segunda-feira, novembro 27, 2017

PSICOPATAS DO CINEMA NO DIVÃ

Psicólogo baiano analisa o mecanismo que torna os filmes de terror tão atraentes em livro com lançamento HOJE

Leatherface e o balé da serra elétrica ao pô do sol
O brucutu com máscara de pele humana dança um balé macabro ao pôr-do-sol, empunhando uma serra elétrica manchada de sangue.

O êxtase profano que encerra O Massacre da Serra Elétrica (1974) deixou multidões fascinadas e horrorizadas ao mesmo tempo.

É este misto de masoquismo e adrenalina provocado nos espectadores que o psicólogo Zé Felipe Rodriguez de Sá analisa no livro O Terror no Divã (Editora Madras).

Subintitulado A Psicologia do Cinema de Terror em Quatro Séries Clássicas, o livro terá  lançamento com sessão de autógrafos nesta segunda-feira, na Livraria Cultura.

Em suas páginas, Zé Felipe analisa, à luz da psicanálise, folclore e criminologia, os filmes de quatro franquias clássicas do terror: a já citada Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Halloween.

O livro, garante o autor, é perfeitamente acessível também aos leigos: “A psicologia, para mim, tem a obrigação de se comunicar com a sociedade. No meu caso, eu não escrevi só para psicólogos, psicanalistas e estudantes. Escrevi também para quem gosta desse tipo de filme e para quem gosta de cinema em geral”, afirma.

Guitarrista da pioneira banda baiana de doom metal The Cross, Zé vê paralelo entre o amor pelos filmes de terror e pelo metal.

Zé Felipe, baiano nascido no Uruguai, psicólogo e guitarrista. Ft Pedro Santana
"Afinal, os pais do heavy metal - o Black Sabbath - tiraram o seu nome de um filme de terror. Não vejo muita influência do terror no doom metal, mas tem outros subgêneros que são totalmente inspirados por esse tipo de filme... O death metal, por exemplo. Bandas como Deicide, Cannibal Corpse, Necrophagia, Mortician, Impetigo, e por aí vai", enumera.

Fábulas morais

Fã de filmes de terror desde a adolescência – “Um rito de passagem para a minha geração”, nota – Zé Felipe conta que nunca entendeu direito porque gostava tanto de toda aquela matança.

“Foi essa curiosidade que me levou a escrever o livro. Esses filmes falam de uma cultura (norte-americana), de um tempo (a transição entre a revolução sexual e o conservadorismo da era Reagan) e de medos universais, como morte, abandono, escuro, animismo etc”.

"Acho que a coisa vai além desse sado-masoquismo virtual. Esses filmes fazem a gente encarar traumas pessoais e enfrentar medos universais", acrescenta.

Vem daí um paralelo muito interessante que ele traça no livro: os filmes de terror são a versão contemporânea de contos do folclore europeu, os chamados cautionary tales, histórias destinadas a educar os jovens através do medo.

“Sean Cunningham,  diretor de Sexta-Feira 13, disse que o subgênero slasher (protagonizado por psicopatas assassinos) é uma atualização Hollywoodiana / adolescente para os contos dos Irmãos Grimm. Ou seja: eles dramatizam conflitos internos, inconscientes. Desenham o que não tinha cor nem forma”, afirma Zé Felipe.

“No caso específico de Halloween e Sexta-feira 13, eles falam dos perigos das drogas e sexo na adolescência, uma idade que a gente realmente não tem muito noção das coisas. E esse é o paralelo entre os slashers e os contos de fada: ambos são ‘fábulas morais’”, conclui.

Lançamento: O Terror no Divã / Hoje, 19 horas / Livraria Cultura (Salvador Shopping)

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