Nunca duvide daquele cara cheio de ideias exóticas, que você acha meio maluco. Para o bem ou para o mal, esses são os mais determinados a realizar os seus projetos, por mais inexequíveis que, a princípio, eles possam parecer.
Anunnaki, ópera-rock em desenho animado produzida aqui na Bahia, que estreia hoje, é um exemplo bem claro disto.
Peraí, vamos começar de novo, que é muita informação.
Ópera-rock: confere.
Em animação: OK.
Produzida na Bahia: O quê? Como assim?
“Tem uma frase famosa que define bem situações assim”, admite Fábio Shiva, idealizador, roteirista, compositor e diretor do filme, tudo junto com seu irmão, Fabrício Barreto.
“’Não sabendo que era impossível, foi lá e fez’. A verdade é que a gente não tinha ideia do tamanho da coisa. Foi uma loucura, mesmo”, acrescenta.
Fábio e Fabrício são a linha de frente da banda de rock local Mensageiros do Vento, que responde pela trilha sonora do filme.
“Desde que a banda começou, a gente tinha uma motivação, que é de passar uma mensagem. O mome da banda não é a toa”, diz.
“A música está em primeiro plano, mas sempre com a responsabilidade do que ela transmite. A gente acredita que a música tem o poder são só de espelhar, mas também de gerar a realidade que vivemos”, afirma Fábio.
Fascinados tanto pelo formato da ópera-rock, quanto pela teoria dos deuses astronautas, popularizada pelo escritor suíço Erich von Däniken nos anos 1970, os irmãos resolveram unir as duas coisas em um filme animado, aproveitando os talentos de Fabrício com programas de animação, como Toon Boom e Anime Studio.
“Também usei Photoshop para tratar as imagens e Adobe Premiere para editar”, conta Fabrício.
Aprovados no Edital de Música do Fundo de Cultura (Secult-BA), os irmãos dispuseram de R$ 75 mil para produzir o projeto. Obviamente, não foi o bastante.
“Arrecadamos mais R$ 6 mil via crowdfunding, além de alguns equipamentos que recebemos de empresas apoiadoras. O processo todo levou quatro anos”, diz.
“Fizemos o roteiro e compomos a música juntos. A animação ficou mais por minha conta, já que eu vinha estudando há mais tempo. Fábio cuidou da parte do edital e da burocracia ”, diz.
"E a gente é muito fã do formato ópera-rock desde moleque. Jesus Cristo Superstar e Tommy são nossas maiores influências nortearam totalmente nosso trabalho em Anunnaki. O modelo da parte musical foi Tommy, o disco do The Who, em que Roger Daltrey e Pete Townshend cantam todos os personagens. Em Anunnaki, eu canto todos os personagens, com exceção de uma música que tem uma cantora lírica fazendo umas vocalizações, na cena da aparição do primeiro homem.. Mas como o resto dos personagens são masculinos, fui eu mesmo que cantei", relata Fabrício.
"Sim, foi um trabalho bem complexo. A gente ia compondo a música e fazendo um story board ao mesmo tempo, como uma prévia do que ia ser visto na tela. A fala de um personagem tem de estar aliada a ação, tem que ter o tempo da música. Foi complexo compor essas músicas, por que tinha que pensar em tudo ao mesmo tempo e criar uma música coerente", explica.
Fabrício Barreto e Fábio Shiva. Foto Fabíola Campos |
“Ele ficou sem voz ficou durante uns seis meses. Hoje damos risada, agradecendo e louvando a deus, mas foi pedreira. Ele se tratou com fonoaudióloga sem parar a animação, por que o relógio tava correndo”, conta Fábio.
O resultado
Para trabalhar nas minas, eles resolvem criar uma raça à sua semelhança, misturando seu DNA à dos macacos primitivos que já habitavam a Terra.
Nasce, assim a raça humana.
“A gente partiu dos estudos do escritor Zecharia Sitchin (1920-2010), um linguista especialista nos sumérios, que foram a primeira civilização humana”, conta Fabrício.
Sitchin teria traduzido o conteúdo das famosas tabuletas de argila sumérias, encontradas em escavações arqueológicas.
“Ele traduziu as tabuletas e deu essa conotação de que os deuses da Suméria seriam esses alienígenas que criaram a humanidade. No filme, nós não criamos nada em cima disso. Adaptamos O Livro Perdido de Enki - Memórias e Profecias de Um Deus Extraterrestre (Madras)”, conta.
"Para mim, Anunnaki é uma história extremamente rock n roll na sua essência, ela dá uma sacudida na cabeça das pessoas, até por que mexe com a história da humanidade, tocando em alguns tabus: o primeiro são raças alienígenas, que muita gente acha que é coisa de maluco", afirma Fabrício.
"O segundo tabu é que as historias da Suméria são iguais às do Velho Testamento. Só que a Suméria veio milênios antes da Bíblia. O primeiro cara que percebeu isso, dizem que ficou louco quando percebeu que era a história da arca de Noé, só que muitos séculos antes da Bíblia ser escrita. Isso tem um impacto cultural tremendo, por que a Bíblia é um dos pilares da civilização ocidental", continua.
"O primeiro tradutor das tabuletas sumérias foi (o arqueólogo inglês) George Smith. Ele descobriu uma narrativa muito idêntica a do dilúvio, só que ocorrida 2 mil anos antes da que é narrada na Torá ('bíblia' judaica, composta dos cinco primeiros livros do Velho Testamento). E no lugar de Jeová (Deus), tem os anunnaki. De resto, é igualzinho, igualzinho. Resultado: o cara ficou louco", completa Fábio.
"Depois de um tempo no esquecimento, Sitchin retomou essa história e interpretou Nibiru como um planeta, até por que os sumérios tinham conhecimento de astronomia detalhado, eles descreviam os planetas do sistema solar de forma exata, muitos séculos antes da invenção da luneta. Sitchin descreve que (os anunnaki) vinham em busca do ouro pra pulverizar na atmosfera deles. Aqui na Terra, eles encontram na porção de terra em forma de coração: a África. Aí, dia desses, um aviador descobriu lá na África do Sul umas ruínas com vestígios de minas, datando de 150 mil anos de idade. O que é muito estranho, por que, supostamente, nós só descemos da arvore há uns 10 mil anos. Cara, essa história é um poço sem fundo, e nós somos muito apaixonamos pelo tema", declara Fábio.
Com o filme pronto e exibido no cinema, a dupla o disponibilizará no You Tube no dia 26.
"Pretendemos inscrever o filme em festivais e exibições, mas não temos tanta pretensão de correr salas de cinema. Vamos disponibilizar na internet até o fim do mês, o que está previsto em edital e também divulgar livremente, para as pessoas conhecerem. Mas o que pintar de exibição em sala de cinema será bem-vindo, claro", afirma Fabrício.
“No ano que vem, vamos tocar a ópera ao vivo, com um telão projetando o filme. Contamos com Júlio Caldas na segunda guitarra e Thiago Andrade na bateria. Vamos começar a ensaiar esse show que vai ser pauleira, 90 minutos de som direto”, avisa Fábio.
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