Pedro Gonçalves e Tó Trips, foto Daniel Costa Neves |
O que muitos de nós aqui deste lado do oceano nem desconfiamos é que a cena pop portuguesa vive um de seus melhores momentos, gerando artistas que produzem uma música que soa muito nova, vibrante e intrigante para ouvidos desavisados – como os nossos.
Um exemplo perfeito é o duo instrumental lisboeta Dead Combo, que agora pode ser ouvido pelos brasileiros sem muito esforço, já que está tendo seu novo álbum, Odeon Hotel, largamente promovido nas plataformas digitais pela Sony Music, sua nova gravadora.
Antes de sabermos mais sobre Odeon Hotel, um breve histórico do Dead Combo, formado em 2002 pela dupla Tó Trips (guitarras) e Pedro Gonçalves (contrabaixo, kazoo, escaleta e guitarras).
O duo se formou após um encontro fortuito de Tó e Pedro depois de um show, quando o primeiro pediu uma carona ao segundo, sem saber que este também não tinha carro.
Voltaram ao Bairro Alto (centro antigo lisboeta) andando juntos e, quando lá chegaram, já tinham decidido gravar um álbum instrumental em homenagem ao icônico violonista pátrio Carlos Paredes.
Inicialmente underground mesmo em Lisboa, só começaram a ser notados por um público mais amplo a partir de de 2008, com seu quarto álbum, Lusitânia Playboys.
No som, a essência da guitarra portuguesa, mais inflências de música africana, da surf music e das trilhas sonoras western-spaghetti de Ennio Morricone.
Em 2012, começaram a ganhar notoriedade internacional ao aparecerem no episódio dedicado à Lisboa do programa Sem Reservas, do badalado chef e escritor Anthony Bourdain.
E agora chegamos à Odeon Hotel, que marca – o que se espera ser – uma virada na carreira do Dead Combo.
A começar pelo produtor, Alain Johannes, um requisitadíssimo profissional do circuito rock internacional, com discos de nomes como Queens of Stone Age, PJ Harvey e Chris Cornell no currículo.
Odeon Hotel também marca uma evolução clara no som do duo, que aqui soa mais "banda" do que nunca, com a incorporação de diversos músicos à sua linha de frente nas gravações e nos shows: Alexandre Frazão (bateria), Bruno Silva (viola d'arco), Mick Trovoada (percussão) e João Cabrita (saxofone).
Nos fones, o Dead Combo soa realmente renovado, mais universal, mas sem abrir mão de sua identidade. Algo que, de fato, era a busca do duo, conta Pedro Gonçalves pelo telefone.
"Sim, o próprio fato de contratarmos o Alain para produzir o disco tem um bocado a ver com o fato de que os outros discos foram sempre produzidos por nós. E estávamos nos sentindo um bocado estagnados dentro do mesmo sítio, estávamos prisioneiros de nossas ideias", conta o baixista.
"Daí chamarmos o Alain para nos libertar um bocado. Ele foi muito responsável pelos sopros e pela bateria ter um papel muito importante neste disco também. Foi graças a ele que se moldou este som do Dead Combo", acrescenta.
Dead Combo, foto Daniel Costa Neves |
Lannegan agracia com sua característica voz cavernosa a única faixa com letra do album, I Know, I Alone, que nada mais é do que um dos poemas escritos em inglês por Fernando Pessoa, musicado pelo duo.
"O Lannegan apareceu primeiro, antes do Alain, neste disco. Nós o convidamos para gravar uma música. Mas aí passaram alguns meses e decidimos continuar a gravar o disco que já tinha umas três músicas prontas. Foi uns seis meses depois disso que decidimos terminar de gravar o disco, e então contratar um produtor, daí falamos com Alain Joahnnes", conta.
Considerado pela imprensa lusa como o "menos português" dos álbuns do Dead Combo, Odeon Hotel reflete na verdade, o boom turístico e imobiliário vivido pela capital portuguesa nos últimos anos, com muitos de seus recantos tradicionais vivendo o já conhecido processo de gentrificação.
"Sim, de certa maneira os nossos discos tem acompanhado essa evolução da cidade. E esse também tem um bocadinho dessa atenção. Lisboa tem sido um bocadinho invadida pelo turismo em massa. Daí a piada do Hotel Odeon", conta Pedro.
"O sítio onde as fotos da capa e da divulgação foram tiradas é um antigo cinema em Lisboa que agora vai ser um condomínio de apartamentos de luxo. Então, o disco tem tudo a ver com esse processo de gentrificação, com as mudanças da cidade", acrescenta.
Com essa exposição internacional vitaminada via Sony Music, o duo luso agora espera se tornar mais conhecido mundo afora, incluindo o Brasil. "Esperamos que sim, a aposta é essa, agora vamos ver se conseguimos ganhar a aposta ou não", ri Pedro.
Na verdade, O DC já se apresentou no Brasil, mais precisamente em Recife, em 2011. Agora em 2018 já tem uma volta a Pernambuco garantida, com uma apresentação no festival MIMO, em Olinda.
"Já fomos ao Recife há muito tempo. E vamos no proximo festival MIMO, que agora também existe em Portugal. Mas vamos tocar no original brasileiro", conta.
Outro aceno da banda ao Brasil está em uma das faixas de Odeon Hotel: a melancólica faixa Dear Carmen Miranda – algo irônico, dado que a charmosa Carmen era portuguesa de nascença. "Sim é um aceno ao Brasil e à Carmen Miranda mesmo. É um aperto de mão, digamos, ao Brasil", diz Pedro.
Com a promoção digital – e esta nova vinda – do duo português ao Brasil, um dos efeitos que se espera é também dar a conhecer ao público a brilhante nova geração do pop português, que tem em nomes como Deolinda, Linda Martini e PAUS (assim mesmo, em maiúsculas) uma ponta de iceberg para os interessados vislumbrarem.
"Sim, poderia haver por parte do estado português um incentivo para exportar música que não seja só o fado. Claro que o fado é muito característico e é muito único, mas há muitas outras coisas além do fado que poderiam ser escutadas também, poderia haver um apoio nesse sentido", conclui Pedro.
Abaixo, dicas para conhecer outros nomes do novo pop português
Linda Martini / Linda Martini (2018, Sony)
Quinto álbum da banda indie lisboeta, uma pancada como não se ouve mais de bandas similares no Brasil. Contemporâneo, combina guitarras pesadas, batidas quebradas e letras melancólicas. Destaque para Boca de Sal, É Só Uma Canção e Caretano.
Madeira / PAUS (2018, Sony)
O quarteto de formação inusitada (dois bateristas que cantam, tecladista e baixista) namora forte com o kraut rock e propôe um som bastante instigante em seu novo álbum grravado na Ilha da Madeira (daí o título). Vale ouvir a faixa-título e L123. Inusitado, vibrante.
Mundo Pequenino / Deolinda (2012, Universal Music)
O grupo mais tradicional dos aqui listados, o Deolinda combina uma forte influência do fado com uma farta dose de ironia, humor e algum romantismo, aliado aos vocais belíssimos de Ana Bacalhau (esse é o nome dela mesmo, sério) e os instrumentais acústicos extremamente sofisticados. Um primor. Ouça agora Musiquinha, Seja Agora, Semáforo da João XXI e Há-De Passar.
3 comentários:
Porra, foi só falar no homem que ele morre....
https://omelete.com.br/series-tv/noticia/anthony-bourdain-chef-apresentador-e-escritor-morre-aos-61-anos/
Suicídio. Que merda da porra.
RIP, grande figura.
https://newalbumreleases.bypassed.bz/110311/mazzy-star-still-2018/
chico, pra alegrar seu dia..eles bloqueiam, mas a galera acha um jeito de colocar no ar de volta.
diz q ele teve aqui e acho q não curtiu acarajé e a sorveteria da ribeira...a sorveteria muitas vezes deixa a desejar mesmo...e dizem q ele foi na feira de são joaquim e comeu por lá e curtiu.
https://www.google.com.br/search?ei=itEaW-3oIYOVwASH_Yz4DQ&q=Anthony+Bourdain+salvador&oq=Anthony+Bourdain+salvador&gs_l=psy-ab.3..0i19k1l3.232222.234922.0.235143.9.9.0.0.0.0.369.1562.0j6j1j1.8.0..3..0...1.1.64.psy-ab..1.8.1557...0j0i3k1j0i131i67k1j0i131k1.0.Fay9ejDaasY
Se tem participação do Lanegan, já ganha minha atenção.
E que perda irreparável a do Bourdain. Uma figura sensacional, pra além dos dotes culinários e do apresentador de TV. E com fortes ligações com a cena punk de NY
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