quinta-feira, julho 24, 2014

MÚLTIPLO, VISIONÁRIO

Próximo de completar 120 anos de nascido (no dia 26), Aldous Huxley tem 15 de suas obras mais importantes reeditadas no Brasil

Aldous Huxley dava seus pulinhos. Foto de Philippe Halsman
Hoje em dia, quando todo mundo parece querer posar de intelectual de Facebook, ler um livro de Aldous Huxley é como tomar um choque no cérebro.

Com boa parte de sua obra sendo agora relançada em novas edições pela Biblioteca Azul, esses choques de real inteligência são mais do que bem-vindos.

Selo da editora GloboLivros, a Biblioteca Azul já lançou seis títulos, de quinze previstos: o clássico absoluto Admirável Mundo Novo, os romances Contraponto, Sem Olhos em Gaza e Também o Cisne Morre, mais o ensaio Os demônios de Loudun e Contos Escolhidos.

A caminho, joias como As Portas da Percepção, O Tempo Deve Parar etc.

Nascido em 26 de julho de 1894 (120 anos em 2014, portanto), morto em 1963, Huxley tem origem em uma família de intelectuais ingleses que incluem um prêmio Nobel de Medicina (Andrew) e o primeiro diretor da UNESCO, Julian Huxley, ambos irmãos de Aldous.

“Aldous Huxley deve ser lido porque é um escritor que não oferece entretenimento apenas”, afirma o escritor baiano e membro da Academia de Letras da Bahia, Hélio Pólvora.

“Seus raciocínios auxiliam o leitor a compreender sua época, a sociedade em que vive, os caminhos por onde segue a horda humana. Mais que um romancista, foi um pensador, um filósofo. Pertencia, aliás, a uma família de eruditos – cientistas e homens de letras”, reitera.

A opinião de Pólvora encontra eco perfeito na de Ana Lima Cecílio, editora do selo Biblioteca Azul: “Huxley era um grande escritor, mas também alguém a quem se pode chamar de intelectual no melhor sentido da palavra”, afirma.

“No sentido de pensar sua época e debater uma infinidade de assuntos em ensaios e palestras. Era muito aberto ao debate, tinha aquela postura que os franceses chamam de ‘intelectual na praça pública’. No You Tube tem muitas falas dele na TV e no rádio falando de tudo. Huxley não se escondia, estava sempre interessado nessa troca de ideias com o público”, diz.

"Huxley é autor de romances muito densos e importantes, sobretudo muito significativos de sua época. Era um super pensador que estava atento a tudo a sua volta - e seus romances davam forma a esse pensamento, a essa matéria filosófica", observa.

"Seus temas seguem atuais", confirma Hélio Pólvora. "Já enfermo, dedicou-se a estudar a mescalina, a buscar nesta planta efeitos alucinógenos. Isso numa época em que predominava o movimento hippie, desejoso de libertação por via da fuga aos padrões estabelecidos de normalidade. Em um de seus livros mais conhecidos (Admirável...), Huxley escarneceu, pela sátira contundente, da submissão humana à tirania da burocracia científica. Foi, nesse sentido, um companheiro de George Orwell, no famoso 1984", afirma.

Distopia, humor, romances

O jovem Aldous
Entre os seis livros já lançados, o mais famoso é Admirável Mundo Novo, classificado por Ana Lima como “uma  das três maiores distopias já criadas, ao lado de 1984 (George Orwell) e Fahrenheit 451 (Ray Bradbury)”.

“Esse livro é uma espécie de síntese de toda a filosofia que há por trás de sua  obra – e apesar de ser o mais famoso, é muito diferente dos outros livros de sua carreira. Até por que ele não era um autor de ficção científica, como Ray Bradbury”, nota.

Ambientado em um futuro no qual o governo controla tudo e todos com mão de ferro através da engenharia genética e estimula a desumanização do indivíduo através da adoração ao industrial Henry Ford, Admirável Mundo Novo torna difícil não ver paralelos com o mundo de hoje, no qual industriais como Steve Jobs e Bill Gates são vistos como gurus, entre outros absurdos.

“O Admirável Mundo Novo (verso de Shakespeare, em inglês ‘O Brave New World!’), antecipa, a bem dizer, as pesquisas genéticas atuais. Sob certos aspectos, é um relato de horror. Seres humanos fabricados em série, com um propósito definido (geralmente político) ainda assustam, por mais que a vida atual supere a imaginação”, nota Hélio Pólvora.

Mas Huxley foi muito mais do que um pessimista autor de distopias. “Ele era um autor muito múltiplo e vasto nos seus interesses. Ele tinha uma sobriedade pessimista que se reflete até hoje - no bom sentido de ser muito lúcido”, observa Ana.

O que pode surpreender os leitores  novatos é o quanto ele podia ser bem humorado em suas sátiras – de forma meio cruel e tipicamente inglesa, mas engraçado.

“Lembro-me de Freiras ao Almoço, inserido numa antologia do conto mundial em português. Esqueço o assunto, mas ficou-me até hoje a certeza do ficcionista de humor tipicamente britânico, com inclinação ao sombrio”, vê Hélio.

Já Ana destaca o romance Também o Cisne Morre, o qual, assim como o Cidadão Kane de Orson Welles, foi inspirado na opulência em que vivia o magnata William Randolph Hearst.

“Assim como Welles, Huxley o visitou em seu palácio na Califórnia. Enquanto no filme de Welles, ele é um magnata da comunicação, no livro de Huxley, ele é um milionário com fixação pela ciência, com uma equipe de cientistas dentro do palácio dele, buscando uma fórmula da vida eterna. É divertidíssimo e super bonito”, conta Ana.

Entre  outros romances, Hélio destaca Contraponto, “no  qual desenvolve a técnica da narração multívoca (várias vozes) e dos pontos de vista dissociados”.

“Esse é um romanção. Contraponto, Sem Olhos em Gaza e Também o Cisne Morre são grandes romances, cheios de personagens e cada personagem é uma fatia da sociedade, através dos quais ele faz todo um discurso social e filosófico", complementa Ana.

"Já A Condição Humana (a sair em breve) é uma reunião de 12 palestras que ele fazia nas universidades, sobre os mais variados temas, um livro de pensamento, mesmo. Os Demônios de Loudon um longo ensaio sobre um episódio de possessão no século 18, na França”, acrescenta.

"Cada livro É sempre um Retrato do Século 20, com os temas mais importantes: a guerra, a ciência, a luta de classes, a informação - sempre com essa perspectiva da consciência dessa época que a gente vive e que desembocam em obras-primas absolutas em termos do quanto ele consegue ver o futuro", conclui Ana.

Admirável mundo novo / Aldous Huxley / Tradução: L. Vallandro, V. Serrano / Biblioteca Azul / 312 p. / R$ 39,90 / E-book: R$ 27,90

Contraponto / Aldous Huxley / Tradução: Erico Verissimo, L. Vallandro / Biblioteca Azul / 688 p. / R$ 59/ E-book: R$ 41,90

Sem olhos em Gaza / Aldous Huxley / Tradução: V. Miranda de Reis / Biblioteca Azul / 608 p. / R$ 52,90
Os demônios de Loudun / Aldous Huxley / Tradução: Sylvia Taborda / Biblioteca Azul / 400 p. / R$ 49,90
Também o cisne morre / Aldous Huxley / Tradução: P. M. da Silva/ Biblioteca Azul / 352 p. / R$ 39,90

Contos escolhidos / Aldous Huxley / Tradução: Eliana Sabino / Biblioteca Azul / 548 p. / R$ 59,90 / E-book: R$ 41,90 / www.globolivros.globo.com

17 comentários:

Ernesto Ribeiro disse...

Perfeito.


Agora, só falta republicarem o mais importante livro de não-ficção de Huxley: Regresso ao Admirável Mundo Novo, a série de ensaios sobre ideologia, política e sociologia onde ele comenta a estrutura de poder dos regimes totalitários comunistas e nazistas --- e traça um paralelo entre duas distopias: a própria obra de ficção científica dele Admirável Mundo Novo e a de George Orwell, 1984.


A primeira, Huxley define como "totalitarismo benigno" e a segunda, "totalitarismo maligno".


Eu tenho aqui uma edição raríssima desse livro, datada dos anos 70. Sempre atual. Se quiser, eu lhe empresto.

Rodrigo Sputter disse...

Taí um livro que num viajei...o mais famoso de Huxley, que todo mundo fala que é um clássico da distopia, mas dizem as más línguas, que ele nunca deu o crédito da influência de "Nós" de eugene zamiatin para criara o "Admirável...", eu já li "Nós", antes até do que o do Huxley e gostei BEM mais, aliás o Eugene tem uma história de vida interessante...pelo menos o George deu o crédito ao Eugene, sobre o George, o mais curioso é que li no mínimo 7 livros dele, ou mais, e nunca li o 1984...o meu fave é "na pior em paris e em londres", até relançaram, LIVROZAÇO...não quero dizer q o ADMIRAVÉL é ruim...longe disso...apenas que num bateu em mim, num gostei, esperava mais...outro que não piro muito é a METAMORFOSE de Kafka, achei bem escrito e tal, mas num BATEU tb...e olha que li esses livros no começo dos anos 2000, na época q eu era fissurado em ler tudo e com tesão...

Ernesto meu fio, Chico, procure o NÓS do Eugene, tem uma linguagem bem interessante, um movimento matématico, uma movimentação matamática, no jeito em que o livro foi escrito...bem legal...

Rodrigo Sputter disse...

http://e-nigma.com.pt/criticas/nos.html

Ernesto Ribeiro disse...

Você pode baixar em formatos Mobi e Epub o livro berço do gênero da literatura das distopias : A Nova Utopia, de Jerome K. Jerome


http://leiturasparalelas.wordpress.com/2013/10/30/a-nova-utopia-jerome-k-jerome/


"Pode-se ver claramente que a inspiração para "Nós" veio do trabalho de Jerome K. Jerome, assim como "1984" de George Orwell foi fortemente inspirado no trabalho de Zamyatin."



"Em 1891 Jerome publicou o conto-ensaio A Nova Utopia descreve uma cidade — quiçá um mundo — abarcada por um pesadelo igualitarismo, onde os habitantes são quase indistintos em seus uniformes cinza (como as "unifas" de Nós) e todos têm cabelos pretos e curtos, naturais ou tingidos. Ninguém recebe nomes, apenas números costurados nas túnicas: pares para as mulheres, ímpares para os homens, o mesmo esquema da obra russa."


"A igualdade é levada a extremos tantos que pessoas com físico bem-desenvolvido sofrem cirurgias para redução de membros (em Zamyatin a cirurgia de nivelamento de nariz é sugerida). Na obra de Jerome, aqueles com uma imaginação superativa são submetidos a uma cirurgia que também a reduz, e uma operação semelhante tem importância central em Nós. Ainda mais significativa é a apreciação da parte de ambos os autores do amor familiar, e por extensão do individual, como uma força disruptiva e humanizante.


É provável que o autor russo o tivesse lido: as obras de Jerome foram traduzidas na Rússia três vezes antes de 1917 e a maioria das pessoas educadas as conhecia."

Ernesto Ribeiro disse...

Finalizando:


Ah, mas não se enganem: A PIOR de todas as ideologias, o pior dos Totalitarismos, na Teoria e na Prática, com o máximo infinito de MALDADE embutida desde o seu texto de origem, é a RELIGIÃO DO DEUS ÚNICO : Judaísmo - Cristianismo - Islamismo.


Basta ler as piores partes da Bíblia para você ver que aquilo só pode ter sido escrito pelas mentes mais doentias, criada pelos homens mais abomináveis, pervertidos e degenerados.



Não há dúvidas: DEUS É PURO ÓDIO Á HUMANIDADE E Á VIDA. É impossível para qualquer ser humano normal e decente ler aquilo sem ter vontade de vomitar. A especialidade dele é despedaçar crianças e fazer as pessoas morrerem de fome depois de devorar seus próprios bebês, além de levar as mães a comerem a própria placenta. O rei Davi mandou exterminar populações inteiras de todas as cidades do reino amonita serrando ao meio as pessoas vivas.



O que os antigos hebreus cometeram em Canaã foi a antecipação dos piores crimes contra a Humanidade que os cristãos nazistas cometeram na Europa. Basta lembrar que as primeiras vítimas de Moisés foram a metade dos hebreus que REJEITARAM aquela religião abominável. E ele começou usando um grupo de extermínio da tribo dos Levitas. É o tipo de coisa que jamais veremos nos filmes de Hollywood como "Os 10 Mandamentos".



É como se os nazistas escrevessem um livro se vangloriando de cada um de seus crimes cometidos em campos de concentração no Holocausto.


No julgamento de Nuremberg, os carrascos lideres nazistas alemães disseram que exterminaram judeus porque estavam apenas obedecendo as ordens religiosas de Martinho Lutero, criador da primeira Igreja Protestante.



E de fato houve mesmo
padres criminosos nazistas se vangloriando de matar MILHARES de civis com as próprias mãos em requintes de crueldade para impor o máximo de sofrimento - inclusive crianças e bebês.




LEIA. COMPRE. DOWNLOAD. DIVULGUE:




http://pt.scribd.com/doc/53170726/Colecao-Fabulas-Biblicas-Volume-7-Crimes-De-Deus-E-Do-Cristianismo


rodrigo sputter disse...

Ernesto, se tu quiser um exemplar pra ti:

http://www.estantevirtual.com.br/q/eugene-zamiatin

Ernesto Ribeiro disse...

Obrigado, mano.

Eu tenho uma lista enorme de coisas para comprar na internet e fora dela.

Rodrigo Sputter disse...

E pq num compra?
sem $$$???
ou ainda num teve tempo?

Ernesto Ribeiro disse...

Porque eu tenho MAIS coisas a comprar na lista principal de cada dia.


Mas em breve eu começarei a zerar a outra lista.

Ernesto Ribeiro disse...

Hã, mister Castro, eu não pude deixar de notar que você não publicou aqui a sua matéria sobre os 20 anos de um, hã, disco de uma coisa chamada (urrrgh!!!...) Oasis.

Não que eu esteja me queixando. Muito pelo contrário.

Na verdade, eu entendo e lhe apóio.

Em todo caso, eu louvo a sua objetividade e profissionalismo ao lidar com temas tão repulsivos como este e outra coisa chamada, (urllgh...) Skank.


Enfim: são os ossos do ofício.


Mas o ROCK LOCO é para o filé mignon. Ou no mínimo para o que pudermos engolir. Parabéns.

Franchico disse...

Confirmado: Stones no Brasil de novo em 2015.

http://rollingstone.uol.com.br/noticia/rolling-stones-se-apresentam-no-brasil-em-2015-diz-jornal/

Arena Fonte Nova que é bom, porra de nada.

Ernesto Ribeiro disse...

Porra. O Keith parou de tingir o cabelo. Tá horrível todo grisalho e com uma faixa de pano pendendo da cintura. E Jagger precisa cortar esse cabelo.


Talvez eles se apresentem aqui na Arena. E em Sampa também.

Ernesto Ribeiro disse...

Odeio a minha preguiça e pressa em não revisar meu texto e não consertar os meus erros de digitação. Esse mouse está com tanto defeito que um clique tem o efeito de dois, Até pra copiar e colar.

Ernesto Ribeiro disse...

Armandinho tocou com o Camisa de Vênus em "Silvia" no palco do Dubliner Irish Pub, nesse domingo, 0:30 da madrugada, 26 de julho de 2014. Foi aplaudidíssimo.


Na plateia, dezenas de celulares e IPhones filmavam tudo, disputando espaço com os braços estendidos para documentar mais esse momento histórico.


E, é claro: a desprezível imprensa baiana inteira marcou o ar com a sua AUSÊNCIA.


Todos os cinegrafistas, fotógrafos e repórteres de araque que (pre)dominam nesta terra miserável fazem questão de a cada dia, a cada show, reafirmar a própria incompetência. E deixam claro o quanto eles são inúteis, desnecessários e irrelevantes.


Que é o porquê de cada vez MENOS pessoas comprarem jornais e revistas ou mesmo assistirem a TV aberta.


Isso sim é que é ver os empresários e donos das grandes mídias darem um tiro em cada uma de suas próprias 4 patas.


Somos governados por nulidades. Tanto no sistema político-econômico quanto no sócio-artístico-cultural.


Eles pensam que são tão espertos
Eles pensam que são tão certos
Mas a Verdade só é conhecida
Pelos caras que vivem nas ruas



(The Clash)


"Garageland"


Joe Strummer

Ernesto Ribeiro disse...

Correção: 27 de julho.

ô, ressaca...

Anônimo disse...

eu acho que a imprensa, o público, sei la, não viu Armandinho com o Camisa, pq o Camisa de Vênus é uma banda medíocre que não tem nenhuma relevância hoje em dia.


Ernesto Ribeiro disse...

.


É mesmo: tão "medíocre que não tem nenhuma relevância" que um monte de músicos relevantes de várias gerações fazem questão de tocar com o Camisa de Vênus e se sentem honrados com isso: só em Salvador, já vieram Lôro Jones do Capital Inicial, Paulinho Oliveira, Danny Nascimento, Thathi e o próprio Armandinho.