Agente Sommos, de Flavio Luiz |
Do nosso próprio jeito meio atabalhoado, mas temos.
Agora, dois novos – e hilários – personagens despontam na literatura e nos quadrinhos para manter viva nossa tradição: Agente Sommos, do quadrinista baiano Flavio Luiz, e o detetive anônimo protagonista do romance Breganejo Blues, do maranhense Bruno Azevêdo.
Cada um ao seu modo e no seu próprio universo ficcional, tanto Sommos quanto o detetive taxista de Breganejo se inscrevem numa adorável linhagem ficcional brasileira na qual figuram personagens como Ed Mort (de Luis Fernando Veríssimo), Mário Fofoca (de Cassiano Gabus Mendes, vivido por Luiz Gustavo), Mandrake (de Rubem Fonseca) e Aristênio Catanduva (O Araponga, novela de Dias Gomes, vivido por Tarcísio Meira) e muitos outros.
Ainda que haja muitos fatores separando Sommos e o Breganejo – como linguagem e tom completamente diversos entre si – há outros mais a uni-los.
Brasileiríssimos, ambos não desistem fácil e, de um jeito ou de outro, sempre chegam ao seu homem.
Sommos se dá mal no trânsito brasileiro... |
Araponga (apelido para espiões brasileiros) da MENAS (Movimento Espionário Nacional Altamente Secreto), o Agente Sommos é mais um divertido personagem nascido da mente fértil do cartunista baiano Flavio Luiz.
Criador de outros como o capoeirista mirim Aú e o cangaceiro pós-apocalíptico O Cabra, Flavio escreve e desenha o Sommos com toda a fluência cartunesca de um antigo – e talentoso – fã da revista Mad e seu humor escrachado.
Em O Agente Sommos e o Beliscão Atômico, sua primeira aventura, somos apresentados à figura e seu universo narrativo.
Repleta de gags – visuais e verbais –, a HQ se beneficia da consagrada esculhambação nacional combinado ao imaginário de James Bond tanto para construir sua trama quanto para alavancar sua comicidade.
Se o 007 tem a chefe M (interpretada por Judi Dench nos filmes mais recentes), Sommos tem a É (muito parecida com Fernanda Montenegro, diga-se).
Se 007 dirige vistosos Aston Martins cheios de engenhocas, Sommos pilota um pitoresco Volkswagen SP2 – esportivo dos anos 70 que, pelo menos, está no seguro.
Bechara Jalkh e seu curso por corresp. |
E que venham novas aventuras de Somos contra a terrível organização MERMO (Maracutaias Espionistas Revoltantes Mortalmente Orquestradas).
Humphey Bogart do sertão
Já Breganejo Blues, apesar de também descender da adorável tradição esculhambativa nacional, é um bicho totalmente diferente.
Para começar, é um romance literário, portanto, mais apurado mesmo na questão da linguagem.
Em segundo lugar, é absurdamente nordestino, o que o torna ainda mais saboroso.
Taxista em São Luís (Maranhão), fã nº 1 das HQs do cowboy Tex, esse sujeito cínico e frio como um Humphrey Bogart sertanejo tornou-se detetive nas horas vagas após fazer o curso por correspondência de Bechara Jalkh – que é real e era famoso nos anos 1970 justamente por anunciar seu curso em revistas em quadrinhos como Tex.
Em Breganejo Blues ele investiga o caso de uma dupla sertaneja pra lá de complicada.
Adailton & Adhaylton eram astros da música sertaneja, até que o segundo morre em circunstâncias misteriosas, envolvendo uma operação de troca de sexo, sua mulher grávida e muita dor de corno.
Tudo é muito ultrajante – e absolutamente cômico em Breganejo Blues, mas sempre de uma forma muito séria. Aqui, ninguém tenta ser engraçado. Mas é.
A começar pela narração em primeira pessoa do detetive, cheia de tiradas: “A única vez que vi um tiroteio, eu corri. Não foi por medo, não. É que tapar buraco de bala no táxi ia custar uma fortuna”.
Dono de texto ágil e econômico, Azevêdo criou aqui uma pequena joia da literatura policial brasileira. Cheia de humor, sangue, música brega e cornos a granel.
Agente Sommos e o Beliscão Atômico / Flávio Luiz / Papel A2 / 44 p./ R$ 30/ www.facebook.com/papela2editora
Breganejo Blues / Bruno Azevêdo / Editora Veneta / 168 páginas/ R$ 34,90 / www.veneta.com.br