quinta-feira, novembro 16, 2017

SALVE A RAINHA

Juliana Ribeiro reúne 30 músicos artistas no palco do Vila Velha para celebrar o legado de Clementina de Jesus, a Rainha Quelé

Juliana Ribeiro, foto Dôra Almeida
30 anos depois de ter deixado este mundo, Clementina de Jesus ainda impressiona quem ouve sua voz e seus cânticos ancestrais. Amanhã, a cantora baiana Juliana Ribeiro presta seu tributo anual à Rainha Quelé e sua força agregadora, com mais de 30 artistas no palco do Teatro Vila Velha.

Este é o quarto ano que ela realiza este espetáculo – viabilizado desta feita por meio do edital Arte Todo Dia (Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura de Salvador).

No palco, Juliana e banda receberão mais trinta artistas, reunindo músicos, poetas e transformistas, todos unidos na admiração e influência (direta ou indireta) de Clementina: Clécia Queiroz, Edil Pacheco, Gal do Beco, Grupo Barlavento, Lazzo Matumbi, Márcia Short, Pali Trombone, Rita Braz, Maviael Melo, Juracy Tavares, Ferah Sushine e Rainha Lou Lou são apenas alguns que estarão no TVV amanhã.

O mais legal é saber que toda essa movimentação surgiu a partir de um documentário e um desafio: “Em 2012, Chico Assis (coordenador do Cine-Teatro Solar Boa Vista) chamou alguns artistas para assistir o documentário Clementina de Jesus: Rainha Quelé (2011, de Werinton Kermes)”, conta Juliana.

“O filme é muito tocante, e quando ele acabou,  Chico nos provocou para que fizéssemos alguma coisa pela memória dela, que tem uma importancia extrema na cultura brasileira. Então eu também chamei outros artistas para participar de  um tributo”, conta.

E assim, em julho daquele mesmo ano, Juliana realizou seu primeiro espetáculo em homenagem à cantora carioca.

“Resolvemos fazer todo ano nessa data. Foram 40 artistas. Quase fico louca pra coordenar todo mundo, mas é que Clementina tinha esse espirito de coletividade, era uma agregadora natural. Não a toa, João Bosco, Paulinho da Viola, Martinho da Vila e muitos outros, todo mundo era fã dela”, relata Juliana.

Para organizar esse baba, a cantora teve que organizar os participantes em grupos: “Quando eu vi que 40 pessoas tinham topado meu chamamento, comecei a junta-los em duplas, trios, quartetos e quintetos para cantar uma música. Assim, todos puderam participar. Isso rendeu muitos encontros inusitados, de pessoas de que nunca cantaram juntas – e cantando Clementina, dando um valor simbólico ainda maior ao evento”, afirma.

Outro valor que será agregado ao evento é que ele será gravado em vídeo e disponibilizado – uma música por vídeo – na Biblioteca Digital Gregório de Mattos.

“Uma das contrapartidas deste edital é a produção da memória digital. Todo o show será gravado em formato de cápsulas musicais. Cada número vai ser gravado e editado em um clipezinho para o  site da Fundação”, conta.

Clementina, foto Danilo Pavani / Cedoc FPA
Memória da diáspora

Nascida em 1901, morta em 1987, Clementina de Jesus surgiu no cenário da música popular brasileira pelas mãos do poeta e produtor Hermínio Bello de Carvalho.

“A avó dela era escrava liberta e a criou no Quilombo de Carambita em Valença, no Rio de Janeiro. A mãe era empregada doméstica, saía para trabalhar e a deixava com a avó. Esta ia lavar roupa no rio e lá ela cantava na frente da neta”, conta Juliana.

Mais crescida, Clementina se muda para a capital fluminense para trabalhar ela mesma em casas de família como doméstica. Na memória, levava os cantos afrobrasileiros que aprendeu com a avó.

No Rio, cantava todos os anos na festa da Igreja da Nossa Senhora da  Penha. Numa dessas, Hermínio Bello ouviu a voz ao mesmo tempo áspera e terna de Clementina e ficou estatelado. Voltou para casa, mas continuou com aquela voz na cabeça, insistente.

“Somente na festa da Penha do ano seguinte ele conseguiu  encontra-la. ‘Olha, estou encantado com sua voz, queria que a senhora viesse gravar comigo’. Ela achou estranho, até porque já tinha 62 anos”, conta.

“Hermínio a recebeu em casa com flores e a levou para a indústria do entretenimento, com o espetáculo Rosas de Ouro. Acompanhando Quelé, ninguém  menos que Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nélson Sargento, meninos de 20 e pouco anos. Clementina é a memória, a diáspora encarnada. Ela fazia esse elo na voz, sem precisar de discurso. Ela transcende tudo isso”, conclui Juliana.

Tributo a Clementina Ano IV / Com Juliana Ribeiro e vários artistas / Amanhã, 19 horas / Teatro Vila Velha / R$ 20 e R$ 10

Um comentário:

Franchico disse...

Ai, tadinho do velho branco careca com um salário mensal de (no mínimo) cinco dígitos discriminado e oprimido pelas minorias! Coitado!

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/ives-gandra-nao-sou-nem-negro-nem-homossexual-nem-indio-nem-guerrilheiro-nem-assaltante-mimimi-mimimi/

É de dar pena!