quarta-feira, março 21, 2018

FEIRENSE EM CACHOEIRA, PABLUES (CLUBE DE PATIFES) APRESENTA SEU NOVO PROJETO: CASAPRONTA

Pablues (último à esquerda) e o Casapronta. Foto Heloísa França
Band leader do Clube de Patifes, banda fundamental da cena alternativa feirense, Pablício Jorge, o Pablues, volta a esta coluna com seu novo trabalho, o Casapronta (assim mesmo, tudo junto, revisor!).

Com um EP  já disponível pela trinca de selos Brechó-BigBross-SãoRock, o trabalho traz cinco faixas, sendo três autorais (Vem, Calmaria e Deserto Coração) e duas releituras: Herói Trancado (do pernambucano Ortinho) e Rosa (de Jorge de Angélica, lenda viva do reggae feirense).

“Casapronta é um projeto que já vinha em minha cabeça faziam uns quatro anos e nunca colocara em prática. Ficava imaginando como seria ter um outro trabalho musical, sabendo o quão difícil é ter um... outro então, avemaria! São algumas canções que não se encaixavam no Clube de Patifes, aí fui guardando numa espécie de caixinha lá no canto do meu quarto, e nos meus shows solitários com o meu violão. Tinha muito receio em concretizar o Casapronta, não sei bem explicar, mas tinha. Eis que um dia na sala de aula na Ufrb, conheci Igor Skay, um jovem prodígio, que lida com artes visuais e com música. Rolou uma afinidade no campo das ideias, mostrei o projeto e na hora ele topou. Na sequência vieram Dante José e Christian Azevedo, todos ligados com artes em suas mais variadas vertentes – pintura, artesanato, tatuagem e claro, música”, conta Pablues.

Atualmente morando em Cachoeira para estudar na UFRB, o cantor acabou conhecendo outros músicos na nova cidade e... não deu outra: formou uma banda paralela com Igor Skay (guitarra) Dante José (baixo) Cristhian Azevedo (bateria). “Os caras são mais novos, com média de vinte e poucos anos, e eu um quarentão, aprendendo muito com eles e me divertindo. Sou o Tio Pabi da galera”, ri Pablues.

"Nunca gostei muito da ideia de disco solo, trabalho solo. Até porque é e sempre será trabalho em equipe, coletivo, tendo mais gente ali no palco. É um posicionamento meu, há quem discorde. Casapronta é um trampo despretensiosamente pretensioso, sabe como é? É coletivo, é um trabalho paralelo, trabalho esse que queremos imprimir uma energia positiva, uma parada com tranquilidade e liberdade na escolha do repertório e nas parcerias. Agradeço muitos aos 'os caras' por terem colado na ideia e podermos juntos fazer esse projeto girar", acrescenta.

Música de preto

Casapronta, foto Heloísa França
Se o Clube de Patifes é, assumidamente, uma banda de blues – ainda que não ortodoxo, com influências do candomblé baiano – o Casapronta prefere não colar um rótulo em seu som.

"Eu entendo essa necessidade de rótulo na música. A galera precisa se orientar através de rótulos, muitas delas, mas nem todos. O Clube de Patifes ficou estigmatizado como uma banda de blues, não sendo blues para os blueseiros ortodoxos, e uma banda de rock que também não era rock para certos rockeiros. Enfim, uma confusão retada. Mas a gente sempre soube que o que fazíamos era o nosso bluesrock, que mais tarde com o amadurecimento da banda e com as variadas influências e referências, chegamos a nos alto intitular uma banda de 'candomblues' e o Clube segue aí com seus 20 anos de serviços prestados. Já com o Casapronta, pensamos em não ficar preso a rótulos", observa.

“Mas tem coisas que são inerentes, sabe? O rock n roll é uma escola pra todos da banda. Mas tem muito mais aí, na música pode tudo, desde que seja feito com verdade. Como usamos muito o violão, tanto pra compor quanto no palco, querendo ou não temos a influência do folk, que lá fora é a música que vem do popular, do povo. Aqui com a gente não é diferente. Temos influência do 'folk-lore' brasileiro, suas culturas e musicalidades... afinal, somos da Bahia. Mas não se assustem que não queremos ter a música do carnaval não, podem ficar sossegados. Blues, rock, folk, reggae, forró, samba de caboclo – a música de preto sempre será bem vinda, desde que se encaixe com nossas ideias”, afirma.

Sobre as duas releituras, Pablues diz que "É muita gente na vida da gente que nos influência, nos forma em quantos pessoas, músicos e cidadãos. Vou começar por Jorge de Angélica. Jorge é um dos grandes reggaemen do Brasil. Há quem diga que o movimento reggae em Feira de Santana foi o primeiro no Brasil, juntamente com Tonho Dionorina e outros tantos lá na Princesa do Sertão. Frequentei muito as festas de rock n roll em Feira, na década de 1990, quando fui estudar na Uefs, antes de montarmos o Clube de Patifes. Muitas vezes, dentro dessas festas, o reggae se fazia presente e Jorge de Angélica era nosso herói alternativo naquelas noitadas. Os movimento rock e reggae andaram muito juntos e se respeitavam, como até os dias atuais. Rosa era um dos hits do filho de Dona Angélica. Um canção de uma pureza e força que me emocionava muito nos shows de Jorge. Claro, tocava no violão nas rodinhas que se formavam nos tempos áureos. Daí me veio a vontade de homenagear esse artista que até hoje vive na resistência, firme e de pé, fazendo o que acredita, na terra que tanto amamos e respeitamos, que é Feira de Santana. Viva a Jorge de Angélica, o Jorge 'Radical'. Ortinho encontrei no quarto de Jó. Estava um dia baixando uns arquivos de música na casa de Joilson, baixista do Clube, quando me deparei na letra O, com um nome pequeno que me chamou a atenção. Cliquei e estava lá o senhor Warton Gonçalves, o Ortinho, com seu disco Herói Trancado. Um disco que parecia muito ter sido gravado ao vivo, com uma sonoridade peculiar, do jeito que procurava na época. Quem puder, escute. A canção que dava nome ao disco – Herói Trancado – me bateu logo de cara. Uma poesia forte com uma melodia perfeita. Ortinho é um pernambucano, contemporâneo de Chico Science desde os tempos que antecederam movimento Mangue Beat, que revolucionou nossa música na década de 1990. Cheguei a conhecer Ortinho, aqui em Cachoeira em 2013 quando veio mostrar seu show por essas bandas de cá. Quando pensei em gravar a canção, mandei uma mensagem pra ele pedindo a autorização, e na própria resposta me dizia que estava autorizado e pronto. Ortinho é um grande artista e compositor, com discos incríveis. Ouçam", recomenda.

"O plano do Casapronta agora é fazer o próximo show. Deixando as 'aleotrias' de lado, a gente quer tocar, experimentar os diversos palcos e públicos que nos forem possíveis. Tocar, tocar, gravar, tocar, gravar mais e assim construindo um trabalho coeso. Pelo menos essa é a ideia. Não vou dizer que não temos pretensões, que seria uma falácia, pois como disse Glauber Rocha: 'Artista sem pretensão não é artista'. As parcerias com a galera são super bem vindas, pra podermos trocar experiências e circular. Em abril completamos um ano de projeto e estamos muito felizes com o feedback do público com a nossa demo tape que gravamos ao vivo, no Estúdio Netuno em Feira de Santana. Estaremos lançando a demo tape dia 24 de março em Feira de Santana, na Cúpula do Som, juntamente com a banda de um dos maiores rockers que conheço, que é Duda Brandão e banda Presente de Grego – você precisa conhecer esse cara, tem muita história e muita música foda. Estamos aceitando convites para os rolês, inclusive Salvador. Não somos peixes, mas podem nos encontrar nas redes e plataformas de streaming", acrescenta.

No sábado, a galera de Feira vai poder  curtir a banda nova desta figura no show de lançamento na Cúpula do Som.

Além desse, o Casapronta já tem marcadas apresentações no Empório Cervejaria (Feira), em Camaçari e em Catu (It´s Not Pub). Se liga nas redes sociais dos caras pra ver a agenda.

"Bicho, pode parecer clichêzão, mas o respeito com o outro, com suas crenças, suas verdades e musicalidades, não pode deixar de existir, isso é um ponto que tem que ser batido sempre que necessário. Estamos no mesmo barco nas naveganças, como diz Ayam Ubráis Barco, ao mesmo tempo andando entre 'Sombras e Luzes' que tanto a Declinium fala, sonhando com 'Um dia blue' tão cantado pelo Clube de Patifes, lutando sempre por uma 'Segunda Chance' né isso, Calafrio? E cantando 'Coisas do Coração', sabidamente palavras de Raul. Outro dia vi uma entrevista de Mano Brown no Racionais MCs, onde falava da critica que recaíra sobre ele em estar cantando coisa ligadas ao amor. Brown diz que os pretos querem falar de outras coisas, querem outras coisas também. As músicas que canto, muitas delas falam dessa dor do amor, da sofrência que já era cantada pelo Originais do Samba do final da década de 1960 e pelo saudoso Tim Maia... não tem nada de novo, ninguém precisa inventar a roda. Tá tudo aí, basta saber ressignificar como mandam as verdades dos corações que cada um habita. Êita, ficou meio poético isso, né? Tô com essa mania agora", conclui.



NUETAS

Neal Alger (EUA), foto Ryan Bennett
Ronei e JosyAra

Sexta-feira agitada esta semana. Ronei Jorge e JosyAra se apresentam a partir das 22 horas no Commons Studio Bar. R$ 15 (nome na lista www.commons.com.br) ou R$ 20. Apenas cash.

Álvaro Assmar Vive!

Vivo ainda estivesse, o grande Álvaro Assmar completaria hoje  60 anos. Na sexta-feira e no sábado, seu filho Eric, seu irmão Adelmo e a Mojo Blues Band se juntam ao lendário gaitista carioca Flávio Guimarães (Blues Etílicos) para homenagear o saudoso bluesman  baiano. Às 20h30, no Café-Teatro Rubi, R$ 60.

Neal Alger na Avenida

O guitarrista norte-americano Neal Alger é o convidado da session Jazz Na Avenida nesta sexta-feira. Veterano de redutos como o Blue Note e o Carnegie Hall, se junta à bandaça local com Joatan Nascimento (trompete), Luizinho Assis (piano), Alexandre Montenegro (contrabaixo) e Laurent Rivemales (bateria). 18 horas, na Boca do Rio (Av. Simon Bolivar, 156), gratuito.

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