quinta-feira, março 16, 2017

LUTA ESTUDANTIL EM FOCO

Estreia: Com sessão gratuita e debate na Sala Walter da Silveira, Carlos Pronzato lança hoje seu novo documentário, Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná

Cena de Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná
No dia 26 de outubro do ano passado, uma adolescente de aparência frágil e visivelmente nervosa subiu ao púlpito da Assembleia Legislativa do Paraná e, com muita bravura, expôs algumas verdades sobre a sucateada educação pública aos senhores deputados.

Tornada símbolo da luta estudantil durante o movimento de ocupação das escolas paranaenses, Ana Júlia Ribeiro é uma das principais entrevistadas no documentário Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná, do cineasta, escritor e ativista Carlos Pronzato.

O filme tem exibição (com entrada gratuita) seguida de debate com o diretor hoje, na Sala Walter da Silveira, às 19 horas.

Uma hora antes, Pronzato aproveita a oportunidade e lança no Café da Walter seu livro mais recente, O milagre da Luz e outros contos em Trastevere, escrito durante um período de alguns meses residindo no bairro boêmio de Roma que compõe o título da obra.

No documentário, Pronzato volta suas lentes para o movimento dos estudantes secundaristas paranaenses contra a Reforma do Ensino Médio proposta – sem debates prévios com a população, sempre é bom lembrar – pelo governo federal.

O movimento também se colocou contra a PEC 55, aquela  que congela investimentos sociais por 20 anos.

No auge do movimento, que se espalhou pelo Brasil em 2016, mais de mil escolas foram ocupadas no Brasil – 850 só no Paraná.

“O documentário inicia contextualizando o tema no Paraná. Não esqueçamos que a trama se desenrola na popularmente denominada ‘República de Curitiba’ e, portanto, uma resistência política da contundência que se viu pode parecer insólita”, afirma Pronzato.

Chile, São Paulo, Paraná

Entusiasta dos movimentos estudantis, Pronzato já realizou alguns documentários sobre diversos episódios de revolta juvenil: A Revolta do Buzu (2004), A Rebelião dos Pingüins: Estudantes Secundaristas Chilenos Contra o Sistema (2007), Acabou a Paz, Isto Aqui Vai Virar o Chile (2016) e A Escola Toma Partido (2016).

“Desde A Revolta do Buzu (2003) e até diria antes, desde o episódio denominado Maio Baiano (2001), onde a participação estudantil também foi expressiva, que venho acompanhando as lutas estudantis”, conta Pronzato.

O cineasta vê o movimento paranaense dentro do contexto de ocupações de escolas que, na realidade, se iniciou no Chile (contra a privatização total da educação), e depois foi exportado para São Paulo.

“O antecedente imediato e prático das ocupações do Paraná foram as lutas dos secundaristas paulistas em 2015  que, por sua vez, se inspiraram nas lutas dos estudantes chilenos, os Pinguins, contra a privatização total da educação naquele país e foram referência continental”, conta.

“Portanto, há uma sequência constante de lutas da base social, que são as que acompanho, que vem se incrementando nas suas pautas – os estudantes do Paraná desbordaram as pautas educativas e partiram para cima da PEC 55. (No filme) Um estudante define assim: ‘tem que pegar geral’! O tratamento ao tema no documentário  é o de tomar o pulso rebelde destas reivindicações, oferecendo o cinema como uma ferramenta de apoio e de transformação social e política”, afirma.

"A importância de conhecermos o que são estas lutas reside no fato de que afetam a todos, não apenas aos estudantes, o âmbito dos envolvidos na questão se expande como um círculo na água, embora isto seja de difícil entendimento para muitos, ou por desconhecimento, ou por interesses políticos / partidários ou por má fé. Sempre me coloco do lado afetado, que não dispõe dos meios infinitamente mais contundentes dos grupos empresariais hegemônicos de comunicação, com todo seu arsenal diário informativo e propagandístico de ataque às justas reivindicações da população. Ou seja, o lado 'contra os estudantes' tem ao seu dispor todos os meios possíveis, além dos do próprio governo federal ilegítimo atual, para distorcer a realidade dos fatos. Minha trincheira nesta diária batalha é do lado oposto, é com os estudantes", detalha Pronzato.

No filme, Pronzato contextualiza a situação precária da educação pública no Paraná, remontando inclusive ao vexaminoso episódio de 2015, quando professores em greve foram surrados pela polícia na rua, a mando do governo.

“(Em Ocupa Tudo) Também se aborda a violenta repressão do governo Beto Richa aos professores e trabalhadores da Educação no dia 29 de abril de 2015 como outro antecedente imediato para este levante estudantil”, conta o cineasta.

“Partindo desta realidade, foi utilizada uma estratégia de construção semelhante ao filme realizado sobre as ocupações de São Paulo (Acabou a Paz): ou seja, traçar um histórico indo as fontes, às primeiras escolas que vivenciaram a experiência e a relação estabelecida entre elas para que o movimento se tornasse o maior da História com suas 850 ocupações”, relata.

Carlos Pronzato
"Uma nota de grande satisfação foi termos uma música cedida por Chico César (Mel da Mocidade). Outra questão fundamental é a concordância geral entre os estudantes dos benefícios coletivos e pessoais que as ocupações trouxeram para suas vidas, ao recriar por eles mesmos uma pedagogia diferente daquela imposta pelo sistema educativo diariamente, criando suas próprias demandas de aulas convidando especialistas sobre diversos temas, além do próprio cuidado com o espaço físico, algo em que o Estado é também é omisso. Os estudantes deram verdadeiras aulas de cidadania", afirma.

Outro ponto fundamental no filme e nas reivindicações dos alunos é o protesto veemente contra o projeto Escola Sem Partido.

"Abordei este tema no documentário A Escola toma partido (2016) no qual fazemos referência a uma professora paranaense que tinha sido afastada da sua escola por propor em aula o estudo do Karl Marx através de uma música que os próprios alunos criaram em forma de rap (Baile de Favela). Esta professora, Gabriela Viola (Gabi) foi localizada e entrevistada em Ocupa Tudo e conta como os próprios alunos colaboraram para ser reconduzida ao cargo através de um gigantesco protesto nas redes sociais. O PL Escola sem Partido é um projeto, arquitetado e proposto por Partidos da direita desde 2004, e que ressurge agora como resposta  desesperada ao crescimento da insatisfação estudantil perante o desmonte da Educação no país. Os estudantes paulistas acenderam o sinal de alerta em 2015 e os paranaenses deram continuidade ao temor das elites e os seus parlamentares e gestores nos governos. A luta contra este engendro jurídico das elites também é abordado no documentário como um dos três focos da luta estudantil, além da MP 746 e a PEC 55/241", diz o diretor.

Apesar de contar com o apoio de parte da população, também há quem destile muito ódio contra quem tenta lutar por direitos básicos no Brasil.

Ana Júlia Ribeiro em Ocupa Tudo, uma das principais entrevistadas
"Há uma imposição diária (des)informativa através de jornais e programas populares televisivos de impacto contundente, e também radiofônicoss e da imprensa escrita, que agem em favor do grande capital que precisa abafar qualquer tipo de protesto. Qualquer luta popular que conteste esta práxis do grande empresariado sempre será combatida por ele. Aliado a isto, temos hoje uma confusão provocada por estes setores para desmobilizar os protestos, incluindo num mesmo rótulo todo o arco da esquerda, eleitoral ou não, tanto aquela que costuma participar de alianças espúrias para manter a governabilidade, quanto aquela que atua de forma mais radical e honesta, sem ambições de participar da corrompida institucionalidade. As ocupações de Escolas são um sopro de oxigênio na dissoluta democracia representativa, instaurando processos de ação direta e decisões tomadas por consenso em assembleias, colocando a estudantada como uma autentica e corajosa vanguarda das lutas populares, enfrentando inclusive a repressão", afirma.

No fundo, o que parece estar em questão é a mal-disfarçada intenção do poder hegemônico de privatizar totalmente a educação, já que tudo que é público e gratuito tem o horror da direita.

"O motivo é evidente: não incomodar o longo rosário de abusos históricos, injustiças sociais e lucro exorbitante dos grandes grupos econômicos que se apropriam do Estado para delinquir e dos empresários da Educação, numa atuação conjunta. Formar indivíduos / máquinas explorados sempre foi uma constante desde a Revolução industrial para a criação de grandes fortunas e a única possibilidade de fugir a este triste destino é através da Educação, seja esta formal ou não, mas também através da autoeducação ou de outros tantos métodos educativos já testados positivamente ao longo do tempo", diz Pronzato.

Símbolo da luta estudantil após o histórico discurso na ALEP, Ana Júlia tem papel fundamental nas ocupações e no filme.

“Ana Julia, de apenas 16 anos, é um exemplo de estudante que o sistema não consegue alienar, e como ela há milhares nas ocupações que se opõem a destruição quotidiana que o sistema educativo propõe na sua cartilha de formação de indivíduos autômatos, servis ao capitalismo brutal em que sobrevivemos. Sua defesa contundente das ocupações, através de um belíssimo e histórico depoimento na ALEP, como meio de obstaculizar a imposição goela abaixo dessas MPs de privatização total, através de uma reforma educativa não discutida, daquilo que o Estado deveria defender como direito público, universal e gratuito, incomoda aqueles que visam apenas o lucro. Entre outras pautas defendidas por Ana Julia e pelo conjunto dos estudantes também está a oposição ao Projeto de Lei Escola sem Partido, tentativa de criar indivíduos em série sem senso crítico, prontos para serem manipulados pelo empresariado que só visa lucro. Pelo que sei, Ana Julia é constante e ativa na defesa dos direitos a uma educação de qualidade, sendo convidada a inúmeras atividades, reivindicando as históricas ocupações do seu Estado”, conta Pronzato.

Sobre seu livro, o diretor / escritor diz que "este é o meu segundo de contos, o anterior foi Jorge Amado no elevador e outros contos na Bahia (2009, Editora A, RJ). Como o anterior, tem um cenário geográfico único e traz personagens populares, a maioria imigrantes, na tentativa de atingir seus sonhos quotidianos, alguns mirabolantes, outros mais possíveis, mas todos inseridos num contexto de opressão que os impulsa a criar assas para viver. No livro há uma relação de interculturalidade dos habitantes do Trastevere à dos cidadãos do mundo que por ali passam e muitos ficam deslumbrados pela efervescência cultural e pela História da própria cidade. No fundo, a escrita deste livro é uma tentativa de trilhar o mesmo caminho dos temas dos documentários na plataforma específica da ficção. No geral, uma visão entusiasmada e carinhosa da boemia do bairro mais famoso de Roma, onde vivi alguns meses em 2014", conclui.

Ocupa Tudo: Escolas Ocupadas no Paraná / Dir.: Carlos Pronzato / Exibição do filme e debate com o diretor / Hoje, 19 horas / Sala Walter da Silveira (Biblioteca Pública do Estado da Bahia - Barris) / gratuito

Lançamento: O milagre da Luz e outros contos em Trastevere / Carlos Pronzato / Hoje, 18 horas / Café da Walter (Sala Walter da Silveira)

2 comentários:

Franchico disse...

A banda baiana Mystifier está no Abril Pro Rock deste ano, ao lado de nomes como Suicidal Tendencies, Death e Cockney Rejects.

https://www.facebook.com/festivalabrilprorock/photos/gm.246257055780008/1588133894533543/?type=3&theater

Menino, esse metal baiano está fora de controle!

Anônimo disse...

BORA PRO ABRIL! Estarei lá.