quinta-feira, junho 21, 2018

FASCÍNIO PELO POVÃO

Autor de Tungstênio, HQ cuja adaptação para as telas estreia hoje nos cinemas, Marcello Quintanilha tem trabalhos novos e antigos resgatados na coletânea Todos os Santos 

Tira para o jornal O Estado de S. Paulo
Estreia hoje no circuito nacional de cinemas o filme Tungstênio, de Heitor Dhalia. Trata-se de uma adaptação da história em quadrinhos de mesmo nome do quadrinista niteroiense Marcello Quintanilha.

Ao mesmo tempo, chegou às livrarias e comic shops o álbum Todos os Santos, uma coletânea de trabalhos anteriores do artista.

O timing para este lançamento – méritos para a editora Veneta e Quintanilha – não poderia ser mais perfeito.

Residente em Barcelona, de onde colabora para jornais e revistas das duas margens do Atlântico, Quintanilha é hoje, muito provavelmente, o mais importante quadrinista brasileiro de sua geração.

Profundamente autoral (ao contrário de muitos colegas, que se limitam a desenhar super-heróis para as editoras estrangeiras), o artista tem angariado o absoluto respeito de crítica e público – além de prêmios no Brasil e fora dele – graças a pegada naturalista com que faz a crônica, ora irreverente, ora poética, das pessoas simples do povo, aliada a uma estética realista de beleza  inegável.

HQ de 1991: premiada, porém inédita
Álbuns como  Sábado dos Meus Amores (Conrad, 2009), Almas Públicas (Conrad, 2011), Talco de Vidro (Veneta, 2015) e Hinário Nacional (Veneta,  2016), além do próprio Tungstênio (Veneta, 2014) são obras comparáveis aos melhores momentos da literatura nacional contemporânea.

Neles, o quadrinista  apresenta um verdadeiro desfile de tipos brasileiros bem populares de forma muito legítima e sem folclore, mas com muita atenção ao linguajar e maneirismos típicos.

À todos, Quintanilha oferece a mesma tinta, generosidade e um olhar sempre atento às contradições.

Desta forma, Todos os Santos cumpre um serviço aos leitores ao resgatar parte de sua obra pregressa que, ou estava inédita, ou havia sido publicada em revistas e jornais, muitos deles no estrangeiro.

Aqui, há HQs curtas, ilustrações editoriais, tiras de jornal (produzidas em 2010 para o Estado de S. Paulo) e até suas HQs iniciais, de quando começou no ramo aos 16 anos (em 1988), desenhando histórias de gênero (kung fu e terror) para as revistinhas da saudosa Editora Bloch.

HQ de 1988, para a revista Mestre Kim, da Editora Bloch
Além do trabalho gráfico, enriquecem a bela edição em capa dura da Veneta um prefácio de Aldir Blanc, uma entrevista de Quintanilha para a influente revista inglesa ArtReview conduzida pelo igualmente influente jornalista Paul Gravett e mais um texto de Márcio Paixão Júnior, mestre em Comunicação pela UnB.

Inspirado por Salvador

Na entrevista com Gravett, a chave para entender o fascínio de Quintanilha com os tipos populares.

“Venho de uma família de classe baixa e me criei em um bairro operário decadente.  Sou filho de um ex-jogador de futebol e uma professora primária. Meu entorno expressava a rotina de outras tantas  famílias oriundas de núcleos de pescadores ou pequenos comerciantes, militares de baixa patente ou funcionários públicos de baixo escalão”.

Pronto. Em poucas palavras, o próprio autor descreve a fauna humana que povoa suas HQs. Um exemplo bem claro está na própria Tungstênio.

Em outra entrevista – desta vez, a este mesmo Caderno 2+, em julho de 2014, Quintanilha contou que teve a inspiração para a HQ quando esteve em Salvador dez anos antes, para produzir o álbum Cidades Ilustradas: Salvador (Casa 21, 2005).

“A ideia para o argumento surgiu à partir de uma sucinta notícia transmitida pela Rádio Sociedade (então AM), que costumo acompanhar por internet”, contou.

“Girava em torno de uma dupla que havia sido detida nas imediações do Forte Monte Serrat por pescar com explosivos. Antes que pudesse perceber, estava criando um enredo em torno do fato. Sim, contei com o apoio do material levantado quando de minha estadia aí em 2004”, disse.

Em Todos os Santos, a capital baiana segue presente na obra do niteroiense, em uma das tiras para o Estado de S. Paulo. Um deleite.

Todos os Santos / Marcello Quintanilha / Veneta/ 112 páginas/ R$ 84,90

Um comentário:

rodrigo sputter disse...

eu vi esse filme em cartaz e lembrei q vc resenhou a HQ.

Falando em HQS...Chico, no iguatemi tem um "quiosque" da Top livros com vários livros por 10 pilas...e também quadrinhos da conrad...por 10 contos...comprei "o sétimo suspiro do samurai, vol 1", dois números dos freak brothers q saiu pela conrad, "o perfume invísivel° de manara (capa duro, comprei 3, um pra mim e dois pra dois amigos, acho que acabou por sinal), "el gaucho" de manara e pratt, um "hq" do uivo de ginsberg (Achei bem meeira), uma da 1001 com quadrinhos nacionais, tinha ainda caraíba de flávio collin, mr natural de crumb, um do alan sieber, um livro do millor fernandes...laertevisao (esse eu tenho autografado por ele, ops, ela), o do collin eu li e o do crumb eu tenho...vale a pena man, acima de 100 pilas eles dividem em duas vezes...tá no 1o piso, próximo a um local que vc troca notas fiscais por camisa da selecao...ah! tem um livro de "bang-bang" BEM bacana, os irmaos sisters...vale a pena ver!

ps.: sai do zap...quero me dedicar mais a leitura e ao cinema...aquela porra é boa, mas toma seu tempo...