Bandas de blues já não são incomuns em Salvador. Mas bandas de blues com garotas – jovenzinhas, ainda por cima – já não é tão fácil de achar.
A Valentina, banda com forte base de blues, conta uma vocalista e uma baterista na sua formação e, agora, com o repertório pendendo mais para o rock ‘n‘ roll, surge como uma boa promessa no cenário.
Na quinta-feira passada a banda tocou no Ponto de Partida (o concorrido barzinho de sinuca na orla do Rio Vermelho) e por enquanto, não tem nenhuma outra apresentação a vista na agenda – salvo uma possível participação na próxima reunião mensal do Beatles Social Clube, em agosto, na Companhia da Pizza (Rio Vermelho).
“Estamos acertando ainda pra tocar no mês de agosto, mas ainda não é está concreto“, conta o guitarrista e tecladista Greg.
Além de Greg, completam a banda: Roberta Fabess (voz), Emanoel Medrado (baixo), Liana Barreira (bateria) e Roberto Cândido (guitarra e vocais).
Naturalidade no palco
A Valentina começou em 2008, por iniciativa de Liana e Fernanda Carrera, que foi a primeira cantora.
“Depois de um tempo procurando mais gente, elas acharam a mim e depois o Roberto, que é guitarrista“, lembra Greg. “Fernanda e Leandro, que tocava baixo, saíram no início desse ano, e aí entraram a Roberta no vocal e o Emanoel no baixo. A Fernanda hoje está cantando numa outra banda, chamada Miss Blue“, acrescenta.
Há poucos meses, a nova formação da Valentina entrou em estúdio e gravou duas composições próprias, Meias Verdades e Rascunhos, com produção de Jera Cravo.
“As a letras são de Liana, e eu e Roberto fizemos os arranjos. Temos mais nove músicas próprias que queremos gravar, estão prontinhas. Só precisamos levantar essa grana para poder entrar em estúdio“, diz Greg.
O rapaz aposta alto no talento da sua nova cantora: “O show de quinta-feira foi ótimo. E Roberta está cada vez mais íntima do palco, com muita naturalidade“, elogia.
No show, além de músicas próprias, Beatles, Ray Charles, Elvis e Janis Joplin completam o repertório.
Ouça: www.bandavalentina.com.br
NUETAS
Abismo no Irish
A banda Abismo Solar leva seu repertório de hard, heavy e progressivo ao Dubliner‘s Irish Pub no dia 7 de agosto (sábado). A banda Lloegyr, que nada mais ou menos nas mesmas águas, abre os trabalhos da noite. Covers a granel de bandas como Thin Lizzy, Black Sabbath e Asia. Às 22 horas, R$ 10.
Noites Indepedentes
O Teatro do Sesi abrigará, sempre nas primeiras terça e quarta-feira de cada mês, de agosto até janeiro de 2011, o IV Festival de Música Noites Independentes. Lu Santana & Grupo (dia 3) e Amanae (dia 4) abrem a programação, que inclui ainda Mensageiros do Vento (digam o que quiserem, mas esse pessoal rala – no dia 31), DJs Gug e Netuno (dia 1º de setembro) e muito mais. Às 20 horas, R$ 10 e R$ 5. Confira a programação: noitepontosom.blogspot.com.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
quarta-feira, julho 28, 2010
O SHOWZAÇO DA VENDO 147 NA SALA DO CORO
Se é verdade que duas cabeças pensam melhor do que uma, então, dois bateristas fazem mais barulho do que um só, certo? Foi com essa expectativa que o show da banda de rock instrumental Vendo 147 na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, dentro do projeto Conexão Vivo, teve ingressos rapidamente esgotados e casa cheia para conferir a tal da “clone drum“ (bateria clone).
Depois de um vídeo institucional – mais longo do que o necessário – da empresa patrocinadora, os rapazes da banda foram subindo ao palco para dar início ao show. No palco, Glauco Neves (clone drum 01), Dimmy O Demolidor Drummer (clone drum 02), Pedro Itan (guitarra), Duardo Costa (guitarra) e Caio Parish (baixo), se dividem pelas cores das camisetas.
Os bateristas e o baixista (ou seja, a “cozinha“, vestem camisetas pretas, enquanto os guitarristas sobem de branco. O efeito é interessante e sublinha as constantes que perfazem o som da Vendo 147: o peso das bases e as melodias desenhadas pelos riffs das guitarras.
Calorosamente recepcionado pela plateia, o quinteto começou o show quente, com Kill Bill, faixa do EP demo distribuído no ano passado – e logo de cara a interessante dinâmica da banda é explicitada.
Os dois bateristas, Glauco e Dimmy tem papéis – e personalidades de palco – bem distintas. O primeiro é mais responsável por manter as bases das músicas no ritmo certo, enquanto o segundo costura firulas e acentua nuances com os pratos, o surdo e os tontons, concedendo camadas extras ao hard rock preciso e angular construído pelo grupo.
Glauco é extrovertido, faz caretas enquanto toca, enquanto Dimmy é mais contido e de semblante mais austero. Seus movimentos são mais amplos e requerem a inteireza de seus braços, com as baquetas parecendo extensões naturais deles. Já Glauco é todo antebraços, com movimentos mais curtos, ágeis. Dimmy é grandiloquente. Glauco é espontâneo.
Juntos ao vivo, os dois bateristas se complementam de forma perfeita, fazendo de suas performances um verdadeiro espetáculo – algo raro no rock baiano, muitas vezes prejudicado por atuações acabrunhadas de meninos tímidos para o sentido cênico da coisa. Afinal, rock também é espetáculo.
Cientes da inusitada configuração de palco da Vendo 147, os dois bateristas se esforçam justamente em oferecer esse “algo mais“ cênico no show de sua banda – e marcam muitos pontos por isso.
Mas o trio responsável pelas cordas da Vendo 147 também não deixou por menos e demonstrou grande qualidade instrumental ao longo do show.
Caio, o baixista, segue quase sempre colado ao bumbo partilhado pela dupla de bateristas, mas também adiciona preciosos dedilhados nas psicodélicas passagens de transição (ou bridges, pontes) das músicas.
Já Pedro (portando a mortal Gibson Les Paul) e Duardo (com uma linda semiacústica) partilham de uma dinâmica semelhante àquela implementada por Glauco e Dimmy: um faz a base, enquanto o outro larga ruídos e riffs mais esparsos.
A diferença é que esses papéis se alternam entre os guitarristas, adicionando mais profundidade ao som do grupo.
Em algumas músicas, o quinteto teve ainda a participação de um sexto membro convidado, o percussionista Waldirzinho Pitbull (músico das bandas Motumbá e Salsalitro). Em músicas como as eminentemente percussivas – quase tribais – Vingador e Macaco Asteca, a adição dos atabaques e bongôs foi bem acertada, dando um sabor latino em um som pesado.
Musicalmente, o som é uma saborosa salada de hard rock, heavy metal e sua cria mais moderna, o stoner rock, da forma como foi preconizado pelo guitarrista Josh Homme (Kyuss, Queens of The Stone Age).
Com a ótima estrutura de palco, som e iluminação proporcionada pela produção e pela Sala do Coro, a oportunidade de realmente ouvir as composições do grupo revelou os vários ecos de Black Sabbath, Iron Maiden, Deep Purple, King Crimson e trilhas sonoras de seriados de ficção científica B no som deles.
Por vezes, as músicas da Vendo 147 lembram suítes com diversas passagens por pontes à beira de desabar, túneis psicodélicos, estradas vastas e desertas. Tudo em alta velocidade.
E aqui cabe traçar um paralelo com a principal banda de rock instrumental da Bahia (possivelmente do Brasil), os Retrofoguetes. Se o trio de Rex, Morotó e CH está mais para Perdidos no Espaço, a V147 é Terra de Gigantes ou O Túnel do Tempo.
Os gêmeos malvados dos Retrofoguetes cresceram e apareceram. O público percebeu e fez a banda sair ovacionada.
SET LIST:
Kill Bill
Hell
O Vingador
Aurora
Macaco Azteca
Maverick
Pata de Elefante
Skate o ´ Matic
Satangoz
Medley
Baixe o ep da Vendo 147: myspace.com/vendo147
Fotos: Bruno Sarraf / www.brunosarraf.com.br
sexta-feira, julho 23, 2010
MARINHEIROS, PUTAS, ÁLCOOL E CIGARROS
O universo dos bares imundos de cais do porto, das prostitutas, cabarés, marinheiros brigões e demais perdidos nas noites sujas das grandes cidades são o ponto de partida temático do cantor paulista Renato Godá, que acaba de lançar seu primeiro álbum independente, Canções para Embalar Marujos.
No ano passado, ele já havia lançado um primeiro trabalho, o EP Renato Godá (Rob Digital), com sete faixas.
Produzido por Apollo 9 (Otto, Nasi), o disquinho foi tão recebido na imprensa do sul do País e por uma parcela do publico, que o rapaz se animou e deu continuidade com este CD cheio, agora sob a batuta do produtor Plínio Profeta (Lenine, Pedro Luís & A Parede, Fernanda Abreu).
Com influências evidentes de mestres underground que aliavam as baladas marginais e o charme dos poetas vira-lata como Serge Gainsbourg, Tom Waits e Leonard Cohen, Godá passeia por diversos estilos no álbum, como folk, pop rock dos anos 1960, fanfarras, música do leste europeu e a chanson francesa – inclusive com um dueto com a cantora parisiense Barbara Carlotti, na faixa (convenientemente intitulada) Chanson d‘Amour.
“O EP do ano passado foi um rascunho, uma experiência de registro de repertório que nem era para virar disco“, revela Godá, em entrevista por telefone de São Paulo.
“Mas como o resultado ficou bonito, o pessoal foi gostando, foi virando banda, daí virou show e aí não teve jeito, lançamos em CD“, acrescenta.
Assim como o EP, o Canções Para Embalar Marujos foi gravado a toque de caixa, com a banda toda reunida em estúdio, tocando ao vivo e com pouco tempo de ensaio.
O resultado, longe de denotar algum desleixo, ressaltou a crueza das composições e o caráter orgânico de sua música.
“Gravei com uma banda legal, em dois dias. Foi tudo ao vivo, os caras conheceram as músicas ali na hora. Quando eu postei na net, eu pensei: ‘achei minha música, meu jeito de gravar, minha sonoridade‘. Estão lá todos os improvisos, no take um. Minha música precisa dessa sonoridade as vezes mais suja. Aí as coisas começaram a acontecer“, relata Godá.
Com a molecada cult de São Paulo ganha, convites de shows e temporadas nas casas noturnas da Rua Augusta e Vila Madalena começaram a pipocar para o rapaz. Logo, até convites de shows na Argentina e Europa bateram na porta do cantor.
Em Londres, se apresentou em um charmoso clube no qual Madonna costuma fazer suas festinhas, além dos dois Favela Chic – a filial da capital inglesa e a matriz, de Paris.
“Foi super bacana. A (revista) Time Out de Londres fez uma resenha super carinhosa sobre meu trabalho e isso deu uma repercussão incrível. Todos os CDs que tinha levado para vender lá foram vendidos logo na primeira noite“, comemora.
“O que não deixa de ser surpreendente, por que minha música, que ainda é cantada em português tem um padrão que não é bem o da música brasileira que eles conhecem. Mas como foi tudo muito bem, pretendo voltar lá esse ano de novo“, planeja Godá.
Enquanto não arruma as malas, o cantor aproveita a boa aceitação do seu primeiro álbum cheio com shows pelo Brasil. “Fiquei muito feliz com o CD, tá com uma aceitação enorme. Fiz Santos agora, num teatro para 700 pessoas , casa lotada“, garante.
“Tinha uns marinheiros lá também. Um deles veio falar comigo depois, o cara pirou“, ri. “Foi muito surreal, cara. Tô muito feliz com esse trabalho. Inclusive, esse encontro meu deu a ideia de um projeto meio maluco, que é viajar por todos os cais portuários do Brasil com esse show“, delira Renato.
Outro lugar que Godá planeja visitar em breve para cantar suas canções de solidão e malandragem das ruas é Salvador. “Tô louco pra fazer esse show aí. Até por que eu tenho grandes amigos em Salvador, como Márcio Melo e Lanlan“, conta.
“Vou te dizer, eu amo a Bahia“, declara. “Toda vez que eu vou aí, a impressão que me dá é que Salvador é uma cidade com a qual eu me relaciono muito bem. Tenho muita vontade, mas trabalho independente sabe como é, não é fácil. E eu sou um cara muito cuidadoso na questão do cenário, do clima e da qualidade do som, então não teria sentido levar o show pela metade. Mas quando surgir a oportunidade de fazer do jeito certo, terei o maior prazer em ir aí“, promete.
RESENHA: CANÇÕES PARA EMBALAR MARUJOS
Diferente do que se poderia esperar, a persona algo estereotipada de poeta marginal, estilo charmoso-de-cigarro-pendente-no-canto-dos-lábios, construída por Renato Godá, acaba trazendo algo de legítimo em seu cerne. O rapaz, de fato, convence pelo talento exibido em diversas composições do seu álbum, Canções Para Embalar Marujos (Independente).
Claro, sua voz ainda jovem não é nem metade roufenha e dramática como ele gostaria que fosse – mas já está dando para o gasto. E quem sabe, daqui a uns 15 ou vinte anos, ele chega perto do arranhado profundo de um Tom Waits ou mesmo de um Leonard Cohen.
Descontados esses detalhes, Canções Para Embalar Marujos ganha seus ouvintes por pelo menos três grandes qualidades.
A primeira é a rica sonoridade idealizada pelo cantor e engendrada com brilhantismo por Plínio Profeta, além da qualidade evidente dos músicos envolvidos. Ao longo das treze faixas, abundam pianos, acordeons, teclados Hammond, banjos e violões em arranjos muito bem trabalhados. Uma sonoridade realmente encantadora.
As letras de Godá são outro ponto positivo no CD. O carinha parece que nasceu mesmo para fazer esse tipo latin lover, meio apaixonado, meio canalha, totalmente desavergonhado.
Em diversas faixas, ele faz sua profissão de fé, sempre com um certo humor, como na faixa Ideal: “Posso ser de fato um clichê / um vaudeville vulgar / Posso não ter nenhum talento / para ser genial / Posso ser imundo e imoral / como uma mosca de bar / Mas negue que conheço os atalhos / para te incendiar“.
O terceiro ponto positivo de Godá é seu carisma natural – que é tremendamente canastrão, claro, mas no bom sentido e inegavelmente divertido.
Em um cenário musical hoje em dia tão pobre de personalidades fortes e talentos genuínos, está aí alguém a ser observado com atenção.
Canções para embalar marujos / Renato Godá / Independente / www.renatogoda.com.br
terça-feira, julho 20, 2010
O CÍRCULO ESQUENTA MOTORES NO LADO BA ENQUANTO DÁ ÚLTIMOS RETOQUES EM CD COM NOVO CANTOR
Banda que sempre correu por fora no cenário alternativo da cidade, O Círculo (em foto de Marcelo Santana) nasceu das cinzas da antiga Scambo – ambas detentoras de um público fiel no circuito universitário.
Após lançar um bem cotado primeiro CD em 2007, os músicos viram seu vocalista, Pedro Pondé, partir batendo a porta entre acusações desagradáveis – as quais não vem ao caso – dos dois lados.
Reestruturado e com um novo frontman, Roy, este novo O Círculo está em fase final de mixagem e design de capa do seu novo álbum.
Enquanto o disquinho não sai, a rapaziada esquenta os motores com uma apresentação no Festival Lado BA, que ocupará dois palcos do Pelourinho neste sábado – veja serviço abaixo.
“Como é um show de festival, só com 40 minutos, vamos tocar algumas músicas do primeiro disco e também algumas novas – as que já estão disponibilizadas no MySpace da banda“, conta o tecladista Israel Jabar.
Caminho do meio
Formada por Israel, Roy (vocal), Martins (baixo), Daniel Ragoni (bateria) e Taciano Vasconcelos (guitarra), a banda se diz satisfeita agora – tanto com o novo cantor, quanto com o resultado das gravações do CD, co-produzido pel‘O Círculo com Pedro Arantes e Gabriel Martini.
“As músicas novas estão bem legais“, acredita Israel. “Mostramos algumas faixas pré-editadas (não concluídas) no MySpace e a galera elogiou bastante. Daqui até o lançamento o pessoal já vai poder assistir o show cantando as músicas“, sinaliza o músico.
Como o show de lançamento só deve ser lá para meados de setembro, o pessoal tem um bom tempo ainda para ir se acostumando com as novas músicas – e a nova voz da banda.
“Nesse meio tempo também estamos planejando um lançamento bacana. O que dá para adiantar é que teremos um videoartista no palco, projetando as imagens que vão rolar de acordo com cada música“, adianta Israel.
Localizado numa posição privilegiada no mercado – meio alternativa, mas com um público numeroso – O Círculo só tende a crescer.
“Acho legal estar nesse ‘caminho do meio‘. Mas tanto nosso som, quanto nosso público é assim: curte um pouco de tudo, rock, reggae mpb“, conclui.
O Círculo / Festival Lado Ba / sábado, 20 horas / Largos Pedro Archanjo e Tereza Batista / Gratuito
NUETAS
Sabadão é no Pelô
O festival Lado BA, no qual se apresenta O Círculo, promete ser uma bela opção para amantes da música. Além da rapaziada aí do lado, ainda tem Wado, Subaquático, Amadeu Alves, Grupo Botequim e Radiola (com Nancyta). Goste-se ou não das atrações, está aí representada a real diversidade da música popular – sem baixaria, sem plastificação e sem o retardamento mental que parecem ser as regras no mainstream. Sábado, nos largos Teresa Batista e Pedro Archanjo, 20 horas, grátis.
Puritan em SSa
A banda capixaba de hardcore Puritan lança em Salvador o CD O Firme Fundamento do Desespero Incessante com show no Dubliner‘s Irish Pub neste sábado (24). A night ainda conta com apresentações das bandas City In Flames, Homem Meteoro e Dynamus. 18 horas, R$ 10.
Após lançar um bem cotado primeiro CD em 2007, os músicos viram seu vocalista, Pedro Pondé, partir batendo a porta entre acusações desagradáveis – as quais não vem ao caso – dos dois lados.
Reestruturado e com um novo frontman, Roy, este novo O Círculo está em fase final de mixagem e design de capa do seu novo álbum.
Enquanto o disquinho não sai, a rapaziada esquenta os motores com uma apresentação no Festival Lado BA, que ocupará dois palcos do Pelourinho neste sábado – veja serviço abaixo.
“Como é um show de festival, só com 40 minutos, vamos tocar algumas músicas do primeiro disco e também algumas novas – as que já estão disponibilizadas no MySpace da banda“, conta o tecladista Israel Jabar.
Caminho do meio
Formada por Israel, Roy (vocal), Martins (baixo), Daniel Ragoni (bateria) e Taciano Vasconcelos (guitarra), a banda se diz satisfeita agora – tanto com o novo cantor, quanto com o resultado das gravações do CD, co-produzido pel‘O Círculo com Pedro Arantes e Gabriel Martini.
“As músicas novas estão bem legais“, acredita Israel. “Mostramos algumas faixas pré-editadas (não concluídas) no MySpace e a galera elogiou bastante. Daqui até o lançamento o pessoal já vai poder assistir o show cantando as músicas“, sinaliza o músico.
Como o show de lançamento só deve ser lá para meados de setembro, o pessoal tem um bom tempo ainda para ir se acostumando com as novas músicas – e a nova voz da banda.
“Nesse meio tempo também estamos planejando um lançamento bacana. O que dá para adiantar é que teremos um videoartista no palco, projetando as imagens que vão rolar de acordo com cada música“, adianta Israel.
Localizado numa posição privilegiada no mercado – meio alternativa, mas com um público numeroso – O Círculo só tende a crescer.
“Acho legal estar nesse ‘caminho do meio‘. Mas tanto nosso som, quanto nosso público é assim: curte um pouco de tudo, rock, reggae mpb“, conclui.
O Círculo / Festival Lado Ba / sábado, 20 horas / Largos Pedro Archanjo e Tereza Batista / Gratuito
NUETAS
Sabadão é no Pelô
O festival Lado BA, no qual se apresenta O Círculo, promete ser uma bela opção para amantes da música. Além da rapaziada aí do lado, ainda tem Wado, Subaquático, Amadeu Alves, Grupo Botequim e Radiola (com Nancyta). Goste-se ou não das atrações, está aí representada a real diversidade da música popular – sem baixaria, sem plastificação e sem o retardamento mental que parecem ser as regras no mainstream. Sábado, nos largos Teresa Batista e Pedro Archanjo, 20 horas, grátis.
Puritan em SSa
A banda capixaba de hardcore Puritan lança em Salvador o CD O Firme Fundamento do Desespero Incessante com show no Dubliner‘s Irish Pub neste sábado (24). A night ainda conta com apresentações das bandas City In Flames, Homem Meteoro e Dynamus. 18 horas, R$ 10.
quinta-feira, julho 15, 2010
NÃO SE É O PRINCE OF FUCKIN' DARKNESS A TOA
Raul Seixas, em visionária sacada, disse em uma canção que “o diabo é o pai do rock“. Ozzy Osbourne, não é segredo para ninguém, é o auto-proclamado Prince of Fuckin‘ Darkness (Príncipe da Porra das Trevas, com o perdão da linguagem chula). Donde se conclui que Ozzy é o verdadeiro pai do rock!
Brincadeiras a parte, o alucinado (e sim, genial) cantor de heavy metal, hoje aos 62 anos – mais do que bem vividos – está na ordem do dia mais uma vez. De uma tacada só, chegaram às megastores sua autobiografia, Eu sou Ozzy (Benvirá) e seu novo álbum de músicas inéditas, Scream.
Ora, mas em se tratando de quem se trata – Ozzy – um livro de memórias é um baita de um contrasenso. Uma frase dele mesmo, famosa desde os anos 1980, já avisava: “Se eu conseguisse me lembrar de tudo o que vivi nos anos 70, eu poderia escrever um puta livro“.
Bom, o livro finalmente chegou. E mesmo com os buracos abertos em sua memória – sem contar no juízo – pelo consumo em quantidades industriais de álcool, fumos variados, pós brancos, pílulas multicoloridas e micropontos psicodélicos – além das cabeças de pombo e morcego –, as memórias de Ozzy, renderam um “puta livro“. Pelo menos para os fãs.
Para se entender o fenômeno Ozzy Osbourne é preciso, antes de tudo, compreender de onde ele veio.
Nascido John Michael Osbourne em 1948, em Aston – distrito da deprimente cidade industrial de Birmingham – ou melhor, nas ruínas que sobraram após os bombardeios da 2ª Guerra Mundial, sua atividade preferida na infância era fuçar os escombros das casas destruídas, em busca de cacarecos que servissem de brinquedo.
A vida em Aston não oferecia muitas possibilidades. “Eu era do tipo de garoto que sempre queria se divertir e não havia muito a fazer em Aston. Só o céu cinzento, pubs nas esquinas e pessoas que pareciam doentes de tanto trabalhar como animais na linha de montagem“, lembra ele, na autobiografia.
O inconformismo com a falta de perspectivas no futuro o perturbava terrivelmente: “Naqueles dias, a mentalidade dos trabalhadores era assim: receber o mínimo de educação, conseguir um treinamento, conseguir um emprego de merda e aceitar com orgulho. (...) Seu emprego de merda era tudo. Muitas pessoas em Birmingham nunca se aposentavam. Só caíam mortas no chão da fábrica“, escreve.
Na juventude não conseguia passar muito tempo nos empregos que seus pais lhe arrumavam. Um dia, finalmente encontrou um emprego de que gostava, abatendo bois e porcos em um matadouro local.
Após uma briga em que quase rachou o crânio de um colega, foi demitido. Iniciou então uma breve carreira de ladrão, furtando lojas locais. Logo foi preso. Depois que seu pai se recusou a pagar sua fiança, “curtiu“ três meses na cadeia.
O período na penitenciária de Winson Green, “o buraco mais violento, fedido e degradado que já tinha visto“, foi um baque para Ozzy, então com 18 anos.
Foi salvo pela pela beatlemania, tornando-se um fanático por rock ‘n‘ roll e blues de raiz norte-americanos. Foi aí que decidiu que seria cantor.
Após algum tempo, conseguiu juntar-se a Tony Iommi (guitarra), Terry Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). Tony, um ex-colega de Ozzy dos tempos da escola, tocava guitarra desde criança. Depois de um acidente com a prensa de uma fábrica, perdeu as pontas dos dedos médio e anular.
Com a ajuda de dedais confeccionados por ele mesmo, Tony desenvolveu sua técnica e som característicos – em tons graves, sinistros.
Junte-se a isso o mau humor próprio de uma juventude condenada a apodrecer nas linhas de montagem de uma fábrica em uma miserável economia de pós-guerra – nada mais distante do florido ideário hippie da época, que aliás, Ozzy detestava – e estavam plantadas as sementes que deram origem à uma das mais extraordinárias, seminais e geniais bandas de rock de todos os tempos: Black Sabbath.
Salvo uma possibilidade muito remota de engano, foram os seis primeiros álbuns do Black Sabbath, lançados entre os anos de 1970 e 1975, que criaram e formataram, de maneira definitiva, o que hoje se conhece como “heavy metal“, em sua safra mais pura e legítima.
Pois é, foi Ozzy e sua trupe de cabeludos bigodudos. A "culpa" é toda deles.
“Se existe algum pai do metal, esse é Ozzy“, afirma, categoricamente, uma autoridade local do gênero, Sérgio Ballof, líder da banda Headhunter DC. “Para mim, (Ozzy) é o criador do heavy metal. Uma legitima lenda viva e um ícone. Foram Ozzy e Tony que começaram a difundir o lado obscuro do rock em um som verdadeiramente pesado“, diz.
Depois de oito álbuns com o Sabbath e quase dez anos de loucura na estrada com os companheiros de banda, Ozzy foi, um belo dia, demitido. “Me mandar embora por estar drogado foi uma merda hipócrita. Estávamos todos loucos. Se você está drogado eu também, e você me manda embora por que eu estou drogado, que merda é essa? Por que eu estou ligeiramente mais drogado do que você?“, ironiza Ozzy no livro.
Sua vingança, contudo, foi, como diria Bento Carneiro, ”maligrina”. Depois de montar uma super banda com músicos de primeira linha, fez tanto – ou até mais – sucesso comercial do que com o Black Sabbath.
”Toda a indumentária do metal, os estereótipos – ele já era tudo isso, independente de marketing”, lembra o jornalista e cantor de heavy metal Leonardo Leão, que já viu dois shows de Ozzy. ”O cara entra no palco parecendo o Mestre Yoda. É todo encurvado, com dificuldade de andar. Mas quando pega o microfone fica super ágil, vira um menino. E tem um carisma fenomenal”, descreve.
Outro que esteve frente a frente com o Príncipe das Trevas foi o jornalista Marcos Bragatto (do site Rock Em Geral), durante uma coletiva em 2008: ”Ozzy é super profissional. Apesar de idade avançada, ele atura todos os perrengues de ser um astro pop. E coletiva sabe como é, tem sempre um mané que faz a velha pergunta do morcego e tal, mas ele foi super gentil”, elogia.
”Você sentia na sala a energia de uma personalidade única, a do cara que inventou o heavy metal, a camisa preta, a cruz invertida, tudo que tem no gênero. Ele foi o cara”, conclui.
Autobiografia de Ozzy é uma conversa franca do autor
A autobiografia de Ozzy Osbourne é, com o perdão do chiste, uma diversão dos diabos.
Sua prosa é tão franca, direta, bem-humorada e sem rodeios que a impressão que passa ao leitor foi que alguém simplesmente sentou com o cantor numa mesa, ligou o gravador, disse “Fala, Ozzy!“ e depois transcreveu tudo – depois de decifrar seu balbuciar trêmulo, claro.
Essa dura tarefa coube a um certo Chris Ayres, citado por Ozzy na lista de agradecimentos ao final do livro como “meu coautor“, apesar de não estar devidamente creditado na capa.
Também está aqui, finalmente, a versão dele para todos os episódios polêmicos de sua vida: a demissão do Sabbath, a cabeça do pombo, a cabeça do morcego, a morte de Randy Rhoads, o alcoolismo em último grau, a tentativa de homicídio contra a esposa Sharon, os processos, as prisões, o reality show na MTV - tudo o que os fãs gostariam de saber enfim. Nennhum assunto foi evitado
Com a fluência de um contador de “causos“, Ozzy faz o leitor rir e se admirar, página após página, com sua trajetória de excessos e loucuras.
É uma história de triunfo e redenção, com muita graça - contra toda a loucura.
Eu sou ozzy / Ozzy Osbourne / Tradução: Marcelo Barbão / 416 p. / R$ 39,90 / Benvirá
Brincadeiras a parte, o alucinado (e sim, genial) cantor de heavy metal, hoje aos 62 anos – mais do que bem vividos – está na ordem do dia mais uma vez. De uma tacada só, chegaram às megastores sua autobiografia, Eu sou Ozzy (Benvirá) e seu novo álbum de músicas inéditas, Scream.
Ora, mas em se tratando de quem se trata – Ozzy – um livro de memórias é um baita de um contrasenso. Uma frase dele mesmo, famosa desde os anos 1980, já avisava: “Se eu conseguisse me lembrar de tudo o que vivi nos anos 70, eu poderia escrever um puta livro“.
Bom, o livro finalmente chegou. E mesmo com os buracos abertos em sua memória – sem contar no juízo – pelo consumo em quantidades industriais de álcool, fumos variados, pós brancos, pílulas multicoloridas e micropontos psicodélicos – além das cabeças de pombo e morcego –, as memórias de Ozzy, renderam um “puta livro“. Pelo menos para os fãs.
Para se entender o fenômeno Ozzy Osbourne é preciso, antes de tudo, compreender de onde ele veio.
Nascido John Michael Osbourne em 1948, em Aston – distrito da deprimente cidade industrial de Birmingham – ou melhor, nas ruínas que sobraram após os bombardeios da 2ª Guerra Mundial, sua atividade preferida na infância era fuçar os escombros das casas destruídas, em busca de cacarecos que servissem de brinquedo.
A vida em Aston não oferecia muitas possibilidades. “Eu era do tipo de garoto que sempre queria se divertir e não havia muito a fazer em Aston. Só o céu cinzento, pubs nas esquinas e pessoas que pareciam doentes de tanto trabalhar como animais na linha de montagem“, lembra ele, na autobiografia.
O inconformismo com a falta de perspectivas no futuro o perturbava terrivelmente: “Naqueles dias, a mentalidade dos trabalhadores era assim: receber o mínimo de educação, conseguir um treinamento, conseguir um emprego de merda e aceitar com orgulho. (...) Seu emprego de merda era tudo. Muitas pessoas em Birmingham nunca se aposentavam. Só caíam mortas no chão da fábrica“, escreve.
Na juventude não conseguia passar muito tempo nos empregos que seus pais lhe arrumavam. Um dia, finalmente encontrou um emprego de que gostava, abatendo bois e porcos em um matadouro local.
Após uma briga em que quase rachou o crânio de um colega, foi demitido. Iniciou então uma breve carreira de ladrão, furtando lojas locais. Logo foi preso. Depois que seu pai se recusou a pagar sua fiança, “curtiu“ três meses na cadeia.
O período na penitenciária de Winson Green, “o buraco mais violento, fedido e degradado que já tinha visto“, foi um baque para Ozzy, então com 18 anos.
Foi salvo pela pela beatlemania, tornando-se um fanático por rock ‘n‘ roll e blues de raiz norte-americanos. Foi aí que decidiu que seria cantor.
Após algum tempo, conseguiu juntar-se a Tony Iommi (guitarra), Terry Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). Tony, um ex-colega de Ozzy dos tempos da escola, tocava guitarra desde criança. Depois de um acidente com a prensa de uma fábrica, perdeu as pontas dos dedos médio e anular.
Com a ajuda de dedais confeccionados por ele mesmo, Tony desenvolveu sua técnica e som característicos – em tons graves, sinistros.
Junte-se a isso o mau humor próprio de uma juventude condenada a apodrecer nas linhas de montagem de uma fábrica em uma miserável economia de pós-guerra – nada mais distante do florido ideário hippie da época, que aliás, Ozzy detestava – e estavam plantadas as sementes que deram origem à uma das mais extraordinárias, seminais e geniais bandas de rock de todos os tempos: Black Sabbath.
Salvo uma possibilidade muito remota de engano, foram os seis primeiros álbuns do Black Sabbath, lançados entre os anos de 1970 e 1975, que criaram e formataram, de maneira definitiva, o que hoje se conhece como “heavy metal“, em sua safra mais pura e legítima.
Pois é, foi Ozzy e sua trupe de cabeludos bigodudos. A "culpa" é toda deles.
“Se existe algum pai do metal, esse é Ozzy“, afirma, categoricamente, uma autoridade local do gênero, Sérgio Ballof, líder da banda Headhunter DC. “Para mim, (Ozzy) é o criador do heavy metal. Uma legitima lenda viva e um ícone. Foram Ozzy e Tony que começaram a difundir o lado obscuro do rock em um som verdadeiramente pesado“, diz.
Depois de oito álbuns com o Sabbath e quase dez anos de loucura na estrada com os companheiros de banda, Ozzy foi, um belo dia, demitido. “Me mandar embora por estar drogado foi uma merda hipócrita. Estávamos todos loucos. Se você está drogado eu também, e você me manda embora por que eu estou drogado, que merda é essa? Por que eu estou ligeiramente mais drogado do que você?“, ironiza Ozzy no livro.
Sua vingança, contudo, foi, como diria Bento Carneiro, ”maligrina”. Depois de montar uma super banda com músicos de primeira linha, fez tanto – ou até mais – sucesso comercial do que com o Black Sabbath.
”Toda a indumentária do metal, os estereótipos – ele já era tudo isso, independente de marketing”, lembra o jornalista e cantor de heavy metal Leonardo Leão, que já viu dois shows de Ozzy. ”O cara entra no palco parecendo o Mestre Yoda. É todo encurvado, com dificuldade de andar. Mas quando pega o microfone fica super ágil, vira um menino. E tem um carisma fenomenal”, descreve.
Outro que esteve frente a frente com o Príncipe das Trevas foi o jornalista Marcos Bragatto (do site Rock Em Geral), durante uma coletiva em 2008: ”Ozzy é super profissional. Apesar de idade avançada, ele atura todos os perrengues de ser um astro pop. E coletiva sabe como é, tem sempre um mané que faz a velha pergunta do morcego e tal, mas ele foi super gentil”, elogia.
”Você sentia na sala a energia de uma personalidade única, a do cara que inventou o heavy metal, a camisa preta, a cruz invertida, tudo que tem no gênero. Ele foi o cara”, conclui.
Autobiografia de Ozzy é uma conversa franca do autor
A autobiografia de Ozzy Osbourne é, com o perdão do chiste, uma diversão dos diabos.
Sua prosa é tão franca, direta, bem-humorada e sem rodeios que a impressão que passa ao leitor foi que alguém simplesmente sentou com o cantor numa mesa, ligou o gravador, disse “Fala, Ozzy!“ e depois transcreveu tudo – depois de decifrar seu balbuciar trêmulo, claro.
Essa dura tarefa coube a um certo Chris Ayres, citado por Ozzy na lista de agradecimentos ao final do livro como “meu coautor“, apesar de não estar devidamente creditado na capa.
Também está aqui, finalmente, a versão dele para todos os episódios polêmicos de sua vida: a demissão do Sabbath, a cabeça do pombo, a cabeça do morcego, a morte de Randy Rhoads, o alcoolismo em último grau, a tentativa de homicídio contra a esposa Sharon, os processos, as prisões, o reality show na MTV - tudo o que os fãs gostariam de saber enfim. Nennhum assunto foi evitado
Com a fluência de um contador de “causos“, Ozzy faz o leitor rir e se admirar, página após página, com sua trajetória de excessos e loucuras.
É uma história de triunfo e redenção, com muita graça - contra toda a loucura.
Eu sou ozzy / Ozzy Osbourne / Tradução: Marcelo Barbão / 416 p. / R$ 39,90 / Benvirá
terça-feira, julho 13, 2010
ÁGUA SUJA FAZ TEMPORADA GRATUITA DE BLUES ALI DO LADO
Os apreciadores do blues em Salvador – e aqueles que, porventura, se interessem em conhecer mais o gênero – estão convocados para a temporada gratuita que a banda Água Suja promove todas as quartas-feiras deste mês no bar Ali do Lado (o antigo Balcão).
Uma das mais ativas na cena blueseira local, a Água Suja se caracteriza pelo repertório composto de standards, resvalando para as suas crias mais imediatas e urbanas, como o rhythm & blues e a soul music.
O resultado é um show animado, para cima – em oposição ao climão macambúzio (afinal, “blue“, em inglês, é “triste“) que marca os primórdios rurais do gênero, nascido dos cantos de trabalho dos escravos nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos, ainda no século dezenove.
Repertório cheio de soul
Depois dessa legítima reza do pai-nosso ao vigário, vamos ao que interessa: “É uma temporada de quatro datas (a primeira foi na semana passada). Mas por mim, estendia até o fim do ano. Até o fim do mundo, aliás“, ri Jerry Marlon, baixista e líder da Água Suja, que ainda conta com os músicos Oyama Bittencourt (guitarra), Brian Knave (bateria), Jelber Oliveira (teclado) e Luiz Rocha (gaita).
A temporada gratuita foi viabilizada graças a um acordo de Jerry com o dono do bar, Hermes. “Ele não faz questão do couvert. Sabe como é, numa quarta-feira, nego não quer pagar nem cinco conto“, diz. O acordo é o seguinte: “Se der 50 pessoas, ele me paga ‘X‘. Se der 100, são ‘2X‘“, revela.
Para ajudar a dar, quem sabe, 5X, a Água Suja vai contar com a ajuda dos convidados. “Estamos agitando aí com o pessoal do blues, do jazz, do rock. Vou tentar fazer essa junção das turmas do jazz e do blues, que são separadas, ninguém se conhece“, lamenta.
Já estão confirmadas as participações do superbaixista Luciano Calazans e do cantor Lon Bové.
No set-list, hits como The Thrill is Gone (B.B. King), Hoochie-Coochie Man (Muddy Waters), In The Midnight Hour (Wilson Pickett), My Girl (The Temptations) e Respect (Otis Redding). Para uma banda de blues, está aí um ótimo show de soul!
ÁGUA SUJA & JAM SESSION / Todas as quartas-feiras de julho (dias 14, 21 e 28), às 21 horas / Bar ALI DO LADO (Praia da Paciência, 355, Rio Vermelho) / Gratuito
Ouça: http://aguasuja.ning.com
NUETAS
Fao lança CD no Pelô
A boa cantora Fao Miranda faz show gratuito na Praça Teresa Batista (Pelourinho), na próxima sexta-feira, às 21 horas, para lançar seu primeiro trabalho, o EP Polpa, premiado pelo edital de Apoio a Produção de Conteúdo Digital em Musica da FUNCEB. Baixe o disco, que teve participação de feras como Tadeu Mascarenhas e Letieres Leite: www.myspace.com/faomiranda.
Hoje é dia de rock!
Como diziam Sá, Rodrix & Guarabyra, “eu descobri e acho que foi a tempo / Mãe e pai, que hoje ainda é dia de rock“. Para comerar Dia Mundial do Rock (é hoje!), o Groove Bar organizou uma mega jam com a Banda de Rock, o grupo especializado em covers de clássicos não-óbvios, formado por René (voz e violão), Cândido (guitarra) e Tiaguinho Aziz (baixo). 22 horas, R$ 25 ou R$ 15 (lista amiga).
Uma das mais ativas na cena blueseira local, a Água Suja se caracteriza pelo repertório composto de standards, resvalando para as suas crias mais imediatas e urbanas, como o rhythm & blues e a soul music.
O resultado é um show animado, para cima – em oposição ao climão macambúzio (afinal, “blue“, em inglês, é “triste“) que marca os primórdios rurais do gênero, nascido dos cantos de trabalho dos escravos nos campos de algodão do sul dos Estados Unidos, ainda no século dezenove.
Repertório cheio de soul
Depois dessa legítima reza do pai-nosso ao vigário, vamos ao que interessa: “É uma temporada de quatro datas (a primeira foi na semana passada). Mas por mim, estendia até o fim do ano. Até o fim do mundo, aliás“, ri Jerry Marlon, baixista e líder da Água Suja, que ainda conta com os músicos Oyama Bittencourt (guitarra), Brian Knave (bateria), Jelber Oliveira (teclado) e Luiz Rocha (gaita).
A temporada gratuita foi viabilizada graças a um acordo de Jerry com o dono do bar, Hermes. “Ele não faz questão do couvert. Sabe como é, numa quarta-feira, nego não quer pagar nem cinco conto“, diz. O acordo é o seguinte: “Se der 50 pessoas, ele me paga ‘X‘. Se der 100, são ‘2X‘“, revela.
Para ajudar a dar, quem sabe, 5X, a Água Suja vai contar com a ajuda dos convidados. “Estamos agitando aí com o pessoal do blues, do jazz, do rock. Vou tentar fazer essa junção das turmas do jazz e do blues, que são separadas, ninguém se conhece“, lamenta.
Já estão confirmadas as participações do superbaixista Luciano Calazans e do cantor Lon Bové.
No set-list, hits como The Thrill is Gone (B.B. King), Hoochie-Coochie Man (Muddy Waters), In The Midnight Hour (Wilson Pickett), My Girl (The Temptations) e Respect (Otis Redding). Para uma banda de blues, está aí um ótimo show de soul!
ÁGUA SUJA & JAM SESSION / Todas as quartas-feiras de julho (dias 14, 21 e 28), às 21 horas / Bar ALI DO LADO (Praia da Paciência, 355, Rio Vermelho) / Gratuito
Ouça: http://aguasuja.ning.com
NUETAS
Fao lança CD no Pelô
A boa cantora Fao Miranda faz show gratuito na Praça Teresa Batista (Pelourinho), na próxima sexta-feira, às 21 horas, para lançar seu primeiro trabalho, o EP Polpa, premiado pelo edital de Apoio a Produção de Conteúdo Digital em Musica da FUNCEB. Baixe o disco, que teve participação de feras como Tadeu Mascarenhas e Letieres Leite: www.myspace.com/faomiranda.
Hoje é dia de rock!
Como diziam Sá, Rodrix & Guarabyra, “eu descobri e acho que foi a tempo / Mãe e pai, que hoje ainda é dia de rock“. Para comerar Dia Mundial do Rock (é hoje!), o Groove Bar organizou uma mega jam com a Banda de Rock, o grupo especializado em covers de clássicos não-óbvios, formado por René (voz e violão), Cândido (guitarra) e Tiaguinho Aziz (baixo). 22 horas, R$ 25 ou R$ 15 (lista amiga).
sexta-feira, julho 09, 2010
DUBSTEREO SOUND EM DOSE DUPLA E (QUASE) DE GRÁTIS
O crescente movimento local do dub dá um importante passo nos próximos dias, com dois grandes shows da banda (ou coletivo, como eles parecem preferir) Dubstereo Sound (ao lado, na foto de Charles Ventura) em uma mesma semana.
Na próxima segunda-feira, a rapaziada abre a sequência de apresentações do Conexão Vivo na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, com ingresso a preço (super) popular. Já na quinta-feira (15 de julho), a Praça Pedro Archanjo deverá se transformar em um salão de baile a céu aberto, com mais um show, desta vez gratuito (veja serviço abaixo).
“Na verdade, o show da Sala do Coro é um pouco mais cênico, tipo um espetáculo, enquanto o do Pelô é mais visceral, mais pro público dançar mesmo“, difere o vocalista Fael 1º.
“Mas não vai mudar o formato das músicas. Só a maneira de tocar. A cadência vai ser outra“, acrescenta o músico.
Timbragens vintage
Formada por Russo Passapusso e Fael 1º (vocais), Jorge Dubman (bateria e samplers), Gabriel Jahmantium (teclados), Alan Dugrave (baixo), Jardel Cruz (percussão) e DJ Raiz, a Dubstereo Sound deve lançar, até o fim do ano, seu primeiro CD, atualmente em fase de mixagem e masterização nas criteriosas mãos do pernambucano Buguinha Dub (Nação Zumbi, Racionais MCs).
“Eu acho que esse CD vai trazer um pouco de surpresa para a música baiana“, arrisca Fael. “Ele traz instrumentais próprios e vai mostrar um canto falado da Bahia de fato. Algo para renovar o cenário reggae baiano“, diz.
A ideia, pelo visto, é fazer música com a cabeça voltada para o mundo lá fora – de apelo universal – mas com os pés firmemente fincados na Bahia. “É um CD de reggae com um sotaque bem baiano, ele tem uma mescla de ritmos entre Jamaica e Bahia, com influências que vão desde o samba-reggae ao repente“, explica Fael.
Para emoldurar as ideias do coletivo, uma ampla pesquisa de timbres vintage foi feita em estúdio. “Miami bass, reggae roots, dub. Buscamos muitas timbragens estilo vintage de instrumentos mais clássicos e sonoridades inusitadas“, conclui.
Dubstereo Sound / Segunda-feira, (dia 12) 20 horas / Sala do Coro do TCA / R$2 e R$1
Quinta-feira (15), 21 horas / Pça. Pedro Archanjo (Pelô) / Grátis
NUETA
Bem-vindas as moças
As bandas TemplariuS (Heavy Metal), Overturn (Stone Rocker) e Hard Water (Hard Metal) fazem uma noite de peso no dia 24 (sábado), no Club Prospect 81 (ex-sede dos Red Devils, em Brotas). Agora, se liguem que o rock começa cedo: às 18 horas – e até às 19h30 as senhoritas estão liberadas de desembolsar a módica quantia de R$ 10 do ingresso. Palmas para o horário civilizado e a iniciativa de incentivo ao público feminino.
Na próxima segunda-feira, a rapaziada abre a sequência de apresentações do Conexão Vivo na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, com ingresso a preço (super) popular. Já na quinta-feira (15 de julho), a Praça Pedro Archanjo deverá se transformar em um salão de baile a céu aberto, com mais um show, desta vez gratuito (veja serviço abaixo).
“Na verdade, o show da Sala do Coro é um pouco mais cênico, tipo um espetáculo, enquanto o do Pelô é mais visceral, mais pro público dançar mesmo“, difere o vocalista Fael 1º.
“Mas não vai mudar o formato das músicas. Só a maneira de tocar. A cadência vai ser outra“, acrescenta o músico.
Timbragens vintage
Formada por Russo Passapusso e Fael 1º (vocais), Jorge Dubman (bateria e samplers), Gabriel Jahmantium (teclados), Alan Dugrave (baixo), Jardel Cruz (percussão) e DJ Raiz, a Dubstereo Sound deve lançar, até o fim do ano, seu primeiro CD, atualmente em fase de mixagem e masterização nas criteriosas mãos do pernambucano Buguinha Dub (Nação Zumbi, Racionais MCs).
“Eu acho que esse CD vai trazer um pouco de surpresa para a música baiana“, arrisca Fael. “Ele traz instrumentais próprios e vai mostrar um canto falado da Bahia de fato. Algo para renovar o cenário reggae baiano“, diz.
A ideia, pelo visto, é fazer música com a cabeça voltada para o mundo lá fora – de apelo universal – mas com os pés firmemente fincados na Bahia. “É um CD de reggae com um sotaque bem baiano, ele tem uma mescla de ritmos entre Jamaica e Bahia, com influências que vão desde o samba-reggae ao repente“, explica Fael.
Para emoldurar as ideias do coletivo, uma ampla pesquisa de timbres vintage foi feita em estúdio. “Miami bass, reggae roots, dub. Buscamos muitas timbragens estilo vintage de instrumentos mais clássicos e sonoridades inusitadas“, conclui.
Dubstereo Sound / Segunda-feira, (dia 12) 20 horas / Sala do Coro do TCA / R$2 e R$1
Quinta-feira (15), 21 horas / Pça. Pedro Archanjo (Pelô) / Grátis
NUETA
Bem-vindas as moças
As bandas TemplariuS (Heavy Metal), Overturn (Stone Rocker) e Hard Water (Hard Metal) fazem uma noite de peso no dia 24 (sábado), no Club Prospect 81 (ex-sede dos Red Devils, em Brotas). Agora, se liguem que o rock começa cedo: às 18 horas – e até às 19h30 as senhoritas estão liberadas de desembolsar a módica quantia de R$ 10 do ingresso. Palmas para o horário civilizado e a iniciativa de incentivo ao público feminino.
quarta-feira, julho 07, 2010
HEAVY METAL: A HISTÓRIA COMPLETA É BÍBLIA ROCKER
A saga de um gênero, controverso por natureza, contada em todos os aspectos
Começou como uma bola de neve.
O que era para ser visto como uma aberração – o álbum Black Sabbath (1970), da banda homônima – inspirou, pouco tempo depois, o Judas Priest, que influenciou o Iron Maiden, que se desdobrou no Metallica e assim por diante.
Esta avalanche – que já atravessa quatro décadas – de música baseada em acordes poderosos e peso é contada pelo jornalista suíço Ian Christe no livro Heavy metal: a história completa (ARX).
E de fato, o livro cumpre o que promete: em caudalosas 480 páginas, Christe esquadrinha todo o desenvolvimento histórico do gênero desde seus primórdios, na cinzenta cidade industrial de Birmingham (Inglaterra) – com o surgimento da banda de Ozzy Osbourne e seus companheiros –, até o atual estado de estabelecimento definitivo do heavy metal como um dos braços mais populares da cultura pop mundial.
Christe defende que, ainda que tenham contribuído para o gênero com riffs e temáticas características, bandas como Led Zeppelin e Deep Purple não podem ser chamadas de heavy metal, e sim, hard rock.
O metal pesado em si surgiu com o Black Sabbath, teve no Judas Priest uma seguidora que levou a tocha adiante e só se formatou como o conhecemos hoje com o estouro, no início dos anos 1980, da chamada New Wave of British Heavy Metal (Nova Onda do Heavy Metal Britânico), que revelou bandas como Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e Diamond Head.
Estudioso do gênero, o professor e pesquisador Jéder Janotti concorda em parte com essa noção: “O peso do metal e essa temática de ligação com o outro lado, os aspectos sombrios, realmente, vem do Sabbath. Mas, em termos sonoros, o Deep Purple influenciou toda uma leva de bandas de metal melódico nos anos 1990“, considera o autor do livro Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização (E-Papers, 2004).
Mercado vintage
Outra noção errônea que Christe tenta anular com seu livro é a que coloca o heavy metal como um gênero obtuso, de desmiolados.
A verdade é que, desde o Black Sabbath, com suas furiosas letras pacifistas – mal compreendidas na época –, o heavy metal é refúgio certo para nerds, leitores inveterados e inconformados politizados.
Como exemplo, ele cita a reação de bandas como Metallica, Megadeth e Anthrax à onda de reação conservadora anti-metal promovida nos Estados Unidos, no anos 1980.
Ao deixar de lado os monstrinhos e o satanismo de mentirinha, essas bandas investiram pesado em furiosos manifestos de denúncia anti-guerra e anti-pena de morte, entre outros temas políticos.
Não a toa, ao lado do Slayer, essas bandas formam hoje o chamado Big Four (As Quatro Grandes), um quarteto clássico, extremamente bem sucedido – comercial e artisticamente – cuja popularidade só parece crescer desde então.
Jéder Janotti nota que, ainda assim, o metal se constitui hoje no que ele chama de “mercado vintage“: “É uma coisa de colecionador, de mercado de nicho que ainda guarda alguns elementos do underground de outrora, mas sem aquele posicionamento político. É um público pequeno, comparado ao que já foi“, aposta.
Livro narra a trajetória do metal e analisa muitos aspectos
Heavy metal: A história completa é uma gloriosa saga de conquista planetária, bem ao gosto das narrativas épicas que fazem (ou faziam) a cabeça dos fãs do gênero.
Como um J.R.R. Tolkien de camiseta preta, Ian Christe construiu uma extensa e empolgante narrativa com centenas de personagens, que parece ocorrer em diversos locais geográficos ao mesmo tempo – e também ao longo de décadas.
Saído de porões sujos da Inglaterra, o heavy metal se estabeleceu nos anos 1970 e 80 graças ao fervor dos fãs, que se correspondiam via correio, promovendo uma intensa troca de fitas e divulgação das bandas locais entre si, cruzando fronteiras, oceanos e continentes.
Esse início humilde culminou com o estabelecimento e posterior ascenção, em meados da década de 1980, de diversas cenas ao redor do mundo, como a britânica (com o Iron Maiden como ponta-de-lança), o glam metal de Los Angeles (Mötley Crüe, Poison), o power metal (Manowar, Armored Saint), o thrash metal (Metallica, Anthrax), o speed metal alemão (Destruction, Kreator), o grindcore (Napalm Death) e o black metal escandinavo.
Todo esse movimento levou o heavy metal a se tornar mainstream na década de 1990, a reboque do estouro do grunge de Seattle, que contava com diversas bandas em débito com o heavy metal.
Essa saga é esmiuçada (e analisada) em detalhes por Christe, que deixa um livro obrigatório não apenas para os fãs do gênero, mas para todos os pesquisadores da cultura pop mundial.
Heavy Metal: a história Completa / Ian Christe / Trad: Milena Durante e Augusto Zantoz / ARX / 496 p. / R$ 49,90
Começou como uma bola de neve.
O que era para ser visto como uma aberração – o álbum Black Sabbath (1970), da banda homônima – inspirou, pouco tempo depois, o Judas Priest, que influenciou o Iron Maiden, que se desdobrou no Metallica e assim por diante.
Esta avalanche – que já atravessa quatro décadas – de música baseada em acordes poderosos e peso é contada pelo jornalista suíço Ian Christe no livro Heavy metal: a história completa (ARX).
E de fato, o livro cumpre o que promete: em caudalosas 480 páginas, Christe esquadrinha todo o desenvolvimento histórico do gênero desde seus primórdios, na cinzenta cidade industrial de Birmingham (Inglaterra) – com o surgimento da banda de Ozzy Osbourne e seus companheiros –, até o atual estado de estabelecimento definitivo do heavy metal como um dos braços mais populares da cultura pop mundial.
Christe defende que, ainda que tenham contribuído para o gênero com riffs e temáticas características, bandas como Led Zeppelin e Deep Purple não podem ser chamadas de heavy metal, e sim, hard rock.
O metal pesado em si surgiu com o Black Sabbath, teve no Judas Priest uma seguidora que levou a tocha adiante e só se formatou como o conhecemos hoje com o estouro, no início dos anos 1980, da chamada New Wave of British Heavy Metal (Nova Onda do Heavy Metal Britânico), que revelou bandas como Iron Maiden, Def Leppard, Saxon e Diamond Head.
Estudioso do gênero, o professor e pesquisador Jéder Janotti concorda em parte com essa noção: “O peso do metal e essa temática de ligação com o outro lado, os aspectos sombrios, realmente, vem do Sabbath. Mas, em termos sonoros, o Deep Purple influenciou toda uma leva de bandas de metal melódico nos anos 1990“, considera o autor do livro Heavy Metal com Dendê: rock pesado e mídia em tempos de globalização (E-Papers, 2004).
Mercado vintage
Outra noção errônea que Christe tenta anular com seu livro é a que coloca o heavy metal como um gênero obtuso, de desmiolados.
A verdade é que, desde o Black Sabbath, com suas furiosas letras pacifistas – mal compreendidas na época –, o heavy metal é refúgio certo para nerds, leitores inveterados e inconformados politizados.
Como exemplo, ele cita a reação de bandas como Metallica, Megadeth e Anthrax à onda de reação conservadora anti-metal promovida nos Estados Unidos, no anos 1980.
Ao deixar de lado os monstrinhos e o satanismo de mentirinha, essas bandas investiram pesado em furiosos manifestos de denúncia anti-guerra e anti-pena de morte, entre outros temas políticos.
Não a toa, ao lado do Slayer, essas bandas formam hoje o chamado Big Four (As Quatro Grandes), um quarteto clássico, extremamente bem sucedido – comercial e artisticamente – cuja popularidade só parece crescer desde então.
Jéder Janotti nota que, ainda assim, o metal se constitui hoje no que ele chama de “mercado vintage“: “É uma coisa de colecionador, de mercado de nicho que ainda guarda alguns elementos do underground de outrora, mas sem aquele posicionamento político. É um público pequeno, comparado ao que já foi“, aposta.
Livro narra a trajetória do metal e analisa muitos aspectos
Heavy metal: A história completa é uma gloriosa saga de conquista planetária, bem ao gosto das narrativas épicas que fazem (ou faziam) a cabeça dos fãs do gênero.
Como um J.R.R. Tolkien de camiseta preta, Ian Christe construiu uma extensa e empolgante narrativa com centenas de personagens, que parece ocorrer em diversos locais geográficos ao mesmo tempo – e também ao longo de décadas.
Saído de porões sujos da Inglaterra, o heavy metal se estabeleceu nos anos 1970 e 80 graças ao fervor dos fãs, que se correspondiam via correio, promovendo uma intensa troca de fitas e divulgação das bandas locais entre si, cruzando fronteiras, oceanos e continentes.
Esse início humilde culminou com o estabelecimento e posterior ascenção, em meados da década de 1980, de diversas cenas ao redor do mundo, como a britânica (com o Iron Maiden como ponta-de-lança), o glam metal de Los Angeles (Mötley Crüe, Poison), o power metal (Manowar, Armored Saint), o thrash metal (Metallica, Anthrax), o speed metal alemão (Destruction, Kreator), o grindcore (Napalm Death) e o black metal escandinavo.
Todo esse movimento levou o heavy metal a se tornar mainstream na década de 1990, a reboque do estouro do grunge de Seattle, que contava com diversas bandas em débito com o heavy metal.
Essa saga é esmiuçada (e analisada) em detalhes por Christe, que deixa um livro obrigatório não apenas para os fãs do gênero, mas para todos os pesquisadores da cultura pop mundial.
Heavy Metal: a história Completa / Ian Christe / Trad: Milena Durante e Augusto Zantoz / ARX / 496 p. / R$ 49,90
segunda-feira, julho 05, 2010
NO SOFÁ COM CHET BAKER
DVDs com registros de qualidade, apresentando grandes nomes do jazz, não são exatamente a coisa mais rara do mundo.
Mas ver um mito como Chet Baker (1929-1988) tocando seu trompete, cantando e conversando, totalmente à vontade sentado em um sofá, não é coisa que aparece todo dia. É isso que oferece o DVD Candy (Biscoito Fino Internacional), lançado há pouco nas lojas.
Gravado em 1985, na elegante biblioteca da gravadora Sonnet, em Lidingö, Suécia, a filmagem captura Chet Baker três anos antes de sua morte, acompanhado apenas do pianista francês Michel Graillier e do baixista belga Jean-Louis Rassinfosse.
Entre uma música e outra, ele conversa descontraidamente – ou tão descontraído quanto ele pudesse ser – com o também pianista Red Mitchell.
São apenas oito faixas, todas plenas da musicalidade e delicadeza que fez a fama de Baker, incluindo alguns standards, como Love For Sale (Cole Porter), Bye-bye Blackbird (Mort Dixon / Ray Henderson), Nardis (Miles Davis) e My Romance (Richard Rodgers / Lorenz Hart).
Experiência diferenciada
Sentado no sofá, em uma sala de decoração austera, Chet Baker descola os lábios do trompete, após mais uma execução de tirar o fôlego para Love For Sale. Em silêncio, ele recosta-se no sofá, põe a mão esquerda sobre a boca e aperta os olhos, fitando o vazio.
Não há palmas, assovios, gritos de “bravo!“. É nesse clima de total intimidade que o genial trompetista e cantor se apresenta neste DVD.
Tanto quanto a música, o clima intimista, tão caro a este músico em especial, é uma das atrações principais. A sensação é de estar na sala, sentado junto aos músicos.
O copo de cerveja esquentando sobre a mesinha de canto ao seu lado, suas unhas sujas em close apertando as válvulas do trompete, os livros na estante logo atrás do pianista (”Picasso”, lê-se em uma das lombadas), o abajur vermelho ao lado do baixista. São estes detalhes que fazem deste DVD uma experiência diferenciada.
Impressiona também como, mesmo sem bateria, o trio groova bonito em todas as faixas.
Candy / Chet Baker / Biscoito Fino Internacional / R$ 47,90 / www.biscoitofino.com.br
Mas ver um mito como Chet Baker (1929-1988) tocando seu trompete, cantando e conversando, totalmente à vontade sentado em um sofá, não é coisa que aparece todo dia. É isso que oferece o DVD Candy (Biscoito Fino Internacional), lançado há pouco nas lojas.
Gravado em 1985, na elegante biblioteca da gravadora Sonnet, em Lidingö, Suécia, a filmagem captura Chet Baker três anos antes de sua morte, acompanhado apenas do pianista francês Michel Graillier e do baixista belga Jean-Louis Rassinfosse.
Entre uma música e outra, ele conversa descontraidamente – ou tão descontraído quanto ele pudesse ser – com o também pianista Red Mitchell.
São apenas oito faixas, todas plenas da musicalidade e delicadeza que fez a fama de Baker, incluindo alguns standards, como Love For Sale (Cole Porter), Bye-bye Blackbird (Mort Dixon / Ray Henderson), Nardis (Miles Davis) e My Romance (Richard Rodgers / Lorenz Hart).
Experiência diferenciada
Sentado no sofá, em uma sala de decoração austera, Chet Baker descola os lábios do trompete, após mais uma execução de tirar o fôlego para Love For Sale. Em silêncio, ele recosta-se no sofá, põe a mão esquerda sobre a boca e aperta os olhos, fitando o vazio.
Não há palmas, assovios, gritos de “bravo!“. É nesse clima de total intimidade que o genial trompetista e cantor se apresenta neste DVD.
Tanto quanto a música, o clima intimista, tão caro a este músico em especial, é uma das atrações principais. A sensação é de estar na sala, sentado junto aos músicos.
O copo de cerveja esquentando sobre a mesinha de canto ao seu lado, suas unhas sujas em close apertando as válvulas do trompete, os livros na estante logo atrás do pianista (”Picasso”, lê-se em uma das lombadas), o abajur vermelho ao lado do baixista. São estes detalhes que fazem deste DVD uma experiência diferenciada.
Impressiona também como, mesmo sem bateria, o trio groova bonito em todas as faixas.
Candy / Chet Baker / Biscoito Fino Internacional / R$ 47,90 / www.biscoitofino.com.br
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