Banda “do momento” The Black Keys tem CD lançado no Brasil e fala com exclusividade
Matéria publicada no verspertino da Tankred Snows Avenue (também conhecido como jornal A Tarde), no dia 21 de fevereiro de 2012. Agradecimentos a Patrícia, da Warner Music Brasil.
O duo norte-americano The Black Keys, formado em 2001 por Dan Auerbach (vocais e guitarra) e Patrick Carney (bateria), é um corpo estranho no mainstream norte-americano.
Sem pinta de galãs e rock ‘n’ roll até a medula, a dupla de Akron, Ohio, explodiu nos Estados Unidos (e em boa parte do planeta) em 2010, graças ao mega hit Tighten Up e ao (genial) disco Brothers.
Agora, com o lançamento do sétimo LP, El Camino – o primeiro a sair no Brasil – finalmente, estão ficando mais conhecidos por aqui.
Não a toa, é um dos shows mais aguardados no Sudeste, o que deve acontecer no segundo semestre.
“Rumo à Lua”
Baseados numa cidade pequena, longe da indústria do hype, Dan e Patrick refinaram seu som ao longo de uma década.
O resultado é um blues rock primitivo e empolgante, mas com pegada urgente e atual, totalmente contemporânea, no qual é possível captar traços de garage rock, soul music, pop, punk e hard rock.
Desde Brothers, o sexto álbum, reafirmaram a parceria com o badalado produtor Danger Mouse, venderam 300 mil cópias em duas semanas e ganharam muitos prêmios, incluindo três Grammy.
Ainda em julho, antes do lançamento de El Camino (que saiu em dezembro), o apresentador norte-americano Stephen Colbert (do programa The Colbert Report) os saudou ao vivo dizendo que “no ano passado, vocês eram o barbudo (Auerbach) e o cara de óculos (Carney) que tocam rock'n'roll. Agora vocês são o The Black Keys! Três prêmios Grammy. Tudo o que vocês fazem agora é demais. É como se vocês estivessem numa espaçonave rumo à Lua”.
Agora, em abril próximo, o “barbudo” e o “cara de óculos” serão headliners da primeira noite do maior festival norte-americano, o Coachella, em pé de igualdade com Radiohead e Paul McCartney em anos anteriores. Nada mal.
ENTREVISTA: DAN AUERBACH
Pergunta: Hoje em dia, a maioria das bandas que alcançam o sucesso costuma se preocupar com o segundo disco. Mas vocês acabam de lançar o sétimo. (Risos) Foi um longo caminho até o reconhecimento, não?
Dan Auerbach: Cada ano tem sido melhor que o anterior. Apesar de que, antes mesmo de sermos realmente bem sucedidos, conseguíamos vender 15 mil ingressos em Nova York, por nós mesmos. Estávamos indo bem sozinhos, mas nos últimos dois anos tivemos uma grande exposição e ninguém estava esperando por isto.
P: El Camino é o terceiro disco produzido por Danger Mouse. Qual a diferença entre o Black Keys antes e depois dele?
DA: (Para e pensa). Hum... nada, na verdade. Digo, ainda somos nós que tomamos as decisões finais sobre tudo. Ele é só mais uma pessoa no estúdio em quem confiamos para fazer música. É também um bom amigo. Então é divertido trabalhar com ele.
P: Você tem concedido muitas entrevistas para a imprensa brasileira. Já imaginou algum dia que seria famoso até aqui no Brasil?
DA: Huh... nós somos famosos no Brasil?
P: Eu diria que estão a caminho.
DA: (Risos) Eu acho incrível! Aceito isso em qualquer dia! (Pausa). Yeah... eu tô de saco cheio de excursionar pela Alemanha no inverno, sabe? Prefiro ir ao Brasil!
P: Quanto o fato de vocês virem de uma cidade pequena (Akron, Ohio) e não de Los Angeles ou Nova York os influenciou?
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P: Na minha opinião, o Black Keys formatou o modelo perfeito de blues rock contemporâneo. É o blues rock para já. Como vocês chegaram nesse som?
DA: Foi meio que natural. Não foi forçado. Nós apenas fazemos música, ouvimos música, nos inspiramos em música. Nós apenas... meio que trombamos nesse som, sabe?
P: E que bandas e artistas inspiraram vocês?
DA: Para este disco novo?
P: De forma geral.
DA: São muitos para citar, não ouvimos só blues ou... (Interrompe). Eu ouço absolutamente de tudo. Então, vamos tocando todo tipo de gênero, todo tipo de diferentes estilos quando estamos fazendo um disco. Queremos nos inspirar. Estamos reinterpretando sons que ouvimos. Não importa se é eletrônico, country, hip hop... qualquer coisa, não importa. Só nos... alimentamos de diferentes tipos de música. Digo, esta é a chave. Você tem que ter a mente aberta em relação a música.
P: Você já teve a sensação, após finalizar um disco, tipo “é isso aí, fiz um álbum perfeito”? Que disco foi esse?
DA: (Pensa). Ah, yeah. Provavelmente, teria de ser o Brothers (2010). (Pausa). Me senti como se tivessemos realizado algo que tentávamos fazer há muito tempo. Sabe, nós fizemos aquele disco sozinhos. Brian (Joseph Burton, nome real do Danger Mouse) só trabalhou em uma faixa. E foi tudo, foi só a gente. Não sei, eu apenas me senti assim.
P: Só vocês e o Danger Mouse?
DA: Não, foi só eu e o Pat (Patrick Carney, baterista). Danger Mouse não trabalhou no Brothers. Ele só participou de uma faixa.
P: Tighten Up?
DA: Sim, o resto do disco foi só com Patrick e eu. Eu acho que... eu não sei, eu... os climas, os sons, as coisas que estávamos ouvindo, os sons que estavam na minha cabeça, é divertido poder capturá-los com a ajuda de um ótimo engenheiro de som, um ótimo profissional de mixagem. Tem sido bem divertido para mim.
P: Os vídeos que vocês produzem nos clipes também são sensacionais. Vocês se envolvem na concepção deles?
DA: Não, não nos envolvemos muito. Nós apenas... sabe como é, nós escolhemos uma entre algumas diferentes propostas de tratamento (de roteiro), então, nós é que decidimos qual vamos usar no fim das contas. Aí simplesmente aparecemos (no dia das filmagens) e fazemos seja lá qual for a visão do diretor, sabe?
P: Ah, mas vocês atuaram muito bem em Tighten Up. (Risos)
DA: É, foi divertido, a gente tenta, né? Foi tudo feito em uma tarde e ficou ótimo.
P: E aí, vocês vem mesmo ao Brasil em 2012?
DA: Uh... não sei. Mas mal posso esperar. (Risos) Honestamente, não sei mesmo. Tentamos marcar umas duas datas, mas tivemos problemas de agenda. Mas com certeza, nos veremos logo.
P: Bom, espero muito que vocês passem algum dia pela minha cidade, Salvador. Embora minhas esperanças sejam quase zero.
DA: (Não responde, apenas ri mais do que nunca em toda e entrevista, o que é muito estranho e me deixa mais desesperançoso ainda).
P: Bom, foi um prazer falar com você. Obrigado e até a próxima.
DA: Foi um prazer. Bye bye!
No sétimo CD, TBK mostra ao rock El Camino possível de volta ao mainstream
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Menosprezado por boa parte da juventude, que anda muito ocupada se admirando em redes sociais e hipnotizada pelo lixo que delas emerge, o rock sucumbiu no mainstream por falta de qualidade e quórum.
Daí a importância, a necessidade de se colocar o The Black Keys no holofote desta mesma “grande mídia”.
Comendo pelas beiradas, o duo de Akron pode ser o abra-alas de uma nova geração de rock relevante no mainstream, após uma década inteira de predominância de penteados ridículos sobre o que realmente importa: música.
El Camino não supera a obra-prima que é o disco anterior do TBK, Brothers, mas dá continuidade à proposta do duo de fazer rock à vera para hoje, e ainda assim, ser totalmente conectado com a tradição bluesistica, garageira e guitarrística que caracteriza o gênero.
Se Brothers, com suas canções sinuosas como serpentes, parecia a trilha sonora de um bordel atulhado de strippers sujas e decadentes, El Camino é mais roqueiro, mais pesado e mais sujo. Mais ortodoxo, em certo sentido.
Entre os destaques,o sacolejante single de estreia, Lonely Boy, a dançante Sister (melhor do disco, na minha humilde opinião), a zepelliniana Little Black Submarines (espetacular também) e a contagiante Gold on The Ceiling.
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Abram alas para The Black Keys.
El Camino / The Black Keys / Nonesuch - Warner / R$ 27,90
Crédito foto abertura e foto conversível: Danny Clinch. As outras eu procurei mas não encontrei autoria.