Show dos Retrofoguetes na abertura do projeto Segundas Musicais teve ingressos esgotados em 15 minutos, casa lotada, tango, música italiana e afronta à autoridade
Já era esperado que o show que deu a partida ao projeto Segundas Musicais, na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, a cargo da banda Retrofoguetes, fosse um sucesso, mas o que aconteceu foi algo, que, salvo engano, deve ser inédito na história daquela Sala: todos os ingressos, ao preço popular de R$ 2, se esgotaram em pouco mais de 15 minutos.
Resultado: muita gente ficou do lado de fora mesmo, o que suscitou muitas sugestões de que o projeto, numa possível segunda fase, fosse transferido para a Sala Principal.
Como se tratava da abertura de um projeto oficial, autoridades prestigiaram a ocasião. “É muito importante estabelecer programas culturais dessa forma, através de editais, pois é um caminho para difusão e preservação“, pontuou o secretário de cultura Márcio Meirelles, ainda no foyer da Sala do Coro.
Perguntado se gostava da banda prestes a se apresentar, Meirelles se saiu bem ao puxar pela memória: “Sim, claro. Não, nunca vi um show, é a primeira vez, mas já ouvi, sim. Eles não eram dos Dead Billies? Então, eu já trabalhei com eles no Revilavolta, uma vez, e com Nancy (Viegas) também. Gosto deles e do Cascadura também“.
Giselle Nussbaumer, diretora da Fundação Cultural do Estado, responsável pelo projeto, também estava lá, assim como o seu diretor de música, Gilberto Monte. “Eu adoro isso, acho que faz falta projetos assim. E é uma demanda antiga dos músicos, devido à falta de espaços para tocare acabam restritos às casas noturnas, que nem sempre têm uma boa estrutura“, disse a primeira.
Casa cheia, público acomodado, as luzes se apagam e um acordeonista entra sozinho no palco. Começa a tocar uma levada italiana, sendo acompanhado pelo público animado com palmas. O trio vai entrando e tomando seus lugares, até entrar na melodia e acompanhar Saulo Gama, o rapaz do acordeon.
Desculpe, secretário! – A partir daí, Morotó Slim (guitarra), Rex Crotus (bateria) e CH (baixo) fizeram o que sabem melhor: hipnotizaram o público com seu som instrumental embasado em surf music.
Com o tempo de estrada e a maturidade, o som da banda está ficando cada vez mais multifacetado, incorporando influências do som de trio elétrico, música italiana, trilhas sonoras de cinema e TV, tango e por aí vai.
O show foi também uma boa prévia do que deverá ser o segundo CD do trio, pronto mas sem previsão de lançamento. Dessa nova safra, foram executadas Constellación (um tango), Santa Sicília (que parece algo saído de uma trilha de Nino Rota), Fuzz Manchu, Venus Cassino, Bikini 1958, Falso Turco e Um Diabo em Cada Garrafa, entre outras.
A certa altura, Rex levanta da bateria e olha para a platéia: “É o secretário, ali?“. ”Queria agradecer à Secult e à Funceb, pela oprtunidade de mostrarmos nosso trabalho num teatro, algo que era muito raro de acontecer”, aproveitou. O momento de cortesia, porém, acabou aí.
Na sequência, chamaram Aroldo Macedo ao palco, com quem tocaram com brilhantismo hits do Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar.
No que Aroldo saiu, Morotó disse que ”deveriam haver estátuas homenageando a mera existência desses caras. É uma vergonha o que acontece aqui. O Carnaval era do rock, era da guitarra. Pela gente, isso nunca vai morrer!”, exclamou.
“A Bahia é uma merda, mesmo“, emendou Rex. “Desculpe, secretário“, ainda tentou consertar, logo depois. Sem mais exaltações, o show prosseguiu normal até o (glorioso) fim.
Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
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24 comentários:
Pois então, qdo estava prestes a ir me ligaram dizendo q os ingressos já tinham ido pras picas. perdi.
Chicvz, mais uma vez, valeu por mais uma dica. The duke spirit é muito legal. e ainda tem uma puta gata cantando. me lembrou ( a vocalista ) muito senhorita debbie ( minha musa eterna) harry.
por fim. vou lhe cobrar o que quer q vc tinha pra me entregar lá no retroshow, nem pense em escapar, heheeee!
pô, que massa.
certeza que não há público de rock em Salvador??
Pois é, Miwky. Ainda tem gente que acredita na balela de que não existe público para rock em Salvador. E o pior: que não existem bandas de qualidade na cidade. Pode?
The Duke Spirit é o bicho, e ela lembra muito Debbie Harry, mesmo Cebola. Lassoo é uma das músicas mais fodonas que eu já ouvi nos últimos tempos, além de ter uma qualidade atemporal sensacional. Não parece com nada com as coisas modernosas que andam se hypando por aí, pois tem as bases firmemente calcadas no classic rock, SEM SOAR CARETA. Algo raríssimo de se ouvir. NOTA 10!
E a sua presa tá garantida, man. Relax.
Sora, ainda dá tempo de me enviar umas fotinhas do show!! Mandaê, please!
A Bahia é uma merda e o bolso cheio de R$ 5 mil... Foda! Postura de protesto vazia da porra...
esquema de edital» panelinha do esquema de carnaval de trio elétrico
Chicão, não senti esse protesto todo no show não, só no desabafo de Morotó mesmo. E os momentos de cortesia continuaram no camarim após o show =)
Abraços!
Fala, Jan. Bicho, não fui no camarim (confesso que não gosto muito disso), nem disse que foi um show de protesto. Realmente, não havia nenhum clima de protesto no show em si, só naquele momento. Apenas relatei o que vi ali no palco, até por que era meu dever como repórter que estava ali a serviço do periódico da Avenida Tancredo Neves. Mas, de certa forma, gostei do desabafo dos dois Retros, traduzindo o sentimento de muita gente. Se foi correto ou não, afinal, eles ganharam um belo cachê, eu me reservo o direito de não julgá-los. Mas o rock é isso aí, nego fala na cara - mesmo que peça desculpas depois... Nesse prisma, achei ótimo, mesmo. Abraço, meu velho.
Também não achei que o comentário tivesse a intenção de "afronta à autoridade não"...o clima era justamente o contrário.
Mas valeu o desabafo em prol da família macedo!
Abçs
balança o chão da praça ôô-ôô
Meus caros bundões do anonimato; é lindo ver o quanto doi não ter a capacidade de escrever algo mais do frases cretinas e, em vez de estar tendo a possibilidade de mostrar seu trabalho( se você tiver algum, o que duvido muito...),ficar tirando de revoltadinho contra tudo e todos. Graças a algo que estava a disposição de quem quisesse se dispor a correr atrás, uma banda de rock tocou num palco até então praticamente desconhecido da cena (exceção honrosa do show de lançamento do disco de Alex Pochat e os 5 elementos)e graças a recursos que durante anos foram sei lá pra onde, mais nunca para algo que chamasse a atenção das pessoas de verdade, isso aconteceu.
Tá com saudade de cabeça branca?
Aproveita e em outubro vota em Grampinho!!!
Chicão,
já te mandei um emelho explicando o inexplicavel e com algumas fotinhas, para o pessoal da geral conferir que com os 5.000 do edital foi produzido um show. Não é receber 5.000 e apresentar um voz e violão tosco numa aparelhagem de kombie e juntar a grana pra abrir um comércio. A caravana passa...
Ah, eu só tô falando isso porque sou da curriola e ganhei uma puta grana na segunda-feira.
Á propósito, nossos correspondentes internacionais botaram pra fudê.
Soritcha, as fotos ficaram lindas, brigadão.
Agora, deixa eu dar meu último pitaco nessa história (juro!).
Lívia, "afronta a autoridade" é apenas uma expressão que usei - só aqui no blog, a propósito - para ilustrar o fato de que, finalmente, um artista, sobre um palco oficial, abrindo um projeto oficial do governo, diante de um secretário de estado, disse, com todas as letras, o que acha: "a Bahia é uma merda".
Qual foi a última vez que vc viu algo assim acontecer - aqui na Bahia?
Nunca, né?
Por que aqui é a terra da vaselina, do diga sim. Ninguém reclama de nada, ninguém fala mal de ninguém - na frente.
Sinceramente, me senti honrado em poder publicar essas palavras para a Bahia inteira ver no jornal de maior circulação do estado.
Tudo aquilo que aconteceu - o desabafo incontido de Morotó, o arremate de Rex naquele palco histórico para a cultura baiana - para mim, foi um momento igualmente histórico, digno dos esporros de Caetano nos anos 60.
Coisa de artistas de verdade, e não apenas animadores de auditório - nível ao qual se reduz 99.9% da classe artística local.
A verdade é uma só: "A Bahia É uma merda", mas ninguém tem coragem de falar.
E eles falaram. E eu adorei cada segundo de tudo isso.
Não foi um ataque deliberado à ninguém especificamente - muito menos à pessoa de Márcio Meirelles. Foi um desabafo espontâneo, uma constatação, apenas.
Aos ressentidos de sempre, sobra apenas o inevitável momento de clareza lhes dizendo que não apenas a Bahia é uma merda, mas a inveja também...
Graças à Thor, Odin e Tutatis a babação pública de ovos oficiais, prática tão disseminada nesta terra de puxa-sacos ainda não contaminou o rock. Se o dinheiro foi público, isso não passa de obrigação dos respectivos orgãos, e não de favores maquiavélicos de coronéis decadentes.
Ninguém tem que agradecer nada, porra nenhuma de "obrigado seu secretário" ou que tais...e "a Bahia é uma merda" é a frase desabafo do ano até agora! Não vi e adorei!!
O importante, no fim, é manter sua integridade artística e social, não se dobrar à politicagens mesquinhas e correr atrás da grana, onde ela estiver, e se lícita for. Isso é para as bandas ou artistas ou seja lá quem for.
Oi Chicão,
Graças a essa mentalidade ultrapassada do "sim senhor" é que tivemos (e ainda temos) uma geração de artistas e grupos medíocres aqui na Bahia, que tanto reproduziram esta "merda" institucionalizada, Brasil afora.
Queria parabenizar pelo seu trabalho e empenho. Por um bom tempo estivemos órfãos de um profissional do jornalismo cultural que cutucasse a ferida...
Espero que a repercussão deste Projeto tenha incentivado outros grupos a buscar os editais e outras formas de bancar seus projetos...
A propósito, tem edital de cultura aberto até de 22 de julho. www.funceb.ba.gov.br
Precisando de alguém pra escrever tamos aí...rsss
Abçs
Agradeço a sua audiência e a sua deferência, Lívia. Muito obrigado pelo elogio e... tamos às ordens, aqui ou na redação.
Cebola, vc foi direto no alvo, velhinho.
pombo correio..................
Sinceramente não sei porque esta história gera tanto comentário. A bahia deveria ser escrita com b minúsculo porque é uma merda mesmo. Que conversa chata da porra!
Lindo,moroto!Pena que a bandafolia nao tava filmando...Fica p proxima.Potato.Bahia de merda mesmo,meu rei!
Rexona, o menino que eu vi crescer... Alexandre Guimarães Leal, o Rex Crotus, PUXANDO O SACO DE UM POLÍTICO pra poder tocar. E ainda pedindo desculpas porque soltou um palavrãozinho na presença do dotô. "Desculpe, secretário!"
Puta que pariu. Eu só não morro de vergonha porque nem vou mais a shows.
PORRA! O Camisa de Venus tocava no Teatro Vila Velha com apenas 2 meses de carreira e não precisava de merda de apoio nenhum do governo. Em plena ditadura. Em 1992, lotaram a Concha Acústica do Teatro Castro Alves com mais de 8000 pessoas. Em 1987, Marcelo Nova espinafrava o governador Waldir Pires em pleno show na presença do próprio governador e todos os secretários dele na primeira fila, num show histórico pra mais de 100 000 pessoas.
O que existe hoje em dia é o garroteamento da cultura, o sufocamento das liberdades, a dependência total do Estado socialista, numa ditadura ainda pior.
É pra matar de vergonha mesmo.
Entendeu porque eu nunca quis ser músico?
Respondendo á pergunta de Morotó em 2001, ainda nos estertores dos Dead Billies:
"Ernesto, porquê você nunca fez uma banda?"
"Porque não quero acabar como vocês."
A única coisa certa que Rex disse foi emendada com um pedido de desculpas... como um menino arrependido de dizer palavrão na frente do pai. Isso, aos 40 anos de idade. Patético. Pior impossível.
Secretário, vá se fuder!
Quanto a Rex, eu retiro o que disse sobre "puxar o saco." Ele estava apenas agradecendo. E por força das circunstãncias.
(O problema é que os responsáveis por essas circunstãncias calamitosas são os mesmos que são agradecidos.)
Meus aplausos a Rex pelo "A Bahia é uma merda mesmo!" --- e na frente do secretário.
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