terça-feira, novembro 28, 2017

EXPERIMENTAÇÕES SÔNICAS

Nesta semana e na próxima, Salvador e Cachoeira sediam a primeira edição do CMC Festival 2017 - Ciclo de Música Contemporânea, com artistas de quatro países

Harris Eisenstadt. Foto William Semeraro
Música experimental, rótulo que espanta muita gente mas atrai outras tantas, é o mote do CMC Festival 2017 - Ciclo de Música Contemporânea, que acontece em Salvador e Cachoeira nesta semana e na próxima, com workshops e concertos  de artistas do Canadá, Alemanha, Suíça e Brasil.

O que talvez pessoas de má vontade com  “música experimental” não entendam é que, primeiro, o experimental de hoje pode ser o mainstream de amanhã.

Segundo: “Partimos do pressuposto de que o chamado ‘Experimental’ não se refere a um gênero musical específico, e sim a uma série de agenciamentos autônomos que envolvem a livre improvisação, arte sonora, noise, free jazz, etc”, afirma o músico e produtor Edbrass Brasil, organizador do CMC.

“A ideia do CMC é dar continuidade ao trabalho que desenvolvemos desde 2015, agora de forma mais ampliada, de inserção da Bahia no roteiro dos shows nacionais e internacionais de música experimental. Prezamos pela relevância de cada atração no contexto nacional/mundial e ao mesmo tempo buscamos trazer shows e artistas dispostos a trocar experiências com os artistas locais. A relação que estabelecemos com a cidade é essa de cumplicidade e confiança mútua. Nossos eventos são voltados para um público amplo e diverso, que gosta de música contemporânea e está aberto para outras expressões artísticas, como cinema, dança e teatro. Estamos bem animados com a receptividade do público, que compareceu em massa em todos os nossos eventos até agora”, acrescenta.

Ute Wassermann
Nesta primeira edição, o festival traz uma dezena de atrações em dois dias de concertos no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB, no Pelourinho).

Edbrass destaca dois nomes estrangeiros como atrações principais: “Os dois principais nomes do line up são figuras bem conceituadas no cenário mundial, como o baterista canadense Harris Eisenstadt e a cantora e artista sonora alemã Ute Wassermann”, conta.

“O Harris, além de ser compositor e baterista requisitado, acompanha John Zorn dentre outros, propõe um recorte no âmbito do chamado new jazz, unindo a tradição norte americana as suas pesquisas sobre a tradição cubana do Bata, por exemplo”, detalha.

Já Ute Wassermann é outra história completamente diferente: seu instrumento é a voz.

“Ela é conhecida por sua linguagem sonora extraordinária, de muitos sons e extremos. Cria técnicas para ‘mascarar’ a voz, usando assobios de pássaros, sons do palato ou objetos ressonantes, e também projeta instalações de som”, conta Edbrass.

"Na parte nacional, buscamos selecionar artistas que estão produzindo e circulando, seja no campo das artes sonoras ou cênicas, como também no plano crítico, teórico. A Isabel Nogueira e o Luciano Zanatta, ambos de Porto Alegre, fazem parte do Coletivo Medula, um grupo multimídia bem ativo. Eles estarão acompanhados de um dos pioneiros da 'guitarra preparada' no Brasil, Paulo Hartmann", continua Ed.

Mas as atrações locais também não deixam por menos e apresentam trabalhos interessantíssimos, como os duos locais Terra Vermelha e B.A.V.I.

Duo B.A.V.I. Foto Matheus Leite
“O primeiro é  formado pelo produtor José Balbino e o trompetista Mateus Aleluia Filho. E o Duo B.A.V.I. (Berimbau Aparelhado Violão Inventável) é  outro trabalho bastante original e inovador”, afirma.

Mas o xodó mais recente do organizador vem de Cachoeira: “É o Coletivo Novos Cachoeiranos, orquestra de jovens egressos das filarmônicas de Cachoeira, regidas pelo maestro Sólon Mendes. Eles buscam atualizar a linguagem do jazz com influências diversas como o atonalismo e o universo percussivo baiano. Simplesmente apaixonante este trabalho”, rasga Edbrass.

Investimento próprio

Com o CMC, Edbrass e seus parceiros afirmam estar inserindo a Bahia em um circuito de festivais do gênero que já vem rolando pelo Brasil.

"O CMC é uma oportunidade para o público baiano conferir de perto o trabalho de artistas que inovam em suas áreas de atuação. Além disso, é necessário lembrar que fazemos parte de um contexto nacional de Festivais de música experimental que acontecem entre novembro e dezembro em todo o Brasil: Novas Frequências (RJ), FIME (SP), IMPROFEST (SP), Rumor (PE), Kino beat (RS), Festival Música Estranha (SP), e agora o CMC!", enumera.

DJ Riffs. Foto Nara Gentil
Com foco na chamada produção afrodiaspórica, o CMC também mira numa certa desmistificação da música negra menos comercial ou de origem tradicional como sendo de interesse meramente etnomusicológico, e sim, coloca-la em seu nicho de merecimento, a saber, da música experimental.

"Não consideramos a música experimental como um gênero musical, mas um campo de ação em que vários gêneros podem ser encaixados. No Brasil temos grandes representantes negros ligados a música avançada. Os dois nomes mais conhecidos são os de Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção. Estes dois representam e muito uma pesquisa que levou a música brasileira para outros patamar de radicalismo e inovação. O que acontece é que as obras dos artistas afro-brasileiros são comumente pensados pelo viés da etnomusiclogia, ligados sobretudo a ideia de 'tradição' e 'raiz', nunca como de invenção e vanguarda.... Se quisermos ir mais longe, podemos citar os grande sambistas da década de 40, que criaram um novo gênero musical e urbano, tendo muitas vezes que inventar seu próprio instrumento, como no caso do Bide, por exemplo, que criou um surdo com timbre e peso adequado a nova música que surgia na época. Não é demais lembrar também que engenheiros de som numa pequena ilha do Caribe, no caso a Jamaica, ainda nos anos 60, foi capaz de definir o futuro da música eletrônica no mundo, por meio das técnicas e recursos estéticos utilizadas na música 'dub'. Hoje em dia no Brasil, podemos citar os trabalhos de Juçara Marçal e Cadu Tenório, que no álbum Anganga, lançado em 2016, partiu de cantos de trabalho escravos, aliado a uma estética 'noise', ruidosa e deu muito o que pensar. Não podemos deixar de falar também da obra do Negro Leo, compositor maranhense, que investe no post-rock, mas mantendo traços e características do cancioneiro brasileiro. Tem coisas muitos boas sendo feitas no rap e no funk carioca, na Bahia temos o Atoxxxa, toda essa faixa de produção ligada ao que chamam de 'Guetto Tech' pode ser vista como uma experimentação estética", detalha Edbrass.

Duo Terra Vermelha
"Vivemos num momento em que a cena da música experimental no Brasil chama a atenção pela movimentação dos selos, artistas, festivais, além da já regular passagens de músicos tanto da Europa, quanto da américa latina e Japão, tornando a cena bem rica, diversa e descentralizada. Sobretudo, a Bahia tem uma história com a música de invenção, com a música de vanguarda, que nem a predileção pelo pulso, pelo ritmo pode ou precisa apagar, não é mesmo? Nós representamos a Bahia pelo Brasil e mundo afora por meio do selo fonográfico que produzo em parceria com Heitor Dantas, o Sê-lo! Netlabel. Depois de dois anos trazendo para Salvador artistas como Peter Brotzmann, Lee Ranaldo, Hans Koch, Peter Jacquemyn, Thomas Rohrer, sentimos a necessidade de reunir num mesmo evento um panorama representativo do cenário mundial e local. A missão do Festival é reforçar o conceito de intercâmbio artístico, investindo nas trocas (por meio de workshops), possibilitando ao público baiano acesso a uma programação de qualidade e inédita. O Festival tomou forma a partir das parcerias construídas durante estes anos com produtores de outros estados brasileiros, além das Instituições e plataformas estrangeiras como o Harmonipan (Mexico _ Chicago), Flotar (Programa de Mobilidade Artística (Mex), Goethe Institut e o Maritime College State University of New York (USA)", prossegue.

Mas o mais impressionante em todo este movimento é que, excetuando-se o apoio logístico “fundamental” (ressalta Edbrass) de instituições como o Muncab, Centro de Formação em Artes da Funceb (CFA), Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT) da UFRB  e  Museu Afro Brasileiro (AMAFRO), o CMC não conta com patrocinadores ou verba de edital.

“Não encontramos ainda o nosso patrocinador, o que torna o Festival um grande investimento nosso, dependendo quase que exclusivamente da bilheteria e das colaborações com os artistas e técnicos envolvidos. Espero, sinceramente, que esta edição independente abra caminho para a  chegada do suporte financeiro que necessitamos. O mais importante é conhecermos a nossa vocação como um festival de pequeno porte voltado para uma outra escuta, para um outro jeito de se relacionar com a música e a geografia da cidade. Trazendo de volta a ideia de uma 'Bahia de Invenção', criando para isso um ambiente acolhedor, de relaxamento, num clima de museu muito vivo, sabe?”, conclui.

CMC Festival 2017 - Ciclo de Música Contemporânea / Workshops: Salvador (Centro de Formação em Artes da FUNCEB) de amanhã até quinta-feira e em Cachoeira  nos dias 4 e 5 / Concertos: Sexta-feira e sábado, 17 horas / Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB, no Pelourinho) / R$ 40 e R$ 20 (Vendas: Sympla) / Programação, informações: www.cmc-festival-2017.webnode.com

6 comentários:

Franchico disse...

TOTAL RESPEITO:

https://www.facebook.com/AcaoAntifascistaSalvador/

Franchico disse...

U.

A.

U.

https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/vingadores-guerra-infinita-ganha-primeiro-trailer/

Franchico disse...

Ei você, pobre de direita! É, você mesmo.

CHUPE.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/doria-desistiu-da-presidencia-nao-de-arruinar-as-escolas-agora-tem-que-se-explicar-ao-ministerio-publico-por-donato/

Mas chupe gostosinho, viu? Abocanhe as bolas também.

Franchico disse...

Falando em chupar....

https://omelete.uol.com.br/quadrinhos/noticia/deadpool-beijara-o-justiceiro-em-hq-de-os-defensores/

Franchico disse...

Boas novas: mais um genocida fascista foi pro inferno passar o próximo milhão de anos chupando a rola de satã:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/condenado-por-crime-de-guerra-se-envenena-durante-julgamento/

Franchico disse...

Seu Sílvio PODE ser um bom de um filho de uma puta, mas essa foi SEN-SA-CI-O-NAL!

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/video-a-participacao-indireta-de-bolsonaro-em-quadro-do-programa-de-silvio-santos/