Blog (que, nos seus primórdios, entre 2004-05, foi de um programa de rádio) sobre rock e cultura pop. Hoje é o blog de Chico Castro Jr., jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é repórter do Caderno 2+ do jornal A Tarde, no qual algumas das matérias vistas aqui foram anteriormente publicadas. Assina a coluna Coletânea, dedicada à música independente baiana. Nossa base é Salvador, Bahia, a cidade do axé, a cidade do terror.
A violonista erudita Tatyana Ryzhkova cativa fãs com muito talento e beleza. Amanhã, ela se apresenta no Eva Herz tocando Villa-Lobos e outros
Tatyana e seu instrumento de trabalho. Foto Sandra Neumann
Violonista erudita bielorrussa que se apresenta amanhã no Teatro Eva Herz, Tatyana Ryzhkova é a encarnação viva do velho dito “ela é muito mais do que um rostinho bonito”.
Virtuose das seis cordas, Tatyana nasceu nos últimos anos da União Soviética (1986), em Minsk, capital da Bielorrússia, e, graças ao talento que demonstrou desde criança, teve a oportunidade de estudar com os melhores professores de música do seu país.
Apesar da infância humilde, logo estava competindo em concursos na Polônia, ganhando prêmios e confiança para seguir em frente.
“Sabe, quando eu era criança, não sentia que havia alguma dificuldade. Claro que eu sabia que não tínhamos muito dinheiro, então não dava para pedir qualquer brinquedo que eu visse no supermercado, mesmo que eu o quisesse loucamente. Eu sabia que não havia dinheiro para isto. Nossa comida era absolutamente simples. Não tinha dinheiro para roupas novas, então minha mãe costurava a maior parte dos meus vestidos. Mas tive a sorte de estudar violão com um dos melhores professores da Bielorrússia, o que foi fundamental para a minha carreira. Em 2005 eu vim para Weimar (Alemanha) para estudar violão clássico na universidade. Em 2009, depois que concluí meus estudos, me mudei para Bremen, onde moro e dou aulas”, conta Tatyana, em entrevista por email.
Amanhã, ela faz em Salvador seu primeiro recital no Brasil, iniciando uma pequena turnê que ainda passa por outras três capitais: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife.
“Sim, é minha primeira vez no Brasil e eu estou muito ansiosa! Sei que tenho muitos fãs aí e estou feliz por poder vê-los em breve”, conta.
Um dos muitos vídeos onde Tatyana dá dicas: Ask Tatyana
Sonhos de um verão russo
De fato, a musicista tem muitos fãs aqui no Brasil. Seu vídeo no You Tube anunciando sua vinda ao país, publicado no dia 11 último, tem quase dez mil visualizações e muitos comentários apaixonados.
No repertório do recital, peças de violonistas clássicos, incluindo nosso Heitor Villa-Lobos, de quem se declara fã.
“Vou tocar o repertório do meu último álbum, Dreams of a Russian Summer (Sonhos de um Verão Russo), lançado há alguns meses, com peças de F. Tarrega, H. Villa-Lobos, A. Villoldo, E.Martin, A. Vlassenkov, I. Albeniz, L. Brouwer e W. Lovelady”, enumera.
“Sou uma grande fã da música da América do Sul. Meu repertório atual é 70% sul-americano e eu amo demais tocar. Minha alma bielorrussa se sente muito próxima da sua música. Gosto de Heitor Villa-Lobos, mas não só de suas peças mais famosas, como os Prelúdios e Estudos. Gosto ainda mais das composições menos conhecidas. Uma delas eu toco neste concerto: Tristorosa”, acrescenta.
Pergunte à Taty
Tatyana. Foto Sandra Neumann
Como se vê, a moça não é fraca, não. Esperta, tem uma presença forte na Internet, publicando muitos vídeos altamente produzidos no You Tube, sempre muito elegante.
Nos vídeos, dá aulas, tira dúvidas dos espectadores e dá dicas diversas.
“Nós, músicos eruditos, amamos tradições e gostamos de permanecer conservadores. Mas, se
quisermos permanecer fazendo parte do mundo e tocar não apenas para nossos pais e avós, mas também para os jovens, precisamos aderir às novas tecnologias e usa-las”, ensina Tatyana.
Em um de seus vídeos mais assistidos (mais de um milhão de visualizações), ela executa o clássico Libertango, de Astor Piazzolla, “clonando” a si mesma e formando um quarteto de quatro Tatyanas – cada uma com uma roupa mais elegante que a outra, um espetáculo.
“A internet é uma grande fonte para espalhar beleza e coisas boas para o mundo inteiro. Não há limites (físicos) ou fronteiras na internet. Então envie sua mensagem ao mundo e faça as pessoas felizes. É tão fácil”, afirma.
Nos recitais, Tatyana conduz a plateia pelo repertório, falando sobre os compositores e as peças em si.
“Eu sempre modero meus concertos sozinha. É uma parte importante das performances. O contato com a plateia é absolutamente importante para mim. Gosto de conversar com as pessoas e envolver na música, naquilo que acontece no palco, todos que estão sentados na sala de concerto”, detalha a violonista.
Feitas as apresentações, resta à artista fazer as honras da casa: “Queridos amigos, ficarei absolutamente feliz em vê-los no meu concerto no dia 1º de março no Teatro Eva Herz. Teremos juntos uma maravilhosa noite de música, alegria e felicidade. Vejo vocês em breve”, convida.
Tatyana Ryzhkova / Amanhã, 20h30 / Teatro Eva Herz – Livraria Cultura do Salvador Shopping / R$ 120 e R$ 60 Vendas: www.ingressorapido.com.br
Falta pouco para Ronei Jorge lançar seu primeiro solo. É só colaborar no crowdfunding
Ronei Jorge Foto Rana Tosto
Nome destacado surgido nos anos 1990, Ronei Jorge é biscoito fino da música baiana, um Caymmi pós-tudo criado à base de Caetano, rock e a MPB maldita de Walter Franco, Itamar Assumpção e Arrigo.
Depois de dois álbuns brilhantes com a banda Ladrões de Bicicleta, saiu de cena para se dedicar ao cinema (realizou dois filmes com Rodrigo Luna e Paula Lice), coproduziu o programa de rádio e os festivais Radioca e ainda ressurgiu no trio Tropical Selvagem.
"Na verdade, no meio disso teve muita coisa. Eu fiz dois filmes com meus parceiros Rodrigo Luna e Paula Lice, fiz algumas trilhas e fiz o Tropical Selvagem com João Meirelles e Lia Cunha, também teve o programa e o festival Radioca. Então acabou que eu me encaminhei em vária direções musicais, ou não. Durante esse tempo, eu fui amadurecendo a ideia desse trabalho, foram aparecendo as composições...", detalha Ronei.
Agora, entra na reta final para lançar seu primeiro álbum solo, o aguardado Entrevista.
Financiado em parte pelo Edital Setorial de Música 2016 (SecultBa), o projeto foi contemplado na lista de suplência efetivada ao final de 2017.
Com o valor do apoio defasado, Ronei e parceiros lançaram na semana passada uma campanha de crowdfunding a fim de levantar a grana necessária para concluir o projeto e lança-lo com o barulho que ele merece.
Produzido por Pedro Sá (que assinou o magistral Frascos Comprimidos Compressas, 2009), Entrevista mostra o novo som de Ronei, auxiliado por uma super banda e fascinado pela interação com coros femininos, aqui a cargo de duas feras: Carla Suzart (baixo) e Aline Falcão (teclados).
“Eu tava ouvindo muito artistas que trabalharam com vozes femininas, em coro e individualmente e em gradações variadas. Então eu comecei a reouvir Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Tom Jobim, Caetano com a Outra Banda da Terra. E aí, aquela onda de espalhar a canção pra outras vozes me pegou. Eu sempre gostei disso de colocar outra voz pra cantar minha música. Tem nos dois discos da Ladrões, Jussara Silveira no primeiro e Lia Lordelo no segundo. Então isso era uma coisa que me interessava esteticamente. Se você ouvir o disco, não vai ter diretamente influência desses artistas, mas tá lá o sentimento, esse clima das vozes. Outra coisa forte é que as composições se aproximaram mais da música brasileira e esses músicos que convidei para o trabalho foram fundamentais para a construção dos arranjos dentro desse universo. Eu chamei Carla Suzart, Aline Falcão e Ian Cardoso assistindo performances deles ou mesmo tocando com eles e não poderia dar mais certo, a banda me deu mais do que imaginei. Hoje tenho um grupo incrível e novos amigos”, conta Ronei.
Eu fui mostrando minhas composições e minhas ideias pra eles e a gente foi elaborando os arranjos. A construção disso foi muito prazerosa. Cada um deles tem uma escola diferente, então foi um grande aprendizado, eu aprendi muito com eles. Meu amigo Pedrão se encaixou perfeitamente no grupo, como eu já esperava, e acabou mostrando novas facetas do seu modo de tocar, gravou lindamente. Pedro Sá é um músico e produtor que admiro muito e com o tempo fizemos uma amizade. Ele tem uma sensibilidade que faz o músico render muito no estúdio. Pedro é muito certeiro e econômico nas intervenções, além de ser uma pessoa incrível. Eu já gostava muito da produção que ele tinha feito com a Ladrões e aí pra fazer o novo eu pensei logo nele. Foi natural. Ele entende rápido o som”, elogia.
Ex-Ladrões, Moreno, Joana
Ele podia tá roubando. Ele podia ser deputado. Foto Rana Tosto
Além de Pedro, Carla e Aline, o disco traz na guitarra Ian Cardoso e o ex-Ladrões Maurício Pedrão na bateria.
“O disco tem uma parceria valiosa, chamada Parque de Diversões, com meu querido amigo Edson Rosa, que também faz a arte do disco. É uma música que fez parte de um projeto que fiz com ele- ele fazia a música e eu a letra, mas que não foi adiante. As outras são canções minhas que durante esse tempo eu fui desenvolvendo”, diz.
“Temos três participações especiais. Moreno Veloso, que canta uma música e faz percussão em duas; Joana Queiroz, uma instrumentista e compositora maravilhosa, toca Clarineta em uma faixa e Clarone em outra. Tem também uma participação de Luana Carvalho que aconteceu por acaso, uma artista que lançou dois discos lindos ano passado. Ela tava no estúdio assistindo com Pedro a gravação e, ouvindo uma faixa, falou que podia ter um caxixi. Pedro disse pra ela fazer e ela foi lá, fez e ficou massa. Então, no disco, eu ganhei esse presente de ter esses artistas que admiro. E é legal porque são artistas contemporâneos com trabalhos muito bons, mostra que a música brasileira tá muito bem”, afirma.
Artista que, apesar de ter suas posições políticas, nunca se comprometeu com causas, Ronei também vê com preocupação o complicado momento político-social do país.
"O momento do país é bem triste. Mas eu acho que o artista tem principalmente o papel de produzir sua arte de forma mais pessoal possível, tentar deixar sua marca. Acho que independente do momento político, tem que ser um desafio pessoal. Penso que isso independe de conter um discurso político ou não. Pode conter o discurso e ser uma obra sem força. Como também tem artista que coloca discurso político e faz um musicão. O próprio discurso político se dá de várias formas. A força tá na forma e no conteúdo, penso eu. Tem que tentar sempre ir além. Em relação ao momento atual da música brasileira, acho que é um bom momento, principalmente a música baiana. Tenho visto os artistas daqui produzindo uma música interessantíssima e bem variada. Sejam eles da nova geração ou não", conclui Ronei.
A banda pós-punk industrial Modus Operandi faz a segunda (de duas) datas no Teatro Gamba Nova para lançar seu novo disco, ...Vício, virtude, violência... Amanhã, 20 horas, R$ 20 e R$ 10.
Ba–Co ataca 2 vezes
O duo Ba_Co (do ex-Scambo Graco Vieira) faz dois dias de som no Lálá Multiespaço. Ao lado da cantora Nina Campos, Graco desenvolve um som bem interessante, misturando rock, Olodum e toques eletrônicos. Quinta e sexta-feira, às 21 horas. R$ 10 e R$ 5.
Matita no Gibão sex
O trio Matita Perê leva o show Reino dos Encourados à Varanda do Gibão de Couro (Rua Mato Grosso, 53, Pituba). Reino foi um dos discos mais bonitos de 2017. Confira Sexta-feira, 20 horas, R$ 15.
Almas gêmeas, Silvia Machete lança DVD de espetáculo concebido com seu muso, Eduardo Dussek. No repertório, muito riso e muita alegria
Sílvia e Eduardo, foto Renato Mangolin
Tradição pouco cultivada no showbiz brasileiro, a performance do artista entertainer – aquele que, além de cantar, entretém o público com piadas e números de caráter burlesco – é levada adiante no Brasil com muito talento pela carioca Silvia Machete.
Não à toa, seu novo DVD traz um espetáculo concebido em parceria com uma de suas maiores influências: Eduardo Dussek.
Conhecido pela verve humorística, o compositor, cantor e pianista carioca assina (com o parceiro Luis Carlos Góes) nove das quinze faixas do DVD Dussek Veste Machete (Biscoito Fino e Canal Brasil), além de fazer uma participação especial no gran finale do espetáculo.
Machete e Dussek, de fato, parecem almas gêmeas: bem humorados, ainda que românticos. Boemios, ainda que solares. E escrachados, ainda que rigorosos em seus ofícios.
Na tela, vemos a cantora (em um glorioso longo preto de Guto Carvalho) acompanhada apenas do multi-instrumentista Danilo Andrade (piano e teclados em geral) interpretando canções de Dussek (Aventura, Cabelos Negros, Saga, A Índia e o Traficante, Totalmente Tchá Tchá Tchá) e outras que dialogam com os artistas: Back to Black (Amy Winehouse), Great Balls of Fire (Jerry Lee Lewis), Tango da Bronquite (Angela Rô Rô).
“A gente sempre flertou musicalmente e nas piadas, mas nunca teve a oportunidade de realmente montar alguma coisa. Aí surgiu um edital e nos juntamos para poder trabalhar coim uma infra legal”, conta Silvia, por telefone, do Rio.
“Daí fui juntando as músicas, as letras e os personagens que mais me atraem da boemia, aquelas figuras exageradas, sabe? A partir dessas músicas, fui vendo também outros compositores que dialogavam com essa parte”, acrescenta.
Com isso, veio a inclusão de Amy Winehouse e Angela Rô Rô no repertório.
“Sobre Amy, chegamos à conclusão que ela foi a Rô Rô da Inglaterra. Elas tem essa coisa boemia da mulher arrasada, mas que é ao mesmo tempo romântico. Me enxergo muito nesse mundo romântico exagerado, cheio de álcool e mistério”, diz.
“E aí tem os hits, tipo Aventura, que é bem romântica e representativa da boemia carioca, Leo Jaime, o cabaré carioca. Considero essa turma dos anos 80, 70, o nosso cabaré. Eles cantavam nossas noitadas, o álcool”, afirma. Não atrapalhe a cantora
Muito riso, muita alegria. Foto Renato Mangolin
Cantora de voz adorável e afinação impecável, Silvia turbina sua performance com muita picardia e uma postura desabusada diante da plateia: quando eles começam a cantar junto, ela manda, séria: “Não, pera aí, gente! Vocês estão me atrapalhando”.
Pego no contrapé, o povo cai na risada.
A parceria com Dussek, irreverente de carteirinha, não poderia mesmo ser mais acertada.
“A ideia era misturar o imaginário dele com o meu. Ele é muito teatral, engraçado. Eu não sou tão engraçada quanto ele. O Dussek me mata de rir, tá louco!”, diverte-se.
“Então no palco eu uso muitas máscaras (no sentido figurado). Isso faz parte de minha vida no meu palco, usar vários tipos de vozes, cantar com o peito, com a cabeça, com vários músculos”, conta.
Mas nem tudo são só risos e piadas no show. As músicas mais escrachadas de Dussek, como Rock da Cachorra (na verdade, de Leo Jaime) e Barrados no Baile, por exemplo, não entraram no repertório.
“Achamos que essas fugiam um pouco da proposta. São escrachadas demais. O pessoal diz que eu sou escrachada, mas eu não acho, não. Na verdade, não é o que você faz. É o como”, reflete Silvia.
Nessa pegada, tiveram vez no repertório canções mais emocionais de Dussek, como Cabelos Negros, Anjo da Cena (composição inédita) e Moderno Pássaro Andante.
Já a opção por ser um show em duo com o pianista Danilo Andrade foi acertada: excelente músico, o rapaz faz backing vocals e também interage bastante com Silvia e a plateia, meio que servindo de “escada” em algumas piadas.
“Fiquei muito próxima do Danilo nos últimos anos, amiga mesmo. E ele é muito palhação, tem uma veia cômica também, rolou um lance ali. Fora que ele é bem jovem, então eu posso montar nele”, diverte-se a cantora.
“Falando sério, o fato de ele ser pianista, como o Dussek, tem tudo a ver, é mais uma homenagem a ele”, diz.
Para 2018, a cantora planeja uma temporada com o show em São Paulo, e, quem sabe, traze-lo a Salvador.
“Cara, quero ir tanto a Salvador faz tempo. Espero um convite. Não é muito fácil viajar com esse show, tem uma cenografia, mas vamos ver”, conclui.
Dussek Veste Machete / Silvia Machete / Biscoito Fino - Canal Brasil / Direção artística: Eduardo Dussek / R$ 47,90
Quarteto pós-punk industrial faz duas datas no Gamboa Nova para lançar novo (e melhor) disco
Furadeira, caos e rock 'n' roll: MO no comando. Ft Fernando Lopes
O caos soteropolitano nosso de cada dia é a principal fonte de inspiração da banda Modus Operandi.
Oriunda da cena pós-punk / gótica / eletrônica / industrial, o quarteto liderado por David Vertigo Giassi desde 1996 lança seu quinto trabalho com dois shows no Teatro Gamboa Nova: amanhã e no dia 28.
Intitulado ...vício, virtude, violência..., o EP com seis faixas é o trabalho mais redondo do grupo, refletindo com sua música dura e percussiva uma realidade que parece caminhar para um estado de coisas cada vez mais obscuro e sombrio.
“A maioria das músicas foi composta em 2016, início de 2017. Nesse período o Brasil e o mundo viviam uma forte crise política e econômica, com candidatos de ultra direita protagonizando ações mundiais. Salvador é uma metrópole e também uma cidade portuária, o que a torna ainda mais cosmopolita. O disco retrata essa crise. A pessoa que ouvir U.M.A. por exemplo, onde usamos o berimbau, instrumento de matriz africana, e Barbárie, onde citamos bairros de Salvador, vai facilmente associar a mensagem da música a qualquer metrópole do mundo”, conta Marcos Sampaio (furadeira, percussão metálica).
“Esse é o nosso quinto álbum, então quisemos usar a letra V (5 em algarismo romano) como referência para o título do disco. Além disso o embrião das músicas foi criado em um estúdio no bairro de Sussuarana, periferia de Salvador, onde as pessoas convivem diariamente com o vício, a virtude e a violência e refletem toda essa tensão global até nas pequenas ações cotidianas”, diz.
"Na verdade todos os nossos discos possuem algum conceito, em alguns casos este conceito fica 'críptico'. Acho que neste disco ficou tudo mais explícito e cru que das vezes anteriores; abordando o caos urbano, ódio, problemas pessoais", acrescenta David.
Ruídos integrados
Modus Operandi, foto Fernando Lopes
Usados em gravações e nos shows, instrumentos incomuns como sucatas, furadeira, esmeril e até berimbau não são novidade – o paulista Loop B já fazia isso antes, e provavelmente alguém já fazia antes dele.
Ainda assim, não é fácil integrar seus sons de forma coerente em música – coisa que esses caras conseguem fazer de forma brilhante.
“(A resposta é) Muito ensaio. Diferente de outros artistas que se utilizam disso nós procuramos incorporar da forma mais fidedigna possível os ruídos e sons estranhos. A participação de Marcos é um complemento muito importante, inclusive determinando os ritmos de algumas músicas”, conta David.
"Usamos esses instrumentos (sucatas, esmeril, furadeira...) desde o início da banda lá nos idos de 96, quando eramos apelidados de 'banda estranha'. O que existe é um entrosamento muito grande entre os integrantes da banda o que facilita na criação das músicas. Nos respeitamos muito. E isso é levado para o estúdio. As composições e as performances ao vivo da Modus Operandi é um resultado desse entrosamento", diz Marcos.
Nestes shows de lançamento, David, Marcos, Henrique Letárgico (baixo) e Eduardo Deus (bateria) prometem uma experiência de múltiplas linguagens: “Preparamos um show super especial, com intervenções de teatro, performances e poesia. A melhor forma de se conhecer a Modus é ao vivo”, enfatiza David.
Modus Operandi: ...vício, virtude, violência / Amanhã e dia 28, 20 horas / Teatro Gamboa Nova / R$ 20 e R$ 10
NUETAS
Soft, Astral, Bilic...
Agora sim, 2018 começa à vera: sexta-feira tem NHL Festival 14, com Iorigun, Soft Porn, Astralplane, Bilic e Tangolo Mangos. Nessa night, curta ainda as projeções de Artur Rios, a revista NIHIL 17 e a coletânea NHL MUSIC #3. Club Banhnof (ex-Idearium) 20 horas, R$ 10 e R$ 15.
Honkers, Donatitta
Os inoxidáveis The Honkers tiram a roupa de novo neste sábado, com Donatitta e DJ Selectah Rasta. 20 horas, no Puleiro do Rock (Rua Capitão Melo, 459, Stella Maris). Africania em dobro
Super banda feirense, a Africania traz seu som cheio de peso e suíngue para o Lalá Multiespaço. Sábado, em duas sessões: 21 e 23 horas. R$ 10 e R$ 5.
Livro inédito no Brasil traz a história oral da trupe inglesa Monty Python, que revolucionou a comédia nos anos 1970. Importância do grupo é ressaltada em texto de apresentação por Gregório Duvivier
Monty Python forévis: Eric Idle, Graham Chapman, Michael Palin, John Cleese, Terry Jones e Terry Gillian
Seis jovens mais ou menos bem-nascidos – cinco ingleses, um norte-americano – se juntaram no final dos anos 1960 para fazer comédia. E o humor nunca mais foi o mesmo.
Agora, a história desse grupo está no livro Monty Python: Uma Autobiografia Escrita por Monty Python, lançado no Brasil pela pequena porém brava editora santista Realejo.
Do programa Saturday Night Live (no ar nos EUA desde 1975) ao Porta dos Fundos, todo mundo que faz humor foi influenciado pelo Monty Python.
Sem MP não haveria TV Pirata, Casseta & Planeta, South Park, Marcelo Adnet, Mike Myers (Austin Powers), Hermes & Renato etc.
Até o clássico local A Bofetada guarda alguma influência do Python.
Não a toa, Gregório Duvivier (Porta dos Fundos) assina o ótimo texto de apresentação.
No Brasil, o grupo é mais conhecido pelos seus três principais filmes que, volta e meia, passam na televisão: Em Busca do Cálice Sagrado (1975), A Vida de Brian (1979) e O Sentido da Vida (1983).
Só que a carreira dos Pythons começou bem antes desses filmes.
Começou antes mesmo do programa Monty Python’s Flying Circus, que teve quatro temporadas e foi exibido pela BBC entre 1969 e 1974.
Toda essa história está detalhadamente contada pelos próprios membros do Python.
John Cleese e Graham Chapman relaxam nas filmagens d'O Cálice
Organizado pelo jornalista Bob McCabe, o livro é a história oral do Monty Python contada em uma sucessão de depoimentos colhidos por ele em entrevistas com cinco dos seus seis membros – a exceção é Graham Chapman, morto em 1989 e que tem suas falas pescadas de entrevistas antigas.
Oxford versus Cambridge
Se há algo de negativo a ser dito do livro em si é o longo, longuíssimo preâmbulo até a formação do grupo, que só se dá lá pela página 220, o que é quase metade do livro em si.
Ainda assim, não deixa de ser divertido ler sobre a infância e adolescência de figuras tão peculiares crescendo na Inglaterra do pós-guerra, fissurados por rock ‘n’ roll e The Goon Show, o clássico programa cômico de rádio que revelou o gênio Peter Sellers.
O que fica claro – algo que os fãs brasileiros nem desconfiavam – é que o MP sempre foi dividido em dois subgrupos nomeados a partir das universidades que alguns de seus membros frequentaram: Oxford (Terry Jones e Michael Palin) e Cambridge (John Cleese e Graham Chapman).
Eric Idle também foi de Cambridge, mas era mais novo que Cleese e Chapman, portanto não era tão próximo.
Os lendários espetáculos no Hollywood Bowl que depois viraram filme
E Terry Gillian, bem, era (é) americano e foi apresentado aos Pythons de última hora, uma sugestão do produtor da BBC Barry Took.
Após anos fazendo teatro em paralelo, os dois subgrupos foram parar na TV, atuando em programas como The Frost Report e Do Not Adjust Your Set.
Fascinado pelo humor nonsense de Jones, Palin e Idle em Do Not Adjust..., Cleese procurou os três rapazes para sugerir que fizessem alguma coisa juntos.
O resto é comédia – digo, história.
Com o sucesso na TV, o grupo se tornou célebre no Reino Unido e, pouco depois, no resto da Europa e nos Estados Unidos.
Os Beatles eram seus fãs. Não por acaso, George Harrison foi um dos produtores d’O Cálice Sagrado e de A Vida de Brian.
Alcoólatra – e único homossexual declarado do grupo, chegou mesmo a fazer uma festa em 1967 para anunciar o fato em público – Graham Chapman morreu em 1989, de câncer de garganta.
Terry Jones, que dirigiu os filmes, hoje aos 76 anos, luta contra o Alzheimer.
Terry Gillian, como sabemos, se tornou um dos diretores mais respeitados de Hollywood desde Brazil, O Filme (1985).
Gênios – todos eles – os Pythons transformaram um despretensioso grupo de comédia em uma marca indelével de iconoclastia na cultura pop.
Monty Python: Uma autobiografia escrita por Monty Python / Bob McCabe (org.) / Tradução: Stephanie Fernandes / Realejo Livros / 432 p. / R$ 69,90
Primeiro disco de heavy metal brasileiro inteiramente gravado com uma guitarra baiana, Canudos, da banda Dorsal Atlântica, é uma poderosa crônica do histórico e eterno abuso das elites contra os pobres
Carlos Lopes e a Matadeira. Foto Dani Dread
Um carioca, pioneiro do heavy metal no Brasil, é o responsável pelo primeiro disco de heavy metal inteiramente gravado com uma guitarra baiana.
E mais: é uma obra conceitual, dedicada à saga de Canudos e Antônio Conselheiro.
A banda é a Dorsal Atlântica, fundada pelo vocalista, guitarrista e agitador cultural Carlos Lopes no Rio de Janeiro, em 1981.
Jornalista por formação e ligado em história e política desde sempre, Lopes contou com a ajuda dos fãs para gravar Canudos, o álbum, via crowdfunding.
Com 13 faixas, Canudos é a obra mais política de sua banda e um manifesto furioso de Lopes contra o atraso imposto ao Brasil pelas elites que insistem em impor o capital acima do social.
“Canudos é o caso mais emblemático de como a sociedade brasileira não muda. O arraial fundado na Bahia por Antonio Conselheiro pode ser comparado hoje a uma favela, uma comunidade, um quilombo ou um acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto)”, afirma Lopes.
Ao longo do disco, o band leader faz paralelos muito claros entre o massacre de 1897 no sertão baiano e a forma brutal com que qualquer tentativa de insurgência dos mais pobres é tratada no Brasil: “Pedaladas fiscais, argumentação do baixo clero movida a cocaína, capitães do mato e coronéis / Aprenderam a degolar no Paraguai / Brasileiro cordial, conversa fiada”, vocifera, em Gravata Vermelha.
“Troque as panelas por armas, e o resto é tudo igual: o discurso de combate à corrupção, a hipocrisia, os jornais apocalípticos e a classe média urbana com nojo do Brasil profundo. Machado de Assis dizia que no Brasil existem dois países: o país real que é bom, que revela os melhores instintos, e o país oficial, caricato e burlesco”, reflete Lopes.
Místico (talvez como o próprio Conselheiro), ainda que intelectualizado, Lopes conta que a ideia do disco lhe surgiu em sonhos.
“Nunca estive em Canudos. Li Os Sertões (o homérico relato literário de Euclides da Cunha) e vários outros livros, assisti a documentários. Mas o que realmente me motivou, me deu força para seguir adiante, foi uma sucessão de sonhos recorrentes sobre essa ser a ‘missão’, por assim dizer”, conta.
O cadáver de Antônio Conselheiro. Foto Flávio de Barros
“Tanto para homenagear meus antepassados nordestinos, como para colocar em prática um antigo sonho de repensar a história do Brasil através de música, histórias em quadrinhos e animação. Canudos não se encerra nesse disco, se expande e vai além. Projeto regravar Canudos em Canudos, com guitarra baiana e pífanos. Quem sabe? Talvez só Antonio Conselheiro tenha a resposta”, viaja o músico. Sentimento agreste
Acompanhado do irmão Cláudio Lopes no baixo e de Américo Mortágua na bateria, Carlos logo de início entendeu que Canudos não poderia ser um disco de heavy metal comum.
Daí o detalhe saboroso da guitarra baiana, construída exclusivamente para ele pelo luthier baiano Fabio Batanj.
“Para falar do Brasil e mais especificamente da Bahia, pensei em gravar o disco com uma guitarra baiana que tivesse o som pesado da guitarrona. Desenhei o instrumento e o luthier baiano Fabio Batanj a construiu”, conta.
“Além da guitarra, precisava que os músicos se sentissem desafiados. Como falar sobre o sertão sem estar irmanado com o mesmo sentimento, vamos dizer, agreste? Decidi não ensaiar. Gravamos ao vivo em estúdio sem edições, da forma mais realista possível, inspirado no método Stanislávski de teatro”, acrescenta.
No som, Lopes procurou cantar de forma semelhante aos repentistas, enquanto buscou mesclar ritmos nordestinos ao peso: “Canudos propõe um novo estilo de rock pesado, com melodias brasileiras e cantado como brasileiro. O som não se afasta das origens da Dorsal, ainda é muito pesado, mas rompe com o padrão de mercado globalizado”, conta.
“Artisticamente, sinto-me, e não é que isso seja ruim, um elo perdido entre o mundo atual, servil à cultura dominante e o universo artístico que admiro, que inclui os modernistas de 1922, Guimarães Rosa, Glauber Rocha, os tropicalistas e os Novos Baianos”, conclui o músico.
ENTREVISTA COMPLETA: CARLOS LOPES (DORSAL ATLÂNTICA)
Carlos Lopes, foto Dani Dread
Porque escolher o tema de Canudos para falar sobre o agora?
Carlos Lopes: Porque Canudos é o caso mais emblemático de como a sociedade brasileira não muda. O arraial fundado na Bahia por Antonio Conselheiro pode ser comparado hoje a uma favela, uma comunidade, um quilombo ou um acampamento do MTST. Lembre de quando um canal de televisão divulgou ao vivo a “invasão” da Rocinha e do Complexo do Alemão no Rio por forças da “lei e da ordem”. A mesma transmissão ao vivo foi usada com objetivos políticos para incentivar patos e panelas. Troque as panelas por armas, mas de resto é tudo igual: o discurso de combate à corrupção, a hipocrisia, os jornais apocalípticos e a classe média urbana com nojo do Brasil profundo. Machado de Assis dizia que no Brasil existem dois países: o país real que é bom, que revela os melhores instintos e o país oficial caricato e burlesco.
Você sempre abordou temas políticos em suas letras no Dorsal. Já passou por um período político-social tão conturbado e retrógrado?
CL: Sou apaixonado por história brasileira e mesmo tendo estudado os vários golpes, eu nunca imaginaria vivenciar um deles nessa altura do campeonato. O desinteresse da massa e a falta de reação popular me recordaram do golpe de 1964 e do de 1889 sobre o qual o jurista Aristides Lobo havia dito que “o povo assistira a tudo bestializado.” Se levarmos em conta a história pregressa vivemos entre ciclos “democráticos” e golpes. Não é novidade... Com o golpe de 2016 esses jovens de direita, talvez semelhantes aos yuppies dos anos 80, perderam a vergonha e sentiram-se fortalecidos ainda mais nas redes sociais. A solução para quem pede o extermínio de Canudos e golpe militar é a educação, mas analfabeto funcional cresce até em cobertura!
Como surgiu a ideia de usar uma guitarra baiana para gravar o álbum? Ele foi todo gravado com ela? Quem foi seu luthier? Como você ficou conhecendo a guitarra baiana?
CL: A guitarra faz parte do processo de criação do álbum. Para falar sobre o Brasil e mais especificamente sobre a Bahia pensei em gravar o disco com uma guitarra baiana que tivesse o som pesado de uma guitarrona. Desenhei o instrumento e o luthier baiano Fabio Batanj a construiu. Além da guitarra, precisava que os músicos se sentissem desafiados. Como falar sobre o sertão sem estar irmanado com o mesmo sentimento, vamos dizer, agreste? Decidi não ensaiar e gravar o disco ao vivo em estúdio sem edições, da forma mais realista possível inspirado no método Stanislávski de teatro.
Aqui e ali no disco podemos ouvir ritmos brasileiros, contextualizando uma história ambientada quase toda no Nordeste. Pode contar quais ritmos você trabalhou e como?
CL: Canudos propõe um novo estilo de rock pesado com melodias brasileiras e cantado como brasileiro. O som não se afasta das origens da Dorsal, ainda é muito pesado, mas rompe com o padrão de mercado globalizado. O processo de criação do álbum inclui o desenvolvimento de novas batidas de bateria que mesclam maracatu, frevo, baião e a metranca do metal. Alterei a minha forma de cantar para que se parecesse ao canto dos repentistas e não só isso, mas agi como repentista em Canudos ao criar várias melodias no improviso, como o refrão da musica dedicada ao golpista do Planalto. Artisticamente, sinto-se, e não é que isso seja ruim, um elo perdido entre o mundo atual, servil à cultura dominante e o universo artístico que admiro que inclui os modernistas de 1922, Guimarães Rosa, Glauber Rocha, os tropicalistas, e os Novos Baianos.
Já visitou a própria região de Canudos? Como foi sua preparação / imersão no assunto?
CL: Na verdade nunca estive em Canudos. Li os Sertões e vários outros livros sobre o tema, assisti a documentários, mas o que realmente me motivou, me deu força para seguir adiante foi uma sucessão de sonhos recorrentes sobre essa ser a “missão”, por assim dizer. Tanto para homenagear meus antepassados nordestinos, como para colocar em prática um antigo sonho de repensar a história do Brasil seja através de música, histórias em quadrinhos e animação. Canudos não se encerra nesse disco, se expande e vai além. Posso ser indiscreto...? Projeto regravar Canudos... em Canudos com guitarra baiana e pífanos. Quem sabe... Talvez só Antonio Conselheiro tenha a resposta...
Vai correr pelo país com este show? Alguma chance de show na Bahia?
CL: Vivo quase recluso há dez anos, o mesmo período em que não toco ao vivo. Os convites para apresentações são vários desde quando voltamos a gravar em 2012, mas ainda não me sinto à vontade, ainda mais nesse momento com tantos fãs de heavy metal fascistas. Eu nunca tocaria para essa gente. Seria como um negro contando para uma plateia branca piadas sobre negros... Se o país mudar, se as pessoas tornaram-se mais humanas, talvez eu me interesse em sair da toca.
Qual sua expectativa para o Brasil para este ano, observador arguto que você é?
Matadeira by Fabio Batanj. Foto Dani Dread
CL: Canudos tece uma comparação entre a destruição do arraial e o impeachment da Presidenta Dilma Roussef. No primeiro disco que gravamos em 2012, após um longo período de inatividade, escrevi sobre o golpe de 1964. Um ano depois, uma parcela de jovens foi às ruas se dizendo apartidária para mostrar sua indignação. Estava na cara que ali havia dedo de conglomerados capitalistas americanos com fascistas brasileiros. Inocentes úteis foram usados. Era a preparação para o golpe. No disco seguinte, Imperium de 2015 comparei a queda da monarquia à futura queda de Dilma que ocorreria um ano depois. Hoje, o cenário é de completa instabilidade. Várias pessoas me dizem que estão arrependidas de terem batido panelas mas que têm vergonha de pedir desculpas, de voltar às ruas... Se Marx me permite, e a história vai de farsa à tragédia, vivemos um ciclo ditatorial light como o de 1965 e não haverá eleições com ou sem Lula. Ou impõem o parlamentarismo rechaçado pela população em plebiscito ou nos transformam em um enorme Paraguai – me desculpem os paraguaios – com a entrega do país, o fim do nacional-desenvolvimentismo e o trabalho assalariado semi-escravo. A Constituição de 1988 não serve para mais nada. 54 milhões de votos rasgados... Canudos vive!
Meu velho, me fala o que você realmente gostaria de dizer em uma entrevista para este centenário jornal baiano mas eu não perguntei.
CL: Certa vez me disseram que eu era um sonhador e me senti honrado. Porque transformei sonhos em realidade. Ou talvez porque a juventude me fortalecesse. Mas o tempo passa e para manter esse pique de independência, - que assemelha-se à vida do trabalhador que pega o trem lotado para o seu ganha-pão, - é preciso superar desafios pessoais e profissionais quase intransponíveis. Hoje, ainda tenho sonhos. E me orgulho disso.
Hoje no Palco do Rock: Batrákia faz primeiro show do ano com sua nova cantora, Lorena Brandão
Lorena Brandão e a galera da Batrákia, foto Matheus Pirajá
Com dez anos de atividades, a banda local de hard rock Batrákia está pleno processo de reinvenção: Bruno Passy, seu vocalista desde o início, saiu – foi morar no exterior.
Em seu lugar, os quatro membros remanescentes recrutaram Lorena Brandão. Uma boa oportunidade para conferir a nova formação é hoje, no Palco do Rock, por volta das 23 horas.
“Bruno anunciou, só para os amigos mais próximos, a sua mudança para fora do país com 1 ano de antecedência. Tínhamos um prazo para resolver o problema e a cada mês que passava, a coisa complicava. Pensamos em dar uma pausa no projeto, entre outras soluções mais radicais, só que a vontade de continuar o trabalho era grande. Fizemos teste com diversos vocalistas até que, por indicação de outros músicos, conhecemos Lorena”, conta Helder “Dell” Brito, guitarrista da Batrakia.
Cantora que teve breve passagem por uma obscura banda local chamada Agnes, Lorena mostra a que veio em um vídeo no canal da banda no You Tube, no qual o próprio Bruno anuncia sua saída e a entrada da nova vocalista.
"Ela cantou na banda Agnes, meados de 2008, mas desde então estava sem cantar. Gravou uma música com o guitarrista Fábio Maka, seu registro mais recente, que também serviu para conhecermos mais a voz dela após esses anos todos fora do cenário", diz.
“Já pensávamos em uma mulher no vocal por conta da região extremamente aguda que Bruno cantava, acreditávamos que um vocal feminino poderia casar muito bem e foi o que aconteceu. A adaptação está sendo boa, apesar do desafio em substituir um vocalista após tantos anos de banda. O relacionamento com o grupo não poderia ser melhor e estamos animados com a mudança”, relata.
Pés no chão. O pulo é mais tarde. Ft Matheus Pirajá
Hora de arrumar a casa
No show de hoje, Lorena, Dell, John Daltro (guitarra), Lucas Vieira (baixo) e Chico Brito (bateria) vão mostrar o repertório do álbum Alvo Marcado (2015), em nova roupagem, mais alguma novidade.
“Vamos tocar as músicas do disco com uma cara nova, adaptadas a nova vocalista, porém músicas novas já estão sendo compostas na pegada de Lorena”, conta.
“Mesmo caminhando no mesmo estilo, são vozes e características de interpretação diferentes. Já temos coisa nova no set list e o Palco do Rock será uma grande oportunidade de por em prática o que estamos trabalhando nos últimos dois meses”, acrescenta Dell.
Ainda no primeiro semestre, a Batrákia promete soltar uma faixa inédita. E no segundo, um EP.
"Pretendemos concluir algumas composições novas que já estavam na gaveta, além de muitas outras que Lorena trouxe com ela. A ideia é fechar ao menos um EP até o final de 2018 e lançarmos um novo videoclipe, ainda no primeiro semestre, com essa 'cara nova', escolhendo uma música que represente bem a nova sonoridade da Batrákia. Ainda é cedo para classificar como vai ficar o som mas acreditamos que ganhará elementos novos. A banda já seguia com uma mudança de timbres e pegada antes mesmo de Lorena. O amadurecimento instrumental com o passar dos anos e a chegada de um vocal novo, da escola do heavy metal, vai mexer com o estilo da banda com certeza", detalha.
“2018 será um ano de trabalho em estúdio, arrumação da casa e principalmente produzir conteúdo novo. Queremos voltar com um repertório renovado, transmitir para o público que nos acompanha nos shows e nas redes sociais a sensação que a Batrákia voltou firme, diferente, mas com a mesma essência de sempre. Afinal, o palco não pode se apagar”, conclui Dell.
Batrákia / Hoje, (por volta das) 23 horas / Palco do Rock 2018 / Praia de Piatã / Gratuito
NUETAS
Até 2019, PdR!
A rapaziada da Drearylands em momento de descontração. Ft Tanta Bandeira
A edição 2018 do Palco do Rock fecha hoje com mais nove bandas além da Batrákia aí do lado. A partir das 17 horas sobem ao palco da praia de Piatã: Fora de Skuadro (de Pojuca), Death Tales, Distrito 87, Aqueronte, Graveren, Drearylands, Deformity (Feira de Santana) e Foda-se Cia. Ltda. Está ainda previsto na programação um “encerramento especial”, mas até o fechamento da edição não foi divulgado do que se trata. Separe sua camisa preta – ou branca, vermelha, rosa, azul, verde, da cor que você bem entender, afinal é Carnaval – e curta na paz que já é característica histórica do evento.
Vivendo, Riachão...
Quem for de se aventurar no Pelourinho, hoje tem show da Vivendo do Ócio e Orquestra Sérgio Benutti na Praça Pedro Archanjo. No Largo do Pelô tem o mestre Riachão.
A era do rock clássico pode ter chegado ao fim, mas seu legado segue cultuado pelos fãs – e pela indústria, que não deixa de relançar obras que marcaram época
Alguém já disse por aí: o rock é o novo jazz.
Ou seja: roqueiros, aqueles de raiz mesmo, são uma espécie em extinção, tiozões connoisseurs, apegados às suas coleções empoeiradas de CDs, LPs, fitas cassetes e DVDs, todos devidamente esquadrinhados por décadas a fio, cada letrinha de suas respectivas fichas técnicas praticamente decoradas.
Não deixa de ser curioso, de qualquer jeito, como a mesma indústria que canibaliza artistas e gêneros, com apetite insaciável, continue alimentando esse público tão à moda antiga.
Ei, a indústria precisa faturar, correto? Correto!
Eis porque esses discos – e um DVD – figuram aqui: algumas obras simplesmente permanecem.
Mais do que bons vinhos, que simplesmente viram xixi depois de ingeridos, essas obras seguirão inspirando os mais jovens e convertendo crianças boazinhas em capetas. Por que?
Porque, além da excelência artística (muito mais do que técnica), elas, como toda grande obra – e não apenas da música – capturam um zeitgeist, resumem um momento, prestam o inestimável serviço de injetar adrenalina e poesia, dúvida e tesão em corações e mentes prontos para essa carga de vida em estado bruto.
São, em última análise, uma polaroide panorâmica, englobando grandes artistas no auge da forma e tudo o que estava à sua volta na cultura, na política, na sociedade.
Se é assim que deve ser estar às portas da morte, abram alas na escadaria para o paraíso.
Rolling Stones - From The Vault: Sticky Fingers Live At The Fonda Theatre 2015 Lançado em 1971, o LP Sticky Fingers foi um marco na carreira dos Stones, com hits eternos como Brown Sugar, Bitch, Wild Horses e Dead Flowers. Aqui, o quarteto remanescente o executa na íntegra no Fonda Theatre, em Los Angeles, em 2015. Ron Wood, que entrou na banda em 1975, faz (com a classe que lhe é peculiar) as vezes de Mick Taylor, que então estreava em disco na banda. Um registro precioso – e preciso – destes senhores septuagenários. Ótimos depoimentos entre uma música e outra, como os dos possíveis donos da privilegiada virilha que adorna a capa igualmente clássica de Andy Warhol.
From The Vault: Sticky Fingers Live At The Fonda Theatre 2015 / Rolling Stones / Universal / R$ 49,90
Queen - News of The World 40th Anniversary Edition De 1977, News of The World – com a famosa capa do robô gigante – volta às lojas em edição dupla comemorativa de 40 anos. Um dos álbuns mais bem sucedidos da banda – vendeu quatro milhões de cópias só nos Estados Unidos – traz logo na abertura dois hits esmagadores: We Will Rock You e We Are The Champions. Mas o álbum como um todo é uma beleza, com a bossinha (sério!) Who Needs You e o blues Sleeping On The Sidewalk. No CD 2, versões ao vivo de algumas faixas.
News of The World 40th Anniversary Edition / Queen / Universal / CD duplo: R$ 39,90
Metallica - Master of Puppets De 1986, este foi o disco que estabeleceu definitivamente o Metallica como uma das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos – entre os fãs de metal. O sucesso mainstream só viria com o LP de 1991, Metallica. Primeiro álbum do seu gênero a ser conservado pela Biblioteca do Congresso, Master combina um ataque absolutamente arrasador com solos líricos (chorados, mesmo), dedilhados ao violão de estilo erudito e muita crítica social à famigerada era Reagan. Foi também a colaboração derradeira do super baixista original Cliff Burton (autor da instrumental Orion), morto em dezembro daquele ano em um acidente com o ônibus da turnê na Dinamarca. Master of Puppets / Metallica / Universal / Edição Remasterizada: R$ 29,90
Black Sabbath - The End: Live From Birmingam O rock – não apenas o heavy metal, que eles inventaram – deve até as calças ao Black Sabbath. Sem o Sabbath, o rock seria até hoje apenas uma variação mais suja e acelerada do blues. Com o Sabbath, o rock ganhou peso, perigo e a adorável fama de satanista (pura balela) que até hoje apavora os (cof cof ) “homens de bem”. Neste DVD, o concerto final dos gênios de Birmingham, diante do público de sua cidade natal. Vida longa ao Black Sabbath.
The End: Live From Birmingam / Black Sabbath / Universal / CD duplo: R$ 39,90 / DVD: R$ 39,90
Tears For Fears - Rule The World: The Greatest Hits Mestres do que de melhor foi feito em termos de música pop nos anos 1980, o duo Tears For Fears voltou à ativa – até se apresentou (em boa forma) no Rock in Rio de 2017. Aqui, reúnem os principais hits da época áurea, mais duas faixas inéditas: I Love You But I’m Lost e Stay. Ambas são OK, mas o filé é mesmo o material lançado nos três primeiros álbuns, quando Roland Orzabal e Curt Smith lapidaram verdadeiras pérolas de pop perfeito como Pale Shelter, Everybody Wants To Rule The World, Head Over Heels, Mother’s Talk, Sowing The Seeds of Love, Woman in Chains (com o inesquecível vocal de Oleta Adams), Advice for The Young At Heart – e outros. Em 1991, o duo se separou e Roland seguiu com o nome TFF, lançando mais dois álbuns. Dessa fase o CD pinça duas ótimas faixas: Break It Down Again e Raoul and The Kings of Spain. Pra cantar junto.
Rule The World: The Greatest Hits / Tears For Fears / Universal / R$ 29,90
Cria direta do metal sinfônico - operístico de bandas como Nightwish e Epica, a rapaziada local da Arcantis é uma daquelas coisas que de vez em quando pegam o colunista de surpresa: juro que nem sabia que tínhamos disso por aqui.
Com o impressionante canto lírico da vocalista (soprano) Winne Granjeiro à frente, a Arcantis aproveita o show no Palco do Rock (segunda-feira) para lançar seu primeiro álbum, From Ashes To Eternity, que saiu nacionalmente pelo selo paulista MS Metal Records.
Criada no interior (em Muritiba), Winne descobriu o rock através de um tio – e o metal com os filhos deste, seus primos.
“Lembro até hoje quando ouvi pela primeira vez The Wicker Man (Iron Maiden) e passei o dia inteiro pensando naquele som”, conta.
Em 2008, já em Salvador, começou a recrutar colegas da escola para formar uma banda.
“Na época estava encantada com o symphonic e o power metal, ouvia muito Nightwish, Epica e outros. Além disso, vi na TV (reportagem) falando sobre canto lírico, que me chamou muito a atenção. Pensei então em fazer uma banda de symphonic e de power metal, já que curtia também (as bandas) Blind Guardian e Sonata Arctica”, conta.
Arcantis, foto Carlos Fides e Ana Prado
“Foi aí que passei a estudar, a frequentar curso de extensão em canto (Ufba), ver vídeo-aulas, observar como meus ídolos cantavam, além de treinar em casa e depois treinar solfejo coma a ajuda de Vinicius (Alvarez, guitarrista), meu noivo. Minha mãe no início incentivou. Meu pai também. Acho que parte de minha família gostou”, acredita.
Hora de alavancar
Estabelecida a formação com Winne, Vinicius, Vinicius Morais (guitarras), Daniel Iannini (baixo), Eric Dias (bateria) e Marcus Felipe (teclados), o grupo registrou um EP em 2015, The Human And The Eagle, que chamou a atenção do pessoal da MS.
Com o disco na rua, a banda está feliz com a boa recepção que o exigente público do metal - e sua imprensa especializada - tem dado ao álbum.
"Em se tratando de metal, bote exigente nisso (risos). A MS teve conhecimento do nosso primeiro clipe da música The Human and The Eagle e se interessou pelo nosso trabalho. Assim, entramos no cast da empresa e passamos um tempo terminando nossas músicas para gravar o nosso álbum, o From Ashes To Eternity, e mais tarde para lançarmos pela MS Metal Records. Depois que finalmente o álbum foi lançado, passamos a ouvir boas críticas de quem adquiriu o CD e de produtores. O Whiplash deu nota 9 pelo trabalho e elogiou muito. Até agora, considerando que o público de metal é exigente demais, só ouvimos coisas boas e elogios", relata Winne.
Sobretudos a postos para o PdR 2018. Ft R. Almeida
Agora, lançado o CD, o sexteto olha pra frente cheio de planos: “Pensamos que 2018 é a hora para alavancar de vez a banda, tira-la daqui para tocar em outros lugares e claro, um dia tocar fora do país, até porque estamos vendo que o álbum está tendo boa recepção no mercado internacional, como no Japão”, afirma.
“Sou grata por todas as pessoas e acontecimentos que possibilitaram a Arcantis a chegar aqui. Grata aos membros da banda, Vinicius Alvarez, Vinicius Moraes, Marcus Felipe de Menezes, Daniel Iannini, Rafael Amorim, a Eric Dias que foi membro da banda e que gravou a bateria para o álbum, mas que não pôde continuar conosco por motivos pessoais, depois tendo sido substituído Por Rafael, que é um excelente músico, à MS Metal Press de Eduardo Macedo Cronemberger, ao estúdio Revolusom de Marcos Francos, nosso Marcão e a Ícaro Bastos da banda Trigger. Além disso, gostaria de falar que tenho esperanças de que o Metal fique mais forte e unido, porque só assim construiremos um movimento firme e forte. Temos muitas bandas locais excelentes e um público para construir isso. E agora no Palco do Rock, onde estaremos lançando o nosso álbum de estréia, esperamos ver todos lá e que todos possam nos prestigiar e prestigiar as outras bandas. E vai ser em Piatã, retornando para sua origem. Melhor momento não há. Estaremos também lá vendendo nossos CDs e camisas de forma a divulgar ainda mais o nosso trabalho. E no momento estamos também a procura de bandas parceiras e patrocinadores, e enquanto isso vamos seguindo, realizando nosso projeto e sonho”, conclui.
Menino Ronei, talento de gente grande. Foto Rana Tosto
Folia instalada, não tem pra onde correr? Se jogue. As dicas da coluna Coletânea vão para duas opções: Circuito Batatinha (Pelourinho) e Palco do Rock. O Pelô abrigará shows de alguns queridinhos da coluna, como Ronei Jorge, Maglore e Giovani Cidreira – juntos (domingo, 22h30, Largo do Pelourinho) e Vivendo do Ócio (terça-feira, Praça Pedro Archanjo). Haverá mais, mas até o fechamento da edição, a programação completa não havia sido divulgada. Nas areias de Piatã
O PdR 2018 voltou para Piatã, e já divulgou algumas boas atrações além da Arcantis aí ao lado. Destaques do sábado: Ronco, Inner Call, Lo Han. Nos dias seguintes, confira: Barulho S/A, Batrákia (estreando cantora nova), Drearylands, The Cross, Pastel de Miolos, Jato Invisível, Indominous, Veuliah e Benete Silva. Programe-se.
Música Símbolo do Carnaval, a “guitarrinha” já não goza de tanto prestígio. Iniciativas como a de Júlio Caldas a mantém viva
Júlio Caldas, na função. Foto André Oliveira
Um dos símbolos do Carnaval, a guitarra baiana – e sua música, mais harmônica do que percussiva – seguem em plano bastante desfavorável no cenário.
Um de seus maiores divulgadores na última década, Júlio Caldas promove segunda-feira a quinta edição da Mostra de Guitarra Baiana.
No palco, Júlio se faz acompanhar de uma banda-base e mais quatro guitarristas: Marcos Stress, Tathi Alves, Ricardo Marques e Eliel Nunes.
Na banda, outros grandes músicos: Durval Caldas (violão), Ricardo Hardmann (percussão) e Fábio Batanj (baixo). Este último é ainda o grande luthier de sua geração.
“Mantendo a característica da Mostra, o repertório será apresentado com a minha abertura ao lado da banda base tocando clássicos do blues, seguindo com as apresentações dos convidados que irão tocar os clássicos da guitarra baiana, como os frevos”, detalha Júlio.
Segundo Júlio, cada guitarrista selecionado por ele para esta edição da Mostra traz qualidades próprias: “Os critérios adotados para a seleção foram as diferentes qualidades de cada guitarrista para traçar um panorama da produção atual”, afirma.
“Eliel Nunes é luthier, canhoto, toca com as cordas invertidas e é excelente. Ricardo Marques é um grande mestre, defensor da causa há muitos anos. Thathi é excelente guitarrista, vem se enveredando pelos caminhos da guitarra baiana e representa a força feminina dentro do cenário. Já Marcos Stress representa a novíssima safra”, elenca.
Guitarrinha sem prestígio
Thathi (centro, com a banda Os Marchistas), toca na Mostra. Foto V. Abreu
Realizada em edições anteriores com direito a quatro noites e, portanto, incluindo vários outros músicos, esta quinta Mostra de Guitarra Baiana é resultado dos esforços individuais de Júlio e parceiros.
“Faltou apoio. As três primeiras edições foram produzidas de forma 100% independente, com recursos próprios. A quarta edição (2012), realizei através do edital de projetos calendarizados do Fundo de Cultura do Estado da Bahia. Nos anos seguintes não dispunha de recursos próprios e não consegui mais aprovar o projeto em editais”, relata.
Incentivado por amigos, Júlio lançou uma campanha de crowdfunding para viabilizar a volta da Mostra.
“Ao final, foi captado apenas 8% do valor pleiteado. Com essa arrecadação tornou-se inviável fazer as quatro datas. Adaptei o projeto e, com a colaboração dos convidados e apoio da Casa da Música, em 2018 realizaremos a Mostra de Guitarra Baiana em apenas uma noite”, conta.
Pelo jeito, o hype em torno da guitarrinha, que ensaiou um retorno aos holofotes há alguns anos, impulsionado pelo sucesso da Baiana System, bailes Retrofolia (da banda Retrofoguetes) e outras iniciativas, ficou no hype mesmo .
“Na verdade a guitarra baiana só teve algum status no ano em que o carnaval a homenageou. O que noto é que a cada ano a gente vê menos representantes do movimento no Carnaval, micaretas e resto do ano”, percebe Júlio.
Guerreiro, Júlio segue na batalha. No Carnaval, se apresenta dia 8 no Furdunço e mais um dia em palco de bairro, em local e data a ser divulgado.
“Também estou em processo de gravação de disco novo para lançar ainda em 2018. Vai se chamar A Música dos Meus Amigos. Nele vou gravar músicas de amigas e amigos que conheci ao longo da carreira”, conclui o músico.
5ª Mostra de Guitarra Baiana / segunda-feira, 18 horas / Casa da Música (Lagoa do Abaeté) / Gratuito
Lazzo faz baile de Carnaval no Rubi daquele jeitão todo dele: na manha, no dengo
Dono da garganta mais aveludada do Brasil, Lazzo Matumbi sempre curtiu Carnaval – chegou mesmo a fundar um bloco.
Amanhã, ele coloca esse amor pela festa em prática, no baile pré-carnavalesco Vem Dançar, no Café-Teatro Rubi do Hotel Sheraton.
Como está explícito no título da festa, a ordem é se largar na pista – por isso mesmo as mesas e cadeiras que costumam a plateia dos shows no elegante salão do Campo Grande vão dar um sumiço nesta noite.
“É um baile de carnaval mas como minhas músicas não são exatamente carnavalescas, peguei algumas músicas e fiz uma releitura: boto na praia do reggae, do galope, levo para o meu groove –e fica dançante do mesmo jeito”, avisa Lazzo.
Como se o homem de hits eternos como Alegria da Cidade, Do Jeito que seu Nego Gosta, Me Abraça e Me Beija e Abolição ainda precisasse botar mais groove no som.
“Nesse baile a gente vai na mesma levada que eu fazia no (bloco) Coração Rastafari: sem muito frenesi, um som mais leve e mais gostoso para dançara a noite inteira. Vem dançar, que vai ser legal”, convida o cantor.
No palco, Lazzo vem com uma banda compacta, mas afiada: Maninho (Hermano Clindro, guitarra), Luizinho (baixo), Eddie (teclados) e Ted Santana (bateria).
“Com quatro músicos fica mais fácil de adaptar algumas coisas, até porque nesse período tá todo mundo (músicos) num corre-corre danado, muita gente ocupada. Então vamos fazer assim, compacto, com as pessoas bem grudadinhas. Vai ser um baile bem decente”, garante.
Sobre o repertório, além dos hits de carreira, Lazzo prefere não ficar citando os nomes das músicas.
“Vai ser uma experiência. Então tem minhas músicas e clássicos de outras pessoas. Não queria dizer os nomes para não perder a surpresa da hora. Sabe aquela reação ‘porra, que massa, aquela música!’”, ri.
O dia seguinte
Criador do já citado bloco Coração Rastafari, Lazzo conta que deu um tempo da avenida e dos trios elétricos.
“Não tenho mais paciência para aquele congestionamento de trio elétrico. Marcava com os foliões pra sair 21 horas, aí o trio, fosse doado pela prefeitura ou pelo governo, chegava 11 da noite. Aí sua credibilidade perante os foliões ficava abalada. Resolvi não me comprometer mais com coisas que não tenho controle”, relata.
“Hoje, quanto mais eu puder estar tocando assim, de forma tranquila e relax, melhor. Essa é a minha onda: na manha, no aconchego, no dengo”, arremata.
O último álbum de Lazzo foi o espetacular Lazzo Matumbi (2013, Garimpo Música), produzido por Jorge Solovera.
Agora, finalmente, o músico trabalha no material que pretende gravar em seu sucessor.
“Tem uma (música) que fiz com Jorge Portugal chamada 14 de Maio, uma reflexão sobre o dia seguinte à Abolição (dia 13 de maio de 1888). É para pensar scomo vivemos nesse país, como conduzimos nossa história e para onde queremos ir. Vai ser uma obra sobre o momento do Brasil, mas também sobre o amor, que nunca deixamos de cantar”, conta.
“O disco novo sai esse ano. Em maio devemos soltar a primeira música. Hoje não tem mais gravadora, então você pode ir lançando duas, três músicas aos poucos, antes do disco”, conclui.
Lazzo Matumbi: Vem Dançar / amanhã, 20h30 / Café-Teatro Rubi / R$ 80 / Vendas: Bilheteria: Café-Teatro Rubi (3013-1011), das 14h às 19h (em dias de apresentação, até às 20h30)