terça-feira, maio 09, 2017

HABILIDADE, BOM HUMOR E DIVERSÃO: CONHEÇA O BLUEGRASS DESAPEGADO DE GIGITO

Daniel Iannini e Gigito no Dougie's, foto Mardou Monzel
Eu não sei, deve ter algo no ar ou na água dessa cidade para aparecer tanta gente doida legal nesse underground lindo de meu deus.

Olha só para esse cara, Gigito. O sujeito toca um banjo endiabrado, de deixar caipira americano de queixo caído, e ainda o faz de um jeito todo próprio, um jeito que ele mesmo batizou de Bluegrass Desapegado, não por acaso, título do seu primeiro EP.

Cheio de bom humor, suas músicas tem letras carregadas de uma sinceridade desconcertante. Pelos títulos já dá para ter uma ideia: Jesus Me Ama Mas Não Me Suporta,  É Dureza Não Ter o Que Fazer Mas Não Fazer Nada Também é Bom.

"Meu próprio dia a dia. Eu acho que o humor é uma máscara para falar a verdade, neste caso a minha. Posso tratar de momentos de baixa autoestima, mas usar isso com humor, como em 'Estou me sentindo feio'. Ou falar de uma maneira até meio grosseira e provocativa da religião cristã como em 'Jesus me ama, mas não me suporta', ou falar do meu dilema com o sono em 'Viver Sonâmbulo' (“Eu queria dormir para sempre/ mas sem ter que morrer/ só pra não ter que acordar/ e sem entrar em coma”) O bom do humor é que ele pode deixar a coisa um pouquinho mais leve e divertida. Ultimamente venho escrevendo umas coisas mais sérias também", conta Gigito.

Além dessas pérolas, ele ainda faz versões de clássicos do bluegrass americano (Foggy Mountain Breakdown, Night Train To Memphis) e de punk rock (Conversa Pra Boy Dormir, da banda brasiliense DFC).

“Eu sempre gostei de pesquisar muito sobre música. Posso gastar um bom tempo em garimpagens cibernéticas atrás de coisas boas para se ouvir. Em algum momento eu conheci o Bluegrass – esse estilo acústico e raiz americano que, resumindo, é uma mistura de influência do blues, da música das montanhas, da música irlandesa e escocesa. É um sub-gênero do country. Lembro que o ponto mais marcante para mim foi quando conheci uma banda chamada Bad Livers (muito rotulada como Punkgrass, mas na verdade tem de tudo ali). A criatividade dos caras me chamou muito a atenção e quando ouvi o banjo de Danny Barnes estava totalmente decidido a arranjar um para mim. O banjo para mim sempre pareceu um instrumento mágico e causador de ilusões, pois você o ouve, o vê, mas não consegue juntar o que ouve com o que vê, já que tem uma técnica única”, diz.

“E pra resumir um pouco a história: tempo passa e já com o banjo em mãos, chamei Daniel para montarmos esse projeto. Bluegrass Desapegado é uma espécie de rótulo brincalhão, mas que é sério, pois temos sempre em vista o Bluegrass e suas possibilidades sonoras como ponto de partida, porém estamos desvinculados da tradição, afinal não somos americanos e temos diversas influências, muito do rock em geral. E mesmo que pudéssemos tocar uma música mais tradicional, não é o que desejamos. Até as músicas de lá que incluímos no nosso repertório procuramos fazer da nossa maneira. Um americano uma vez comentou para mim, numa rede social, 'Mas isso não é bluegrass' e eu disse 'Eu não disse que era, eu disse que era Bluegrass Desapegado'. Eu nem sei se ele entendeu”, acrescenta.

Mil moedas no case

Foto Tiago Quirino Trocoli
Aluno do curso de Composição da Escola de Música da Ufba, Vítor Rios (seu nome) pode ser encontrado a qualquer momento tocando nas ruas, o famoso busking, prática ainda pouco comum em Salvador.

"Eu estudo Composição. Boa parte do meu entendimento de música começou lá e eu gosto da forma que entendo música, por isso sou extremamente grato aos meus professores e colegas. Lá eu passei a ter contato com música de concerto contemporânea, compondo e tocando (em grupos como o Camará Ensemble). É uma música que é escrita, mas que dá abertura a muitas possibilidades de interpretação e exploração no seu instrumento, além do que para tocar isso, você tem que dar o sangue tanto quanto no rock, por exemplo. Longe dessa concepção clássica que criaram para tal, a música de concerto é tão resistência quanto os movimentos que chamamos de underground por aí. Acho que isso só me acrescenta, por mais que minha linguagem enquanto banda caminhe por modelos diferentes, estar lá só tem me ampliado constantemente os horizontes. Eu tenho uma história longa até demais com minha graduação, mas devo dizer que é porque gosto demais daquela escola. Me formar pode ser uma separação traumática para mim. Hehehehe", ri Gigito.

“Pelo que bem me lembro, a primeira vez que me apresentei com o banjo foi na rua, sozinho. Queria me desafiar e sabia que a rua proporcionaria coisas inesperadas. Já teve de uma figura parar e do nada começar a cantar por vários minutos uma letra improvisada comigo, ou guris de uma excursão de escola me jogarem mil moedas de cinco centavos (aquilo pesou o case!), coisinhas engraçadas assim que servem pra fazer a gente dar umas risadas ali na hora”, conta.

"As pessoas geralmente gostam. Acho que esse 'fora do normal' pode ser bem aproveitado como um ponto de captar interesse das pessoas. Não existe cena aqui para esse tipo de música, no entanto não estamos preocupados com isso. Nós já tocamos em eventos com bandas de rock, de jazz, nas ruas, em bazares, onde chamar e a gente achar que vale a pena, tamo junto. Eu gosto muito disso", observa.

Agora, ele e Daniel gravam o primeiro álbum cheio do duo, a sair em breve. “Estamos gravando esse álbum no meu home studio, batizado carinhosamente por Daniel de 'Estúdio Foda-se'. Apesar de ter começado como um projeto solo, considero que somos mesmo um duo, Daniel agregou muito ao som, participando de muitas formas no desenvolvimento da 'banda'. Nós estamos tentando fazer um processo todo misturado para este álbum. Reciclamos e organizamos várias ideias antigas, criando coisas novas ou as implementando em coisas já feitas há um tempo. Nesse meio vamos gravando e bolando os arranjos, então não temos ainda todas as músicas compostas (apesar de já termos cinco prontas e gravadas). Estamos fazendo com calma e de um jeito que está divertido para nós. Se a música é boa e sincera, ela vai convencer e é dessa forma que estamos buscando os resultados. Tem algumas participações de amigos especiais, que volta e meia estão tocando conosco. Apesar de só sermos dois, este álbum, diferente dos shows, tá cheio de instrumentos como violão, bandolim, bouzouki, gaita, guitarra slide e claro banjo, baixo e nossas vozes. Ainda não sabemos quando sai e nem exatamente como vai ser o lançamento, mas vai sair”, conclui.

Se liga na agenda do rapaz e confere, que vale a pena.

www.facebook.com/Gigito.banjo



NUETAS

Mapa, Freegobar

As bandas Mapa e Freegobar fazem a Noite Instinto Coletivo no Quanto Vale o Show? de hoje. Dubliner’s 19 horas, pague quanto quiser.

KL Jay e o rap da BA

KL Jay (Racionais MCs) grava o  episódio Rap Baiano para o programa Estamos Vivos. Com DaGanja, Nova Era e Don L. Sexta-feira, 20 horas, Largo Tereza Batista, R$ 15, R$ 30.

Dórea faz o Belchior

Dórea presta tributo a Belchior, Neil Young e Bob Dylan. Sábado,  17 horas, no Hot Dougie’s, Porto da Barra.

Via Sacra retorna

Dos anos 1980, a  banda punk baiana Via Sacra retorna com um show neste sábado, 20 horas no Buk Porão. Abertura da Levanta Veio. R$ 5.

2 comentários:

Franchico disse...

Aí, galera, todo mundo caprichando no clique. SEGUE RELEASE:

LIVRARIA LANÇA CONCURSO E MELHORES FOTOS CONCORREM A PRÊMIOS

Você é a Cara da Cultura? O novo concurso cultural da Livraria Cultura,pioneira no e-commerce de livros no país, avalia as melhores fotos no estilo Sleeveface - aquelas em que partes do corpo da pessoa fotografada são substituídas criativamente pela imagem da capa de um disco, filme ou livro. A diversão é garantida para todos e as melhores fotos concorrem a vales-compra de até R$ 300,00.

Nas redes sociais, a campanha incentiva a pessoas a publicação das sleevefaces com a hashtag #souacaradacultura. "Nosso objetivo é difundir o conhecimento a respeito de produtos culturais de maneira descontraída e alinhada com a linguagem dinâmica do universo digital", explica Thiago Machado Oliveira, gerente de marketing e e-commerce da Livraria Cultura.

Para participar, basta fazer uma foto substituindo uma parte do seu corpo pela capa de um disco, filme ou livro, acessar a página da campanha www.livrariacultura.com.br/cara-da-cultura e fazer upload da foto. O período de participação termina no dia 26/06 e os vencedores serão anunciados até o dia 01/07.

Rodrigo Sputter disse...

dizem que esse gigito tb é desenhista, esse desenho da capa deve ser dele...gostaria de saber tocar, pra tocar na rua. assim do nada...ou marcar em cima da hora...tocar nas praças...massa isso...

Chico, tou esperando sua opinião lá daquele troço-ehehhehehe

Chico...vamos fazer um assleeve com a capa de todos os olhos de tom zé-ehheheeh