Dizem que o primeiro sinal de que estamos ficando velhos é quando passamos a maior parte do tempo relembrando do passado, ao invés de viver o presente e planejar o futuro. Não sei se é o meu caso, afinal, este egocêntrico aqui conta com apenas 32 primaveras (bem vividas, sim senhor) em seu currículo, mas ontem, ao ouvir a versão do The Cult para o clássico ultramanjado Born to be wild, do dinossauro Steppenwolf, a fumaça de tempos há muito passados me envolveu por alguns instantes, conduzindo-me de volta ao longínquo ano de 1987, quando comprei o disco que continha esta cover, o Electric. Já gostava do Cult desde o Love, primeiro disco deles a sair no Brasil, que tinha os hits She sells sanctuary e Revolution. Em outros posts sobre essa época, lembrei que meus amigos, então metaleiros incorrigíveis, execravam qualquer banda cujo nome começasse com The. The Cure, The Smiths, The Jesus and Mary Chain, The Cult, e até mesmo The Beatles e The Rolling Stones eram sistematicamente rechaçados nas tardes que passávamos juntos após a aula em intermináveis audições de bandas como Iron Maiden, Kiss, AC/DC, Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple e outras bandas de metal das quais só se ouvia falar na época, como Helloween, Omen, Raven, Samson, Def Leppard, Grim Reaper e outras que não lembro agora. Nenhuma delas tinha ?The? no nome. Para ouvi-las, valia tudo. Gravar do Píer Rock Transamérica (uma verdadeira escola, ouvi muita coisa pela primeira vez nele), gravar dos amigos, perambular pelo centro da cidade (na Gioventu, na Avenida Sete, tinha de tudo). O preconceito era tal, que, em um determinado número da revista Bizz, veio encartado um flexi-disc dos Smiths: ?Still ill? era a única faixa. Era a primeira vez que saía alguma coisa dos Smiths no Brasil. Pois bem: os vermes pegaram MEU flexi-disc dos Smiths, da MINHA Bizz e, depois de amassa-lo impiedosamente, lançaram o resto pela janela do apartamento do Bruno Uzêda. Além de Bruno, participaram deste ato de vandalismo, os senhores Rozendo Loyola e Emerson Borel. Mas eu tô me estendendo demais. Pois então. Quando comprei o Electric do Cult, eu imediatamente despiroquei. Ouvi o disco não sei quantas vezes seguidas. No dia seguinte, levei-o a casa de Emerson, que com sua óbvia má-vontade com as bandas ?The?, não queria ouvir o disco. ?É pesado, rapaz, larga mão de ser besta e bota aí?. Logo na primeira música, caiu o véu do preconceito (eita lugarzinho comum ruim danado). Emerson viu que as bandas ?The? tinham o seu valor e sabiam tocar pesado e sabiam fazer grandes solos de guitarra. Logo depois, o levamos à casa de Bruno para mostrar a boa-nova e também por que Emerson queria grava-lo em uma fita. É possível que tenha começado aí o processo de corte do cordão umbilical de Emerson do metal tradicional rumo ao rock n? roll furioso e alto-astral que caracterizaria o som da Úteros em Fúria após a sua entrada na banda, em 1988. É possível. Também é possível que tudo aquilo, toda aquela música já estivesse com ele desde o início, desde que ele nasceu. Seja qual for que tenha sido meu papel nessa história, o de catalisador ou de cortador de cordão umbilical, eu fico feliz só de fazer parte dela. E tudo isso por que Roney e Luciano fizeram um programa só de covers ontem à noite.
2 comentários:
Muito excelente a historinha das bandas "the".Rock loco tambem é a historia,alem das estórias.Eletric é do carai,o Cult depois se revelou uma banda irregular,até que perdeu a relevancia nos 90.Ian Atsbury agora encarna Jim Morrison no New Doors,trite fim para um dos mais talentosos cantores de bandas"the".Ah,ja ia esquecendo,muito excelente o programa desta terça.
depois do Electric eles lançaram o pior disco da carreira deles, o Sonic Temple, altamente comercial e pouco inspirado. uma baba. de bom, depois eles lançaram o disco do bode intitulado só The Cult. é um CD subestimado, inclusive soube pelo mesmo programa de Roney e Luciano q esse disco entrou na lista de 50 Piores da revista Mosh. injustiça. se era para botar um disco do Cult, botassem o Sonic Temple!
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