava travado, e as inscrições encerradas. Motivo: em menos de 48 horas, eram mais de 1 milhão de inscritos, sendo que a casa onde o show seria realizado, a O2 Arena, só comportava cerca de 20 mil pessoas.  Simplesmente desisti de ir para o show. O Led Zeppelin continuaria sendo uma lenda!

Eu havia trabalhado por seis meses numa empresa que fazia venda de bebidas em arenas multiuso por todo o Reino Unido. Uma dessas arenas era justamente a O2.

Poster que vem de brinde com o livro LZ by LZ
Porem, cerca de dois meses antes do show, eu havia começado a trabalhar em outro local por questão de melhor remuneração. Por volta de duas semanas antes do show, eu retornei a esta empresa para fazer alguns eventos ocasionais.

Quando soube que trabalhariam no show do Led Zeppelin, iniciei uma campanha interna para ser fazer parte da equipe no dia. Deu certo!!!

Quando chegou a tal segunda-feira, 10 de dezembro de 2007, eu vivi uma das maiores euforias de minha vida. Assisti ao show do Led Zeppelin! E ainda recebi por isso.

Fiquei posicionado estrategicamente – alinhado com os gestores da casa, claro – com alguns colegas de trabalho num ponto em que víamos o show bem perto do palco, enquanto servíamos parte do público com cervejas pet que carregávamos em uma mochila.

O que presenciei naquele dia, eu carregarei comigo para sempre.  Os ingressos custaram no site em média 150 libras (à época, 600 reais). Com cambistas, estava na casa de 1000 libras (4 mil reais). E o público chorava de felicidade ao conseguir um.

As pessoas entravam na arena mais eufóricas do que a torcida do Bahia após uma goleada pelo Brasileirão. Enquanto eu servia as cervejas, conheci gente do mundo inteiro. Gente que viajou milhares de quilômetros só para ver o show. Norte-americanos, alemães, japoneses... e, claro, brasileiros.

Um, em especial, vestia a camisa do Fluminense e parecia uma barata tonta. A felicidade o deixava desnorteado. Fiz logo amizade com ele e acabei descobrindo se tratar de um carioca que residia em Salvador. Foi uma felicidade só! E ele ainda passou a me chamar de ídolo, pois, enquanto pagou feliz cerca de 4 mil pelo ingresso, eu entrei de graça.

Começou o show e, de repente, eu fiquei extremamente nervoso. Enfim, ia descobrir até que ponto a lenda tinha algum fundo de realidade. A banda começou a tocar. A primeira música foi ‘Good Times, Bad Times’. Eu estava petrificado, com a musculatura tensa e medo de ver uma idolatria se desfazer diante de mim. Olhei ao redor e vi 20 mil pessoas travadas da mesma forma, até porque os músicos já haviam passado dos 60 anos. Quase não se ouvia barulho da plateia.

O já clássico show na O2 Arena, foto Paul Hudson / Wikimedia Commons
Foi quando me dei conta que meus medos particulares eram compartilhados com o mundo inteiro. O som que vinha da banda, porém, estava limpo, forte e afinado de modo impecável. 

Terminou a primeira música e se ouviram imensos aplausos, com num teatro. Para o Led Zeppelin, era pouco. Tanto que, ao começar a segunda música, eu e toda a plateia voltamos a travar. A tensão, embora menor, continuava.

Porém, a segunda música, ‘Ramble On’, foi tocada de modo ainda mais espetacular. Ao fim dela, a explosão de alegria foi total. Parecia um gol decisivo em final de campeonato.

Neste momento, minha musculatura relaxou. A dos 20 mil presentes também. A partida estava ganha. E as 2h seguintes se transformaram em um showzaço de rock’n’roll com nunca imaginei.

No palco, a maior banda de todos os tempos. Na plateia, uma multidão ensandecida, dançando, vibrando, se divertindo e cantando cada pedaço de cada letra.

Na reta final do show, eu e mais dois colegas já estávamos pulando e acompanhando as músicas usando as long necks para imitar baquetas de bateria. Voltei para casa realizado.

Para completar, um ano e meio depois, eu já de volta a Salvador, estava conversando sobre o show num churrasco em família quando um primo comentou de um amigo dele carioca, mas radicado em Salvador, que viajou à época para Londres só para ver o Led Zeppelin.

Eu emendei: “por acaso, esse rapaz é torcedor do Fluminense?”. Meu primo se espantou: “Como você sabe???”. E descobrimos a coincidência! O tal rapaz se chamava Aragon. Uma figuraça!
Semanas depois, meu primo me levou para uma visita na casa dele. Quando me viu, o cara ficou eufórico. Já chegou me servindo uma cerveja e gritando: “meu ídolo! Mentira que você está aqui!”.

Na sequência, me mostrou um pôster gigante do Led Zeppelin na sala e me apresentou à esposa e a outro amigo também presente. Virei um dos signos daquela aventura dele. Por fim, sentamos a turma na varanda e começamos a beber e resenhar por horas sobre o show. Ficou para a história!

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