Joseph Goebbels, o marketeiro de Hitler, disse que, toda vez que ouvia falar em cultura, sacava logo sua arma. Anos depois, um conterrâneo lá dele, o brilhante cineasta Fritz Lang, rebateu a frase em um filme de Jean-Luc Godard, dizendo que, em vez da arma, sacava a carteira.
Aqui na Bahia, onde cultura e turismo se confundiram em uma única coisa amorfa, sorridente e inócua, a recomendação é sacar do bom senso e buscar, fora dos viciados esquemões manchados de dendê, o que há de interessante para alimentar cabeças mais arejadas e menos bitoladas nas coisas da terra.
Nos subterrâneos da capital baiana, formiguinhas dedicadas trabalham dia e noite (mais à noite) animando suas próprias festas, criando sua própria cena cultural, administrando suas próprias carreiras – sempre de forma independente e sem pedir licença, nem bênção, nem homenageando à quem quer que seja.
Ninguém ganha dinheiro com isso - pelo contrário, costuma-se perder - mas pelo menos, o pessoal se diverte adoidado. E nesse quesito - diversão - poucas bandas se equiparam aos fabulosos The Honkers.
Idealizada em 1997, fez seu primeiro show somente no ano 2000. De lá para cá, a banda lançou dois EPs, participou de coletâneas, rodou o Brasil e a Argentina fazendo shows e apareceu de cuecas na TV, durante um polêmico show no Festival de Verão de 2006.
Na verdade, foi só o vocalista Rodrigo Sputter Chagas que ficou de cueca, mas da destruição que se seguiu no palco, todos da banda participaram, cheios de amor para dar.
Agora eles estão de volta à estrada, finalmente lançando seu primeiro CD cheio, Roll Up Your Sleeves and Help Us Rock Up This Honker World. Em bom português, "Arregace as mangas e ajude-nos a balançar este mundo Honker".
São treze faixas, sendo as sete primeiras inéditas e gravadas ao vivo no estúdio. O restante saiu no EP Between The Devil And The Deep Blue Sea (2004, esgotado), com exceção de This is an Old World, lançada em single.
"O objetivo é de ser uma demo, mesmo. Foi tudo ao vivo no estúdio, senão perde o punch. Nosso som não precisa de maquiagem", dispara o guitarrista Felipe Brust, demarcando território.
Para lançar o CD, os rapazes viajaram na semana passada à São Paulo, onde cumpriram uma apertada agenda de quatro shows em três dias.
O primeiro foi quinta-feira na casa Funhouse. Na sexta, a banda foi à Campinas, onde tocou no Bar do Zé. No sábado, sessão dupla em São Paulo. De tarde eles animaram um pocket-show no Radio Clash, uma loja de discos na Galeria do Rock, e, à noite, quebraram tudo no Inferno Club, com os paraibanos da Zefirina Bomba e o DJ / produtor baiano Rogério Big Brother.
"E todos os shows com repertórios diferentes!", garantiu um post recente no fotolog oficial da banda (www.fotolog.com/thehonkers).
Em Salvador, o show de lançamento será no próximo dia 13 de maio, no Teatro Sitorne (Rio Vermelho), com participação da ótima banda indie pernambucana Vamoz!, que também estará lançando CD e DVD ao vivo.
Na mesma ocasião ainda será exibido em primeira mão o clipe da faixa People Love Hate, dirigido pelo premiado Alexandre Xanxa Guena.
Ainda esse ano, os meninos maluquinhos dos Honkers pretendem iniciar um projeto inédito no mercado fonográfico: gravar e lançar, simultaneamente, 5 CDs diferentes.
Repertório para isso eles já têm. Consta que Rodrigo Sputter, o vocalista desbandeirado que curte um semi-strip-tease no palco e é um leitor voraz de autores beatniks e marginais em geral, teria umas 300 letras rabiscadas e engavetadas.
"Tem um disco que é só de música bem pop e baladas. Um mais porradeiro, punk. O terceiro é no meio termo. O quarto é só de covers e o quinto, com músicas em português", descreve o baterista Dimmy O Demolidor Drummer.
Se esse é um projeto certamente impraticável para bandas estabelecidas nas majors e de vendagem garantida, que dirá para um grupo de garagem independente - e pior: oriundo da maldita e malquista cena rock soteropolitana.
Não à toa, o projeto custa a sair do papel, se arrastando há anos. "Esse projeto dos 5 discos surgiu em 2004, mas de lá pra cá a gente teve que repensar. A indústria, a conjuntura toda mudou muito. Mas de qualquer jeito, vamos entrar em estúdio para registrar todas as músicas do projeto original. Aí então é que vamos estudar a melhor maneira de implementá-lo", garante Brust.
Enquanto os cinco discos não vêm, o negócio é curtir o CD da hora. E que CD. Curto e grosso, percorrem-se suas treze faixas sem qualquer esforço.
É rock de garagem na veia, com suíngue e levadas para entortar o cangote de qualquer cristão, com muitas influências de Chuck Berry, rockabilly, garageiros dos anos 60 e 70, punk e até mesmo indie rock contemporâneo, como na citada This is an Old World, que parece ter sido surrupiada de alguma sobra de estúdio dos Strokes.
Os momentos mais dançantes ficam com She'll be my Little One, Devil Girl e Distorced Party (surf music de primeira). É música para se descabelar na pista de dança.
Let me Feel the Sun namora com o garage psicodélico dos anos 60, Where Do I Go é ska na linha The Specials e Between the Devil and the Deep Blue Sea é uma balada indie para casais de todas as idades dançarem juntinho.
Um belo disco e mais um golaço do rock baiano - cada dia melhor, apesar dos mil e um percalços e dificuldades.
The Honkers:
Rodigo Sputter Chagas: vocal
Felipe Brust: guitarra
Bruno Pizza Carvalho: guitarra
T612: baixo
Dimmy O Demolidor Drummer: bateria
Roll Up Your Sleeves And Help Us Rock Up This Honker World
The Honkers
2007
aTalho discos
R$ 15,00
http://www.myspace.com/thehonkers
Matéria publicada na capa (!) do Caderno 2 do jornal A Tarde de 29 de abril de 2007. Texto sem a edição do jornal, como pode atestar o enorme e inútil nariz-de-cera antes do lead.
DROPS FROM SÃO PAULO: JETHRO TULL
por Osvaldo Braminha Silveira
classe maxima o show do jethro tull ontem.com um credicard hall lotado, a ponto de neste domingo ter sido programado um show extra, ian anderson, junto com o extraordinaire martin barre, botaram pra fuder, mostrando que rock não é so atitude, é tambem musica de altissimo nivel,com virtuosismo em doses certas. da atual banda, destaque para a belissima e talentossisima violinista sino-americana anne marie calhoun. classicos tocados em novos arranjos, num show eletro-acustico, no volume certo, numa verdadeira explosão de musicalidade e emoção quando classicos como thick as a brick, sweet dreams e o encore locomotive breath foram tocados. anderson não toca mais de uma perna só, e a voz esta mais fraca, mas a a classe da banda e das composições transformam o show num evento memoravel. na plateia, muita gente mais velha, mas muita, muita garotada, mostarndo que o som do tull atravessou gerações mesmo. rock geriatrico? pode ser, mas bandas com o jethro tull ajudaram a transformar o genero em arte, e a arte é eterna.