quinta-feira, fevereiro 09, 2017

HISTÓRIAS EM SOM, HISTÓRIAS EM LETRA

Fundador do punk no Brasil, Clemente Nascimento (Inocentes) lança primeiro álbum solo e um belo livro de memórias com Marcelo Rubens Paiva

Clemente & A Fantástica Banda Sem Nome, com Joe Gomes. Ft Tinho Sousa
Filho de um baiano de Cruz das Almas, Clemente Tadeu Nascimento é figura fundadora do movimento punk brasileiro.

Após mais de três décadas à frente da banda Inocentes, saiu no final do ano passado com seu primeiro disco solo e um livro, este em parceria com Marcelo Rubens Paiva.

“Agora só falta o filme”, diz ele ao telefone, encaixando na sequência sua famosa risada meio esganiçada.

Autor do histórico manifesto do punk brasileiro – “Vamos pintar de negro a Asa Branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer” – Clemente inaugura uma nova fase na vida e na carreira com  Antes Que Seja Tarde (o disco) e Meninos em Fúria (o livro).

No disco, lançado via selo Hearts Bleed Blue, ele toca acompanhado da Fantástica Banda Sem Nome, trio formado por  Joe Gomes (baixo), Johnny Monster (guitarra) e Rodrigo Cerqueira (bateria).

O baixista, anteriormente conhecido por Joe Tromondo, é figura histórica do rock baiano: é ex-baixista dos The Dead Billies, Retrofoguetes e Pitty. Clemente diz que é fã de Joe desde o tempo dos Billies.

"Conheço Joe desde o tempo dos Dead Billies em um Abril Pro Rock em Recife. Ele veio me entregar um CD da banda. Sou fã deles, fiz questão de leva-los para tocar no (extinto programa da TV Cultura) Musikaos (apresentado por Gastão Moreira, tinha Clemente como produtor). Gastamos uma grana para traze-los à São Paulo", lembra.

“Mas é isso, formei a banda com os caras que gosto, que tem o tipo de som que me agrada. Cada um complementa a banda de um modo. Joe é um maestro. Toda hora tá dando palpite: ‘vamos mudar um arranjo aqui’ e tal. Ele  apita em tudo e é e divertido demais”, conta.

Marcelo Paiva, sua "cadeira chique" e Clemente. Foto Julia Moraes
Ele diz que a estreia solo foi motivada pela busca de fazer algo diferente do que fez ao longo de décadas com sua antiga banda.

“Foi justamente esses 30 e poucos anos de Inocentes que me motivou, né? Você acaba querendo fazer alguma coisa diferente que a banda não permite. Ou até permite, já fizemos experiências, mas achei que não ficou legal. Desta vez, resolvi fazer fora da banda”, afirma.

Rock brasileiro, mas sem batucada ou fazer referências ao Tropicalismo para soar descolado, Antes Que Seja Tarde guarda como principal semelhança ao Meninos em Fúria, um certo um caráter intimista, um compromisso apenas consigo mesmo.

“A gente não queria ser nada nesse sentido, sabe? Tô cansado dessa coisa de ficar respondendo ‘o que é punk?’ de novo. Não representamos nada além de nós mesmos”, diz o homem que representou o punk.

O cadeirante doidão

Clemente no movimento punk do início dos anos 80, foto Rui Mendes
Já o livro Meninos em Fúria, sub-intitulado E o som que mudou a música para sempre, é um livro de memórias da dupla que o assina.

O texto de Marcelo, o célebre autor de Feliz Ano Velho, claro, predomina, o que é até natural.

Marcelo foi testemunha ocular da ascenção do movimento punk paulista no final dos anos 1970, início dos 80.

No livro, ele costura, com habilidade, sua própria biografia com a de Clemente e a contextualização política, social e artística daqueles anos agitados.

“A gente adorava ver o Marcelo no meio da bagunça dos shows punks. Era o cadeirante doidão, todo mundo queria empurrar a cadeira dele. Hoje ela é chique, mas na época, não, sempre tinha alguém pra empurrar. E todo mundo ficava doidão, se divertia, ninguém sabia que ele tinha escrito um livro”, lembra Clemente.

“Mas faz tempo que sentia isso, essa necessidade de contar minha história. O Ratos de Porão (banda de João Gordo) e o Inocentes começaram em 1981, mas o Inocentes já era uma banda veteranos. Eu comecei em 1978, com Restos de Nada, depois Condutores de Cadáver. É uma história que estava meio no vácuo, que precisava ser contada”, diz.

Em 1986, o Inocentes fez o impensável para uma banda punk: assinou  com uma multinacional e lançou seu primeiro disco, Pânico em SP.

“E depois teve esse lance de ter ido para a Warner, o que fez de mim ‘traidor do movimento’. Mas o movimento era uma bosta, os caras só queriam saber de brigar, e a gente, de tocar”, ri Clemente.

Curiosamente, o livro de Clemente e Marcelo saiu quase ao mesmo tempo que Viva La Vida Tosca (DarkSide Books), as memórias de João Gordo, em parceria com o jornalista André Barcinski.

Em entrevistas, o Gordo jura que teve a ideia primeiro e que a contou para Clemente durante seu programa Panelaço (You Tube).

“E foi mesmo! É que  o Marcelo escreve muito rápido!”, admite Clemente, às gargalhadas.

“Mas deixa eu te contar uma coisa: há vários anos, no site Showlivre (onde  trabalha), eu tinha um programa, Pé na Porta. Eu ia na casa dos artistas bater papo. Um dos primeiros foi o Gordo. Logo depois ele criou um programa igual na MTV, Gordo Visita”.

Agora tá tudo certo.

Clemente & A Fantástica Banda Sem Nome / Antes Que Seja Tarde / Hearts Bleed Blue Records / R$ 29,80 / www.hbbstore.com

Meninos Em Fúria / Marcelo Rubens Paiva e Clemente Tadeu Nascimento / Alfaguara - Cia. das Letras/ 224 páginas/ R$ 39,80

3 comentários:

Bruno disse...

Chicão, dia 17 tem Vinil 69 (ultimo show) e Lo Han, no Irish. Coisa fina e a preço de banana (10 reais).
Vou tocar com a Vinil, como convidado. Pinta lá e se puder, da uma força!
abraços

Bruno Carvalho

Rodrigo Sputter disse...

ninguém me falou dessa da vinil...último show??
q bosta...os caras deveriam era voltar porra!!
dudare tá sem banda, vc tb...glauco só com a vendo...pardal sem banda tb...acho errado!!
e peu tá no teclado??

Rodrigo Sputter disse...

https://pensamentosmulheristas.wordpress.com/2017/02/08/o-mito-da-brasilidade/

pancadinha na cara da semana...devia fazer uma entrevista com ela...