Caio Araújo / Rei Lacoste |
Fã de hip hop e estudante de cinema, em 2018 Caio assumiu a identidade de Rei Lacoste, sob a qual lança seu primeiro trabalho: Trapcália.
Lançado pelo selo Balostrada Records, o EP com seis faixas tem lançamento sábado, no Baile Antropofágico, que ainda terá shows do próprio Giovani, Davzeira e Pivoman.
Como o nome deixa notar, Trapcália é uma fusão de trap (o subgênero mais recente e descolado do hip hop) com Tropicália.
No caso aqui, com o próprio disco Tropicália ou Panis et Circensis (1968), a pedra fundamental do movimento sessentista: todos os samples de Trapcália são do Panis.
“50 anos depois do lançamentos do Tropicália ou Panis et Circencis, um dos movimentos artísticos mais antropofágicos do Brasil, para mim foi entendido que o rock – matéria prima fundamental de processamento do tropicalismo – deu lugar ao protagonismo do hip hop, tendo o rap e o trap como gêneros que mais influenciam a juventude ocidental neste momento. Em 2015, Jethro Mullen escreve no jornal CNN: 'esqueça os Beatles e os Rolling Stones, o desenvolvimento mais importante da música pop no último meio século é o hip-hop'. E no mesmo ano, a Rolling Stone Brasil publica: 'Estudo britânico diz que hip-hop teve mais influência do que Beatles e Stones nos EUA'. Parti deste ponto para criar o disco Trapcália e lançá-lo em 2018”, afirma Lacoste.
“Não é tão simples de entender os elementos tropicalistas que estão no disco, é preciso prestar atenção. A maioria dos samples foram retirados do Tropicália e a introdução, a música instrumental de encerramento ou mesmo BB - com participação de Giovani Cidreira e sample de Gal Costa (cantando Baby) deixam isso muito claro. Mas há experimentos sofisticados como Pagotrap, que, como o nome diz, é uma mistura de pagode e trap, onde todas as frases da música são de compositores baianos (ou que tiveram relação com a Bahia) como uma espécie de colagem como as citações de Caetano Veloso em Alegria alegria, Superbacana ou experimentos idênticos de Tom Zé. Acredito que o disco tem o espírito oswaldiano em que 'só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente', acrescenta.
Fã de hip hop antes mesmo de integrar a Velotroz, Lacoste conta como foi a transição de baixista da ex-banda para a rapper: "Antes da Velotroz o rap era um interesse central na minha vida. Apesar de muito novo, lembro em 2005 de grupos que acompanhava como: Rbf, Calazar, 171 Nervoso, Simples Rap'ortagem, dentre outros. A Velotroz me levou para outro caminho e minha relação com o rap ficou mais tímida. Uma das coisas mais importantes que aconteceram para mim em 2018 foi me aproximar do selo de trap Balostrada Records, principalmente do produtor Maurício Eduardo - só estou fazendo algo hoje por conta deles, que acreditaram no potencial do trabalho. Maurício é um jovem gênio da produção musical mais recente e sabe tudo sobre o universo do trap, os subgêneros, as histórias. Topou produzir o disco que foi masterizado pelo não menos incrível Luan Owè. Já estava compondo e percebi uma certa facilidade para metrificação, mas os meninos da Balostrada foram meus primeiros professores. Com o fim da Velotroz me dediquei mais ao cinema e às artes visuais mas não deixei de compor e experimentar com a palavra nas mais variadas formas. Encontrei no rap um terreno frutífero à experimentação e é o que sigo fazendo: experimentando", relata.
Subvertendo marcas
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“Acredito que o projeto passa por questões trazidas pela arte contemporânea, como uma pesquisa em arte, estou experimentando, testando e propondo coisas – principalmente no universo pop e de cultura de massa. Percebi que era uma forte tendência alguns artistas darem outro sentido a nomes de marcas como Gucci Mane, Kodak Black, Princess Nokia, Offset”, cita.
“O que havia mais próximo de uma Gucci Gang (do rapper Lil Pump) era Só Lacoste de Igor Kannário - que foi febre nas periferias, inclusive na Boca do Rio, onde moro. O jacaré da marca sempre me remeteu à Clara Crocodilo (1980) de Arrigo Barnabé. Ou seja: Rei Lacoste é sobretudo um projeto antropofágico e acredito que faz todo sentido ser feito nesse momento”, acredita.
Então sábado já sabe: a rapaziada invocada desse movimento de trap local comanda um baile no Mercadão.CC: "É um grande privilégio para mim poder trabalhar e estrear ao lado das pessoas que mais admiro neste momento em Salvador. Primeiro que quem pilota a festa, regendo e discotecando, é Pivoman (Italo Oliveira) grande pesquisador da música africana produzida hoje com beats - Italo ouve um som de lá e consegue identificar em que país foi produzido e em que época: é assustador. Giovani Cidreira é minha eterna paixão, meu bromance. Trabalhamos juntos desde 2006 - com a velotroz - e depois continuamos seguindo em parcerias em composições. Gio irá lançar uma mixtape (Lil Gio - 2018) também muito influenciada pelo trap e música pop experimental como Frank Ocean e Blood Orange. Acho Giovani o artista mais talentoso da nova mpb e uma figura central de atualização da canção - se ele acha que a canção deve neste momento ir por este caminho eu acredito que ele está certo. O outro lançamento da noite é de Davzera (Beirando Teto). Ele lançará o ep Vale do Silício. Quando Aninha Franco conheceu a jovem intelectual Bruna Frascolla escreveu que Bruna seria uma "espécie de milagre". Assim que me senti quando conheci Davi. Acho Davi a maior coisa que o rap feito na Bahia já produziu - impressionante. Davi foi a última grande coisa que me aconteceu e influenciou meu trabalho. Sou grato ao cosmo por estar próximo, conviver, cozinhar e trabalhar junto. No combo tem eu, que me considero mais dedicado que talentoso (risos), lançando Trapcália Volume 1. O show será esse encontro de cabeças caras, amigos celebrando a vida, a arte e apresentando ao público essas obras que comentam a vida desses últimos tempos", detalha Lacoste.
"O trabalho foi lançado em dezembro de 2018, corri para que desse tempo - pra mim só fazia sentido tê-lo lançado naquele ano. A estreia em palco é agora em fevereiro de 2019, ainda não sei como é, pode ser um grande desastre, traumatizante - mas estou me preparando de forma dedicada. Uma vez pixei em um muro imenso na Boca do Rio a frase de Vinícius de Moraes: "A arte não ama os covardes", e sempre penso nela quando estou em dúvida, mas acho que não tenho mais medo do ridículo. A última música que Davzera lançou diz: "eu faço meu corre sem pressa, ganhar já não me interessa, cada um faz sua preza e deixa q eu voou" - tenho aprendido muito com ele e acho que é por aí que eu vou, sem pressa e com verdade, mas "eu sempre quis muito mesmo parecendo ser modesto". Tem sido um verão meio amargo para mim mas quero ser contagiado pela alegria da Bahia, queria tocar no carnaval, essas coisas. Quero, depois de maduro, tocar em Recife, Aracaju e em São Paulo - algo intuitivamente me diz para fazer coisas nesses lugares e também em Atlanta nos EUA. O plano é ficar rico, luxar e dar contribuições à linguagem (risos). Mas meu grande projeto de vida é apenas ser feliz", conclui Lacoste.
Baile Antropofágico / Com Giovani Cidreira, Davzera, ReiLacoste e Pivoman / Sábado, 21 horas / Mercadão.cc / R$ 10 e R$ 15 / www.facebook.com/reilacosteoficial
NUETAS
IFÁ com Anelis
A session Toca! bota IFÁ convida Anelis Assumpção no palquinho do Pátio do Goethe-Institut (Vitória). Sexta, 20 horas, R$ 40 e R$ 20 (1º lote) ou R$ 50 e R$25 (2º).
Lo Han, Rivera, Malgrada
O evento Rock Tattoo celebra a milenar arte de desenhar na pele com as bandas Malgrada, Lo Han e Madame Rivera. Sábado, 21 horas, no Portela Café. Antecipado no Sympla: R$ 10. Na porta: R$ 20. A feira de tatuagem abre às 16 horas, com entrada gratuita.
Suinga, Carlinhos! E Rohmanelli!
Verão na city sem Domingo de Cabeça pra Baixo não dá, né. Então esse domingo tem Suinga, Rohmanelli e o anfitrião Irmão Carlos. 16 horas, no mítico Espaço Cultural Dona Neuza (Marback) R$ 15 e R$ 10.
Um comentário:
Chicaço, se liga em mais um single dos Meus Amigos Estão Velhos! https://www.youtube.com/watch?v=87cUNLS3dns
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