Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
Clássico da FC soviética, Piquenique na Estrada traz conceitos muito originais, mas patina em uma narrativa arrastada
Stalker, Andrei Tarkovsky, 1979
Um dos temas mais caros à ficção científica, a visita de seres de outro planeta à Terra já rendeu zilhões de histórias.
Poucas porém, tão originais quanto Piquenique na Estrada, um clássico da FC soviética.
Lançado em 1972, Piquenique foi escrito pelos irmãos Boris (1933 - 2012) e Arkádi Strugátski (1925 - 1991). Em 1979 o livro foi adaptado ao cinema pelo diretor Andrei Tarkovsky, que o converteu em outra de suas explorações psicológicas em câmera lenta e ares cult, o premiado Stalker (1979).
Voltando ao livro, sua originalidade reside não na forma como é escrito – uma forma quase ortodoxa, na verdade – mas na abordagem do tema dos visitantes aliens.
Tudo se desenvolve na fictícia cidade canadense de Harmont, em cujos arredores os alienígenas pousaram e, depois de algum tempo, simplesmente foram embora.
Não houve comunicação – ou tentativa de – dos ETs para com a humanidade. A área que os visitantes ocuparam e, depois de algum tempo, abandonaram, logo foi isolada pelas autoridades, já que lá foram deixados objetos, radiações e substâncias completamente desconhecidas – muitas tóxicas – para humanos.
30 anos depois, ninguém sabe ainda quem eram os aliens, de onde vieram, para onde foram ou que fizeram.
A chamada “zona de visitação” – uma das seis que receberam aliens simultaneamente na Terra – ainda está isolada e somente alguns aventureiros destemidos (ou malucos mesmo) se arriscam a entrar lá.
Conhecidos como stalkers, esses soldados da fortuna penetram na zona em busca dos tais objetos e substâncias deixados pelos aliens, alguns deles extremamente valiosos.
Estudados pelos cientistas, algumas tecnologias aliens já são utilizadas como fontes de energia. Outras permanecem uma incógnita.
Nesse cenário, a narrativa acompanha um stalker, Reddrick Schuhart, em suas idas e vindas à zona ao longo de alguns anos, bem como as implicações políticas e econômicas em Harmont, a vida dura dos stalkers e as consequências para a saúde do contato direto com as bugingangas aliens.
Stalker, 1979
Previsão de Chernobyl
Até aí, uma premissa e tanto para qualquer obra. Pena que a narrativa, apesar de recheada de conceitos tão interessantes, seja tão arrastada.
A ideia de que os aliens, aparentemente, não tinham qualquer interesse nos terráqueos e simplesmente fizeram uma parada no meio da viagem – daí o título do livro – é muito instigante e nos confronta com a insignificância da humanidade perante o universo.
O conceito da zona de visitação é também uma baita metáfora, pronta para múltiplas interpretações – além de soar muito como uma previsão da tragédia soviética que foi o desastre de Chernobyl, ocorrido meros 14 anos depois do lançamento do livro.
Ainda assim, os irmãos Strugátski pareceram patinar em uma narrativa desfocada, mais preocupada em desvendar o dia a dia mais ou menos banal de Schuhart – sua filha pequena sofreu deformações horríveis pela radiação alien – do que em enfiar o pé na lama negra – substância alienígena, capaz de transformar ossos humanos em macarrão.
Há de fato sequências muito boas, mas chegar lá vai exigir certo esforço do leitor.
Em tempo: a edição primorosa da Aleph traz um prefácio da cultuada escritora Ursula K. Le Guin (A Mão Direita da Escuridão) e posfácio do próprio Boris Strugátski, no qual narra as dificuldades de se escrever e publicar um romance tão simbólico nos tempos do totalitarismo soviético.
Piquenique na estrada / Boris e Arkádi Strugátski / Aleph/ Trad.: Isadora Prospero e Tatiana Larkina/ 320 p./ R$ 59,90
Concurso de bandas de heavy metal Maniac Metal Fight começa domingo no Groove
Rapaziada jovem e cheia de estilo da Graveren, foto Victor Casarão
Além de uma cena vasta e diversa, o heavy metal na Bahia tem um público de nicho dos mais fieis.
Igualmente fieis são os empresários João Carlos Maniac da Guia e Alexandre Afonso.
O primeiro já produziu inúmeros shows, além de ter mantido a loja Maniac por muitos anos.
E Alexandre é o homem da rádio on line Rock Freeday, além de também trabalhar na produção de shows.
Agora, eles trazem de volta o concurso Maniac Metal Fight, que terá quatro seletivas com três bandas cada e começa domingo, no Groove Bar.
A vencedora será premiada com a gravação de duas faixas em estúdio profissional.
“Em acordo com as bandas, substituímos os prêmios de segundo e terceiro lugares por ajuda de custo para as bandas. Achei bem legal, sensato e democrático”, afirma João.
Domingo, na primeira seletiva, se apresentam as bandas Graveren (de black metal), Cães (sludge/doom) e Awaking (thrash / prog).
As próximas seletivas ocorrem nos dias 10 de junho (com Electric Poison), Honra e Jigsaw), 1º de julho (Evening Star, Snake of Death e Blessed in Fire) e 15 de julho (Severed Spirit, Eminent Scorn e Old Chaos).
“O evento contempla vários sub estilos do metal: black, death, sludge, doom, heavy metal, prog metal, thrash etc”, enumera João.
Galera da Awaking, mandando bem no quesito simpatia. Foto divulgação
“A importância maior é o aquecimento da cena, tanto para o público, como para as bandas e mídias especializadas – para quem vive o estilo e vive do gênero. Oportunidade para algumas bandas tocarem em uma estrutura profissional e mostrarem de verdade seu trabalho, revelar novos expoentes e formar público”, detalha o produtor.
“Dou dez paus!”
Para o júri, um time de veteranos de absoluta responsa: Lord Vlad (Malefactor), Fábio Gouveia (Veuliah) e Leonardo Leão (Drearylands).
A seleção das bandas inscritas foi feita pelo próprio João.
“As inscrições foram via Facebook e fiz a seleção com base em critérios de qualidade do trabalho. Não me ative a tempo de estrada nem sub-estilos”, diz.
Nos eventos haverá sorteio de brindes e exposição de fotos da cena. “Teremos um espaço onde as pessoas poderão dar sua opinião sobre a cena, bandas e evento. Tudo será filmado e postado nas mídias sociais do MMF”, conclui.
Maniac Metal Fight – 4º edição / 1ª seletiva com Awaking, Cães e Graveren / Domingo, 19 horas / Groove Bar / R$ 15 (1º Lote), R$ 20 (Sympla) e R$ 25
NUETAS
Igor Gnomo, Coutto
A caminho da Argentina, onde farão dez shows em três cidades, o Igor Gnomo Group (Paulo Afonso) se apresenta com os sergipanos da Coutto Orchestra no Teatro Sesi Rio Vermelho. Quinta-feira, 20 horas, R$ 20 e R$ 10.
Jazz na Av. vezes 2
Muita graça e alegria no Música de Quinta. Foto divulgação
Evento semanal adotado pelo público, o Jazz na Avenida faz duas sessions nesta semana para comemorar sua formalização como associação cultural. Mais sobre isso em breve. Quinta tem a cantora Claudia Garcia e Banda BB-Blues. Sexta, Laurent Rivemales Trio e grande jam session. 18 horas, entrada gratuita
Música e teatro
A Outra Companhia promove mais uma edição do Música de Quinta neste sábado. No repertório, sucessos populares com direito a performances teatrais e poesia. Sábado, 15 horas, no Calçadão do Politeama (Rua Politeama de Cima). Pague quanto puder.
Paralamas do Sucesso traz show do novo álbum Sinais do Sim à Concha Acústica do TCA neste domingo. Bi Ribeiro fala sobre a apresentação e a influência da Bahia nos anos 1980
Herbert, Bi e Barone, não necessariamente nesta ordem. Ft Maurício Valladares
Um feliz caso de talento, longevidade e preferência popular, o Paralamas do Sucesso chega aos 36 anos de atividade absolutamente consolidado como uma das principais bandas do rock brasileiro.
Amanhã, eles se reencontram com o público soteropolitano na Concha Acústica, trazendo à cidade o show do seu mais recente álbum, Sinais do Sim.
Ontem eles já se reencontraram com os baianos ao se apresentar no Ária Hal, em Feira de Santana. "Sim, faz um bom tempo que não tocamos em Feira", admitiu o baixista Bi Ribeiro por telefone na quinta-feira (24), um dia antes de embarcar para a Bahia com Herbert e Barone.
"Já tocamos muito no antigo (Clube de Campo) Cajueiro. A gente faz o Brasil todo, um monte de cidades no interior. Não tem tempo ruim pra gente, não. Não tem lugar que não vamos", afirma, animado.
Outro fator de animação é o próprio palco onde se dará o show, o solo sagrado da Concha Acústica do TCA, nacionalmente reconhecido como um dos melhores locais para apresentações de música popular.
"Ah sim, a Concha é um dos palcos mais amados do Brasil, sem dúvida. E a gente etm orgulho de ter uma história grande nesse palco, desde os anos 1980", disse o baixista.
Nesta turnê, como é natural quando se lança um álbum novo, o repertório misturará sucessos e músicas de Sinais do Sim, além de algumas surpresas. "É o show do Sinais do Sim, o lançamento do disco mesmo. A gente encerrou no ano passado o show dos 30 anos, que a gente levou 4 anos fazendo, só com hits", lembra.
"Então este ano vamos fazer um repertório de show que conversa bem com o repertório do disco do novo, incluindo algumas músicas antigas que nao tocávamos há um tempão, outras que nunca tínhamos tocado ao vivo e claro, alguns sucessos que são inescapáveis. O show está bem redondo, azeitado, sem arestas, muito gostoso de tocar e divertido para o público também", detalha Bi.
RUPTURA
Barone, Bi e Herbert. Nesta ordem. Foto Maurício Valladares
Um fato pouco lembrado – e que coloca o Paralamas acima de boa parte de seus colegas de geração – é que foi o trio que, em 1986, em pleno auge midiático do rock brasileiro, promoveu uma pequena grande revolução com seu álbum Selvagem?, no qual assumiu uma estética tropical brasileira.
Neste álbum, o trio aprofundou suas influências jamaicanas – já presentes desde o primeiro disco via The Police, a quem eram acusados de copiar nos dois primeiros discos –, além de incorporar batidas brasileiras, a guitarrada paraense e o hi life (estilo africano), entre outros.
O que menos gente ainda se lembra - ou sabe - é que uma parte dessa nova inspiração veio da temporada que Herbert, Bi e Barone passaram em Salvador no verão de 1985 – justamente aquele fatídico verão, ano zero da axé music – logo após o show do trio no primeiro Rock in Rio.
"(Essa influência baiana) Foi subliminar. O Selvagem? não tem nenhuma música assim, baiana. Mas depois do Rock in Rio nós passamos o Carnaval aí em Salvador. Eu nunca tinha ido e fiquei fascinado com os blocos afro, com a coisa crua da percussão e voz", lembra Bi.
"Ficamos malucos com aquilo tudo que gente via. Aí começamos a fazer associações, a coisa da região Norte, a coisa da África, o reagae, o xaxado, o baião. Aí quando vimos o Olodum, lascou. A África é aqui agora. Não tem nada igual no mundo. Ficamos loucos e começamos a frequentar os ensaios", relata.
Essa postura ia na contramão de 99% das bandas de sucesso de então, que se limitavam a reproduzir a sonoridade e a estética do pós-punk inglês, então a última bolacha do pacote do rock.
"Pois é, tinha essa tendência forte do pós-punk na época. E a gente veio com uma coisaa mais tropical, mais pro reggae, mais pra África. A gente se sentiu ali (na Bahia) olhando para uma coisa viva. Inclusive, esse ano a gente foi na Virada Cultural assistir o Olodum", conta.
Paralamas do Sucesso: Sinais do Sim / Abertura: Nobad / Amanhã, 19 horas / Concha Acústica do TCA / R$ 80 e R$ 40 / Camarote: R$ 160 e R$ 80 / Vendas: Bilheterias TCA, SACs shoppings Barra e Bela Vista e www.ingressorapido.com.br
Banda muito querida do público local, que costuma lotar seus shows em Salvador, a Eddie lançou há poucos dias um novo álbum – o sétimo da carreira –, Mundo Engano.
Produzido pelo chapa de cena pernambucana Pupillo (baterista da Nação Zumbi e requisitado produtor), Mundo Engano traz um Eddie menos soturno do que no álbum anterior, Morte e Vida (2015).
Ainda assim, aqui e ali há ecos (mesmo que sutis) do conturbado momento sócio-político-econômico por que passa o Brasil, tendo sempre o mar e suas marés como reflexo e metáfora.
A começar pela primeira faixa, A Correnteza. Em levada intimista, a voz grave de Fábio Trummer anuncia tempestades no horizonte – imagem condizente com a própria capa do álbum, de Helder Santos.
“As ondas quebram em volta / Explodirão / Os ventos castigantes / Vão, vem e vão / A noite é fria e longa / Desolação / A luz é pouca e cinza / Preste atenção”, canta Fábio, quase declamando.
A impressão se desvanece aos poucos a partir da segunda faixa, O Mar Apaga, um samba surf carregado de reminiscências de antigos amores na praia e no carnaval de Olinda.
No frigir dos ovos, mais um belo álbum de uma banda de identidade muito forte – e fiel à si própria.
“Adorei o resultado final”, afirma Fábio, por telefone. “Pupillo, além de amigo pessoal da banda, conhece muito bem nosso trabalho. Há muito tempo que ele comentava que queria produzir um disco nosso. Foi sensacional”, conta.
“O mais bacana foi perceber que o que gente tinha de ideia musical, que nós mesmos não conseguíamos verbalizar, ele conseguia sentir, tamanha sua sensibilidade. Ele capta tudo. É um maestro de ritmos, uma área que gente gosta de testar coisas novas”, relata Fábio.
Eddie vigia. Foto Beto Figueroa
Iemanjá, Martin, Salvador
Financiado por uma bem sucedida campanha de financiamento coletivo (que demonstra o prestígio da banda entre seu público), Mundo Engano também traz uma série de convidados até então inéditos em álbuns da banda, como o guitarrista baiano Martin Mendonça (Pitty), o violonista virtuose Guri Assis Brasil e o escritor Marcelino Freire, autor do pema-protesto Para Iemanjá, convertido em canção.
Vale citar: “Minha Rainha/ Não fui eu quem jogou ao mar essas garrafas de Coca/ As flores de bosta / Não mijei na tua praia / Juro que não fui eu”.
“Martin foi sugestão de Pupillo. Eu já o conhecia, aí eu disse: ‘perfeito, ele tem a técnica do violão de cordas de aço e slide perfeitas. Eu até podia tocar, mas ele é tecnicamente apurado. Buscamos esse tipo de solução neste álbum, trazer um nivel técnico de pessoas que tocam seus instrumentos muito bem”, conta Fábio.
Lançado o álbum, Fábio, Alexandre Urêa (percussão & voz), Andret Oliveira (trompete, teclados & samplers), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria) começam a fazer os shows de lançamento pelo Brasil, começando por São Paulo, amanhã e sexta-feira, no Sesc Pompeia.
Os fãs baianos, infelizmente, ainda terão de esperar um pouco para conferir o novo show do Eddie: “Estamos conversando com um festival para setembro. Existe a intenção deles e nossa, mas ainda é cedo para bater o martelo”, conta.
“A gente busca ir sempre à Salvador por que acreditamos que é a cidade que melhor nos entende, tanto quando Recife ou Olinda”, conclui Fábio.
Eddie / Mundo Engano / Independente / Nas plataformas digitais
Declinium, banda do melhor vocalista do rock baiano, faz show sábado com PdM e Jato Invisível
Oreah (centro) e a Declinium na foto de Faustino Menezes
OK, o colunista agora pede licença e avisa: às favas com a imparcialidade jornalística.
Uma das bandas locais preferidas desta coluna está de volta à cena com material inédito e show.
A Declinium, banda de Camaçari que é praticamente um Joy Division baiano, lança neste sábado, com um show no Estúdio Casarão, Sombras e Luzes, seu novo álbum.
Ou quase novo. Consta que as cinco faixas de Sombras e Luzes foram registradas há mais de dez anos, mas só agora elas viram a luz do dia.
“Tem um montão de histórias a respeito desse disco, mas a real é que a gente tinha essas músicas guardadas há um tempão e não sabíamos o que fazer com elas”, conta Oreah, vocalista e baixista.
“Então, como não conseguimos lançar um disco novo esse ano a trinca de selos (Brechó, BigBross, São Rock) resolveu lançar. Foi uma ideia do Wilson (Santana), dono da Brechó Discos”, acrescenta.
Dono da voz mais bonita e impressionante do rock baiano, Oreah – codinome de Erivaldo Reis – revela que, por incrível que pareça, ele nunca fez aula de canto:
“Não man, na real eu nunca pensei em cantar numa banda, saca? Queria ficar no meu canto, tocando meu baixo e bebendo cerveja, mas como nunca conseguimos um vocalista, eu comecei a cantar”, conta.
“Pra mim foi um lance natural. Antes da banda eu não cantava nem no banheiro. Vou aprendendo um pouco a cada dia. Tem uma galera aê que acha que eu levo jeito”, diz.
Calejados e com fome de bola
Fundada no ano 2000 em Dias D’Ávila mas baseada em Camaçari, a Declinium segue em plena atividade.
“Cara, a gente nunca para. Em 2017 um dos guitarristas resolveu sair, aí entraram Everton Mendonça na guitarra e Tiago Matos nos teclados. Começamos a ensaiar e compor as músicas pro próximo disco, mas banda independente você sabe como é. Já temos o próximo disco pronto, só falta grana pra gravar, se a gente pudesse já tinha saído”, conta.
“Dar tempo é um lance que não existe pra gente. Quanto a shows, estamos sempre fazendo, A Declinium toca pelo menos uma vez por mês até outubro”, acrescenta.
Além de Oreah, Everton e Tiago, a Declinium conta com Ericson França (bateria) e Leandro Rodrigues (guitarra).
“Sábado vai ser o nosso segundo show em Salvador com essa formação. Vamos tocar algumas canções com os amigos da Jato Invisível e Pastel de Miolos. Todo mundo calejado mas com fome de bola”, conclui.
Pastel de Miolos, Declinium e Jato Invisível / Sábado, 16 horas / Estúdio Casarão (Center Condomínio Pedras do Vale, Bonocô) / R$ 15
NUETAS
Show de Calouros
Notas cinematográficas na coluna de hoje. Atenção para o curta-metragem Show de Calouros, que conta com nosso querido Rodrigo Sputter Chagas (The Honkers) no elenco e tem canções de Glauber Guimarães. Direção de Diego Haase e Rodrigo Araújo. Assista sexta-feira, 19 horas, na Sala de Arte Ufba. Gratuito.
Miles, Jonas, Marcelo e o circo
Sábado, dia 26, o gênio do jazz Miles Davis faria 92 anos. Para comemorar, o Cidade Picolino promove a Balada CineCirco. Às 18 horas tem exibição de documentário sobre Miles. Às 19, exibição do filme baiano Jonas e o Circo sem Lona, seguido de bate-papo. E 21 horas, show do Marcelo Brasil Quinteto em Tributo a Miles Davis. Tudo lá no Circo Picolino, em atividade de atividade de extensão da Universidade Livre do Circo. A contribuição é espontânea.
Autor do hit Casa no Campo, Zé Rodrix tem vida, personalidade e carreira bem investigadas em biografia de Toninho Vaz
Zé Rodrix, foto cortesia Ed. Olhares
O pessoal de mais idade certamente se lembra de Zé Rodrix, um carismático e talentoso cantor bigodudo, presença certa nas paradas de sucesso dos programas de auditório.
Autor do eterno hit (na voz de Elis Regina) Casa no Campo, ele tem sua história – e importância – resgatadas na biografia O Fabuloso Zé Rodrix, do jornalista Toninho Vaz.
Dono de talentos vários e personalidade esfuziante, Rodrix foi uma daquelas pessoas que nasceram para estar no centro das atenções.
E certamente esteve, por muito tempo. A partir do final dos anos 1960 até o início dos 80, ele marcou presença em muitos momentos cruciais da música brasileira.
Em 1967, aos 19 anos, integrou (ao teclado) a Momento Quatro, banda que acompanhou Edu Lobo e Marília Medalha na apresentação de Ponteio (parceria de Lobo com o baiano Capinam), vencedora do mítico Festival Internacional da Canção daquele ano.
Em 1970 ingressou na Som Imaginário, que era nada menos que a banda que acompanhava Milton Nascimento, e que tinha entre seus integrantes Wagner Tiso, Naná Vasconcelos e o violonista Tavito – que pouco tempo depois viria a ser parceiro de Zé na composição da própria Casa no Campo.
Esta, defendida por ele e Tavito no Festival de Música Popular de Juiz de Fora em 1971, acabou em primeiro lugar.
Adivinha quem era a presidente do júri? Elis Regina. Ali mesmo, no camarim, a cantora avisou aos músicos que iria gravar a canção.
O resultado foi um sucesso estrondoso, que marcou época e atravessou gerações.
Foi naquele mesmo ano de 1972 que Rodrix formou um trio com dois outros músicos conhecidos da cena carioca de então: Luiz Carlos Sá e o baiano Gutenberg Garabyra.
Juntos, Sá, Rodrix & Guarabyra formaram uma espécie de Crosby, Stills & Nash brasileiro, misturando a delicadeza da música acústica de estilo campestre à psicodelia da época, gerando um subgênero conhecido como rock rural.
O SR&G é hoje cultuado como uma formação histórica no Brasil, responsável por canções geniais como Mestre Jonas, Hoje Ainda é Dia de Rock e Primeira Canção da Estrada, entre outras.
Sempre inquieto, Rodrix deixou o trio após dois discos (Passado, Presente & Futuro, de 1972 e Terra, de 1973), partindo para a carreira solo, na qual seguiu cravando sucessos como Soy Latino Americano e Hora Extra, além de fazer trilhas sonoras de novelas da Globo (O Espigão), peças de teatro (como a primeira versão brasileira do musical Rocky Horror Show) e filmes.
Até que, em 1982, ele desapareceu de cena, protagonizando o que o autor Toninho Vaz chamou de “a primeira das três mortes de Zé Rodrix”.
Razão: a morte repentina de Elis Regina, cantora de quem era muito amigo e que fez sua carreira decolar.
Em depressão, decidiu se retirar do meio artístico e do jogo de pressão das gravadoras, que exigiam um disco novo por ano de seus artistas contratados.
Nos tempos de Casa no Campo. Cortesia Ed. Olhares
Na época, Rodrix, carioca classe média, filho de um baiano de Rio de Contas, já morava em São Paulo, onde abriu uma produtora de jingles com o músico Tico Terpins, conhecido por ter integrado a galhofeira banda pré-punk Joelho de Porco.
E foi com Tico – se que se tornou um amigo inseparável –, e o rentável trabalho na propaganda, que Rodrix encontrou novo alento.
Um novo baque viria no fim dos anos 1990, quando Tico morreu.
E esta foi a segunda morte de Zé Rodrix. A terceira (e definitiva) foi em 2009, após um enfarto.
Senhor das Hipérboles
Iniciativa muito bem-vinda, esta biografia de Zé Rodrix por Toninho Vaz preenche uma lacuna importante no mercado das biografias musicais, cobrindo com um trabalho muito sério de reportagem e pesquisa alentada a vida desta figura tão singular.
Vaz também constrói um perfil muito competente do homem Rodrix, um sujeito hiperativo a quem o autor chama de “Senhor das Hipérboles”, por conta de sua capacidade de transformar qualquer banalidade em algo grandioso.
Finda a leitura, o leitor tem a sensação de ter conhecido o biografado em pessoa.
Aqui e ali há pequenas falhas – de digitação e também de dados – que certamente deverão ser corrigidos em edições futuras.
Íntimo do artista, Vaz desenterra diversos causos e detalhes de sua vida familiar, como suas infidelidades conjugais e um filho ilegítimo – depois assumido por Rodrix.
Vaz chega mesmo a transcrever um email de Rodrix para os companheiros Sá & Guarabyra – na ocasião de um revival já nos anos 2000 – onde ele chega às raias do constrangimento, ao criticar duramente Sá por conta de discordâncias artísticas durante a gravação do álbum Amanhã (lançado postumamente, em 2010).
Essas indiscrições – claro – só tornam o livro ainda mais saboroso e de leitura ágil.
Figura de proa na música, no teatro musical (os musicais de Cláudia Raia também são dele), na propaganda e até na Maçonaria, Zé Rodrix merece ser mais conhecido pelas novas gerações.
Cobertura: Estreia de As Caravanas no TCA foi conforme o figurino: casa cheia, cantor afinadíssimo, banda perfeita e “fora Temer”
Chico e banda no TCA, foto de Mila Cordeiro / Divulgação
A Sala Principal do Teatro Castro Alves ficou quase lotada na estreia de As Caravanas, o espetáculo de Chico Buarque que ainda ocupa o espaço nas noites de hoje e amanhã.
Com exceção das quatro últimas fileiras (Z8, Z9, Z10 e Z11), que restaram vazias, o público se acomodou em todo o resto do teatro.
Após ser anunciado pelo sistema de som e ter as cortinas levantadas diante de si e da banda, Chico abriu um show que pareceu seguir fielmente um roteiro, iniciando a apresentação com Minha Embaixada Chegou, samba de 1934 do baiano Assis Valente.
“Minha embaixada chegou / Deixa o meu povo passar / Meu povo pede licença / Pra na batucada desacatar”, anunciou Chico, elegante em impecável blazer preto, para delírio das senhoras no recinto.
Estabelecido o consulado provisório até domingo, o titular foi de pouca conversa: saiu desfiando seu repertório, começando com a pouco lembrada – e maravilhosa – Partido Alto: “Diz que deu, diz que dá / Diz que Deus dará”.
Ainda morno no início, Chico foi ficando mais a vontade em um show difícil de ser tematizado em uma caixinha só.
Ao longo da apresentação, diversas facetas de sua produção artística surgiam no palco: o Chico romântico (Retrato em Branco e Preto, A Moça do Sonho, Todo Sentimento), o Chico latino (Iolanda), o Chico feminino (Palavra de Mulher, A História de Lily Braun), o Chico novo (Casualmente, Tua Cantiga – aplaudidíssima, Desaforos, Jogo de Bola).
Ainda no repertório do CD As Caravanas – executado na íntegra – fez questão de saudar o neto xará Chico Brown, seu parceiro na lírica Massarandupió.
Mal começou a canção, pediu para a banda parar, pois havia errado a letra. Aplausos massivos da plateia.
Ao longo da canção, a armação do cenário de Hélio Eichbauer começou a balançar suavemente. Aí ficou claro do que realmente se trata o parangolé: uma rede.
Nada mais apropriado para acompanhar uma música tão praieira.
As Caravanas somos nós
Noite de quita 17 de maio no TCA. Foto Mila Cordeiro / Divulgção
Uma surpresa foi a clássica Sabiá, refeita em novo arranjo e andamento mais dinâmico – cortesia do maestro, violonista e diretor Luiz Cláudio Ramos.
Gota D’Água mal havia começado e um longo suspiro coletivo ecoou na Sala Principal do TCA. Justificado.
Mas o Chico que as pessoas mais queriam ver parecia mesmo ser o Chico político – que surgiu renovado na espetacular faixa-título do álbum e da turnê, na qual descreve um caótico domingo de sol na Zona Sul, com direito à característica batida de funk carioca: “Com negros torsos nus deixam em polvorosa / A gente ordeira e virtuosa que apela / Pra polícia despachar de volta / O populacho pra favela / Ou pra Benguela, ou pra Guiné”.
A essa altura, a apresentação já se encaminhava para o terço final, com o povo já visivelmente se remexendo nas cadeiras, doido para descer para a frente o do palco.
A deixa foi depois que Chico apresentou a banda e, ao som de Grande Hotel, botou um chapéu de malandro carioca e dedicou o show ao seu parceiro nesta canção, o mítico baterista Wilson das Neves, morto no ano passado.
Em êxtase, senhoras, senhores – e jovens, claro – se levantaram e desceram para a beira do palco. Chegamos à Derradeira Estação, com direito à reprise de Minha Embaixada Chegou.
A música termina e Chico sai. Volta ao violão, com Geni e o Zepelin. Gritos de “Lula livre” e “Fora Temer” são ouvidos. Um coxinha solitário berra “Lula na cadeia”. Ninguém dá bola.
O show se conclui e Chico sai de novo. Mas quem disse que o povo está satisfeito? Chico volta e manda Paratodos: “O meu pai era paulista / Meu avô, pernambucano / O meu bisavô, mineiro / Meu tataravô, baiano / Meu maestro soberano / Foi Antonio Brasileiro”.
Agora sim, o círculo se fecha. A embaixada é do povo. As Caravanas somos todos nós.
Chico chega junto da plateia, dá uma sambadinha (gritinhos histéricos) e, sem aviso, dispara a correr de um lado para outro de um jeito meio engraçado, batendo nas mãos que se estendem para tocar o ídolo.
É, todos aqueles babas com o Polytheama (seu time) e caminhadas pela orla definitivamente valeram a pena.
(Confira a funny running de Chico e o fim do show no vídeo abaixo, gravada pelo celular do blogueiro).
De hoje até domingo, o Teatro Castro Alves é a embaixada oficial de Chico Buarque, com quatro apresentações do espetáculo Caravanas. Luiz Claudio Ramos, maestro do homem, conta como é a preparação de Chico e banda em turnê
Chico sob o cenário onírico de Helio Eichbauer. Foto Leo Aversa
Enquanto muitos se digladiam por picuinhas políticas, Chico Buarque, a quase um mês de completar 74 anos, segue numa boa em turnê de divulgação de seu último disco, o belo Caravanas.
De hoje até domingo, o carioca se apresenta para os baianos na Sala Principal do Teatro Castro Alves.
Avesso à entrevistas, Chico designou seu maestro e violonista desde 1993, Luiz Claudio Ramos, para falar sobre o show.
Dono de notória timidez em público, Chico está mais “solto”, garante Luiz.
“Eu acho que o diferencial desse show é justamente o Chico estar mais à vontade. Claro que todo mundo fica nervoso, mas acho que ele está se assumindo mais como cantor. Ele sempre foi uma pessoa tímida. Nesse show ele está bem mais solto”, afirma o maestro.
“É o Chico de sempre, mas se aprimorando, especialmente na presença dele no palco, que está mais solta”, acrescenta.
Apesar de ter sido “efetivado” no cargo apenas a partir do álbum Paratodos (1993), Luiz Claudio já trabalhava com Chico desde o álbum Calabar (1973), quando gravou o violão para a faixa Bárbara. Ninguém mais apropriado para falar da evolução do artista ao longo das décadas.
“Eu acho que qualquer trabalho, qualquer profissão, você pode se desenvolver a vida inteira. No caso do Chico, acho que ele segue se desenvolvendo e se aprimorando, como músico, como compositor, como cantor. Essa turnê mostra essa maturidade”, afirma.
Neste show, Chico e Luiz Cláudio (ao violão) vem acompanhados de uma super banda: João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) e o estreante Jurim Moreira (bateria), substituindo o mítico Wilson das Neves, morto em 2017.
No repertório, canções de Caravanas e clássicos da carreira, como Retrato em Branco e Preto, Sabiá, Gota D’Água, Partido Alto, Estação Derradeira, Iolanda, Todo Sentimento, Homenagem ao Malandro e A História de Lily Braun, além de lados b como Outros Sonhos, Injuriado e A Bela e a Fera.
Tudo isso embalado no cenário onírico de Helio Eichbauer, um dos maiores nomes da cenografia brasileira.
Democracia nos ensaios
Maestro Luiz Cláudio ao violão. Foto Leo Aversa
Na coordenação musical disso tudo, olha lá o Luiz Cláudio, que conta como é a preparação para uma turnê com Chico e banda.
“Ele me passa o repertório. Sempre fazemos as músicas do disco que ele acabou de lançar e outras do repertório dele, que é imenso. Ele parte de um roteiro dele, aceita opiniões de todo mundo. Aí quando a gente começa a ensaiar com o grupo, todo mundo interfere, todo mundo dá sugestão”, relata.
“A gente é bastante solto em ensaio. Não existe nenhuma pré-determinação, além do que a gente já tinha feito, a base que já tinha discutido com o Chico. É um trabalho em desenvolvimento. E esse desenvolvimento continua até um determinado ponto da turnê, que a gente sempre vai criando, os arranjos vão amadurecendo”, acrescenta.
Além trabalhar com Chico, Luiz Cláudio desenvolve, há décadas, um projeto próprio: transcrever a obra de Tom Jobim para o violão, através de um método criado por ele mesmo.
“Desenvolvi talvez mais a parte harmônica do que a parte técnica. Então eu elaborei já há muito tempo, arranjos, alguns que são praticamente transcrições de músicas do Tom pro violão. E, para minha técnica, muito difíceis”, conta.
“Sempre fui autodidata e nunca tive muito esse estudo técnico, fui me desenvolvendo com o tempo. E uma forma de me desenvolver foi justamente tocar as músicas do Tom. No final dos anos 70 eu tirei pro violão Olha Maria, que é uma dessas muito difíceis, e que tento tocar até hoje. Através disso pude desenvolver bastante minha técnica. Acredito que em breve eu possa apresentar esse projeto”, conclui.
Chico Buarque e banda: Caravanas / De hoje até domingo / Hoje e amanhã: 21h30 / Sábado: 21h / Domingo: 20h / Teatro Castro Alves / Ingressos: Setor A-P: R$ 490 e R$ 245 / Setor Q-Z:- R$ 380 e R$ 190 / Setor Z1- Z11 - R$ 320 e R$ 160 / Vendas: Bilheterias TCA ou www.ingressorapido.com.br
Figuraça do rock baiano, o baterista Dieguito Reis já fez muitos fãs na banda Vivendo do Ócio – tanto pela garra com que toca, quanto pelo carisma.
Agora, abre novos caminhos ao se lançar como artista solo. Seu primeiro single já está disponível no You Tube: Favela Sincera. E sabe o que mais? Não é rock. É rap.
Com participação do parça Jajá Cardoso (vocal da VdÓ) cantando a parte do refrão, Dieguito fala de suas origens no bairro soteropolitano do Uruguai e dá um pé na bunda dos fascistas de Facebook: “Pobreza mata mais que droga / E os comédia ainda aprova / Auxílio casa pra juiz e político enquanto pobre toma bota”.
Em breve, Dieguito solta o disco, intitulado Patcharas, produzido pelos irmãos João Del Rey (Del Jay), de apenas 18 anos, e Peu Del Rey.
“O primeiro grupo que eu me identifiquei e vesti a camisa foi o Racionais MC's, lá no finalzinho dos anos 1990. Ficava ouvindo a fita dentro do Fusca do meu avô. Me identificava completamente com as ideias, isso no bairro do Uruguai, Cidade Baixa, onde sou nascido e criado”, conta Dieguito.
“A partir daí, fui abrindo a mente para o underground do rock. O rock nessa época tocava na quebrada e foi ele que me tirou de lá pra fazer meu primeiro show fora do país (em 2011, na Itália, com a VdÓ)”, relata o baterista / rapper.
Tantos anos depois, Dieguito começou a sentir necessidade de se reconectar com suas origens hip hop da quebrada.
“Há uns cinco anos venho sentindo a necessidade de mostrar o Dieguito além da Vivendo do Ócio, o Dieguito além do rock'n'roll, o Dieguito do Uruguai que passava noites ouvindo rap e rock com Silas no Fusca de Valdemar”, afirma.
Daí, Patcharas: “É um disco que a base é o rap, porém transita muito pela música brasileira. Favela Sincera, minha com Jajá Cardoso, é um trap de mensagem com suíngue baiano. Aqui Não é Montevideo, próximo single, fala do bairro do Uruguai, é um boom bap de verão. Tem músicas que nem rima tem, porém a base sempre é o rap”, descreve.
Filme e disco novo
Mas acalmai vossos corações, fãs da Vivendo do Ócio! A banda segue firme e forte.
“Disco da VdÓ em 2019 com certeza! Esse ano ainda vamos lançar alguns singles e o filme Vive Le Rock, que fizemos na Itália. Ele rodou em festivais pelo mundo e chegou a hora de jogar ele na rede”, conta.
“Atualmente, a banda se encontra em São Paulo, ensaiando as músicas novas do tão esperado quarto álbum, que com certeza vai ser o disco mais dançante que a banda já lançou”, promete. Que venha!
ENTREVISTA COMPLETA: DIEGUITO REIS
Por que disco solo? Eram ideias que não cabem na VdÓ?
Dieguito. Foto Davide Bori
DR: Então, o primeiro grupo underground que eu me identifiquei e vestir a camisa foi o Racionais MC's, lá no finalzinho dos anos 90, ficava ouvindo a fita dentro do fusca do meu avô, era o único lugar que tinha toca fita na casa, me identificava completamente com as ideias que tinham naquela fita, isso no bairro do Uruguai, cidade baixa, onde sou nascido e criado, a partir dai fui abrindo minha mente pra bandas do underground de rock, conheci o Planet Hemp, Limp Bizkit, Gritando HC, Blind Pigs, Dead Fish, Nitrominds e fui pegando gosto pela bateria e pela música... todas essas bandas eu conheci na favela, o rock nessa época tocava na quebrada e foi ele que me tirou de lá pra fazer meu primeiro show fora do país e me deu força pra chegar aqui com esse projeto, porém há mais ou menos 5 anos eu venho sentindo a necessidade de mostrar o Dieguito além da Vivendo do Ócio, o Dieguito além do Rock'n'roll, o Dieguito do Uruguai que passava noites ouvindo rap e rock com Silas no fusca de Valdemar, o Dieguito que só os chegados conhecem a origem, dai veio a ideia de um disco solo, da necessidade de mostrar um eu que nem Chico Castro conhecia rsrsrs
É um disco essencialmente de rap ou tem outros estilos também?
DR: "Patcharas" é um disco que a base é o rap, porém transita muito pela música brasileira. "Favela Sincera", música que fiz em parceria com Jajá Cardoso, é um trap de mensagem com suíngue baiano. "Aqui Não é Montevideo", que é o próximo lançamento, fala do bairro do Uruguai, em Salvador-BA, e é um Boom Bap de verão. Tem músicas que nem rima tem, porém a base sempre é o rap. Esse disco nasceu a partir de uma poesia que coloquei no stories do instagram, Peu del Rey viu e falou que o irmão dele, João del Rey, estava fazendo beat. Troquei meia hora de ideia com João, ele me enviou um beat e no mesmo dia já enviei um verso. De lá pra cá, o que era pra ser apenas uma música virou um EP, que agora é disco, pois tem mais de 6 faixas. Esse disco só foi possível por conta da colaboração de muita gente, principalmente dos irmãos João e Peu, que assinam a produção do disco. Eu já tinha desistido desse projeto, mas eles colocaram tanta pilha que acabou virando um disco. Muito obrigado de coração a toda família Del Rey!
Não sei exatamente de sua origem, mas falar de favela pode ser complicado pra quem não vive nela. O que diria aos que - inevitavelmente - te interpelarão invocando o "lugar de fala"?
DR: Agora que Chico Castro e geral já conhece minha origem, respondo essa pergunta com um trecho do meu próximo single que vai ser lançado em junho com participação de Galf, Beatriz Oxe e Tanúbio. "Eu vim de lá do Uruguai, a fé me joga na pista, se a fuga é de meiota, eu tou na crista da onda, pro jogo estou otimista. Eu vim de la do Uruguai, sou da quebrada e não nego, no Humaitá tiro onda, no canta-galo me jogo, no paredão fico esperto." A composição é minha em parceria com Pablo Dominguez e o rapper Galf.
Vai fazer shows para lançar este trabalho? Vem lançar em Salvador?
DR: Sim, a ideia é lançar uma música por mês até dezembro, acho que quando eu lançar a quarta música começo a fazer os shows. Já recebi convites pra abrir Black Alien em Santos, Cantos dos Malditos na Terra do Nunca em São Paulo, PrimeiraMente em Osasco, porém ainda não é a hora, deixa amadurecer mais o trabalho. Daqui há uns 3 meses... aí começamos a rodar e com certeza vai rolar Salvador. A banda conta com Peu del Rey (guita, baixo, batera e mpc), Lau (guita, baixo e batera), João Del Rey (dj e backing vocal) e eu tocando o que der e cantando rsrsrsrs. Cada integrante vai circular por todos os instrumentos!
Vivendo do Ócio, foto Zoë Van Boekel
Podemos esperar disco novo da VdÓ para este ano ainda? Ou só em 2019?
DR: Disco da VDO em 2019 com certeza! Esse ano ainda vamos lançar alguns singles soltos e o filme Vive le Rock, que fizemos na Itália. O filme rodou diversos festivais pelo mundo e chegou a hora de jogar ele na rede pra todos os nossos fãs. Atualmente, a banda se encontra em São Paulo ensaiando as músicas novas do tão esperado quarto álbum, que com certeza vai ser o disco mais dançante que a banda já lançou.
Meu velho, me fala o que vc realmente queria dizer mas eu não perguntei....
DR: Já falei demais nas perguntas anteriores, muito obrigado de coração! Vou avisar pra todo o bairro do Uruguai, se sair impresso mainha e painho vão chorar de emoção rsrsrsrsrrs
NUETAS
Metal do Amapá
Em turnê, a banda amapaense de death metal Visceral Slaughter se apresenta pela primeira vez em Salvador com as locais Profano e Old Chaos. Sexta-feira, 20 horas, no The Other Place (Brotas), R$ 20.
Flerte Astral sábado
Mas se a sua é um som mais maneiro, Flerte Flamingo e Astralplane tocam na mesma noite na Tropos Gastrobar. 20 horas, R$ 10 (lista) ou R$ 15 (ingresso na hora).
Benete vs. System
Jovem guitar hero local oriundo do bairro de Cosme de Farias, Benete Silva lança seu novo trabalho: System of Orchestral, um tributo orquestrado (!) à banda System of a Down. Pocket show sábado, 14 horas, no Bardos Bardos. Pague quanto quiser.
João Bosco e Hamilton de Holanda trazem à Caixa Cultural o espetáculo Eu Vou Pro Samba, bela homenagem ao gênero musical síntese de Brasil
João Bosco e Hamilton de Holanda, foto Marcos Portinari
Um é cantor, compositor e instrumentista de grande apelo popular. O outro já foi chamado (pela imprensa estrangeira) de “Jimmy Hendrix do bandolim”.
Este é o encontro entre João Bosco e Hamilton de Holanda, que chega à cidade em quatro sessões na Caixa Cultural, de amanhã até domingo.
Junto, o duo apresenta pelo Brasil o espetáculo Eu Vou pro Samba, em homenagem ao centenário do gênero síntese do Brasil.
No set list, só clássicos: Dorival Caymmi, Ary Barroso, Moacir Santos, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Chico Buarque e o próprio João (com o parceiro Aldir Blanc).
A parceria surgiu, como costuma acontecer entre artistas, pela admiração mútua. “Sempre gostei do jeito dele tocar”, diz Hamilton, por telefone.
“Aí, em 2006 convidei ele para um projeto em Brasília, que foi super especial. Na sequência, João gravou o DVD Obrigado, Gente! (2006), no qual eu toquei Linha de Passe com ele. Volta e meia participávamos dos shows um do outro. Até que resolvemos marcar esse show”, conta.
Com lotações esgotadas por onde passa, o show tem feito muito sucesso. Tanto, que ainda este ano será “exportado”: “Sim, deu super certo. No segundo semestre vamos para Montreaux (Suíça), Roterdã (Holanda) e Londres”, conta.
Emoção na plateia
Se Hamilton é mundialmente reconhecido como um dos maiores bandolinistas do planeta, João não fica muito atrás – sua habilidade ao violão derruba queixos mundo afora não é de hoje.
A união entre tamanhos talentos exige, desta forma, algum trabalho entre os músicos. Ou não?
“A mão direita de violão dele é muito suingada. E esse suíngue vem do samba. Logo na primeira vez que tocamos juntos a coisa já se encaixou. Isso já é metade do trabalho pronto. O resto vem pela beleza das músicas”, relata Hamilton.
“Gostamos de fazer longas passagens de som. Muitas vezes tocamos músicas que nem entram no show. Só pra curtir, sabe? Ou então ficam tão legais que até entram no show. Aí o repertório vai mudando, se renovando. Sempre aprendo alguma coisa nova. Então nunca enjoa”, conta.
Com um repertório tão bonito e artistas tão capazes, o resultado não poderia ser outro. No You Tube já há alguns vídeos mostrando trechos do show.
E o momento catártico, compreensivelmente, é O Bêbado e A Equilibrista, o hino libertário de João e Aldir.
“Todo show temos que tocar e todo show vira um coral, um grande karaokê. Todo mundo canta junto e se emociona”, conta Hamilton.
“É natural, a canção tem uma ressonância muito forte neste momento, que é de muita apreensão e incerteza. Não sabemos bem o que vai acontecer, mas temos esperança”, afirma o músico.
No momento, tanto João quanto Hamilton tocam suas carreiras individuais em paralelo ao trabalho em dupla.
João, com o álbum Mano Que Zueira, lançado no final do ano passado.
E Hamilton com um mega projeto em homenagem à Jacob do Bandolim, uma caixa com quatro CDs.
Mas não está descartado um registro oficial para o espetáculo Eu Vou Pro Samba.
“Já falamos sobre isso, sim. A qualquer momento pode rolar, há uma possibilidade grande. Ele esta com disco novo e eu também, mas no que pintar uma datinha aí vamos gravar com certeza”, promete.
João Bosco e Hamilton de Holanda: Eu vou pro samba / De amanhã até domingo / sexta, às 20h, sábado, às 17h e às 20h e domingo às 17h / CAIXA Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro) / R$ 10 e R$ 5 / vendas: bilheteria CAIXA Cultural, a partir das 09 horas de amanhã
De Irará, banda PsiCORDÉLico se apresenta gratuitamente no Teatro Sesi no dia 24
Irênio e Kitute, os PsiCORDELicos de Irará. Foto Jonas Pinheiro
Berço do imortal Tom Zé, a cidade de Irará manda notícias – e enviados culturais – à capital.
No próximo dia 24, uma quinta-feira, a banda iraraense PsiCORDÉLico (assim mesmo, senhor revisor) faz show de lançamento do seu primeiro trabalho, um EP homônimo com cinco faixas, em show gratuito no Teatro Sesi.
Em seu núcleo, o PsiCORDÉLico é formado por um duo formado pelo cordelista Kitute Coelho e pelo guitarrista e produtor musical Irênio Neto.
"Estou nessa labuta encantadora da poesia popular, em especial a literatura de Cordel, há mais de 15 anos, escrevendo e me apresentando em escolas, festivais de cultura. Nestas andanças, surgiu a ideia de trazer elementos musicais para apresentação. Foi quando em 2013 me reuni com o brother Irênio Neto, de quem já havia sido parceiro numa banda de reggae de Irará chamada Nação Kariri", conta Kitute.
"Quando Kitute me apresentou o projeto, de cara me interessei. Sobretudo o nome me chamou a atenção, e fez borbulhar a mente. Daí, junto com ele, passei a trabalhar nos arranjos e montar o conceito musical do bando", acrescenta Irênio.
A proposta da dupla, apesar de não ser nova – misturar regional com planetário – é bem executada, rendendo momentos bem interessantes como o cordel musicado A Maconha Que Virou Incenso de Procissão (um divertido causo sertanejo) e a faixa que dá nome à banda, PsiCORDÉLico.
“A gente não tem a pretensão de revolucionar a música ou o estilo. Até porque bebemos em muitas influências como Nação Zumbi, Cordel do Fogo Encantado, Lampirônicos. Nosso diferencial é como a gente faz, o modo como assimilamos essas influências e colocamos pra fora criando nossa própria identidade”, afirma Irênio.
Foto Jonas Pinheiro
“Acho que também conta a forma que essa junção do Cordel / guitarra com o samba de roda de Irará, que pulsa em nossas veias. Tudo isso funcionou bem neste caldeirão”, acrescenta Kitute.
"Os planos agora são divulgar este material, no qual já vínhamos trabalhando há algum tempo, e fazer shows, levando a mensagem ao maior numero de pessoas possíveis. Da Bahia, do Brasil, e por quê não do mundo, não é mesmo?", diz Kitute.
"Já estamos trabalhando em alguns singles que saem ainda este ano, pelo menos mais duas músicas. Do mais, vamos aproveitar o momento e explorar o que já temos. O primeiro CD vai depender do que acontecer daqui por diante", completa Irênio.
Cartão de visitas
Curiosamente, Kitute conta que, apesar de ser de Irará, Tom Zé não é tão bem reconhecido em sua cidade natal: "Infelizmente sentimos que a cidade de Irará não abraça este gênio da nossa música com a mesma reverência que ele é abraçado em outros lugares, principalmente fora do país. No nosso trabalho, inevitavelmente ele é uma referência muito forte e uma inspiração constante", afirma.
Em Salvador pela primeira vez, o duo vem acompanhado de banda completa, formada por Rodrigo Dantas (baixo), Nielton Marinho (percussão) e Paulo Ramos (guitarra).
“Esta é nossa primeira oportunidade de uma apresentação em Salvador. O show vai trazer todo este conceito do bando através das canções autorais e versões de músicas já conhecidas. A intenção é que seja o cartão de visitas para o público”, conta Kitute.
Velhos amigos de outras aventuras, Kitute e Irênio já tiveram uma banda de reggae juntos. Em Irará, batalham para conseguir furar o bloqueio do previsível com sua música autoral.
“Irará é efervescente culturalmente, tem muita gente boa produzindo. No entanto, assim como na maioria dos lugares, a cena alternativa sofre com a falta de incentivo dos contratantes e do poder público, que preferem contratar o que ‘está na moda’, sobretudo, atrações que não são locais. Esperamos que isso mude. Enquanto isso, vamos tentando criar novos caminhos e alternativas. Feira, por exemplo, tem uma cena alternativa forte devido à iniciativa de grupos independentes, como o Feira Coletivo, a Cidade da Cultura, o Beco da Energia entre outros”, conclui Kitute.
PsiCORDÉLico / Show de lançamento / Dia 24 (quinta-feira), 20 horas / Teatro Sesi Rio Vermelho / Gratuito / www.facebook.com/psiCORDELico
NUETAS
Yanna Vaz amanhã
Com pegada teatral, a cantora Yanna Vaz faz show amanhã no Teatro Gamboa Nova. 20 horas, R$ 20 e R$ 10.
Ronco sex. Duda sáb.
O irado power trio Ronco faz pocket show no Bardos Bardos nesta sexta-feira, para lançar o clipe da música A Melhor. 18 horas. No sábado é a vez do cantor Duda Spínola (acústico), a partir das 14 horas. Pague quanto quiser. Ah, o Bardos Bardos é o espaço da trinca de selos Brechó / Big Bross / São Rock. Fica na Travessa Basílio de Magalhães, 90, Rio Vermelho. Recomendamos!
Nina & Jô na Foxtrot
Batera experiente, a paulista Nina Pará faz workshop na loja Foxtrot (Shop. Bela Vista), terça-feira que vem (15), 15 horas. O guitarrista baiano Jô Estrada (Rock Forever) se junta à Nina no final, para um breve revival da banda que tiveram juntos, a Lacme.
Clássico do punk rock, Garotos Podres voltam a cidade para show no Pelourinho, no dia 12
Garotos Podres, foto Laura Ciampone
Mauricinhos e bundas-moles em geral é melhor passarem bem longe do Largo Quincas Berro D’Água na noite do dia 12 próximo.
Uma das bandas mais furiosas e teoricamente radicais do punk rock brasileiro volta a se apresentar em Salvador, 11 anos depois de sua última passagem por aqui.
Sim, a lendária Garotos Podres é a atração principal do evento Pelô Rock Fest, que ainda conta com as locais Barulho S/A e Carburados Rock Motor fazendo as honras da casa.
Nascida no ABC paulista em 1982, em plena agitação das greves e do movimento punk paulista, os Garotos Podres tem seu nome inscrito entre os grandes pioneiros do punk rock brasileiro, ombro a ombro com Inocentes, Ratos de Porão, Cólera e outros.
Único membro original, o vocalista Mao – José Rodrigues Mao Júnior – é um dos principais ideólogos do movimento no Brasil. Doutor em História Economica pela Usp, Mao promete para o show tanto os clássicos quanto as novidades da banda.
“Além de um apanhado das músicas clássicas desde 1982, teremos também as músicas do álbum Contra os Coxinhas Renegados Inimigos do Povo (2014), da época que nos utilizávamos da identidade secreta O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos. Além disso, teremos as músicas do compacto digital Canções de Resistência, que lançamos no dia 25 último”, conta.
Racha ideológico
Em sua longa trajetória, a Garotos Podres passou por uma situação possivelmente inédita no rock brasileiro. Em 2012, o quarteto rachou por conta da discordância política entre seus membros – uma antevisão do que acontece hoje em dia até entre familiares e grupos de amigos.
“Uma metade (eu e o guitarrista) fomos para um lado, e a outra metade para outro. Inicialmente eu e o guitarrista planejávamos dar continuidade a banda. Isto nos parecia legítimo e natural, já que eu era o último remanescente da formação original, além de ser autor e compositor da maioria das letras e músicas”, conta.
Qual não foi sua surpresa ao ver que a outra metade já tinha se antecipado, se apropriando da marca.
“Por este motivo, eu e o Cacá Saffiotti (guitarrista) resolvemos criar um nome temporário para continuar os nossos trabalhos: surgiu assim O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos, ou seja a ‘identidade secreta’ dos Garotos Podres”, relata.
A pendenga judicial se arrastou até novembro último, quando a outra parte anunciou no Facebook estar encerrando as atividades da banda. “Diante deste contexto, resolvemos assumir a nossa verdadeira identidade. E o mundo assistiu assombrado esta revelação: O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos eram, na verdade, os Garotos Podres disfarçados como inofensivos espiões nucleares norte-coreanos”, diverte-se a figura.
Pelô Rock Fest - Com Garotos Podres, Barulho S/A e Carburados Rock Motor / 12 de maio (sábado), 19 horas / Largo Quincas Berro D'Água / R$ 40 / www.pelorockfest.com.br
Entrevista completa: Mao (José Rodrigues Mao Júnior), Doutor em História Econômica (USP) e líder dos Garotos Podres
Tem muito tempo que não a banda não vem a Bahia? O que podemos esperar do show? Clássicos, músicas novas?...
Mao, foto Laura Ciampone
Mao: Não tocamos em Salvador desde 2007. Temos uma série de novidades em nosso repertório atual. Além de um apanhado geral das músicas clássicas dos Garotos Podres desde 1982, temos também as músicas do álbum “Conta os Coxinhas Renegados Inimigos do Povo”, que lançamos em 2014, época que nos utilizávamos da identidade secreta “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos”. Além disso nosso show contará com as músicas de nosso compacto digital, “Canções de Resistência”, que acabamos de lançar no dia 25 de abril de 2018.
Você é professor de História. Como vê a iniciativa Escola Sem Partido?
Mao: Vivemos num país onde a classe dominante foi formada por mais de três séculos de escravismo. A burguesia brasileira, em sua maioria, tem mentalidade de senhor de escravos. A relação que esta classe social mantém com o conjunto da classe trabalhadora é de uma dominação permeada por um profundo ódio de classe e de preconceito racial. O ódio de classe explica os atuais ataques contra os direitos dos trabalhadores. Esta burguesia retrógada quer eliminar todos os direitos trabalhistas, previdenciários e sociais conquistados desde a década de 1930. Quer também tornar letra morta todas as conquistas recentes que beneficiaram os setores populares dos últimos governos (política de cotas, expansão do ensino público, bolsa-família, etc). Senhores de escravos nunca tiveram interesse na educação de seus trabalhadores. Muito pelo contrário: estes sempre viram que o acesso a educação dos escravos como uma ameaça à ordem social escravocrata. Talvez o grande exemplo foi o processo de independência do Haiti, liderada por um escravo, Toussaint L'Overture, que além de alfabetizado havia lido alguns dos principais clássicos do Iluminismo. O temor haitiano inspirou a brutal repressão da classe dominante, tanto na Conjuração Baiana quanto na Rebelião dos Malês. Educar-se, para o conjunto da classe trabalhadora, equivale a cometer o “gesto de Prometeu”. Ou seja, o ato de “roubar o fogo dos deuses”. A burguesia sabe muito bem disso, e é por este motivo que ela luta tanto para eliminar as políticas que ampliaram o acesso das camadas populares à educação. É neste contexto que surge o projeto Escola Sem Partido. Trata-se de uma proposta de inspiração fascista, cujo intento é controlar e perseguir Professores. É um projeto que pressupõem que os Educadores são “inimigos ideológicos do Estado Burguês”. De uma certa forma eles tem razão. Não existe nada mais subversivo e revolucionário do que o dedicado e modesto Professor Primário. Aquele que abnegadamente leva as primeiras letras ao Povo. Aquele que se debruça sobre as carteiras escolares para ensinar as pequenas mãos infantis (e também as adultas mãos calejadas) a empunhar o lápis. Estes “subversivos” contribuem para difundir a centelha do conhecimento entre as massas. Professores são perigosos. Merecem ser perseguidos pela “Escola Sem Partido”.
Ainda como professor de História, temos visto muitos livros (Guias Politicamente Incorretos e que tais) que parecem querer reescrever a História, atribuindo o nazismo à esquerda e outros absurdos. Como combater tais disparates?
Mao: Acho que a luta de classes permeia todas as esferas de relações humanas numa sociedade. De uma maneira geral a esquerda - enquanto herdeira direta do Iluminismo - sempre se pautou na difusão e na defesa do saber científico, da razão e dos valores humanos. A direita brasileira sempre se portou como antítese deste posicionamento progressista. É por este motivo que a direita é contrária não só aos direitos humanos, mas favorável à ditadura, tortura, pena de morte, etc. Em todos os aspectos da ética, a direita se posiciona contrariamente aos valores civilizatórios e favoravelmente à barbárie. Se a disseminação da razão e do conhecimento é uma das armas ideológicas da esquerda, a disseminação do ódio e a ignorância é a principal arma da direita. Todas estas asneiras que são propaladas nas redes sociais são, invariavelmente, criações dos ideólogos da direita. Em geral são pessoas que não tem qualquer legitimidade no meio acadêmico ou científico.
Como você voltou a se apresentar o nome Garotos Podes, suponho que o imbróglio judicial envolvendo a posse da marca foi resolvido. Como se resolveu essa questão? Foi feito um acordo ou você ganhou?
Mao: Em 2012 o Garotos Podres “rachou”. Uma metade (eu e o guitarrista) fomos para um lado, e a outra metade para outro. Inicialmente eu e o guitarrista planejávamos dar continuidade a banda, utilizando o nome Garotos Podres. Isto nos parecia legítimo e natural, já que eu era o último remanescente da formação original, além de ser autor e compositor da maioria das letras e músicas. Entramos em processo de criação das músicas para o nosso novo álbum. Entretanto, para nossa surpresa, a “outra metade” da banda se antecipou, e associados ao antigo empresário, intentaram se apropriar do nome Garotos Podres. Isto causou um sério problema. Haveria o risco de existirem “duas” bandas usando o mesmo nome. Por este motivo, eu e o Cacá Saffiotti (guitarrista) resolvemos criar um nome temporário para continuar os nossos trabalhos: surgiu assim “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos” … ou seja … a “identidade secreta” dos Garotos Podres. O Pedido de Registro do nome da banda (e o seu respectivo processo judicial) tramita desde 2012. Entretanto, “a outra metade” da banda não realiza qualquer atividade musical desde 2014. E, em novembro de 2017, o sr. Michel Stamatopoulos (antigo baixista), emitiu nota em seu perfil pessoal no facebook, noticiando o encerramento das atividades do grupo musical que ele participava. Diante deste contexto, nós do “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos” resolvemos assumir a nossa verdadeira identidade. E o mundo assistiu assombrado esta revelação: “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos” eram, na verdade, os “Garotos Podres” disfarçados como inofensivos espiões nucleares norte-coreanos. E o “Satânico Dr. Mao”, dos “Espiões Secretos”, era na verdade o “Mao”, dos “Garotos Podres”? Ou seria ele o Kim Jong Mao?
O último disco do GP - fora o Satânico Dr. Mao - é de 2003. Há planos de gravar novo álbum?
Mao: Depois do “Garotozil de Podrezepam” (2003), lançamos o “Contra os Coxinhas Renegados Inimigos do Povo” (2014), sob a identidade secreta de “O Satânico Dr. Mao e os Espiões Secretos”. Fizemos o lançamento deste álbum no dia 01/10/2014, no 65º aniversário da Revolução Chinesa. Agora, no dia 25 de abril de 2018 (no 44º aniversário da Revolução dos Cravos), lançamos o compacto “Canções de Resistência”, disponível nas plataformas musicais.
Dr. Mao, o Brasil tem cura?
Mao: Se existe um mal que eu padeça, este mal é o otimismo. Sinceramente acho que vivemos num grande país. O Brasil é uma nação que conta com um imenso potencial econômico, e que consegui superar as etapas mais difíceis da industrialização e do desenvolvimento econômico. Entretanto também temos muitos problemas a serem superados. Considero que o maior problema de nosso país é o caráter neocolonial de nossa burguesia. Uma classe dominante mesquinha, atrasada e perdulária. Uma pseudo-elite cujas possibilidades de reprodução enquanto classe está associada ao seu papel de submissão ao Imperialismo. Ou seja, uma burguesia antinacional por excelência. É esta classe dominante que insiste em reinar entre uma multidão de miseráveis. São os poderosos deste país que exploram o povo a ponto de imporem uma das piores distribuições de renda entre todos os países do mundo. A burguesia brasileira - nos estertores de seu caráter parasitário e decadente - é o principal empecilho para o desenvolvimento econômico e para o surgimento de uma sociedade igualitária e fraterna.
NUETAS
Skanibais no Velho
Os Skanibais balançam o Velho Espanha hoje, às 19 horas, pague quanto puder.
Vovó do Mangue, Ronco, Sideral (não aquele)
Vista na coluna há alguns meses, a banda maragogipana Vovó do Mangue faz show de lançamento do seu primeiro álbum em Salvador, com participações de Irmão Carlos, Ronco e Arte Sideral. Sábado, 20 horas, no Largo Pedro Archanjo. Gratuito.
TMO, Via e Madame
Projeto paralelo de Shinna (Pancreas), a banda hardcore Todo Meu Ódio abre temporada de shows mensais (até dezembro) sábado, no Buk Porão Bar. Via Sacra e Madame Rivera completam a night. 19 horas, R$ 5.