quinta-feira, novembro 09, 2017

ÉPICO BRASILEIRO

Parceiro de Geraldo Vandré, lenda da era dos festivais de MPB, Theo de Barros volta à cena com Tatanagüê, um dos melhores discos de música brasileira do ano 

Renato Braz e Theo de Barros, foto Guilherme Castoldi
Há  músicos – extraordinários ou banais – que vivem para perseguir a glória, grana e holofotes.

Outros  são mais reservados e, mesmo exercendo a carreira musical, desenvolvem sua arte à sombra, no escurinho dos estúdios.

Um exemplo é Theo de Barros, que aos 74 anos lançou Tatanagüê, álbum que periga figurar em muitas listas de melhores do ano (listas sérias, claro).

Theo, com o perdão do clichê, seria para as massas aquilo que se convencionou chamar de “ilustre desconhecido”. Fãs da tradição da grande MPB, contudo, sabem muito bem quem é Theo de Barros.

“Sempre exerci várias atividades relativas à música.  Trabalhei como arranjador, produtor de discos, publicidade etc. Talvez se eu tivesse me dedicado somente a compor, isto não tivesse acontecido”, observa Theo, por email.

Violonista e arranjador, Theo, carioca filho de alagoano, começou a ser notado quando teve sua composição O Menino das Laranjas gravada por Geraldo Vandré em 1964 – e regravada por Elis Regina no ano seguinte, ajudando a projetar ainda mais seu nome.

Foi em 1966, provavelmente, que Theo teve seu momento de maior popularidade: Disparada, parceria com Geraldo Vandré e interpretada por Jair Rodrigues, foi a vencedora do II Festival de Música Popular Brasileira – empatada com A Banda, de Chico Buarque.

Naquele mesmo ano, formou o Quarteto Novo, uma super banda, que além dele, contava com ninguém menos que Heraldo do Monte, Airto Moreira e Hermeto Pascoal, multi-instrumentistas cultuados mundo afora e de grande importância na MPB.

“O Vandré foi o mecenas do Quarteto Novo. Em contrapartida, ele tinha a nossa exclusividade”, conta Theo.

Em 1967, q Quarteto apareceu no III Festival de Música Popular Brasileira, acompanhando Edu Lobo e Marília Medalha, em Ponteio (de Edu e Capinam), outro clássico.

“Outros compositores queriam o Quarteto Novo para acompanhá-los. No festival seguinte ao de Disparada, nós fizemos Ponteio, com Edu Lobo e Marilia Medalha. Quando o Vandré apresentou o Caminhando... (1968) nós já tínhamos nos separado”, lembra.

Nas décadas seguintes, Theo fez de tudo: música para teatro, filmes, publicidade. “Quando o conjunto (Quarteto Novo) terminou, cada um de nós teve que cuidar da própria sobrevivência. O mercado havia mudado e eu tive que me adaptar à nova realidade”, relata Theo.

Monumento

Renato, Theo, Monica Salmaso e Ricardo Barros. Foto Guilherme Castoldi 
Tatanagüê é apenas seu quarto álbum solo. O último, Theo, é de 2004.

Salvo engano, Tatanagüê é sua obra mais ambiciosa: com 16 faixas, une a tradição da música popular à um rigor sinfônico raras vezes ouvido.

Com arranjos complexos – mas agradabilíssimos aos ouvidos – reúne uma infinidade de músicos eruditos e outros tantos populares.

Aqui, seus parceiros mais constantes são o letrista Paulo César Pinheiro (outra lenda viva por méritos próprios), o cantor Renato Braz e Ricardo Barros, filho e produtor do CD.

Vale lembrar que tatanaguê é um pássaro, que, dizem, alertava com seu canto - muito característico - quando capitães do mato se aproximavam dos quilombos. Muito difícil de ser avistado, é um pássaro quase invisível, o que só aumentava sua eficiência.

“Foi um dos melhores discos que eu já fiz, no que se refere a ambiente de trabalho. Os músicos e convidados foram extremamente carinhosos e pacientes. Creio que esse astral passa para o ouvinte”, diz.

Épico, o álbum é um tour de force pelo Brasil profundo, partindo de ritmos populares como ijexá, capoeira, samba, toada etc para pintar um quadro sobre o Brasil e seu povo – uma obra monumental.

“Cada gênero (musical) tem suas características. É uma questão de se manter fiel a essas peculiaridades”, observa Theo

A voz cristalina de Renato Braz emoldura quase todo o disco, exceção feita às faixas Alguém Sozinho, com Monica Salmaso e Camaradinho, com Alice Passos, igualmente brilhantes.

“Renato e eu já havíamos trabalhado antes. Considero o Renato como um dos nossos melhores intérpretes. Ele tem todas as qualidades para cantar esse repertório”, afirma o músico.

Agora, é aguardar o veterano músico e seus parceiros botarem o pé na estrada para levar essa obra para o Brasil ouvir ao vivo.

“Já aconteceu um show de lançamento aqui em São Paulo, no Auditório Ibirapuera. Estamos pensando em fazer mais um e então começar uma caravana para divulgar o CD. Pode ser que Salvador esteja no circuito”, diz Theo.

Aguardemos.

Tatanagüê / Theo de Barros / Produzido por Ricardo Barros / Independente / Distribuição: www.tratore.com.br / R$ 39,90

3 comentários:

Franchico disse...

Vamos formar um CCC - Comando de Caça aos Coxinhas?

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/5-dramas-que-surgirao-apos-reforma-trabalhista-entrar-em-vigor-neste-sabado-por-renato-bazan/

Franchico disse...

RIP Higgins

https://omelete.uol.com.br/series-tv/noticia/john-hillerman-o-higgins-da-serie-magnum-morre-aos-84-anos/

Zeus! Apollo! Pega!

Franchico disse...

Porra Louie, que decepção, cara...

https://omelete.uol.com.br/filmes/noticia/louis-ck-confirma-acusacoes-essas-historias-sao-verdadeiras/

Pelo menos agora fez algo certo, que foi se admitir errado e culpado, sem querer jogar a culpa nas vítimas, como tantos canalhas fazem.

Espero que se redima algum dia.