sexta-feira, setembro 30, 2016

O LAR DAS IDEIAS RECICLADAS

Em O Lar das Crianças Peculiares, Tim Burton recicla X-Men na estética gótica fofa que fez sua fama

Os Fabulosos X-Men. Ops, não, espera! São as... crianças peculiares!
Baseado em uma série de livros de sucesso, o novo filme do Tim Burton não deve decepcionar os fãs mais fervorosos do seu estilo mezzo sombrio, mezzo fofo.

Ainda assim, ao fim da sessão de O Lar das Crianças Peculiares, espectadores mais exigentes certamente terão dificuldade em evitar uma certa sensação de mais do mesmo, de que ficou faltando algo, um esforço a mais do diretor para diferir a adaptação dos seus filmes em geral.

Apesar de cumprir sua proposta de entreter o espectador por duas horas, a impressão é que Tim Burton viu no livro O lar da Srta. Peregrine para crianças peculiares (Intrínseca), de Ransom Riggs, uma oportunidade para dirigir no piloto automático, sem sair de sua zona de conforto povoada por crianças esquisitas em roupas de época e bichos-papões em cenários oníricos.

Oi! Como está a temperatura aí em cima?
A trama gira em torno de Jake (Asa Butterfield), um rapaz de 16 anos da Flórida, que perde o avô, Abe, (Terence Stamp) em circunstâncias estranhas.

Jake então resolve viajar com seu pai (Chris O'Dowd) até o orfanato em que Abe foi criado, em uma isolada ilha no País de Gales, para descobrir mais sobre seu passado – e também se as histórias que seu avô contava, sobre as crianças “especiais” que lá viviam, eram reais.

Na ilha, Jake e o pai se deparam apenas com as ruínas do que restou do orfanato após um bombardeio nazista, em 1943. Que puxa... Mas espere! Tem coisa aí!

Após algum truque de roteiro, Jake consegue voltar no tempo e “acessar” o orfanato.

Lá estão a diretora do lugar, a Senhorita Peregrine (Eva Green, magnética como sempre) e as tais crianças peculiares.

Jake, você que chegou por último vai buscar a pipoca.
Há a lourinha Emma, que usa calçados de chumbo para não sair flutuando por aí. Enoch, que é capaz de dar vida a bonecos sinistros. Fiona, a garotinha meiga com domínio sobre o reino vegetal. Millard, o garoto invisível. Olive, que está sempre de longas luvas negras. Sem elas, incendeia tudo o que toca. Bronwyn, uma menininha fofa e superforte. Hugh, a colmeia humana, sempre coberto de abelhas que vivem em seu corpo. Horace, o projetor de cinema humano, sempre vestido como um janotinha inglês, projeta seus sonhos e é o cinema privado do orfanato. Os Gêmeos são dois meninos mascarados, cobertos dos pés à cabeça. O que fazem? Deixa quieto.

Juntos, eles funcionam como uma versão timburtoniana para os X-Men: jovens outsiders, cada um com um superpoder próprio e inexplicado.

Agora só falta um  super-vilão, que afinal, é o que dá sentido à uma super-equipe.

Salta um Samuel L. Jackson no capricho, como Barron, líder de uma raça de monstrengos conhecidos como Etéreos, os quais se alimentam dos globos oculares de “peculiares”.

Jake, claro, se junta à Senhorita Peregrine e às crianças para combater Barron e seus Etéreos em meio à cenas visualmente espetaculares, nas quais Tim Burton se entrega com paixão à sua habitual orgia de computação gráfica.

Se esse resumo deu uma sensação de déjà-vu no leitor, é por que se trata disso mesmo.

Já vimos (ou lemos) esse tipo de história um zilhão de vezes. Isso faz de  O Lar das Crianças Peculiares um filme ruim? Não necessariamente.

Miss Peregrine, na pele da gloriosa Eva Green: ela sempre acerta no alvo
A produção é caprichada, os atores são ótimos e o filme entretém. Mas não passa disso.

Tim Burton dirige sem inspiração, não há grandes surpresas no filme – nem no nível do roteiro, nem no da linguagem cinematográfica.

O Lar das Crianças Peculiares (Miss Peregrines Home For Peculiar Children) / Dir.: Tim Burton / Com Eva Green, Asa Butterfield, Samuel L. Jackson,  Allison Janney, Ella Purnell, Judi Dench, Terence Stamp / UCI ORIENT Shopping Barra, UCI ORIENT Shopping da Bahia, UCI ORIENT Shopping Paralela, Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Cinesercla Cajazeiras, Espaço Itaú de Cinema - Glauber Rocha, Orient Shopping Center Lapa / 12 anos

Um comentário:

Marcelo disse...

Tão fraco quanto esse filme é essa crítica pueril.