Com cortejo saindo do Caboclo, Franciel Cruz lança hoje Ingresia no Icba
Em busca da moça do shortinho Gerassamba, Foto Sora Maia |
Ao se deparar com a foto ao lado, o incauto leitor se detém por um instante, perguntando-se o que deve se passar na cabeça do retratado: a cotação do dólar? Eleições? O preço do combustível? Tsc. Na cabeça do jornalista Franciel Cruz, que lança hoje seu primeiro livro, se passam outras coisas.
Poucas delas são sérias – e nenhuma tão vulgar quanto os assuntos citados. Em Ingresia: Chibanças e Seiscentos Demônhos (P55), Franciel versa, com a verve que seus amigos e seguidores do Facebook conhecem, sobre um assunto de muito maior monta: aquilo que ele chama de “A Enigmática Chinfra Baiana”, título de uma das dezenas de crônicas do livro.
Fruto de uma bem sucedida campanha de crowdfunding – termo que detesta – Ingresia reúne os melhores textos publicados por Franciel em blogs e redes sociais na última década e meia. Tudo por insistência dos amigos.
“Amigo, você sabe, não é raça de gente. Então, este livro, na verdade, é uma forma de me livrar deles. Ou, melhor da sua ladainha”, conta.
“Você tá num bar, querendo conversar sobre coisas importantes, tipo a cotação do bitcoin, e o cara fica em seu ouvido ‘Françuel, você tem que lançar livro, tem que lançar’... Quem porra aguenta isso? Não tem amizade que resista. Assim, o livro também é uma forma de preservar os amigos”, acrescenta.
Natural de Irecê, Franciel vem se tornando, ao longo das décadas, uma das maiores autoridades desta qualidade (ou defeito) indecifrável conhecido como “baianidade” – embora negue.
“Jamais serei autoridade em qualquer disgrama. Meu lugar de fala na baianidade é um samba-reggae de uma nota só: sou baiano, mas não pratico”, despista.
“Na verdade, este conceito do que entendemos de baianidade é esta ficção criada, especialmente pela dupla Caymmi & Jorge, com o auxílio pernicioso do Cabeça Branca. O fato é que esta baianidade se resume ao roteiro do dendê, mas a Bahia é muito maior do que isso”, afirma.
Tradicional de primeira
Com orelhas de Xico Sá, prefácio de Cláudio Leal e posfácio póstumo (escrito em 2014) por André Setaro, Ingresia desde já se configura em um dos lançamentos literários mais aguardados / badalados desta – como ele costuma dizer – “besta e bela província”.
Tão badalado que inaugura um novo – e desde já, tradicional – tipo de evento: o cortejo literário.
Em volta do carrinho de café multimídia da agitadora cultural Ana Dumas, Franciel, Núbia Rodrigues (que também lança seu livro infantil Sítio Caipora) e amigos sairão do caboclo do Campo Grande em direção ao ICBA, onde se dará a sessão de autógrafos.
“O livro bebe na fonte, com o perdão da má palavra, da iconoclastia. Então, quando Ana Dumas ofereceu o seu glorioso Carrinho Multimídia para animar a chibança, eu pensei logo em meter zuada”, diz.
“Conversei com Núbia e acertamos de marcar o primeiro e já tradicional cortejo literário. Sim, na Bahia é assim: a zorra nem começou direito e já é tradicional. Então, não sei o que será o cortejo literário. É o que acontecer. Vamos estar no pé do caboclo no Campo Grande chorando, caminhando, cantando e vendendo livro até chegar ao Pátio do ICBA, onde acontecerá o lançamento propriamente dito”, conclui.
Lançamento dos livros Ingresia, de Franciel Cruz, e Sítio Caipora, de Núbia Rodrigues / Hoje, 15h59 / Haus Kaffee (pátio do ICBA) / Gratuito
Ingresia: Chibanças e Seiscentos Demônhos / Franciel Cruz / P55/ Orelha: Xico Sá/ Prefácio Cláudio Leal/ 260 p./ R$ 30
ENTREVISTA COMPLETA: FRANCIEL CRUZ
Incentivado pelos amigos podemos entrar em diversas roubadas. Essa é uma delas?
Franciel Cruz: Totalmente. Amigo, como você bem sabe, não é raça de gente. Então, este livro, na verdade, é uma forma de me livrar dos amigos. Ou, melhor dizendo: da ladainha deles. Porra. Você tá num bar, querendo conversar sobre coisas importantes, tipo, sei lá, cotação do bitcoin, e o cara fica em seu ouvido "Françuel, você tem que lançar livro, tem que lançar"... Quem porra aguenta isso? Não tem amizade que resista. Assim, o livro também é uma forma de preservar os amigos.
Seu estilo de cronista tem muita verve e neologismos. Que autores o influenciaram? Alguém é capaz de te influenciar?
FC: Sim. Sou totalmente influenciável. Exatamente por isso, me lenho todo. A pessoa amiga diz: vamos comer água e usar substâncias não recomendadas pela Carta Magna. E eu, todo trabalhado no influencialismo, aquiesço. Mas na seara, digamos assim, literária óbvio que sempre rola umas influências, pois tudo acaba lhe (con) formando. Dos tradicionais & consagrados, creio que Rubem Braga. Aliás, não compactuo com a avaliação de que ele é lírico, no sentido romântico. Na verdade, acho que o lirismo dele está mais próximo da violência, da aspereza. Óbvio que os críticos não concordarão comigo, graças a Jehová. A propósito, outra influência é Jehová de Carvalho. A Bahia precisa ler Jehová. É um cronista superior.
Dizem que a baianidade foi uma invenção do trio ACM, Jorge Amado e Dorival Caymmi. Como uma autoridade no assunto, o que há de folclórico e o que há de verdadeiro nessa tal baianidade?
FC: Não faça isso comigo. Jamais serei autoridade em qualquer disgrama. Meu lugar de fala na baianidade é um samba-reggae de uma nota só: sou baiano, mas não pratico. Mas, derivo. Na verdade, creio, este conceito do que entendemos de baianidade é, realmente, esta ficção criada, especialmente pela dupla Caymmi & Jorge, com o auxílio pernicioso do Cabeça Branca. O fato é que esta baianidade se resume ao roteiro do dendê, mas a Bahia é muito maior do que isso. Tem a Bahia do sertão, inventada por Elomar e cantada ancestralmente pelos repentistas. O que acho chato é que este baiano de Salvador passou a acreditar tanto nesta invenção que acabou se deixando levar pela enxurrada, perdendo um tanto assim da espontaneidade. Mas é do jogo também
Em diversos textos você fala das pequenas tiranias dos chamados "donos da cidade", sejam ricos ou pobres. Por que o baiano - ou pelo menos, o soteropolitano - tem essa tendência ditatorial de padaria?
FC: Rapaz, creio que acontece muito é que o baiano se acha muito importante, seja para o bem ou para o mal. Tem este negócio da chinfra, de tirar os outros pra otário. E isso acaba resvalando nesta coisa de achar que pode fazer o que bem entender sem se preocupar com o outro. Óbvio que, não necessariamente, isso é só ruim. Esta coisa de se achar dono da cidade tem seu lado positivo porque há uma identificação com a disgrama toda, o que torna muita coisa engraçada.
O que é um cortejo literário?
FC: É outra ficção. O que aconteceu foi o seguinte. Eu não queria ficar preso ao empolamento literário. O livro bebe na fonte, com o perdão da má palavra, da iconoclastia. Então, quando Ana Dumas ofereceu o seu glorioso Carrinho Multimídia para animar a chibança, eu pensei logo em meter zuada. Minha amiga Núbia Bento vai lançar Sítio Caipora, no mesmo dia e local. (Aliás, comprem a obra dela. Ao contrário do Ingresia, é muito boa). Continuando. Pois bem. Quando Ana ofereceu o equipamento, eu conversei com Núbia e acertamos de marcar o primeiro e já tradicional cortejo literário. Sim, na Bahia é assim: a zorra nem começou direito e já é tradicional. Então, sinceramente, não sei o que será o cortejo literário. É o que acontecer na hora. Vamos estar no pé do caboclo no Campo Grande chorando, caminhando, cantando e vendendo livro até a chegada ao Pátio do ICBA, que é onde acontecerá o lançamento propriamente dito.
Deu muito trabalho selecionar e editar as crônicas? Foi você mesmo que fez tudo isso, correto? Que tipo de cuidado - ou descuidado - te orientou nessa labuta?
FC: Eu fiz aquele tradicional trabalho de separar o joio do trigo. E claro, escolhi o joio. Muito joio e alguns trigos. A criatura vai lendo um bocado de coisa ruim e aí se depara com algo mais ou menos e pensa: este menino tem futuro. Mas para não deixar sua pergunta sem resposta (já vai ser a última questão, né?), seguinte. Eu praticamente havia perdido todas as coisas que rabisquei porque um abençoado, que não vou nem dizer o nome pra não dar azar, deletou a porra toda. Então, o trabalho inicial foi tentar relembrar o que já tinha escrito e onde poderia achar. Nesta labuta infeliz, reuni mais de 150 crônicas. E passei para Flávio Costa, autor do bom livro Caçada Russa (comprem, é bom, ao contrário do Ingresia), que fez uma seleção inicial. Depois fui relembrando de outras crônicas e contei com a leitura mais do que atenta de Davi Boaventura e, last but not least, Tom Correia. Óbvio que eles não têm culpa pelo resultado disgramado. Ao contrário, tentaram ajudar, mas sou teimoso. Então, o que me orientou foi a teimosia.
Quando sai o próximo livro? Romance, contos ou autoajuda?
FC: Vou escrever o livro sobre o conceito que desenvolvi na feitura deste, chamado marquetingue-bulén. Nesta portentosa obra, vou ensinar as pessoas a venderem seus livros iguais aos mascates e cobrar iguais aos ciganos. Vai ser um fenômeno.
4 comentários:
Lamento por que gosto muito das HQs Disney, mas essa editora fascista e seu pasquim golpista eu quero mais que feche!
http://www.universohq.com/noticias/abril-confirma-em-comunicado-a-assinantes-fim-dos-quadrinhos-disney-na-editora/
A veja tem que acabar!
Uma editora que publica uma revista filhadaputa dessas, fábrica de fascistas, tem mais que fechar mesmo.
https://veja.abril.com.br/blog/fatos/mundo-morto/
Caixão e vela pra Abril.
A incoerência é tamanha que o colunista fala em "mundo morto" ao se referir às denúncias das barbáries cometidas pelo estado, mas essa mesma gente não cansa de nos alertar contra uma tal "ameaça comunista" nos dias de hoje. Oxe, achei que o muro de Berlim tinha caído há quase 30 anos!!!! Decida-se, porra!
CANALHA, CANALHA, CANALHA.
curiosamente a abril lança a piauí, quer ganhar $$ com a direita e a esquerda??
https://www.assine.abril.com.br/portal/assinar/revista-piaui?origem=google_11_Revista_Piaui&utm_source=buscadores&utm_medium=google&utm_campaign=Revista_Piaui&gclid=EAIaIQobChMI_q7a3-bM2wIVCwaRCh0zNQ6TEAAYASAAEgIwEvD_BwE
olha que "beleza", quem sobrar, vai pra campo de extermínio, isso deveria ser considerado crime de ódio:
https://www.youtube.com/watch?v=Zx0x4Q8qay4
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