terça-feira, maio 23, 2017

MÚSICA DE QUINTA NA CASA D'A OUTRA

Grupo A Outra Companhia de Teatro dialoga com o Politeama com Música de Quinta

A rapaziada do Música de Quinta, foto Andrea Magnoni
Não conta pra ninguém, mas o colunista curte musicais. Tipo de teatro, sabe?

Daí ter gostado da proposta do grupo (atenção para as atribuições) “cênico-musical-performático” Música de Quinta, que promove espetáculos de música na Casa d'A Outra, espaço da A Outra Companhia de Teatro.

O grupo tem Roquildes Júnior na direção musical e  cordas (guitarra, violão).  Anderson Danttas, Eddy Veríssimo, Gabriel Carneiro, Moisés Rocha, Israel Barretto, Luiz Antônio Sena Jr. e Thiago Romero se revezam na percussão, sanfona, triângulo, gaita, violino, escaleta etc.

Nesta quinta, estes animados trovadores ainda recebem a participação do grupo de drag queens da  Casa Monxtras: Malaika SN, Mamba Negra e Frutífera Ilha.

“O Música de Quinta surgiu com dois objetivos: o primeiro era ampliar a pesquisa musical que o grupo vinha desenvolvendo e influenciam diretamente na poética da companhia”, conta Roquildes.

“O segundo foi a ideia de promover uma ação artística que dialogasse com o bairro do Politeama, sendo uma ação importante do Movimento Poli-Te-Ama (movimento criado pel'A Outra Companhia de Teatro em 2014 com o objetivo de provocar o olhar da cidade para esse bairro que já foi tão importante culturalmente para Salvador e que hoje vive um ostracismo cultural, sendo muitas vezes negligenciado pelo poder público). Aos poucos fomos nos apresentando no Calçadão do Politeama, na frente da Casa da Outra, foi juntando gente, começamos a ser convidados para nos apresentar em outros lugares tocando em festas, eventos privados, e hoje o Música de Quinta é mais uma ação artística no repertório do grupo”, acrescenta.

Esse movimento, criado pelo grupo para tentar revitalizar o bairro, inicialmente sofreu a resistência dos vizinhos. Os shows, que começaram na calçada, acabaram interrompidos.

“O Música de Quinta na verdade surge para estabelecer esse diálogo com o bairro do Politeama. Quando chegamos lá, A Outra Companhia, era difícil a relação com os moradores que não entendiam muito bem nossa rotina em meio ao complexo comercial que estamos inseridos (Edifício Centro Comercial Politeama) e por isso não se agregavam as nossas atividades. Por outro lado, as pessoas que nos conheciam de antes e de outros bairros não frequentavam nossa nova sede porque diziam que o bairro era violento. Ai veio o estalo: a música em qualquer lugar é uma linguagem aglutinadora, a gente toca em cena, temos instrumentos e equipamentos de som, vamos colocar as coisas no Calçadão e tentar fazer um som pra chamar a atenção das pessoas, dizer quem somos e tentar trazer um pouco mais de vida pra esse lugar que esta sendo só uma zona de passagem, um lugar onde as pessoas não se enxergam, não convivem. Surge ai o Movimento Poli-Te-Ama - numa tentativa de criar um espaço onde as pessoas do bairro pudessem se afetar e pouco a pouco fomos percebendo miúdas transformações no que tange a sociabilidade do entorno. Os comerciantes foram tornando-se nossos parceiros, os moradores começaram a nos visitar”, conta Luiz Antônio Sena Jr.

"Mas nem tudo são flores e como levantamos o discurso contra homofobia, racismo, invisibilidade social... fomos atraindo públicos muito diversos dentre eles travestis e moradores de rua recebidos com todo encanto como qualquer outra pessoa afim de curtir nosso som, mas alguns moradores sentiram-se feridos e começamos a ser alvejados por denúncias que fizeram com que parássemos os shows por cerca de 06 meses até voltarmos aos poucos, mas agora ao invés de fazermos na rua, temos convocado as pessoas de fato para dentro de nossa sede, porque ai recebemos quem se afina com nossa arte para além dos padrões sociais, econômicos e políticos. Ai estão inclusos os moradores do bairro, os comerciantes parceiros, os gays e travestis, quem quer chegar na Casa d'A Outra pra ser De Quinta com a gente", acrescenta.

Liberdade aos afetos

Em cena na Casa da Outra, foto Andréa Magnoni
No repertório, o grupo explora o que há de mais moderno na música popular: Liniker, Jaloo, Céu, Phil Veras, As Bahias & A Cozinha Mineira.

“Sim, fazemos releituras, mas também temos algumas composições. O repertório é feito a partir do tema. Sempre escolhemos um eixo que pode ser um "estilo" como rock dos anos 80, carnaval baiano, bossa nova, samba ou um assunto como nesse próximo show: liberdade aos afetos! Daí revisitamos, cada um, o seu baú de referências musicais, compartilhamos e vamos pra sala ensaiar, algumas músicas acabam caindo, outras são fundidas e nesse caminho percebemos onde os textos entram, qual sua "função" e passamos a escrita construindo uma narrativa / roteiro”, conta Luiz.

Específico para esta edição o repertório dialoga com a participação das drag queens da Casa Monxtras, nota Luiz Antonio.

"Nessa edição traremos canções de uma cena musical mais alternativa, dita até marginal, de protesto, numa tentativa de convocar o público a enxergar esses artistas que pouco a pouco tem invadido o cenário de modo nacional, criando uma linguagem mais teatral, arriscada nos questionamentos, validando os afetos, como a Liniker, o Phil Veras, o Jaloo. Nesse sentido as meninas da Casa Monxtra estão completamente mergulhadas, porque fogem do padrão de drag, apresentando performances onde a beleza está no que é considerado estranho e as dublagens são de músicas pouco populares, questionando os padrões instituídos socialmente como ideais onde negros, pobres, gays não se reconhecem", percebe.

Em breve, o grupo poderá fazer um espetáculo inteiro com repertório autoral, sinaliza Roquildes.

"Já fizemos algumas canções autorais nos shows, mas tratamos isso de maneira muito natural, sem uma pressão para a composição. Como somos do teatro, o show é sempre muito atravessado por textos, depoimentos, poemas, narrativas, que normalmente tem a ver com a temática do show e são escritos por Luiz Antônio Sena Jr., Thiago Romero, Anderson Danttas, Roquildes Junior. Esse material sempre é acompanhado por uma textura musical, se valendo bastante das estratégias de música para teatro, como se fossem cenas. Aos poucos esse material vai se repetindo, se estruturando, ganhando corpo, virando canção e entrando no repertório. Mas ainda não fizemos um show inteiro autoral. Tá aí uma boa ideia para um próximo show", afirma.

Roquildes também planeja um registro audiovisual para o trabalho: "É um desejo. As pessoas sempre cobram um registro, principalmente desse material mais autoral que fica no limite entre trilha e canção, que são textos musicados ou mesmo os que assumem uma estrutura de canção mesmo. Ainda não temos um projeto para fazer a gravação desse material, mas temos um desejo grande de gravar principalmente em audiovisual, por que como somos do teatro o show acaba sendo mesmo uma experiência ou de habitar as rua do Politeama a noite (um lugar que não é muito comum de ter um grande fluxo de pessoas após às 18 horas), ou na nossa sede, na qual o show assume um formato mais íntimo, olho no olho, quase uma confissão. Seria possibilidades interessantes de registrar esse trabalho. A ideia é fazer isso em breve", conta.

Selecionado pelo Edital de Apoio a Grupos e Coletivos (SecultBA), o Música de Quinta promete continuar com os shows ao longo do ano.

Música de Quinta #02 / Com participação das drag queens Casa Monxtras / Quinta-feira, 19 horas / Casa d'A Outra (Rua Politeama de Cima, 114, Centro Comercial Politeama) / Pague Quanto Quiser

NUETAS

Flamingo e Conjunto

Flerte Flamingo e Conjunto Estofado fazem a Noite NHL no Quanto Vale o Show? de hoje. 20 horas, Dubliner’s, pague quanto puder.

Atos, Rosa e Devaz

Menores Atos, Rosa Idiota e Devaz fazem matinê sábado. Dubliner’s. 16 horas,  R$ 15.

Irmão, Búfalos, Elefantes e Maus Elementos

Irmão Carlos, Búfalos Vermelhos & A Orquestra de Elefantes e Maus Elementos fazem o show da 3ª edição do projeto Incubadora Sonora. Viabilizado pela SecultBA (Fundo de Cultura), a Incubadora visa a profissionalização de artistas independentes. Sábado, 22 horas, Portela Café, R$ 5.

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