Cyndi Lauper e Suzanne Vega lançam bons discos: a primeira, com standards de blues. E a segunda, com novas gravações de suas próprias músicas
Enquanto Madonna queria o vil metal, ela só queria se divertir. Quem se lembra de Cyndi Lauper como o contraponto maluquete (e de maquiagem borrada) ao materialismo patricesco da Rainha do Pop nos anos 1980, vai se surpreender com seu novo álbum, Memphis Blues (Lab 344), que acaba de chegar às lojas brasileiras.
O disco traz uma seleção de clássicos do blues tradicional norte-americano, com a participação de diversos músicos ligados ao estilo, como Sua Majestade B. B. King, o lendário pianista de Nova Orleans Allen Toussaint (em três faixas), a cantora Ann Peebles, o guitarrista da nova geração Jonny Lang e o gaitista Charlie Musselwhite.
A edição brasileira ainda traz duas faixas bônus, sendo que uma delas, a balada I Don‘t Want To Cry, traz o brazuca Leo Gandelman em um duelo “sax versus vocal“ com a cantora.
Memphis Blues traz Cyndi Lauper, aos 57 anos, de fôlego novo, em um momento especial da sua já longa carreira. O CD foi lançado logo após sua participação no reality show norte-americano The Celebrity Apprentice – uma versão de O Aprendiz, com celebridades.
Comandado pelo topete mais rico do mundo – o megaempresário Donald Trump – o programa teve direito a uma ousada performance da cantora no seu episódio final, cantando I‘m Just Your Fool (faixa de abertura do CD), enquanto se retorcia na imaculada mesa de reuniões do tubarão de Wall Street.
Não por acaso, Memphis Blues é seu álbum de maior vendagem desde 1986, quando lançou, ainda no auge da carreira, True Colors. Lançado nos Estados Unidos em junho ultimo, o CD debutou no Top 200 da Billboard em 26º lugar.
Nada como aparecer na TV para ajudar a levantar uma carreira na corda bamba.
O disco também marca sua saída da Sony / BMG, gravadora major que lançou todos os seus discos até então, para estrear em um selo independente, o Mercer Street Records.
Independente, mas limpinho: nas fotos de capa, encarte e divulgação, Lauper aparece como uma diva dos cabarés de Memphis (cidade berço do triunvirato blues / country / rock ‘n‘ roll) clicada pela badaladíssima fotógrafa da revista Vogue, Ellen Von Unwerth.
Blues X pop
Há pelo menos duas formas de se avaliar Memphis Blues. Uma é sob o viés pop que sempre a caracterizou. O outro, mais rigoroso, diz respeito ao pantanoso terreno no qual se aventurou: o blues.
Direto ao ponto: como um disco de pop norte-americano, o CD em questão bate um bolão com seu acento bluesy e reabilita a cantora, um dos talentos mais subestimados do cenário nos últimos 25 anos.
Já como um CD de blues propriamente dito, é arriscado bater na trave do óbvio dizer que a moça ainda precisa beber muito bourbon e fazer muito pacto com o coisa-ruim na encruzilhada para convencer, de fato.
Em suma: para os apreciadores hardcore do gênero, Lauper ainda é, digamos, café-com-leite.
Bronx X Memphis
Com sua característica voz meio esganiçada, Lauper se esforça para convencer e fazer bonito como cantora de blues, atingindo de fato boas performances em faixas como Down So Low, How Blue Can You Get? (com Jonny Lang cantando e solando sua guitarra) e Shattered Dreams, com Allen Toussaint.
B. B. King arrepia como só ele sabe fazer, cantando e tocando sua amada Lucille (incrível como uma única guitarra pode ter um som tão característico) em Early in the Morning.
Já em Rollin‘ and Tumblin‘, com a fantástica roufenha Ann Peebles, Lauper – inadvertidamente ou não – vira o jogo contra ela mesma. Seu sotaque do Bronx soa fake ao lado do gostoso (e legítimo) tom caipira do sul de Lady Peebles.
No saldo final, Memphis Blues é um bom CD – para fãs de Lauper e apreciadores não radicais de blues urbano.
Memphis Blues / Cyndi Lauper / Mercer Street Records - Lab 344 / R$ 27,90
SUZANNE, EM CLOSE-UP ÍNTIMO E PESSOAL
Ao surgir no cenário da música pop na segunda metade dos anos 1980, a cantora norte-americana Suzanne Vega proveu àquela década – até então, fortemente colorida em tons cítricos – a reserva de cinza (e sutileza) que lhe faltava.
Parte do repertório que a notabilizou retorna agora, no seu novo CD, Close-Up Vol 1, Love Songs, que acaba de chegar às lojas em edição nacional pelo selo independente Lab 344.
Parte de um projeto previsto para ter quatro volumes, a chamada Close-Up Series recupera, em novas gravações, as canções mais significativas do seu repertório, pescadas dos sete discos de estúdio lançados pela cantora e violonista desde sua estreia no LP homônimo Suzanne Vega, de 1985.
Cada volume terá um tema específico. Neste primeiro, o destaque são as canções de amor. O segundo volume será People and Places (pessoas e lugares). Seu maior sucesso, Luka, a comovente crônica urbana de um menino que sofre calado com a violência doméstica dos seus pais, está prevista para este segundo CD.
Divisora de águas
Fascinada desde criança por pioneiros da canção folk norte-americana como Woody Guthrie e Pete Seeger, Suzanne Vega encontrou seu caminho artístico após ver um show do Lou Reed, em 1979.
Foi ali, na junção da crônica urbana enegrecida pela fuligem da cidade grande, aliada às qualidades literárias das letras de Reed – e Bob Dylan e Leonard Cohen, também influências assumidas – que Vega soube reprocessar com personalidade suas raízes folk.
Seu enorme sucesso, com o estouro mundial de Luka, em 1987, abriu caminho para uma série de cantoras que seguiam mais ou menos o mesmo caminho do folk sutil e urbano, como Tracy Chapman, Natalie Merchant (revelada na banda 10,000 Maniacs), Michelle Shocked, Edie Brickell e outras.
Lou Reed e João Gilberto
De uma elegância à toda prova, as novas versões de Love Songs evidenciam a maturidade artística de Suzanne Vega, hoje aos 51 anos recém-completos, em julho último.
Ao invés de reinventar suas antigas composições, a cantora optou por simplesmente despi-las de eventuais exageros de produção, como os sintetizadores inseridos por Lenny Kaye em faixas como Marlene on the Wall (uma das melhores do álbum) e Small Blue Thing, ambas do já citado disco de estreia.
Os arranjos priorizam o violão dedilhado e a voz suave de Vega, adicionando uma guitarrinha elétrica aqui e uma percussãozinha ali.
A influência de Lou Reed aparece com toda a sua força em (If You Were) In My Movie, com seu canto falado e refrão melodioso no melhor estilo reediano – descontado o climão pesado quase sempre presente nas letras do ex-Velvet Underground.
Já Caramel traz a insupeitada sombra bossa-novística de João Gilberto, com Vega levando um quase sambinha ao violão, acompanhado de um estalar de dedos. Até a letra lembra bossa-nova: “não adianta / sonhar com caramelo / pensar em canela / e sentir saudades suas“. De fato, um doce de CD.
Close-Up Vol 1, Love Songs / Suzanne Vega / Lab 344 - Cooking Vinyl / R$ 32,90
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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24 comentários:
Antes que Nei Bahia se manifeste, repito, com outras palavras, o que está no texto: o CD de blues de Cyndi lauper, é ótimo – para quem não ouve blues (e talvez queira começar a faze-lo), publicitários, arquitetos de interiores e para quem já é fã da cantora. Tá explicado, né?
;-)
E antes que alguém se sinta "ofendidinho": não intencionei deixar explícita (nem implícita) qualquer tipo de ofensa contra as classes trabalhadoras citadas no comentário acima, OK?
E sorry a vírgula fora de lugar no primeiro comment (antes de "é ótimo"). Foi erro de digitação. Pronto, chega.
Chegado agora há pouco por email, de um rapaz de nome Gedson...
"INSTRUMENTOS DE CORDAS À VENDA NA BAHIA - SALVADOR
Olá,
O amigo e produtor REINALDO MAIA está vendendo os seguintes instrumentos:
- Guitarra Gibson Les Paul - modelo Studio, cor Preta, Made in USA R$2700
- Guitarra Fender StratoCaster - modelo American Standart, Made in USA R$2700
- Guitarra Line6 Variax 500 - Guitarra com simulação de 25 modelos clássicos. R$2500
- Violão Line6 Variax 500 - Cordas de aço. Simula sons de vários violões vintage R$2500
Eu próprio usei a Fender Strato e a Gibson Les Paul em duas ocasiões e asseguro que se tratam de excelentes instrumentos, cuja manutenção é feita pelo luthier Marinho.
Contatos do Reinaldo Maia:
myspace.com/reinaldomaia"
Aí, ó! Quem tem canal Fox em casa não pode perder!
http://www.omelete.com.br/televisao/walking-dead-sera-exibido-no-brasil-pela-fox/
E quem tem HBO não deve perder este:
http://www.omelete.com.br/televisao/boardwalk-empire-veja-um-making-de-14-minutos-da-serie-de-mafia-de-scorsese/
Eu num tenho! Que merrrrrrrda! Bom, espero a temporada sair inteira em DVD! Duh!
É isto aí Chicão, tem varias questões que poderiam ser sucitadas pela edição baiana do Coquetel Molotov. Poderiam..., mas creio que existem um certo cansaço dos atores da cena local... artistas, produtores, veiculos, jornalistas, poder publico, iniciativa privada e tambem o publico. Todos nós temos nossos pecados, mas certamente neste caso o interesse maior em discutir a questão deveria ser, na minha visão, dos produtores locais. Mas tambem entendo o cansaço, sei de alguns motivos e barreiras criadas para que eventos deste tipo não rolem neste deserto cultural chamado Bahia, mas se eles ( produtores ) não se pronunciam, eu neste caso vou me resignar a ser publico do Dinosauro, alias Farm é a melhor coisa que fizeram ( acho eu), o disco é do ano passado, e continua bombando na vitrola.
Antes que alguem me chame de novo na conversa: estou muito curioso em ouvir esse disco de Cyndy lauper, pois seu registro é muito diferente do que se costuma encontrar em cantoras de blues. Vou ouvir cheio de boa vontade.
Olá,
Auto-promoção sem vergonha, pois tocarei nesse show, hoje tem apresentação de Messias na praça Teresa Batista, Pelourinho, as 21 horas. Separem as capas e os guarda-chuvas que o troço vai ser bom!
Abraços a todos,
andré t
Pow, me amarro em Cindy Lauper ... vou ver se dou uma conferida nesse disco novo.
Para quem não entendeu do que Brama está falando, ele se refere a notícia (de bastidores, portanto, ainda não anunciada em caráter oficial) de que a única banda baiana na edição baiana do Coquetel Molotov será um coletivo de dub - já tinha até colocado o nome aqui, mas achei melhor retirar, antes que alguém reclame.
Deixo as óbvias conclusões deste fato para todos os baianos que frequentam este blog - produtores, músicos, jornalistas e fãs.
Pensem aí: o que este fato nos diz?
E me digam depois.
(E antes que me esqueça, parabéns ao coletivo de dub, que é decente e merece tocar no festival - não tanto quanto uma brincando de deus ou uma Vendo 147, que considero mais identificadas com a própria proposta do evento. Mas aí não é culpa deles. Qualquer banda aceitaria esse convite, correto?)
Estaremos lá, André!
Grande Nei Bahia!
Valeu, Adelvan, volte sempre! E diga ao Obi-Wan que eu mandei um abraço!
Como não amar o Kiss?
Especialmente qdo vc é um nerd total, fã de rock e de quadrinhos?
Resposta: é impossível.
Kiss: deuses do rock, heróis dos gibis
http://www.universohq.com/quadrinhos/2010/Kiss_HQs.cfm
Comprei o cd da Cyndi na pré venda aqui no Brasil, que, aliás, era uma edição limitada, com 1000 cópias e umas coisas a mais. O cd é MAGNÍFICO! Lauper mostra toda sua diversidade neste cd e sua voz está cada vez mais linda. Recomendo a todos comprarem, é uma ótima aquisição.
Não percam, Cyndi tem um ótimo trabalho!
Márcio, nosso ídolo Sheldon, de Big Bang Theory, tem síndrome de asperger!!!!
http://www.apaixonadosporseries.com.br/series/eles-precisam-de-tratamento-psicologico/
Quem diria?!?!
Quem diria que a garota que só queria se divertir entrou no "melancólico" caminho do Blues e o tornou tão carinhosamente divertido... Como sempre ela mostra que é "Unusual". Fui comprá-lo ontem e adorei. A voz da Cyn da um charme ao Blues, sem contar a participação de mestres. Adorei! Cyndi como sempre mostrando suas "True Colors" em seus álbuns. Maravilhoso! O cd está sendo um sucesso. Está 9 semanas consecutivas em primeiro lugar na parada de Blues da Billboard. É um digno merecer de um Grammy.
O disco é legal (Cyndi). Mas me peguei imaginando a voz de Amy com esta trilha sonora. Seria mais legal. O que isso quer dizer? sei lá!
já ouviram nikka costa dos 90s pra cá? canta muito!
http://www.youtube.com/watch?v=BiI_caFfquA&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=umaBxbO86Go
se grava um disco de blues, detona. fora que...well, you know...
GLAUBER
ouvindo o suzanne vega. valeu a dica, chicão. excelente! ela e o violão, precisa mais nada. e eu sempre gostei muito do refrão dessa aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=tHZV7NOqEY4
GLAUBER
Kra o cd é mto foda!!! A Cyndi ficou ótima em blues... podem conferir!
"Alguns sintomas desta síndrome são: dificuldade de interação social, falta de empatia, interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com mudanças, perseveração em comportamentos estereotipados. No entanto, isso pode ser conciliado com desenvolvimento cognitivo normal ou alto".
Alguém aí se identificou?
bazinga!
...inga! ...inga! ...inga!
Um dos meus 18 sites deletados do Ig(nóbil) era uma divertido, extenso e intesno trabalho sobre a Rainha do Pop com Atitude Rock, a Garota Diversão: CYNDI LAUPER.
Um dos meus melhores trabalhos. Muita gente do fã-clube de CL copiou em blogs. Quando eu ressuscitar a coisa em outro provedor, aviso aos navegantes.
Cyndi Lauper em 1983 foi uma versão feminina de Little Richard - Ziggy Stardust - Johnny Rotten, como um ídolo modelo das garotas, criando um chocante estilo original "punk para meninas" no personagem da Trash Girl com roupas e assessórios usados encontrados no lixo.
Incrível o que a FOME faz com as pessoas. Ela era tão pobre que foi subnutrida por toda adolescência, até os ossos atrofiarem. Daí porquê manteve a aparência de adolescente, estourou nas paradas aos 30 anos aparentando 15 e chegou aos 60 aparentando 30 (claro que também ajuda a maquiagem pesada e a luz indireta, mas o rostinho continua redondo e suave.)
Incrível também o que uma boa treinadora de voz não faz. Outro milagre físico é que, depois de QUEIMAR as cordas vocais nos anos 70 (cantando covers do Led Zeppelin) ela ficou quase MUDA e depois de anos reconstruindo a garganta, concentrou os vocais nas notas mais agudas. Resultado: a voz de Cyndi Lauper alcança facilmente 5 OITAVAS --- a maioria das maiores cantoras só consegue 4. Ela pode estourar tímpanos e vidraças com seus gritos.
Mas... como ela mesma já disse numa canção famosa, "Money Changes Everything."
CL antes só queria se divertir. Mas desde 1986 ela se leva a sério demais e virou artista cult. Quer um público adulto. Se afastou das bases. Rompeu relações com a molecada. Hoje, é cantora de blues.
Pena. Foi uma grande perda.
Volta, Fun Girl!
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