Ronei Jorge Foto Rana Tosto |
Depois de dois álbuns brilhantes com a banda Ladrões de Bicicleta, saiu de cena para se dedicar ao cinema (realizou dois filmes com Rodrigo Luna e Paula Lice), coproduziu o programa de rádio e os festivais Radioca e ainda ressurgiu no trio Tropical Selvagem.
"Na verdade, no meio disso teve muita coisa. Eu fiz dois filmes com meus parceiros Rodrigo Luna e Paula Lice, fiz algumas trilhas e fiz o Tropical Selvagem com João Meirelles e Lia Cunha, também teve o programa e o festival Radioca. Então acabou que eu me encaminhei em vária direções musicais, ou não. Durante esse tempo, eu fui amadurecendo a ideia desse trabalho, foram aparecendo as composições...", detalha Ronei.
Financiado em parte pelo Edital Setorial de Música 2016 (SecultBa), o projeto foi contemplado na lista de suplência efetivada ao final de 2017.
Com o valor do apoio defasado, Ronei e parceiros lançaram na semana passada uma campanha de crowdfunding a fim de levantar a grana necessária para concluir o projeto e lança-lo com o barulho que ele merece.
Produzido por Pedro Sá (que assinou o magistral Frascos Comprimidos Compressas, 2009), Entrevista mostra o novo som de Ronei, auxiliado por uma super banda e fascinado pela interação com coros femininos, aqui a cargo de duas feras: Carla Suzart (baixo) e Aline Falcão (teclados).
“Eu tava ouvindo muito artistas que trabalharam com vozes femininas, em coro e individualmente e em gradações variadas. Então eu comecei a reouvir Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Tom Jobim, Caetano com a Outra Banda da Terra. E aí, aquela onda de espalhar a canção pra outras vozes me pegou. Eu sempre gostei disso de colocar outra voz pra cantar minha música. Tem nos dois discos da Ladrões, Jussara Silveira no primeiro e Lia Lordelo no segundo. Então isso era uma coisa que me interessava esteticamente. Se você ouvir o disco, não vai ter diretamente influência desses artistas, mas tá lá o sentimento, esse clima das vozes. Outra coisa forte é que as composições se aproximaram mais da música brasileira e esses músicos que convidei para o trabalho foram fundamentais para a construção dos arranjos dentro desse universo. Eu chamei Carla Suzart, Aline Falcão e Ian Cardoso assistindo performances deles ou mesmo tocando com eles e não poderia dar mais certo, a banda me deu mais do que imaginei. Hoje tenho um grupo incrível e novos amigos”, conta Ronei.
Eu fui mostrando minhas composições e minhas ideias pra eles e a gente foi elaborando os arranjos. A construção disso foi muito prazerosa. Cada um deles tem uma escola diferente, então foi um grande aprendizado, eu aprendi muito com eles. Meu amigo Pedrão se encaixou perfeitamente no grupo, como eu já esperava, e acabou mostrando novas facetas do seu modo de tocar, gravou lindamente. Pedro Sá é um músico e produtor que admiro muito e com o tempo fizemos uma amizade. Ele tem uma sensibilidade que faz o músico render muito no estúdio. Pedro é muito certeiro e econômico nas intervenções, além de ser uma pessoa incrível. Eu já gostava muito da produção que ele tinha feito com a Ladrões e aí pra fazer o novo eu pensei logo nele. Foi natural. Ele entende rápido o som”, elogia.
Ex-Ladrões, Moreno, Joana
Ele podia tá roubando. Ele podia ser deputado. Foto Rana Tosto |
“O disco tem uma parceria valiosa, chamada Parque de Diversões, com meu querido amigo Edson Rosa, que também faz a arte do disco. É uma música que fez parte de um projeto que fiz com ele- ele fazia a música e eu a letra, mas que não foi adiante. As outras são canções minhas que durante esse tempo eu fui desenvolvendo”, diz.
“Temos três participações especiais. Moreno Veloso, que canta uma música e faz percussão em duas; Joana Queiroz, uma instrumentista e compositora maravilhosa, toca Clarineta em uma faixa e Clarone em outra. Tem também uma participação de Luana Carvalho que aconteceu por acaso, uma artista que lançou dois discos lindos ano passado. Ela tava no estúdio assistindo com Pedro a gravação e, ouvindo uma faixa, falou que podia ter um caxixi. Pedro disse pra ela fazer e ela foi lá, fez e ficou massa. Então, no disco, eu ganhei esse presente de ter esses artistas que admiro. E é legal porque são artistas contemporâneos com trabalhos muito bons, mostra que a música brasileira tá muito bem”, afirma.
Artista que, apesar de ter suas posições políticas, nunca se comprometeu com causas, Ronei também vê com preocupação o complicado momento político-social do país.
"O momento do país é bem triste. Mas eu acho que o artista tem principalmente o papel de produzir sua arte de forma mais pessoal possível, tentar deixar sua marca. Acho que independente do momento político, tem que ser um desafio pessoal. Penso que isso independe de conter um discurso político ou não. Pode conter o discurso e ser uma obra sem força. Como também tem artista que coloca discurso político e faz um musicão. O próprio discurso político se dá de várias formas. A força tá na forma e no conteúdo, penso eu. Tem que tentar sempre ir além. Em relação ao momento atual da música brasileira, acho que é um bom momento, principalmente a música baiana. Tenho visto os artistas daqui produzindo uma música interessantíssima e bem variada. Sejam eles da nova geração ou não", conclui Ronei.
Colabore: www.roneijorge.com
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