Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Lançamento: Antologia Rabiscos traz desenhos de sete artistas baianos atuais
Arte de Ana Verana
Entre as categorias das artes visuais, o desenho parece estar ocupando um lugar de destaque na cena baiana contemporânea. Em sua segunda edição, a Antologia Rabiscos vem corroborar esta afirmação.
Com eventos de lançamento em Cachoeira (no dia 15 último), Feira de Santana (no dia 24) e Salvador (nesta sexta-feira), a publicação viabilizada com recursos do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA) traz os trabalhos dos artistas baianos Ana Verana, Clara Domingas, Nila Carneiro, João Oliveira, Maristela Ribeiro, Juliana Moraes e Naara Nascimento.
Cada artista tem direito a oito páginas para mostrar sua arte na boa edição em papel pólen que ainda conta com artigo do premiado artista e professor Zé de Rocha, que contextualiza o lugar do desenho na contemporaneidade.
Patricia Martins, uma das idealizadoras da iniciativa, conta como surgiu a Antologia: “O projeto surgiu dentro do Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira, em Feira de Santana, onde livretos de desenho e poesia eram confeccionados artesanalmente e vendidos a preços populares com o objetivo de divulgar o trabalho de novos artistas”, relata.
“Pensando nisso, eu, Marcio Junqueira e Marcelo Lima tivemos a ideia de ampliar essa produção lançando uma revista onde atuamos, como editores e produtores”, conta.
Arte de Nila Carneiro.
Feira floresce
Com predominância de artistas mulheres (dos sete artistas apresentados, apenas João Oliveira é homem), a edição busca mesmo dar visibilidade à uma estética mais feminina, segundo a organizadora.
“Temos estéticas e temas bastante distintos, mas que dialogam entre si. As questões levantadas pelos desenhos dizem sobre corpo, feminino, comunidade, memória, afetos, história, sonhos, poder, subjetivação, representação / ficção, entre outras coisas. Importante ressaltar que nessa edição quisemos dar visibilidade as artistas mulheres”, diz.
Além da temática feminina, outro critério foi destacar artistas nascidos ou residentes no interior baiano, com destaque para Feira de Santana, parece experimentado um renascer artístico recente: “A cena artística feirense tem crescido bastante nos últimos cinco anos, acredito”, afirma.
“Movimentos de ocupação de espaço vem acontecendo, como exemplo do Beco da Energia, por grafiteiros que revitalizaram o local e organizam eventos. Um outro exemplo é o coletivo Feira Noise, organizador do festival anual que além dos shows, traz exposições, oficinas e movimentos de ocupação”, relata Patrícia.
Com diversidade de temas e técnicas, a Antologia Rabiscos tem distribuição gratuita e ainda realiza oficinas.
Lançamento Antologia Rabiscos volume 2 / sexta-feira, 19 horas / Lalá Multiespaço (Rio Vermelho) Oficina de monotipia ministrada por João Oliveira / Dia 05 (quinta-feira), das 14h às 17h / MAM / Inscrições: www.antologiarabiscos.com.br Antologia Rabiscos / Vários autores / Independente - Funceb/ 80 páginas/ Distribuição gratuita / www.antologiarabiscos.com.br
Na noite do dia 31, um portal interdimensional se abrirá no Pelourinho para despejar uma horda de seres das trevas: zumbis, vampiros, fantasmas, bruxas, monstros, fadas, duendes, sacis, mula sem-cabeça e músicos de rock invadirão o Largo Pedro Arcanjo para mais uma edição da festa Noite das Bruxas, comandada pela banda local Desrroche.
A Desrroche é aquela banda incrível de rock industrial (linha Rammstein) que faz shows super-produzidos e performáticos, indicada em três categorias do Troféu Caymmi.
Além deles, a night também contará com a banda gótica eletrônica Modus Operandi, dois DJs (Kelvin e Ballada), um tributo a Michael Jackson (Thrill The World) e desfile de cosplay. Tá bom, né?
Tudo tem que ter conceito
Como no Halloween de 2014 falamos aqui da Desrroche, este ano vamos ver como anda a Modus Operandi, que não dá as caras na coluna há anos.
Na ativa há uns 15 anos, a banda formada por Davi Vertigo Giassi (voz e sintetizadores), Henrique Letárgico (baixo), Eduardo Deus (bateria), e Marcos Sampaio (furadeira / percussão metálica) costumava andar à sombra, mas agora está mais a fim de se integrar ao cenário roqueiro local.
“Queremos alcançar outros públicos”, afirma Davi.
“Não queremos ficar em gueto. Tem muita coisa acontecendo e não dá pra ficar no umbigo. Sua banda não deixa de ter seu estilo tocando para outros públicos. Só temos a ganhar fazendo isso”, acrescenta.
Esse show na Noite das Bruxas é um primeiro passo: “Aproveitando o mote da festa, vamos fazer uma performance também, que é algo não costumamos fazer, mas caímos de cabeça nessa ideia. Precisamos sair da zona de conforto”, observa o músico.
No show, eles mostrarão músicas que estarão no próximo projeto da MO: “Elas sairão em uma série de três EPs. Sabe como é, tudo nosso tem que ter conceito”, ri.
“Cada EP tem um tema: vício, violência e virtude. O primeiro sai até o fim do ano. Os outros saem ano que vem. Depois vamos juntá-los em uma caixinha”, conclui Davi.
Noite das Bruxas Pelourinho 2015 / Com Desrroche, Modus Operandi, DJ Kelvin, DJ Ballada e Thrill The World Salvador / Sábado, 19 horas / Largo Pedro Arcanjo / Gratuito www.soundcloud.com/banda-modus-operandi
NUETAS
Michaela no Portela
A cantora norte-americana Michaela Harrison é a atração musical da Quintas Artesanais desta semana. No cardápio, jazz, blues, R & B, soul, samba, MPB e música africana. No Portela Café, quinta-feira, 21 horas, R$ 20.
HC vegan na Antuak
A banda de hardcore vegan straight edge Time and Distance (SP/SC) se apresenta em Salvador com Derrube o Muro e Canelada. Rola bate-papo sobre paternagem e mini-bazar com produtos independentes. Casa Antuak (2 de Julho), sexta, 17 horas, R$ 10.
Mizeravões rasgam fantasia
Os Mizeravão quebram tudo na festa a fantasia do Dia das Bruxas no Dubliner’s. Sábado, 23 horas, R$ 10 (fantasiados) e R$ 20 (sem fantasia).
Simpatíssima e super profissional, a diva finlandesa do metal operístico Tarja Turunen distribuiu hits, sorrisos e beijos aos fãs na noite de ontem, no Barra Hall
Tarja lá na casa da porra, em mais uma foto péssima do blogueiro
A casa não chegou a lotar, mas um público significativo saiu de casa para prestigiar o evento, que começou com a banda local Veuliah cumprindo bem sua missão de esquentar a galera em um show muito aplaudido.
Após um intervalo que poderia sem mais breve, Tarja surgiu no palco, ao som característico da ópera rock O Fantasma da Ópera, tema que é um must em seus shows.
Foi o bastante para levar o povo ao delírio.
Muito à vontade e visivelmente feliz pelo encontro com um público diferente (e ávido), a cantora enfileirou hits da carreira solo e da ex-banda, Nightwish: Die Alive, I Walk Alone, Victim of Ritual, Until My Last Breath etc.
Acompanhada de banda competentíssima, a voz cristalina da soprano, soou perfeita no local. Entre uma música e outra, Tarja se disse feliz por estar ali e arrematou: "I love you", sendo respondida pelo urro do povo.
Com direito a duas trocas de roupa, Tarja surgiu de preto, depois veio mais a vontade com uma camisa vermelha de strass (ou algum material brilhante que o valha) e encerrou com um sobretudo com capuz para cantar Victim of Ritual, sempre acompanhada em coro pela galera.
Um belo show internacional que não decepcionou que foi lá conferir, como se pode notar pelos comentários na saída e também na página do evento no Facebook.
Diva do metal sinfônico, finlandesa Tarja Turunen faz show hoje no Barra Hall
Tarja e suas colours. Foto Eugenio Mazzinghi
Uma das cantoras mais famosas e queridas do mundo do heavy metal canta hoje em Salvador: a finlandesa Tarja Turunen traz a cidade o show da turnê Colours in the Road, baseado em seu último LP, Colours in the Dark (2013).
Tarja (pronuncia-se Tária) tornou-se famosa ao integrar a banda Nightwish, uma das mais importantes na linha do metal sinfônico.
Não por acaso: a moça (de 38 anos) é cantora soprano com alcance de 3,5 oitavas. Sua formação (incompleta) foi na Academia Sibelius, um grande centro europeu da música erudita.
Sua moral no país natal é tal que a ex-presidente (e xará) Tarja Halonen a chamou de “Voz da Finlândia”.
Sua saída do Nightwish, em 2005, rendeu matérias de capa nos tabloides escandinavos por meses a fio.
Longe do frio, Tarja cumpre turnê de dez datas pela América do Sul, com direito a shows em três cidades do Nordeste: Salvador, Recife e Fortaleza: “O público brasileiro é sempre muito acolhedor e aberto”, elogia, em breve entrevista por email.
“Para mim, é uma grande oportunidade me apresentar no Brasil, especialmente no Nordeste, que é uma região de grande riqueza natural e cultural”, afirma a diva.
Na Finlândia é assim
A diva sorri
Entre um álbum solo e outro, Tarja exercita os dotes líricos cantando ópera.
Recentemente, ela lançou o álbum Ave Maria – En Plein Air (2015), no qual interpreta diversas versões de cânticos dedicados à Virgem.
“O canto lírico implica em uma respiração correta, preparação e foco, para que tudo seja suave e flua bem”, ensina a cantora.
“Sou disciplinada e tenho ensaiado por anos a fio para evoluir cada vez mais, a fim de ter uma voz mais clara para o público. A música deve alegrar as pessoas e trazer felicidade tanto para quem canta, quanto para quem ouve”, acredita.
Oriunda de um país onde o heavy metal é extremamente popular, ela observa que, “Na Finlândia, há um enorme apoio da imprensa para o heavy metal e o público também aprecia demais o gênero. Esse ‘casamento’ é muito gratificante para nós, finlandeses. Não apenas o heavy metal, mas a música pop também faz grande sucesso em meu país”, conta.
Ciente de seu público fiel por aqui, ela já planeja voltar ano que vem: “Ainda estamos finalizando esta turnê, mas certamente teremos notícias para 2016 e talvez voltaremos ao Brasil para novos concertos”, conclui.
Tarja Turunen: Colours in the Road / Abertura: Veuliah / Hoje, 20 horas / Barra Hall / R$ 200 e R$ 100 (pista), R$ 360 e R$ 180 (camarote)
Concerto: Quarteto de Cordas Ensemble SP e clarinetista Luis Afonso Montanha se apresentam hoje
Ensemble SP e Luis Afonso Montanha (centro) Foto: Lost Art
Se hoje em dia tem música do mês passado que já esquecemos, antigamente não era assim, não. Obras de arte eram feitas para durar séculos.
Está na cidade o Quarteto de Cordas Ensemble SP, formado por Marcelo Jaffé (viola), Betina Stegmann (violino), Nelson Rios (violino) e Robert Suetholz (violoncelo) e o clarinetista Luis Afonso Montanha para não nos deixar mentir.
Hoje, no Teatro Acbeu, esse quinteto vai executar uma das mais belas e complexas peças do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897): o Quinteto para Clarinete e Cordas - Opus 115.
Escrita em 1891 (há 124 anos, portanto), a peça em quatro movimentos (Allegro, Adagio, Andantino e Con Moto) foi fruto da admiração do compositor pelo clarinetista contemporâneo Richard Mühlfeld (1856-1907).
Brahms inspira
Consta que o homem era tão “fera” no seu instrumento que fez Brahms desistir da aposentadoria a que tinha se retirado um ano antes (1890), para voltar a compor.
O resultado é a obra que será possível ouvir hoje.
“A gente faz uma versão totalmente baseada no clarinete, com pouco vibrato e em velocidade rápida”, conta a violinista Betina Stegmann.
“Até por que a escrita do Brahms é toda baseada no clarinete, tem uma coisa de tocar com muita agilidade e leveza, como se nós também estivéssemos tocando clarinete”, acrescenta.
Mas nem só de Brahms se faz este concerto. O quinteto também fará mais duas peças contemporâneas, escritas justamente para dialogar com a obra-prima alemã: Chuva e Depois, de Luca Raele, e Apenas um Momento Lírico, de Aylton Escobar.
“Logicamente, a peça (de Brahms) tem melodias que inspiraram tanto o Escobar, quanto o Luca. Eles pegam as notas e dão sua versão”, diz.
“A do Luca é uma peça extremamente livre, a ideia (parta os músicos) não é estar junto, mas em comunhão, cada um no seu ritmo. Ela nos deixa super à vontade, sem stress. É muito para boa para paulistano que vive estressado”, ri a simpática argentina.
Leveza
Menino Brahms....
Já a peça do Aylton Escobar parece algo mais ambiciosa, contando inclusive com a intervenção de sons pré-gravados em CD.
“A gente toca com uma base pré-gravada por nós mesmos, que define o tempo da música. A gente tem que entrar nesse tempo. Ela soa aleatória, mas é muito precisa como composição”, explica Betina.
No teatro, estará a venda o CD gravado pelo quinteto com as três obras do concerto, atividade que foi um desafio para a violinista: “Outros cem grupos já gravaram essa peça do Brahms, que é um romântico alemão pesado, sinfonista, muito encorpado. Mas esse quinteto em seis por oito tem mais leveza”, conclui.
Concerto: Quintetos para Clarinete e Cordas, com Luis Afonso Montanha e Quarteto de Cordas Ensemble SP / Hoje, 20 horas / Teatro ACBEU (Av. Sete de Setembro, 1883, Corredor da vitória) /R$ 20 e R$ 10 Bônus: Brahms' Clarinet Quintet in B minor Opus 115 - New Zealand String Quartet with James Campbell
Narrativa autobiográfica de equatoriana é rara HQ sul-americana a sair no Brasil
Salvo algumas obras de hermanos argentinos, como Mafalda (Quino), Macanudo (Liniers) e O Eternauta (Oesterheld), o Brasil quase não recebe HQs sul-americanas.
O lançamento Vírus Tropical, da equatoriana Power Paola, portanto, é algo a ser comemorado por fãs de quadrinhos.
Essencialmente autobiográfica, a HQ narra a infância e juventude da autora com sua família um tanto disfuncional, responsável tanto pelo humor, quanto pelos dramas familiares que permeiam a obra.
Seu pai, um ex-seminarista ligeiramente alheio ao resto do mundo, costumava ministrar missas clandestinas em casa aos domingos.
A mãe, sempre meio estressada, lia a sorte em um jogo de dominós velhos para as crédulas madames da sociedade quitenha.
Caçula, Paola ainda tinha duas irmãs mais velhas: Claudia e Patty, cada uma com suas singularidades.
Para completar, a casa ainda abrigava Chavela, a empregada doméstica sem limites, tratada como “da família”.
Gravidez ou gases?
Contada assim, Vírus Tropical poderia muito bem ser uma HQ brasileira.
De fato, as sociedades sul-americanas em geral guardam mesmo muitas semelhanças – e nesta obra, elas brotam das páginas a todo momento.
O próprio nascimento da autora, como ela o narra, é bem característico de países sul-americanos.
Filha temporã, sua existência no ventre da mãe durante a gravidez foi inicialmente diagnosticada pelo seu médico como um “vírus tropical”. Depois, “gases”.
Na adolescência, Paola e irmãs foram morar na Colômbia, em Cali, justamente na época em que lá havia um poderosíssimo cartel de traficantes.
Em meio a festinhas de embalo e tiroteios ocasionais, vemos Paola lutar para se impor como mulher e artista em uma cidade onde era vista como gringa e faziam pouco do seu sotaque.
Uma bela obra sobre superação, relações de família e sociedade.
Esses caras são punks: membros de bandas como Derrube o Muro, The Honkers e Barrunfo do Samba, Dudu (vocal), Paulo Sérgio (guitarra), Lucas Pellegrini (baixo) e Tripa 77 (bateria) acharam que estava pouco e formaram outra banda: Antiporcos.
O nome é uma referência / homenagem a uma banda punk lésbica / feminista de São Paulo, a Anticorpos.
Nesse momento, o quarteto se prepara para gravar um EP, com previsão de lançamento em janeiro, mas na internet já tem uma demo com três faixas: Insisto em Viver, Cheirando Pó na Tampa do Lixo no Banheiro do Bar e Enquanto Houver Injustiça Estaremos no Front.
Pelos títulos, já deu para perceber que os caras não estão nessa de brincadeirinha. A faixa mais longa, a última, tem exatamente um minuto e 28 segundos.
Nos fones de ouvido, o esporro é punk rock linha clássica ‘77, com alguns toques de hardcore. Ou seja, está tudo em casa.
“A gente se conhece já há algum tempo, do rock ou de rolê, mesmo”, diz Dudu, ou melhor, Eduardo Lima, advogado.
“Eu e Paulo trabalhamos juntos, somos advogados e temos uma relação fora da música bem forte. Decidimos que queríamos fazer uma banda de punk rock como gostamos de ouvir: estilo ‘77”, acrescenta.
“Essa demo com três faixas já é uma pró-produção para um EP maior, que vamos começar a gravar em novembro e devemos lançar em janeiro, no máximo”, conta Dudu.
Esquerda e shows
Com letras fortes e diretas, a banda bate pesado em questões sociais, com o direcionamento humanista que se espera do punk rock de estirpe: “Eu, particularmente, sou de esquerda sempre, independente do partido. Não voto em direita de jeito nenhum. Se não tiver ninguém que me agrade, eu anulo o voto mesmo”, afirma Dudu.
“Mas não sou da esquerda cega. Tem que ter autocrítica. Se fala muito em crise e a solução que nos é dada é mais imposto. Tá errado, independente de quem for”, diz.
Nas próximas semanas, a Antiporcos tem três shows à vista: “Dia 30 a gente toca na Casa Antuak (2 de Julho). No dia 20 de novembro, no Taverna, em um evento da brechó Discos com Tundra e Pastel de Miolos e em dezembro, tocamos no Festival Big Bands””, conclui Dudu.
A Scambo comemora 15 anos de banda com show acústico do álbum Flare (2013) na Sala Principal do Teatro Castro Alves. Quinta-feira, 21 horas. Ingressos que variam dos R$ 80 aos R$ 30.
HQ, cerveja e rock
Curtes um happy hour diferente? A comic shop Hell’s Kitchen (Travessa Bartholomeu de Gusmão, 104, Rio Vermelho) promove às sextas-feiras um warm-up (esquente) com DJ, cerveja e rango da Cantina do Vini. Nesta semana, quem discoteca é Bruno Aziz. Das 17h até as 23 horas, entrada grátis.
Tarja na city, sexta
A cantora finlandesa Tarja Turunen (ex-Nightwish) traz o show da turnê Colours à cidade. Veuliah faz abertura. Sexta-feira, no Barra Hall, 20 horas, R$ 100 (pista, a meia).
Iniciativa aproveita terreno fértil que tem feito Salvador centro de música erudita
Camará - Conjunto de Câmara da Ufba executará as peças concorrentes
Quem vive com a cabeça nas nuvens tóxicas expelidas pela indústria cultural local não percebe, mas Salvador está retomando seu lugar como importante centro de música erudita.
O I Prêmio de Música Contemporânea da Bahia, financiado pela SecultBA, através da Fundação de Cultura, é só mais um sinal dessa retomada.
Amanhã, a iniciativa dos músicos idealizadores do Prêmio, Natan Ourives e Patrick Andrews, realiza sua final no Salão Nobre da Reitoria da Ufba (Canela).
Caberá ao Camará - Conjunto de Câmara da UFBA, sob a regência de Paulo Rios, a execução das obras que concorrem às premiações.
Serão distribuídos três prêmios em dinheiro nos valores de R$ 5 mil, R$ 3 mil e R$ 1.5 mil, além da estreia, gravação e distribuição digital gratuita via internet das 4 obras finalistas do concurso.
O público também poderá participar, votando na categoria voto popular, cuja premiação será a encomenda de uma obra a ser estreada pela Orquestra Sinfônica da Bahia.
Caixa de ferramentas
A única coisa que se pediu aos compositores concorrentes era que as obras estabelecessem um diálogo com a axé music, como homenagem aos 30 anos do gênero.
“Não esperamos que as composições sejam um axé”, esclarece Natan Ourives.
“É mais uma forma de homenagem, um norte para a composição, respeitados esses limites da instrumentação do Camará, que conta com cantora soprano, bandolim, violão, clarineta, flauta, percussão e violoncelo”, acrescenta.
Ainda assim, como o tema é uma das mais populares formas da música baiana, os resultados podem ser imprevisíveis. “O compositor erudito tem uma caixa de ferramentas lotada de possibilidades”, acredita Natan.
“Então pode ser que alguns tenham utilizado de forma mais clara o tema do axé. É a surpresa da música contemporânea. Você pode esperar de tudo”, observa.
Cenário movimentado
Natan Ourives e Patrick Andrews, idealizadores do Prêmio
Natan conta que o processo do concurso foi em duas etapas: “Na primeira etapa, selecionamos nove compositores.
Desses, quatro são os finalistas do concurso que concorrem ao prêmio em dinheiro e ao voto popular”, explica.
Aos 31 anos, premiado pelas suas composições no Brasil e fora dele, Natan exalta o bom nível geral dos concorrentes: “Achei que a resposta foi muito boa, algumas peças são bem criativas”, afirma.
“Mas a intenção era mesmo abrir o diálogo com ao publico e a temática da axé music ajuda nisso. O ijexá, o samba reggae dialogam imediatamente com o publico, mas a música erudita contemporânea ainda soa estranha aos ouvidos do grande publico”, reconhece.
Mesmo assim, a movimentação no cenário da música de concerto tem sido muito intensa nos últimos anos.
Na semana passada, dois compositores baianos, Paulo Costa Lima e Alexandre Espinheira, abrilhantaram a abertura da XXI Bienal de Música Brasileira Contemporânea com suas composições.
“Temos uma escola de composição muito forte. Paulo Costa Lima e Alexandre Espinheira foram destacados pela Bienal. O MAB (Música de Agora na Bahia) também tem movimentado muito, com ações em teatros e escolas e chamadas para compositores daqui e do mundo. A Bahia talvez tenha hoje um dos cenários mais movimentados do Brasil”, afirma.
“E tem o Neojibá, uma das orquestras jovens que mais se destacam no Brasil e a Osba, que volta e meia faz concertos dedicados aos compositores ligados a orquestra. Espero que esse concurso se torne constante para aproveitar esse terreno fértil”, conclui.
I Prêmio de Música Contemporânea da Bahia / Noite de Premiação, com Camará - Conjunto de Câmara da UFBA / Amanhã, 18 horas / Salão Nobre da Reitoria da UFBA (Canela) / Entrada gratuita
Nei Bahia e Osvaldo Braminha Silveira Jr. recebem Sora Maia e Miguel Cordeiro para discutir o processo da música que começou no vinil e foi parar no MP3 e ficou, é, bem, "grátis".
Essa discussão tem como base, justamente, o livro Como a Música Ficou Grátis, de Stephen Witt.
Como de costume, aquela aula da gangue esclarecida.
Internet: Espontaneidade é tudo para os artistas que registram a nova música em audiovisual
Vandex interage com a galera do Bilic Roll e os espectadores
“Quem sabe faz ao vivo”, já dizia um ex-rotundo apresentador de TV.
Na internet, realizadores baianos como Glauco Neves, Vandex e Irmão Carlos levam o dito muito a sério nas séries de vídeos que eles vem registrando com performances live de músicos baianos.
Curiosamente, no caso desses três, todos são também músicos de rock que resolveram fazer algo para dar visibilidade à cena em que militam. Glauco é baterista de bandas como Vendo 147 e Vinil 69.
Vandex fundou a mítica Úteros em Fúria, passou pela Guizzzmo e segue solo. E Irmão Carlos lidera O Catado.
Mas na internet, Vandex realiza as sessions do Vandex TV há cinco anos, transmitidas ao vivo direto do seu Estúdio Em Transe, sempre às quartas-feiras, 20h30 – e depois disponibilizadas no You Tube.
Em cinco anos, deus e o mundo já passou por lá: de grandes nomes da música popular como Luiz Caldas, Tuzé de Abreu, Aderbal Duarte, Mou Brasil e Jorge Solovera (na série Jazz em Plutão) a bandas locais como Diamba, Maglore, Lo Han, Pastel de Miolos, Álvaro Assmar, Van der Vous, Pancreas e muitas outras.
Já Glauco Neves tem dois programas: o Lá Em Casa Sessions e Um Take Um Som, mais recente. Ambos são gravados, editados e depois disponibilizados.
No Lá Em Casa, os músicos se apresentam no estúdio de Glauco, o Attack. Já no Um Take, ele vai de encontro aos músicos, registrando performances mais intimistas e exibindo uma linguagem audiovisual mais apurada.
Pelas lentes de suas câmeras já passaram nomes como Cascadura, Dois Em Um, The Baggios (SE), Vivendo do Ócio, Russo Passapusso e outros.
O Lá Em Casa Sessions foi tão bem-sucedido que já fez a transição para a TV, via canal Music Box Brasil (TV paga). “E o Um Take Um Som vai seguir o mesmo caminho”, avisa Glauco.
E tem Irmão Carlos, ativista ferrenho da cena local, que agitou sua área (Boca do Rio) anos a fio com o evento dominical Faustão Falando Sozinho.
Na TV Caverna (mesmo molde do Lá em Casa de Glauco) ele filmou performances de Lily Braun, Kalu, The Honkers, Callangazoo, Neto Lobo etc.
Ninguém desafina mais?
Inventura no TV Caverna do Irmão Carlos
Apesar de terem algumas diferenças entre si (Vandex, por exemplo, transmite ao vivo), estas três iniciativas servem ao mesmo propósito: desaguam uma produção artística incessante que não se rende ao comercialismo transgênico da indústria do entretenimento.
Mais: ao seu modo, cada um deles resgata uma organicidade inerente ao fazer artístico / musical que se perdeu em meio a tanto artificialismo, plug ins, autotunes e caras plastificadas.
Ao seu modo, todos cultuam a mais humana das virtudes: o erro.
“(Na edição) Eu evito cortar os pequenos erros”, diz Glauco.
“Para mim, o erro faz parte. Aliás, o que é o erro? Quem disse que está errado a câmera tremer quando o operador se emociona? Eu faço isto aqui de forma independente, para registrar os artistas que admiro. E me emociono todas as vezes”, afirma o realizador.
Já no Vandex TV, por ser ao vivo, os erros permeiam ainda mais as transmissões – e ele adora: “Aqui a relação entre fã e artista é direta, sem censura, sem barreira, super espontânea. Então as pessoas erram, nego desafina. Em CD, ninguém mais desafina mais. Não existe mais a performance, que foi totalmente pasteurizada pela tecnologia”, reflete.
Essa paixão que move Glauco, Vandex e Irmão Carlos acaba contagiando quem se apresenta e quem assiste, gerando episódios interessantes e divertidos.
No Vandex TV, graças a interatividade via Twitter e Whatsapp, já teve de tudo, até fã dando nome para música inédita, ali na hora.
“Foi no dia da Maglore. Eles tocaram uma música que ainda não tinha nome e o público ficou tão contente que começou a fazer sugestões. E eles adotaram um nome que foi sugerido aqui”, conta.
Hoje eu vou pro mar
Dimazz, Karen e Indira gravam Um Take Um Som de Glauco. Ft do blogueiro
No início da semana passada, Glauco foi à casa do músico Diogo Azevedo, conhecido como Dimazz, para gravar mais uma performance.
“Adorei a proposta”, disse Diogo, um rapaz boa-praça, formado em Composição pela Escola de Música da Ufba. “Temos que aproveitar essas oportunidades, já que não há espaço em outros lugares”, diz.
Acompanhado da clarinetista Indira Dourado e da violinista Karen Silva, todos se posicionam na sala de estar do apartamento de Diogo.
Glauco chega sozinho, carregando um case enorme de equipamentos em uma mão e uma mochila nas costas. “O esquema aqui é guerrilha, viu, velho?”, brinca, falando sério.
Hiperativo, ele posiciona um gravador digital de áudio sobre um tripé, testa a câmera e posiciona um microfone de lapela em Diego em tempo recorde.
Daí, instrui os músicos a começarem a tocar. E desaparece corredor adentro.
Só depois de um minuto de som, Glauco surge, filmando a casa e quem aparece pelo caminho, incluindo a reportagem do Caderno 2+.
Filma objetos, faz uma panorâmica e depois vai se detendo em cada músico e nas partituras à sua frente. A música acaba, todos estão satisfeitos.
“Achei massa, foi na veia”, diz Karen.
“A cara dela é ótima”, diz Glauco, sobre Indira, que ri.
O nome da música é Hoje Eu Vou Pro Mar, breve no Um Take Um Som – e também no novo álbum do Dimazz.
Nos sites de Vandex, Irmão Carlos e Glauco estão arquivados todos os programas.
Vandex e Glauco estão à toda. Carlos se prepara para voltar ao ar.
“Oito episódios foram ao ar e seis deles estão prontos pra novembro. Iniciaremos 2016 com novo formato e estamos repensando possibilidades de financiamento”, diz.
Estreia: Guillermo Del Toro acerta a mão na fantasia lúgubre A Colina Escarlate
A espetacular mansão Allerdale Hall é a estrela do filme
Mestre do cinema fantástico contemporâneo, Guillermo del Toro retorna ao filme de época de tons góticos com A Colina Escarlate, após o futurismo sci fi alucinante de Círculo de Fogo (2013).
É um terreno familiar para o mexicano, que já havia realizado A Espinha do Diabo (2001) e O Labirinto do Fauno (2006) ambientados em épocas passadas.
E quem conhece a cinematografia de Del Toro sabe: para ele, ambiência é tudo.
E ele capricha em A Colina Escarlate: a mansão onde se desenrola a maior parte da trama é uma verdadeira obra-prima de design e direção de arte.
Construída do zero para o filme, a mansão Allerdale Hall é talvez a grande estrela da película, de aparência lúgubre e decadente, com direito a parte do teto desabada, escadarias rangendo, mariposas, folhas secas, gosma vermelha brotando do piso e – claro – almas penadas à espreita.
Na trama, acompanhamos a jovem escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) em sua mudança dos Estados Unidos para a Inglaterra, após casar-se com um certo Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) – o qual tem sempre ao seu lado a misteriosa Lady Lucille Sharpe (Jessica Chastain), sua irmã.
Nobre falido, Thomas está de olho na herança de Edith, a qual ele pretende investir em uma engenhoca que ele mesmo inventou, para extrair a argila vermelha que brota abundante do terreno de sua propriedade.
Mais fantasia que terror
Jessica Chastain (melhor atriz em cena) e Mia Wasikowska
Acostumada a ver fantasmas desde criança, quando sua mãe recém-falecida lhe apareceu, Edith, curiosamente, é incapaz de soltar um grito sequer quando criaturas assustadoras começam a surgir bem na sua frente, nos corredores escuros da casa.
Isso talvez quebre um pouco a expectativa de “filme de terror” para os espectadores hardcore do gênero.
Na verdade, A Colina Escarlate está muito mais para uma fantasia lúgubre com doses de horror do que para um filme de terror propriamente dito.
Isso, porém, não diminui em nada o interesse na película, que reafirma Del Toro como um dos diretores mais interessantes e de assinatura mais pessoal da indústria.
Com uma sequência final de perseguição na neve que tem suscitado comparações com O Iluminado, A Colina Escarlate transporta o espectador por quase duas horas para um mundo sombrio e belo, que sempre vale uma visita.
A Colina Escarlate (Crimson Peak, 2015) / Dir.: Guillermo del Toro / Com Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Tom Hiddleston / Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela/ 16 anos / 119 min.
Desde crianças, nos acostumamos a ver os motoqueiros feios, sujos e malvados dos Hell’sAngels como uma espécie de template (clichê) de malfeitor em filmes e até em desenhos (que coroa não lembra de Carangos & Motocas?).
Bem, na autobiografia Hell’s Angel: A vida e a época de Sonny Barger e do Hell’s Angels Motorcycle Club, do fundador Ralph Sonny Barger, entendemos o por que disso.
O motivo é que, de fato, o clube de motociclistas criado no final dos anos 1950, na Califórnia, era mesmo formado por uma gangue de desordeiros brigões casca-grossa.
Natural de Oakland, Sonny nasceu bem pobre, filho de um peão de obra que criou os filhos sozinho, depois de ser abandonado pela mulher.
Depois de falsificar a idade para se alistar no exército aos 16 anos, Sonny foi descoberto e expulso.
Entre um subemprego e outro, começou a se enturmar com os clubes locais de motociclistas, na sua maioria jovens pobres e / ou veteranos de guerra.
Em 1957, ele e alguns amigos já circulavam pelo norte da Califórnia pilotando motos Harley Davidson e ostentando os primeiros patches com o logo dos Hell’s Angels, nome que já havia sido utilizado por grupos de pilotos de caças, desde a 1ª Guerra Mundial - há inclusive um filme de guerra, dirigido por Howard Hawks, com este nome.
Sonny. Foto Michael Clay
Narrado em primeira pessoa por Sonny, o livro é dividido em capítulos organizados de forma mais ou menos cronológica, abordando as tretas com a polícia e a justiça, rixas com membros de outros clubes, os loucos anos 1960, o amor pelas motocicletas, customização, membros ilustres do clube, a relação com a Harley-Davidson, old ladies etc.
Fica claro no livro que o auge do clube foi mesmo nos anos 1960, quando os Angels estavam no centro dos movimentos contraculturais – ainda que, curiosamente, o grupo sempre tenha se colocado à direita no espectro político.
Ficou famosa a surra que eles deram nos hippies que protestavam contra a guerra do Vietnã em Berkeley.
”Membros do clube não engoliram a postura dos radicais antiguerra de classe média para cima de veteranos como nós”, escreve.
Outro capítulo essencial aborda o assassinato de um jovem negro durante um show dos Rolling Stones em Altamont, tragédia que atribui culpa total à banda.
“Toda aquela baboseira sobre Altamont ter sido o marco do fim de uma era não passa de lixo pseudo-intelectual”, dispara.
Hell’s Angel, o livro, pode não ser uma leitura muito edificante, mas pelo menos traz o registro histórico de quem de fato viveu a história.
Hell’s Angel: a vida e a época de Sonny Barger e do Hell’s Angels Motorcycle Club / Ralph Sonny Barger (com Keith e Kent Zimmerman) / Ideal / 288 p. / R$ 44,90
BÔNUS: trecho de Hell's Angels '69, filme apontado por Sonny Barger como o único que realmente captou o espírito do clube, até por que conta com o próprio Sonny e outros membros no elenco. Easy Rider? Esqueça: "É um filme sobre dois traficantes andando de moto. Não tem nada a ver com os Hell's Angels. E Peter Fonda era um babaca de marca maior", escreve Sonny.
Caos, destruição! São os Honkers em ação. Foto João Ieroque
Escondam suas filhas, corram para as colinas: a despirocada (e veterana) banda local The Honkers faz neste sábado, finalmente, seu segundo show este ano na cidade, comemorando 17 anos de formação. Os parceiros locais Os Jonsóns também se apresentam.
A ocasião deve ser prestigiada pelos apreciadores, já que, outrora uma das bandas mais fáceis de assistir nos inferninhos locais, os Honkers, liderados pelo vocalista, poeta e maluquete Rodrigo Sputter Chagas reduziu bem a presença na night nos últimos tempos – especialmente este ano.
Além das dificuldades inerentes às bandas underground locais (grana, estrutura, emprego, vida adulta etc), o que bateu mais pesado foi a perda do parceiro de produção e amigo Maicon Charles, encontrado afogado no mar do Rio Vermelho, em junho último.
A tragédia atrasou ainda mais a conclusão do novo álbum dos Honkers, em produção há nada menos que três anos – o que deve ser um recorde local.
“Olha, eu quero muito concluir esse disco. Ele já tá uns 95% pronto, com mixagem já paga e tudo, mas ainda não terminamos por várias razões”, diz Sputter.
“Nesse meio tempo, perdemos nosso amigo Maicon, que estava cuidando disso, cobrando as coisas de todo mundo. A perda dele foi um baque, mas eu, particularmente, queria fechar esse ciclo, até para honrar sua memória. Ele era o mais empolgado em botar esse disco pra frente”, conta.
Fãs ilustres
Responsáveis por shows verdadeiramente incendiários – até algum tempo atrás, era comum Sputter encerrar o show pelado – os Honkers angariaram, ao longos dos anos, o respeito sincero de muita gente no Brasil e fora dele.
Uma amostra simples desse apreço é esse próprio show, que a princípio era d’Os Jonsóns, com os Honkers de convidados.
“Eles nos chamaram pra tocar, aí quando souberam que a gente tava fazendo 17 anos, eles mesmos fizeram um cartaz nos colocando em destaque, chamando a atenção pra isso”, relata.
Lá fora, quem é fã declarado da banda são duas lendas vivas do underground mundial: Ralph Scala, vocal da clássica banda sessentista The Blues Magoos e Tim Kerr, veterano músico e artista visual texano.
“Ah, eu recebo emails de gente da Alemanha, da Indonésia, dos Estados Unidos... Eles escrevem elogiando, querendo comprar nossos CDs. Outro dia, tinha disco da gente à venda no (site) Mercado Livre por R$ 80. Aí eu entrei e comentei, ‘ó, na nossa mão, fazemos por R$ 15’”, ri Sputter.
“Os Honkers tem essa coisa meio louca, você vê nego comentando fora do Brasil ou de Salvador, caras que gostariam de vir lá de fora pra nos assistir. Mas somos uma banda do subúrbio (Cidade Baixa), que não tem a cara do que é feito hoje em dia, canta em inglês e nunca foi apadrinhada. Esses somos nós”, conclui.
The Honkers e Os Jonsóns / Sábado, 22 horas / Taverna Music Bar (Rio Vermelho) / R$ 10 ou R$ 15 (após 22h) www.facebook.com/thehonkers
NUETAS
Overturn no Quinto
As bandas Quinto dos Infernos e Overturn tocam o terror no Quanto Vale o Show?. Hoje, Dubliner’s, 20 horas, pague o quanto quiser, jovem.
FacomSom com Teenage Buzz
Teenage Buzz, Squadro e Banda O Mundo fazem a décima edição do FacomSom, evento organizado pela Produtora Júnior da Faculdade de Comunicação da Ufba. Sábado, 19 horas, Largo Tereza Batista, entrada gratuita.
Scott & Mullen
Fora do Camisa de Vênus, Eduardo Scott e Gustavo Müllen lançam seu Scott & Mullem Project em show no Dubliners, neste sábado. No repertório, Camisa, Gonorreia e clássicos do punk rock. A louquíssima HAO abre os trabalhos. 23 horas, R$ 20.
Tacun Lecy & Os Soldados de Ògún, foto de Kelly Fernanda
O pessoal do bairro de Cidade Nova nem imaginava com quem estava se metendo quando o fotógrafo, músico e agitador cultural Tacun Lecy se mudou para lá, em 2013.
“Logo vi que lá não tinha nenhuma opção de lazer ou evento cultural, fora ouvir arrocha e pagode. Só”, conta.
Cantor e guitarrista de uma banda chamada Tacun Lecy & Os Soldados de Ògún (forma iorubá para Ogum), o rapaz não se fez de rogado: armou palco e som na porta de casa e botou o bloco na rua.
Com repertório de canções autorais e releituras de Caetano Veloso, Bob Marley, Gerônimo, Jorge Benjor e outros, banda e evento logo foram abraçados pela comunidade.
Assim nasceu seu projeto Música na Comunidade, que neste sábado, comemora dois anos de edições mensais, com direito a feijoada, convidados e saudação a Ogum, em agradecimento ao sucesso.
“Serão 14 quilos de feijão. Primeiro, puxamos a panela do fogo para a sala. Oferecemos ao orixá, aí tem o toque do atabaque e uma reza. Daí servimos ao povo e tocamos o Xirê (cântico para Ogum). Só depois começamos o Baile do General”, descreve.
Mas peraí, que General é esse? “É por que Ogum é o guerreiro, o general das nossas batalhas. E nós somos os soldados de Ogum”, explica.
Galera da Cidade Nova curtindo o Música na Comunidade Ft Kelly Fernanda
Tradição cultural de família
Tacun Lecy carrega esse gosto por música e bons momentos entre amigos de berço.
“Quando era pequeno, meu pai tinha uma radiola e mais de trezentos discos. Tinha Cartola, Bob Marley, Pablo Milanés, Djavan, João Bosco etc. Aí todo sábado ele recebia amigos e parentes para ouvir os discos novos que ele comprava toda semana. Sempre tinha uma feijoada ou uma caranguejada. Cresci em meio a isso, ouvindo muita música e recebendo o pessoal”, relata.
Além disso, ainda tinha um bisavô que tocava sanfona: “Aos domingos ele ficava na porta de casa, tocando Gonzagão e Jackson do Pandeiro. Lembro bem dele cantando ‘a ema gemeu no tronco do juremar’ (O Canto da Ema, de Jackson). Era um caboclo de traços fortes, encostado no poste, mascando um charuto e solfejando a sanfona”, conta.
Honrando sua tradição familiar-cultural, Tacun estimula a cultura em seu pedaço de chão: “Além grafiteiros trabalhando ali na hora, o palco é aberto para quem quiser subir, cantar, declamar um poema, ler um trecho de livro”.
Música na comunidade: O Baile do General / Com Tacun Lecy & Os Soldados de Ògún e convidados / Sábado, às 12h (feiojoada) e 16 horas (baile) / Rua 24 de Junho, Cidade Nova (ao lado da Retirauto) / Gratuito
NUETAS
Mafia com Gaiatta
Miolos vão fritar: o rock avant garde do Kazenin Mafia e Laia Gaiatta fazem o Quanto vale o show? de hoje. Dubliner’s, 19 horas, pague quanto quiser.
Vandex, Joe e Roll
Joe & A Gerência, Vandex e Bilic Roll fazem show para levantar uma grana e ajudar a viabilizar a temporada 2015 / 2016 do programa on line VandexTV, transmitido ao vivo toda quarta-feira, 20h30, no www.vandex.tv. O show é nesta sexta-feira, 22 horas, no Dubliner’s, R$ 10.
De quem, de quem?
As bandas Gred Lock Locore, Remanescentes e Dr. Hank fazem o show A Culpa é Quem?. Sábado, Espaço Raul Delirius Seixas (R. Dionísio Martins s/n, Comércio), 14 horas. Entrada grátis, doideira idem.
Titãs no DVD Nheengatu ao Vivo, foto Silmara Ciuffa
Quem for jovem e se encontrar na plateia dos Titãs neste Rock Concha poderá ter um gostinho de como era assistir a um show do então octeto nos anos 1980, quando fúria, protesto e arte se confundiam no palco.
De volta à sua configuração mais punk rock desde o raivoso álbum Nheengatu (2014) – na verdade, desde a turnê comemorativa do Cabeça Dinossauro (1986) um ano antes – o agora quarteto traz a cidade o show do recém-lançado DVD Nheengatu ao Vivo.
“No show, a gente faz várias do Nheengatu e algumas mais antigas, justamente por termos regravado o Cabeça ao vivo (em 2103)”, conta o guitarrista Tony Bellotto.
“Mas o esqueleto é o show do DVD mesmo, mais algumas coisas que não tocávamos há muito tempo, como Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, Massacre, Polícia e Bichos Escrotos”, enumera.
No palco, a banda (Tony, Palo Miklos, Branco Mello e Sérgio Brito, mais o baterista Mário Fabre), surge mascarada de “palhaços do inferno”, tocando uma sequência matadora de faixas do último disco, recurso cênico aproveitado do clipe de Fardado.
“O próprio fato de termos esse registro em DVD desse show foi muito em função da força cênica, com o cenário (da Torre de Babel) e as máscaras, que causam um impacto que simbolizam bem o momento do Brasil”, afirma Tony.
“E tem uma brincadeira com a gente mesmo, de a banda se reinventar, se recriar. Abrindo o show mascarados, parece uma outra banda abrindo para os Titãs, então ficou bem interessante”, observa.
“E quando fizemos a tour do Cabeça, não esperávamos uma repercussão tão grande. Nos sentimos bem nesse papel, como uma banda mais pesada e virulenta. É o que fazemos melhor”, conclui.
ENTREVISTA: TONY BELLOTTO
Tony em foto de Caroline Bittencourt
O disco Nheengatu (2014) já refletia bem esse momento desagradável do Brasil, como o Cabeça Dinossauro refletia o Brasil de 1986. Como vocês traduziram isso em show? Como as máscaras se encaixam nesse jogo?
Tony Bellotto: A ideia das máscaras começou no clipe de Fardado (faixa de Nheengatu) e o diretor teve a ideia de fazer uma leitura mais óbvia mesmo, com referência ao movimento (dos protestos de rua) de 2013, com aquela maquiagem dos palhaços do inferno, bem assustadores. Gostamos muito, aí pensamos 'vamos usar no show'. Mas maquiado todo show não dá, né? Aí fizemos máscaras, mesmo, que tem todo um sentido. O próprio fato de termos esse registro em DVD desse show foi muito em função da força cênica, com o cenário e as máscaras, que causam um impacto que simbolizam bem o momento do Brasil. E tem uma brincadeira com a gente mesmo, de a banda se reinventar, se recriar. Abrimos o show mascarados, parece uma outra banda abrindo para os Titãs, então ficou bem interessante.
A retomada do Cabeça que vcs regravaram ao vivo teve a ver com esse novo momento?
TB: Acho que isso tema ver sim. Quando fizemos a tour comemorativa do Cabeça (2013), não esperávamos uma repercussao tão grande, a própria concepção do Cabeça, com os Titãs como uma banda mais pesada e virurlenta, nos sentimos bem nesse papel, é o que fazemos melhor. Então a tour do Cabeça foi a semente do Nheengatu, foi importante para reafirmarmos essa posição: um disco focado, em cima de uma ideia, pensado mesmo.
Como vai ser o show em Salvador?
TB: O show será um pouco maior do que o DVD. A gente faz várias do Nheengatu e algumas do repertório mais antigo, justamente por termos regravado o Cabeça ao vivo. No DVD do Nheengatu não tem nada do Cabeça, só nos extras, como um bônus. Mas no show aí faremos algumas do Cabeça, até por que é um show maior. Aliás, aí em Salvador, a gente sempre faz mais um show mais completo, no sentido de revelar nossa discografia. Mas o esqueleto é o show do DVD, mais algumas coisas que não tocávamos há muito tempo, como Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, Massacre, Polícia e Bichos Escrotos.
O hoje quartetoTitãs, foto Silmara Ciuffa
Como vê o rock brasileiro hoje em dia? Pergunto por que vejo vocês voltando a fazer um trabalho mais mais político, mais pesado mesmo, enquanto as novas gerações parecem meio anestesiadas, fazendo um rock romântico mais comercial ou "fofinho". O que falta para fazer cair a ficha da molecada?
TB: Olha, eu acho que até tem algumas bandas trabalhando nessa área, mas aparecem pouco ou quase não aparecem, por que o espaço para o rock na grande mídia tá muito reduzido por culpa das gravadoras e das rádios, que apostam muito só na música comercial, sem sobrar espaço para mais nada. Então o rock que aparece é o fofinho, o inofensivo, que até se confunde com o sertanejo. A pegada mais contestadora ficou para o rap. Acho que tá faltando alguma banda que consiga romper essa barreira e chamar a atenção da galera para o tipo de força e discurso que só o rock tem, que aconteceu nos anos 1990 e 1980. Hoje em dia, o panorama tá bem estático por causa dessa problemática de falta de espaço nas rádios e TVs, na grande mídia em geral. Mas o rock sempre tá rolando no subterrâneo, alguma banda aí fora vai romper isso. Tá todo mundo cansado disso tudo, vivemos num país violento, em um momento crítico de crise econômica e não vejo ninguém reclamando muito na música e nas artes em geral. Nossa geração, a dos anos 80, nasceu naquele momento de fim da ditadura e criaram esse ambiente (de protesto), então teve bandas como a gente, Legião Urbana, Paralamas. Então, agora, em temos de contexto social, eu diria que tá bem propício para acontecer de novo com bandas legais – e estamos esperando por isso. Fizemos esse disco até no sentido de mostrar para as gerações mais novas que rock é mais que canções de amor. A gente, com mais de 30 anos de carreira, quis fazer um novo trabalho relevante.
Os Titãs pensam em disco novo para 2016?
TB: Acabamos de lançar esse DVD e, justamente pelo sucesso do Nheengatu, vamos fazer uma turnê com shows por lugares que não chegamos ultimamente do Norte e Nordeste. O ano que vem não definimos ainda, mas pode ser que sim, que lancemos um disco novo.
Tá escrevendo mais algum livro?
TB: Sim, tô trabalhando, mas nada ainda que possa dizer que tá praticamente pronto com título e tudo. Mas é uma coisa que me faz muito bem, alternar esse trabalho na literatura com a música, é uma coisa que gosto muito de fazer e faço sempre. Espero que ano que vem já possa lançar um livro novo.
Quase todos os Titãs ou ex-Titãs tem carreira solo, acho que menos você, Branco Mello e Charles Gavin. Algum dia teremos um trabalho solo do Tony Belloto?
TB: Olha, eu confesso que não tenho muita vontade ou motivação para isso. Me realizo muito como guitarrista dos Titãs. E quando não estou com os Titãs, eu quero escrever. Então, não tenho essa vontade de fazer isso. Sou muito concentrado nos Titãs, me realizo muito bem com a banda.
Estreia: Matt Damon estrela Perdido em Marte, melhor filme de Ridley Scott em (pelo menos) 15 anos, como o astronauta cheio de truques que ama batatas e odeia disco music
"Ah, o deserto. Nenhum coxinha ou petralha a vista. OK, já me entediei"
Parece que, além de água, tem um ator de Hollywood no planeta vermelho. E Matt Damon faz o que pode para sobreviver ao se ver Perdido em Marte, novo filme do consagrado diretor Ridley Scott.
Baseado em um best-seller recente da ficção científica, o livro Perdido em Marte (Ed. Arqueiro), de Andy Weir, o filme chegou em boa hora para o realizador inglês, que precisava se recompor após uma sequência de fracassos cuja tampa foi Êxodo: Deuses e Reis (2014), releitura da saga bíblica de Moisés, proibido em vários países pela sua ambiguidade em relação às Escrituras Sagradas.
Com ótimas críticas na imprensa internacional (95% favoráveis no agregador Rotten Tomatoes), Perdido em Marte pode muito bem ser o melhor filme de Scott em muitos anos, desde o épico Gladiador (2000) – ou mesmo desde Thelma e Louise (1991), dependendo do gosto do freguês.
Mas porque, afinal, Perdido em Marte está agradando tanto?
Simples: apesar de se classificar no gênero ficção científica, o que costuma espantar os muitos avessos a naves espaciais e roupas de astronauta, o filme é tão leve, fluido e bem-humorado, que ganhou contornos de programa-família, aquele tipo de filme que, em breve, será reprisado muitas e muitas vezes na Sessão da Tarde – sem demérito algum por isso, diga-se de passagem.
Fezes, batatas, disco music
A capitã (de azul): "Preparar manobra Donna Summer, força total".
Na tela, acompanhamos o périplo do astronauta-botânico Mark Watney (Damon), que, após uma tempestade durante uma missão no planeta vermelho, é dado como morto pela tripulação de sua nave e abandonado.
Após acordar na poeira e retornar para a base da missão em solo marciano, Watney analisa suas chances e constata que só terá oxigênio, água e alimentos para no máximo um mês.
Cientista que é – e contando com os recursos encontrados na base – o astronauta consegue fabricar para si água e oxigênio, além de conseguir fazer germinar (com uma pequena ajuda das próprias fezes e as de seus companheiros) uma providencial plantação de batatas.
Enquanto Watney batalha para sobreviver, o filme também observa o que acontece tanto na Terra, no controle da missão na Nasa, quanto com seus companheiros na nave Hermes, que se encontra voltando à Terra.
Com habilidade magistral, Scott costura os três núcleos narrativos sem pressa, convergindo em certa altura os esforços de todos no resgate do astronauta.
Como cereja do bolo, Scott adiciona boas doses de humor no decorrer do filme, como a implicância do personagem de Damon com o gosto musical da colega Melissa Lewis (Jessica Chastain), que deixou na base uma vasta coleção de hits da disco music –, que ele detesta, mas se vê obrigado a ouvir, já que só dispõe daquilo, mesmo.
Contar mais seria considerado spoiler, mas basta dizer que, quem gostou de filmes de resgate espacial como Gravidade (2013) ou Apollo 13 (1995), vai se divertir muito com este aqui.
"Meio quilo de fezes mais duas horas de Bee Gees por dia deve ser o bastante"
O valor do esforço individual
Além de um entretenimento de primeira, pode-se sugerir que Perdido em Marte é também um filme com uma mensagem tipicamente norte-americana, aquela que valoriza e premia o esforço individual sem descanso frente às dificuldades, não importa quão complicadas elas pareçam.
Não deixa de ser uma boa ideia – especialmente em tempos de crise.
Se adianta alguma coisa no Brasil – aí já são “another five hundred”, como diria o Millôr...
Perdido em Marte (The Martian, 2015) / Dir.: Ridley Scott / Com Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Michael Peña, Jeff Daniels / Em cartaz no Cinemark, Cinépolis Bela Vista, Cinépolis Shopping Salvador Norte, Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, Orient Shopping Center Lapa, UCI Orient Shopping Barra, UCI Orient Shopping da Bahia, UCI Orient Shopping Paralela / Classificação: 12 anos