terça-feira, março 14, 2017

BASEADO NA ALEMANHA, QUARTETO BAIANO ESCARNIUM VOLTA À SALVADOR PARA SHOW SÁBADO

Escarnium, foto Nestor Carrera
Ninguém segura o metal baiano. Olha a Escarnium, outro expoente do death metal local: depois de assinar contrato de 20 (sim, vinte) anos com o selo alemão Testimony Records, a banda se mudou de vez para a Alemanha.

Por isso mesmo, é imperdível para os fãs o show que eles fazem em Salvador neste sábado, com Headhunter DC e Graveren.

"Seguimos com o mesmo line up, mas como as atividades do Escarnium estão cada vez mais corridas, turnês e mais turnês, além de gravações, acontece que em algumas apresentações eventualmente ocorrem substituições no line up. Temos alguns músicos parceiros de outras bandas que sempre nos dão uma força quando precisamos", conta por email o vocalista Victor Elian.

O show é parte de uma turnê com mais de 30 datas, divulgando o novo álbum, Interitus, e que varre o Brasil do Rio Grande Norte ao Rio Grande do Sul, estica até a Argentina e depois sobe para o México.

Tem mais. Entre setembro e outubro de 2016, a Escarnium realizou sua terceira turnê pela Europa, passando pela Alemanha, Itália, República Tcheca, Belgica, Eslovênia e Holanda, em uma excursão que contou com o apoio do Edital Mobilidade Artística 2016, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA).

Provavelmente, foi a primeira banda do metal extremo baiano a utilizar o recurso dos editais – no que estão certíssimos.

“Foi uma surpresa a princípio, mas com o tempo começamos a perceber que na verdade foi apenas consequência de um trabalho árduo. No projeto descrevemos todas as nossas atividades, desde o inicio da banda, e tudo que trouxemos para o cenário metal baiano e nacional. Quem nos conhece de perto sempre soube que temos uma atuação incisiva e direta na cena do metal, e que não nos limitamos somente ao status de membros de uma banda. Produzimos muito, não só musicalmente falando, mas também em atitudes. Foram muitos eventos e festivais que aconteceram, pois estávamos diretamente ligados a eles. A Secretaria de Cultura, como todas as outras, em teoria, está aí para servir aos interesses da comunidade. Os editais estão lá para qualquer um se inscrever, para que eles analisem o impacto que o projeto irá causar e decidam apoiar ou não”, observa Victor Elian.

“O fato é que esta prática é pouco divulgada e, no final,  as mesmas pessoas sempre estão se inscrevendo e ganhando. Tudo que fazemos é tributado, qualquer centavo gasto com a banda ou em eventos são tributados, então apenas fomos atrás do que temos direito, como quaisquer outros cidadãos. A meu ver, essa (nossa) independência absoluta não foi abalada em nenhum sentido. No nosso projeto está bem claro que fazemos parte de uma cultura subterrânea, que há tempos existe e por tempos viverá. E não saímos dela, continuamos à margem da sociedade por opção, por fidelidade aos nossos ideais. Nós estamos acostumados a nós mesmos agendarmos os nossos shows, nós mesmos dirigirmos durante as turnês (tanto no Brasil como no exterior), nós mesmos fazermos a divulgação da banda... Enfim, são inúmeras atividades que fazemos por conta própria. E isso não irá mudar: o Escarnium será sempre uma banda que anda com as próprias pernas, e dirigida somente por nós. Não cedemos a tendências, e não mudaremos nossa conduta. Quando alguém entrar em contato conosco, pode ter certeza de que quem irá responder será um integrante da banda. Não queremos e não temos intermediários”, afirma.

O recurso dos editais sempre foi visto meio de esguelha pelo pessoal do metal, já que isso implicaria, em tese, em certo comprometimento com governos de ocasião.

“Esta turnê já estava programada para acontecer, assim como todas as outras que fizemos e faremos: o edital nos ajudou e nos deu conforto para fazermos de maneira mais digna. Sobre críticas em relação ao edital, nunca chegou nenhuma até mim. E se chegar, é irrelevante, pois nunca focamos no que outras bandas estão fazendo ou pensando, seguimos nossa estrada sem olhar para os lados. Críticos sempre existirão, mas a partir do momento que os críticos não estão vendo a situação do mesmo ângulo e posição que nós estamos, suas ideias são apenas devaneios pessoais”, conta.

“Por mais que algumas pessoas possam discordar, acredito que mais e mais as pessoas deveriam correr atrás desse tipo de recurso, de algo que é seu por direito”, afirma.

Sobre o contrato de longuíssimo prazo com a Testimony Records, Victor é só elogios: "O Testimony Records está fazendo um excelente trabalho de distribuição do nosso último trabalho em estúdio: nosso novo álbum intitulado “Interitus”. Assim como todos os outros selos com os quais trabalhamos (os brasileiros Misanthropic Recs e Cianeto Discos, o mexicano Vomit Recs e o norte-americano Redefining Darkness), o Testimony Recs é um selo independente de música extrema, que busca divulgar e promover bandas do cenário underground. E em relação à minha mudança para a Alemanha, decidi vir pra cá por vários motivos, tanto profissionais como pessoais", afirma.

"A Escarnium é uma banda que nunca teve períodos de inércia: nossas atividades são incessantes, e em breve estaremos completando dez anos de trabalho ininterrupto. Em março deste ano começaremos a turnê Interitus - Darkness and Beyond Tour. Já são 15 shows marcados no Brasil, 8 cidades mexicanas e provavelmente 20 cidades europeias, sendo que teremos a presença da banda mexicana Hacavitz nos shows do México e Europa. Em Salvador tocaremos no dia 18.03, no Irish Pub, local conhecido pelo público da cena. O metal baiano é soberano e forte: temos várias excelentes bandas e pessoas dedicadas. Mas claro, como qualquer outro lugar tem seus defeitos, porém a meu ver as qualidades superam os defeitos", analisa.

Contra a massificação

Instalado na cidade de Hamm (Renânia do Norte-Vestfália), o quarteto baiano demonstra, além do seu som arrasador, consciência social de boa cepa no discurso do vocalista, que saúda as outras culturas alternativas baianas: “Nada é novidade no Velho Continente: existem inúmeras bandas cruzando a Europa a todo o tempo, e inclusive já tocamos aqui com bandas de diversos locais do mundo, como Rússia, Colômbia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, México, e por aí vai. Essa coisa do “existe metal na terra do axé?” geralmente é proferida por pessoas leigas, e aqui na Europa não existe essa diferenciação de regiões do Brasil, isso acontece mais por aí mesmo. Sem dúvidas existe uma indústria fortíssima do axé no estado, que nos atrapalha e muito, por sinal. E atrapalha não só o metal, mas também outras manifestações artísticas e culturais. Mesmo assim ainda acontecem atividades no “submundo” cultural baiano, e pessoas que fazem as coisas não só por dinheiro ou status. E não só no heavy metal: a representação da cultura alternativa está presente também na cultura do rap, do pixo, do punk, dos movimentos afro, LGBT, entre outros”, afirma Victor.

Victor Elian à frente da Escarnium, ao vivo
“A necessidade de se expressar vem à tona quando existe a massificação das ideias e do modo de agir. Essas regras normativas impostas pela sociedade em que vivemos sufocam, e jogam à margem tudo que é tido como diferente, o que tem como consequência o desenvolvimento dessas atividades, que dão espaço de fala para aqueles que desejam e precisam ser ouvidos. Por isso citei não só o heavy metal, mas todos os outros movimentos e expressões acima. Se não nos é retirado espaço, então criamos nós mesmos este espaço. No caso do heavy metal, usamos este espaço para ir de encontro a tudo aquilo que não concordamos, e expressamos o descontentamento e insatisfação que temos perante a sociedade e suas políticas, e religiões que nos são impostas a força há mais de 500 anos. É importante lembrar que o heavy metal (e no nosso caso, o death metal) é mais do que música para simples entretenimento. Estamos gritando e indo de encontro a coisas que nos sufocam o tempo inteiro. Transformamos nosso ódio, a tragédia e a decadência em arte e refletimos como um espelho o que vemos. Não queremos que essa expressão também seja alvo da massificação das ideias, mas sim que sirva sempre como exemplo de resistência e não-conformismo”, conclui o músico.

Headhunter D.C., Escarnium e Graveren / Sábado, 20 Horas /  Dubliner’s Irish Pub / R$ 20 / www.facebook.com/escarnium



NUETAS

Soft Porn e Bilic

Soft Porn e Bilic fazem a night   Quanto Vale o Show? hoje. Vale lembrar que o show da Soft é para concorrer no Prêmio Caymmi de Música, então os meninos vão subir com sangue nos zóio. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto puder.

Pali e Skanibais

Separe aquele modelito two tone (preto & branco) para o Baile Do Ska, com shows de Pali e Skanibais. Sexta-feira na Commons. 22 horas, R$ 15 (www.commons.com.br/listaamiga) ou R$ 20 na porta.

Modus, Jato, Social

A banda gótica industrial Modus Operandi segue sua temporada comemorativa de 20 anos convidando Autópsia Social e Jato Invisível. Sábado, no Buk Porão (Pelourinho),  20 horas, R$ 10.

Nenhum comentário: