segunda-feira, março 05, 2018

VISÕES DO INFERNO

Membro do Hall da Fama do Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos, Richard Corben tem suas adaptação de contos e poemas de Edgar Allan Poe reunidas no estupendo O Espírito dos Mortos

Um mestre da literatura universal e um outro, dos quadrinhos. O resultado desta soma não poderia ser diferente: uma obra-prima da narrativa sequencial.

Isto é Espíritos dos Mortos (Mino Editora), livrão de capa dura que reúne as adaptações em quadrinhos que Richard Corben fez de contos e poemas de Edgar Allan Poe.

Publicados pela editora norte-americana Dark Horse em diversas revistas, o volume traz a visão lúgubre e espetacular de Corben para clássicos da literatura como Os Assassinatos na Rua Morgue, O Verme Vencedor, A Queda da Casa de Usher, O Corvo, A Cidade no Mar, O Barril de Amontillado e mais onze obras do imortal autor nascido  em 1809 e morto aos 40 anos.

Poucas vezes, na história das adaptações de clássicos da literatura em quadrinhos, dois artistas “casaram” tão bem.

Conhecido pelo estilo original afeito ao terror, Richard Corben fez fama nas HQs em coletâneas mensais de horror e fantasia como Creepy, Eerie e Heavy Metal.

No prefácio assinado M. Thomas Inge, catedrático em Poe e quadrinhos pela Randolph-Macon College (Virginia), descobrimos porque Richard e Allan combinam tão bem: “Enquanto quase todos os grandes e boa parte dos pequenos artistas e autores de quadrinhos se voltaram a Poe em algum momento de suas carreiras, apenas um tem dedicado a maior parte do trabalho de sua vida a adaptar os contos e poemas de Poe: Richard Corben”.

“O volume aqui presente é o pico de sua colaboração, um resumo dessa relação”, acrescenta o estudioso.

Hoje aos 77 anos, Richard Corben publicou sua primeira adaptação de Poe em 1974, para O Corvo. Desde então não parou mais.

“Todo o seu trabalho em quadrinhos, na verdade, foi imbuído com a mesma sensibilidade gótica e olhar para o grotesco que possuía o próprio Poe. Consequentemente, sua aliança com Poe foi fortuita e produtiva”, nota Thomas Inge.

Bem, “sensibilidade gótica e olhar para o grotesco” é quase um eufemismo ao se contemplar passagens como a do homem em pânico ao se ver sepultado vivo em O Enterro Prematuro, ou os corpos dilacerados em Os Assassinatos na Rua Morgue.

Ou mesmo a magnífica ambientação macabra d’A Queda Casa de Usher, repleta de estátuas assustadoras, cadáveres putrefatos e o pântano sombrio em volta.

O primeiro superdetetive

Como toda adaptação de literatura em quadrinhos, Espíritos dos Mortos é também uma excelente porta de entrada para novos leitores descobriram o fascinante mundo sombrio de Edgar Allan Poe, um autor tão fundamental para a língua inglesa quanto Herman Melville, Charles Dickens, Mark Twain  ou Jack London.

Poe era tão genial que, entre outros feitos, precedeu Arthur Conan Doyle e seu super detetive Sherlock Holmes com Auguste Dupin, o primeiro detetive impassível e superdotado, capaz de decifrar crimes insolúveis sem o menor esforço.

A estreia de Dupin, em  Os Assassinatos na Rua Morgue  foi em 1841. Holmes só apareceu em 1887, em Um Estudo em Vermelho. A influência da criação de  Poe sobre Conan Doyle é objeto de pesquisa para vários especialistas até hoje.

Para além das maestrias literária do autor e artística do desenhista, há que se louvar também a excelência da edição da Mino.

Em capa dura e com o miolo em papel cuchê, o que valoriza sobremaneira tanto os desenhos quanto as cores de Corben, a editora optou por utilizar traduções de alto nível dos poemas.

O Corvo tem sua tradução por ninguém menos que Machado de Assis.

Já O Verme Vencedor tem tradução de Victor H. Azevedo, enquanto A Cidade no Mar, Espíritos dos Mortos e O Palácio Assombrado foram vertidos para o português por Gustavo Gomes Arruda.

Espíritos dos Mortos /  Richard Corben, Edgar Allan Poe / Mino/ 216 páginas/ R$ 89,90

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